domingo, 9 de novembro de 2014

Histórias de família


Decorreram 25 anos sobre a queda do muro de Berlim. A data tem, no entanto e para mim, um duplo significado. É que está ligada à historia de amor que sempre ligou os meus dois filhos e, hoje ao recorda-la, emocionei-me.
Nessa época, o meu filho Miguel, homem feito, veio pedir-me dinheiro para ir ver os destroços do muro de Berlim. Devo te-lo olhado de modo tão incrédulo que ele ainda ensaiou explicar-me porque lhe era vital a dita viagem.
Por esse tempo eu tinha dois empregos para conseguir fazer frente sozinha às despesas daqueles que dependiam inteiramente de mim. Por isso dei-lhe um rotundo não, do qual ele percebeu que não havia apelo nem agravo.
Dias depois veio dizer-me que ia fazer a viagem. Perguntei-lhe a expensas de quem. E ele respondeu-me que ia fazer uma reportagem para o Independente. Não respondi. Conheço muito bem os meus filhos e a cabeça do Miguel era, para o bom e para o mau, muito parecida com a minha.
Perguntei ao Paulo a que propósito é que o irmão ia fazer uma reportagem para o jornal dele, quando nós tinhamos por norma não misturar vida familiar e profissional.  Nem retorquiu.
Os artigos foram, de facto, publicados. Mas o que deixou de aparecer foi o salário do Paulo por inteiro. Como sempre tive contas com os meus filhos, não me era difícil saber de gastos e de entradas, sobretudo deste último.
Achei estranho, mas como era o seu salário, não fiz comentários. Anos depois, o Miguel e eu ficámos a saber que tinha sido o Paulo que, para dar essa alegria ao irmão, havia pago tudo do seu salário e oferecido a reportagem ao jornal. Para isso, durante uns meses só recebeu uma parte do vencimento para que eu não descobrisse a saída do dinheiro da conta e ver para o que havia servido... Foi esta "estória" que neste aniversário, não pude deixar de relembrar!

HSC

19 comentários:

Anónimo disse...

O amor acaba mesmo por ser fulcral na nossa vida.
Gostei imenso desta estoria de familia.
L.L.

TERESA PERALTA disse...


Não pude deixar de me emocionar. Não desfazendo, até porque ninguém é perfeito, não posso deixar de salientar a "Alma grande" que tem o seu filho Paulo e que se junta às outras grandes qualidades que já conheço. Aliás, é na educação dos filhos que se nota a virtude dos pais.
Abraços com saudades querida Helena. :)

Isabel Mouzinho disse...

É uma lindíssima história de amor que, vinda de quem vem, me comove mas não em surpreende.
Tem muitas razões para sentir orgulho nos seus filhos, Helena.

Um beijinho muito grande. :)
Isabel

Escrever Fotografar Sonhar disse...

Tenho 3 irmãos mais novos, e fiquei de lágrima no olho. Porque entendo.

Anónimo disse...

... preofissional ...

Gralhas

Ältere Leute disse...

Muito bonito ! Deixe-me partilhar !

bea disse...

Os filhos únicos por muito que o digam e se queixem, nunca saberão a falta que faz o amor de irmão.

Os muros caem sempre por bem (desde que não estraguem); mas é tão bonito haver uma história de amor familiar ligada a este que separou famílias, amores, gente.

Maria do Porto disse...

Comoveu-me este episódio entre irmãos. E se me comove é porque infelizmente não é uma situação banal normal, como deveria ser sempre entre irmãos.
Dizem que tudo tem a ver com a educação. É verdade, mas não só. Tem a ver com o intimo de cada um, também.
Os meus 2 filhos, nesse aspecto, são o meu orgulho. Fazem diferença de 8 anos, ela é madrinha do irmão e adoram-se! Está sempre atenta às necessidades dele e também já se "sacrificou"por ele muitas vezes e vice-versa. É por isso que tenho muita fé nesta geração...

CA disse...

:)))

Tão bonito..!
E que saudades da minha falecida irmã...!

Fatyly disse...

Gostei desta história, sobretudo do seu NÃO o que fez surgir ainda mais a cumplicidade entre irmãos, diferentes em tudo, mas tão amigos!!!!

maria isabel disse...

Há tanta coisa que acontece entre irmãos e ninguém sabe e nem precisa saber. São segredos e eu também os tenho entre os meus.
Abraços aos dois e um enorme para a Mãe.O Miguel onde está vai receber o meu abraço

Virginia disse...


Há histórias de família muito bonitas...mas entre irmãos nem sempre!!

O meu filho João fez 12 horas de S. Francisco para Londres só para se despedir da irmã que ia para Leeds tirar um mestrado.

Foi extraordinário vê-lo na estação à espera......

Anónimo disse...

Para alem do lado comovente que a sua história encerra, é de realçar a sua perspicácia nas "entradas e saídas". Assim as houvesse no BES, era tão fácil!

Anónimo disse...


