O
que mais me assusta na política – ia dizer no poder – é a contradição entre o
discurso e a práxis. Eu sei que é doença que ataca outras profissões. Mas
aquela, como está mais exposta ao escrutínio, torna-se mais evidente.
Com
a idade que tenho ainda não encontrei um político, ou um partido que, uma vez
em exercício, não faça concessões, ou seja, não se contradiga. Chamam a isto de
estratégia.
Com
as eleições que espreitam por aí, aproxima-se um período de mentiras piedosas.
À direita e à esquerda, passando pelo centro. E o que é mais grave, é que todos
eles sabem que mentem e continuam a acreditar que será assim que ganharão os votos.
Hoje
a abstenção mostra bem a desilusão dos portugueses com a res publica. Eles já
sabem que os arautos das promessas, após ganharem as eleições, meterão na gaveta
uma boa parte delas. Daí que tanta gente tenha desistido de votar, seja em que
sentido for. Não vale a pena, dizem. E o pior é que sentem o que dizem.
A
campanha eleitoral já começou. De forma mais subtil nuns. De forma mais
evidente noutros. Vamos ter de aguentar uns longos meses de falsas promessas. E
de nos enchermos de paciência para os ouvirmos. Ou não, mudando de jornal ou de
canal. É uma forma de penitência. Mas apenas por não se ter pecado...
HSC