Durante muitos e muitos anos não tive casa própria. Acabei por tê-la contra vontade. Mas ao adquiri-la obedeci aos critérios dos especialistas, procurando uma que fosse virada na sua maior parte para sul a fim de poupar energia e tendo alguma vista. A vista foi muito relativa e sol de pouca dura, com uma construção clandestina no prédio da frente, que me deixa apenas ver uma parte do que via. Por estes dois factores e um lugar de garagem paguei, para a época, um balúrdio.
Depois de me divorciar, decidi divorciar-me da casa também. Mas aí, veio o muro das lamentações dos dois filhos em uníssono, que encaravam ser possível, depois da minha ultima viagem, partilharem a casa. Sempre me pareceu pouco provável, mas eles insistiam que era possível dividi-la de forma independente e manter comum salas e cozinha. Quem era eu para falar de utopias, quando estava perante dois mestres?!
Assim, mantive, a contra gosto, esta casa que é sem dúvida, muito bonita, porque foi arranjada com muito sacrifício, mas com o maior carinho. O IMI nos últimos anos quase dobrou, as despesas de condomínio aumentaram, os condóminos iniciais ou venderam ou alugaram, e o pequeno prédio tornou-se, para mim, muito caro.
Eis senão quando a geringonça me veio dar a mão e me disse que se eu queria ter sol - que antes me tinham aconselhado para ajudar energeticamente o país - então iria correr o risco de pagar até mais 20%, só de sol, já que o terraço é cobertura do prédio. Estava encontrada a solução contra a qual, agora, nem filho nem netos se pode opor, ou seja, a venda do andar, antes que tomem conta de toda a minha reforma.
E com a venda, alugo um T2 em Campo de Ourique, o meu velho sonho, e deito fora metade das minhas tralhas que só existem para decorar uma vida que já não é a minha. Eu sabia, tinha mesmo a certeza que este novo governo havia de governar bem. Está provado, apesar do Dr Marques Mendes, ontem, quase ter estragado o meu plano, ao dizer que a determinação era ilegal por lhe faltar a consulta aos municípios!
HSC
Em tempo: Lembrei-me agora se o governo terá pensado no que significa ter vista e um terraço no inverno? É que sol e vista vão à vida e o terraço dá um trabalhão para o escoamento de águas não entupir com a queda das folhas...