Bom dia Helena!
Li, os textos abaixo a sua rotina entra-nos pelo ecrã, como uma lufada de ar fresco.
Sempre com a energia que todos já conhecemos.
Gostei das sugestões que apresentou, o restaurante com a vista sobre o Tejo, é linda!
Sem duvida que os seus 2 filhos, tinham uma grande cumplicidade, amor de irmãos, sangue que os une e não só, a educação que tiveram dos pais, foi sem duvida a ferramenta para os unir ainda mais.
Era capaz de fazer o mesmo pelo meu irmão, alías fiz na 6ª, paguei uma despesa de um empregado às finanças, até me zanguei com ele, como se trata-se de um familiar meu.
Sei que me vai pagar, mas não pudia deixar que as coimas fossem cada vez mais, por falta de pagamento.
O Sr. muito agradecido, eu feliz por o ter ajudado... hoje estamos bem, amanhã não o sabemos...
Um bem haja Helena, por partilhar as suas histórias, que nos enchem a alma, que nos fazem descobrir outros horizontes para além dos que já conhecemos.

Carla

Fatima MP disse...

Tão bom ter histórias tāo lindas para recordar e se emocionar ... abraço!

Dalma disse...

Parabéns a si HSC que soube educar os seus filhos dessa forma!

Dalma disse...

Estive em Berlin uns 7 anos depois da queda do Muro e as chagas do regime comunista ainda era bem visíveis! Fiquei com a certeza que nunca seria comunista! A Carl Marks Allee onde se faziam as paradas teve para mim um ar sinistro! Voltando lá em 2007 já não existia essa Berlim que de certo modo, do meu ponto de vista, perdeu algum romantismo!

Joaquim de Freitas disse...

Sabe, Cara Doutora, compreendo que o seu filho tivesse insistido para ir a Berlim no dia 9 de Novembro de 1989. Eu também lá estava pelas mesmas razões. Que a sua vida tão curta, que muito lamento, lhe tenha proporcionado o espectáculo de fraternidade que vimos em Berlim, me regozija. Teria gostado de ler o seu "compte-rendu".

Muito difícil de não partilhar a alegria desse dia com os Alemães.

Rostropovitch e o seu instrumento na suite para violoncelo de Bach, junto ao muro, eram emocionantes.
Vinte e cinco anos depois, penso ainda a mesma coisa que nessa noite. Apesar da alegria do presente.

Não era a queda do socialismo, porque para mim ele caiu primeiro em Praga em 1968. Ficou sem concerto.

E pena foi, porque o mundo ocidental também parecia estar sem concerto. Em Paris, fazia-se a revolução de Maio. Os EUA duvidavam deles mesmos ao ver a sua juventude nas ruas de Washington protestar contra a guerra do Vietname.

Mas o ocidente voltou à carga, impondo ao campo socialista uma corrida que este não podia ganhar.

A Alemanha, rapidamente absolvida por razões geoestratégicas dos seus crimes no Oeste, deixou a divida à de Leste, que os Russos obrigaram a pagar duramente.

Tenho escrito várias vezes no blogue do seu Amigo Embaixador: Compreendo que os Alemães façam a festa da unidade recuperada graças a Gorbatchev também, mas devemos fazer atenção: Como me dizia a minha Esposa ontem durante as comemorações da Primeira Grande Guerra Mundial em Notre Dame de Lorette: "Eles são mais uma vez 10 milhões DEMAIS! " Eles são os Alemães! Os Boches!

A minha Esposa sabe do que fala: Menina ainda, em 1940, vivendo na Lorraine, próximo de Forbach, a dez km da fronteira, uma noite, ou antes uma manhã lúgubre, às 6 horas, as coronhas das armas batiam na porta aos gritos de "Heraus"! Schnell! Até hoje! Nunca mais viram a casa nem o comércio que lhes pertencia. Expulsos para um campo, porque eram "Franceses" do interior. Não se chamavam Schneider ou Wagner! A Lorraine devia ser alemã, povoada por alemães, assim disse Hitler.

No fim da guerra nem o lugar da casa se distinguia nos escombros!
Atenção, pois, a Alemanha reconstruída pela economia ocupa de novo este lugar predominante na Europa que ela não pôde obter pelas armas. Não esquecer QUE ESTE POVO CIVILISADO MOSTROU NA HISTORIA QUE ERA CAPAZ DE CAIR NA MAIS TERRIFICA IRRACIONALIDADE POLITICA.

Para mim, conservo na memória a imagem de Meliton Kantaria plantando a bandeira vermelha no teto do Reichstag em ruínas no dia 2 de Maio de 1945. Uma bandeira que custou 27 milhões de mortos soviéticos.

E tenho, ao escrever estas palavras, "une pensée fraternelle pour votre fils". Até podíamos ter-nos encontrado em Berlim, se nos conhecêssemos. E creio que nos teríamos entendido sobre o essencial.

Respeitosos cumprimentos.
Joaquim de Freitas

Anónimo disse...

Belíssima história, Helena. É por estas e outras semelhantes que recordo com muita saudade esses tempos do Independente com o teu filho Paulo. Trabalhar com ele foi muito bom. Ter uma mãe com princípios ajuda muito...
Beijos,
Inês Pedrosa