sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Pobre Rainha

O Presidente da República foi ao Palácio de Buckingham ver a Rainha. A  sua visita e conversa foram registadas num vídeo, imperdível, de alta definição, sobre o qual Miguel Esteves Cardoso decidiu escrever este texto.

“Depois de lhe dar um beijinho na mão, o Presidente desatou a falar. Contou à Rainha que se lembrava das duas visitas de Estado que ela tinha feito a Portugal. Na primeira, em 1957, Marcelo observa: “I was a child.” A Rainha, agradecendo a referência à diferença de idade entre eles (ela tem 90 anos, ele faz 68 em Dezembro), conseguiu, sabe-se lá como, interrompê-lo e respondeu, com ironia majestática: “I’m sure you were.”
O Presidente Marcelo continuou: “In Terreiro do Paço, you know, that big square.” A Rainha, mostrando as suas boas maneiras, mas querendo também pô-lo no lugar, disse um longuíssimo “yeeeesss…” (tradução: “Não faço a mais pequena ideia do que está a falar”).
O Presidente intuiu que a Rainha já visitou muitos big squares ao longo da vida e decidiu avivar-lhe a memória: “And the carriage…” E a Rainha, entrando em royal repetition mode, num tom “Nós não acreditamos no que nos está a acontecer”, murmurou: “The carriage…
Aí o Presidente recorreu ao rigor: “With General Craveiro Lopes…” Aí a Rainha, ouvindo o nome do grande general, deve ter sido inundada por recordações daquele dia maravilhoso à beira-Tejo.
É então que o Presidente revela tudo: “I was there, in the front row!” E a Rainha: “Were you?” Mas o Presidente Marcelo ainda não tinha terminado: “And then, in 85, I was invited for dinner on Britannia…” E a Rainha, ao lembrar-se do iate real que lhe tiraram e já tendo desistido de qualquer manobra de disuassão, limita-se a repetir: “Were you?…”
Fulminante, e sem perder uma batida, o Presidente explica: “Because I was leader of the opposition…”
Infelizmente o vídeo termina aqui, abruptamente. Mas o humor do Miguel Esteves Cardoso não termina, como pode deduzir-se do que acabaram de ler!

HSC

11 comentários:

A Nossa Travessa disse...

Querida Helenamiga

Não vi, não queria ver e estou muito feliz por não ter visto. Fico à espero do meu Amigo de longa data Miguel Estevas Cardoso...

NA NOSSA TRAVESSA
UM FUNERAL Á MANEIRA
Publico hoje mais um artigo – o quarto – da SAGA DA ALZIRA com o título acima. Convido todas/os à sua leitura e comentários. Obrigado.
Agradeço igualmente a divulgação desta informação.
Henrique, o Leãozão


Silenciosamente ouvindo... disse...

Também achei toda a conversa do n/Presidente estranha...
e aquela de ser pequenino quando a viu pela primeira vez...

Também a explicar a nossa Praça do Comércio...

Nom fim de semana.

Os meus cumprimentos.

Irene Alves

Virginia disse...

O Marcelo tem pouca humildade e mostra a tacanhez do portuguesinho que vai ver o Palácio. Que ridículo. Coitado deve-se olhar no espelho todos os dias e dizer: Há alguém mais popular do que eu???

Maré alta disse...


Tenho a certeza que o sr. Presidente pretendeu fazer o melhor.
Percebi que estava muito feliz por estar com a Rainha.
Não me envergonhei com o que vi.
Não sabemos com certeza, se a Rainha pensou em tudo aquilo, que o Miguel Esteves Cardoso pretende especular.
Cordialmente
Maré Alta

Helena Sacadura Cabral disse...

Maré Alta
O humor, por norma, especula sobre a realidade.
E é isso que o MEC fez, sem ofender ninguém. O PR estava feliz e decidiu recordar à rainha, sentimentos muito pessoais. Eu teria gostado mais que ele tivesse falado da Velha Aliança que nos une a Inglaterra, do que das suas lembranças antes de ser PR. É um ponto de vista.
Possivelmente a Maré Alta teria gostado menos. A democracia é isto mesmo: dizer o que pensamos sem ofender. Foi o que o MEC fez e eu publiquei, sem ter feito qualquer outra consideração pessoal que não fosse a do humor do colunista!

Anónimo disse...

O Sr. Presidente, que recentemente moderou um pouco a atitude de falar de tudo e coisa nenhuma, que tão bem o caracterizou durante anos, o professor-comentador, enquanto distribuía classificações aos nossos encantadores políticos, moderação esta que infelizmente coincide com um certo decreto, umas certas pessoas e uma determinada CGD, que, enfim, teria encaixado na perfeição no cadeirão de líderes políticos de outras eras mais provincianas, haverá de ser um dia renegado por todos aqueles que o apoiaram pensando "Eu, como Cristo".
As saudades dos longos silêncios do seu antecessor...

Maré alta disse...


Confesso que achei piada ao que o Miguel Esteves Cardoso escreveu.
Como sempre acutilante.
Claro que o humor acima de tudo.
Não me ofendi.
Penso que o Marcelo quis dar um tom menos formal e mais familiar. Com todo o risco que isso acarreta.
Mas se tivesse falado da Velha Aliança que nos une a Inglaterra também teria gostado.
Mas também não sabemos se mais tarde esse assunto também foi falado.
O Miguel Esteves Cardoso não perde uma.....e teve graça.
Maré Alta

João Menéres disse...

O nosso P. R. apenas pretendeu, na minha opinião, afirmar que era um "velho" admirador de Sua Majestade...
( Com algumas confusões, embora ).


Melhores cumprimentos.

Anónimo disse...

Pois eu não vi nada do outro mundo no discurso de Marcelo... a mim parece-me é que o no nosso país sempre há aquela dorzinha de cotovelo ao ver alguém próximo, por momentos que seja, de uma das figuras mais importantes do século XX e XXI... o MEC adoraria decerto despejar a sua verborreia em inglês e ter uma rainha deslumbrada dizendo "ouça lá, você com esse inglês podia ser daqui" e ele logo "ai rainha, você acha que este sotaque se aprende nas escolas públicas portuguesas?" e contar-lhe que viveu em Inglaterra e não sei mais o quê.

É perfeitamente normal ficar-se nervoso com tanto protocolo e à frente de uma figura como a Rainha Isabel II. Heleninha, diga lá se não ficaria ao ver uma mulher que viu de frente a 2a Guerra Mundial e tantas personagens das quais você escreve nos livros?

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara/o Anonima/o das 18;33
Ora agora é que o seu comentário é inteiramente verdadeiro. Não seria tanto a nervoseira mas seguramente o suspense de ver à minha frente uma das Mulheres que o mundo mais respeita, face às contrariedades que a vida lhe trouxe.
Será talvez uma questão de estilo ou de falta de convívio meu com realezas, mas julgo que a vida privada de um PR é assunto para ficar na nossa terra,
Se eu tivesse que ir a um PR - só para comparação modesta - julgo que lhe não iria referir as circunstâncias em que o teria conhecido. Mas isto sou eu, que de reis e rainhas só sei o que a História me ensinou. E não foi muito, confesso, porque nasci republicana e os brasões da família ficaram pelo caminho do trabalho!,

Anónimo disse...

Ahahahah, como é bom ler este blog! :) Obrigada à HSC pelas partilhas, e aos comentadores pelas suas visões. As vezes parece ainda ser possivel expor pontos de vista, com cordialidade e respeito!

Marta Costa