O inferno são os outros!

Embora acompanhe pouco a campanha que está a decorrer, já tenho tido o azar de assistir aos chamados programas de opinião pública, em que o cidadão expressa a sua posição acerca dos mais variados temas. Como não sou masoquista, isto só me acontece em locais onde a televisão está ligada para entreter aqueles que, por algum motivo, aguardam a sua vez de serem atendidos.

A doença grave de um familiar meu, tem-me castigado com este génro de tv educativa. Há dias alguém desenrolava uma lista de pessoas que considerava "fascistas" perante a impassividade da locutora de serviço e do convidado especialista na matéria. Todavia, acredito que não fosse propriamente um perito de "fachismos" porque a sua idade não lho permitiria…

O mais curioso, para usar uma palavra delicada, foi a referência feita a duas pessoas respeitáveis deste país, cuja história pessoal e profissional conheço bem. Não sou amiga de nenhum deles, mas jamais tal epíteto lhes poderia ser assacado. Nem sequer por aqueles que se lhes opõem. 

Fiquei extremamente incomodada com o que ouvi e, sobretudo, com o silêncio de quem conduzia o programa. Quando cheguei a casa escrevi uma carta à estação televisiva censurando o facto. Pela resposta que recebi, depreendo que me terão dado razão. Mas não era isso que eu pretendia. Não era ter razão que eu desejava. O que eu queria, mesmo, era que estas coisas não acontecessem.

Ao longo da minha vida conheci, por diversas razões familiares, "esquerda" e "direita". Talvez bem demais, porque os conheci na intimidade. E sempre concluí que eram de esqjuerda ou de direita, não pelo que eles pensavam, mas sim pelo que os outros pensavam deles. Como dizia Sartre " o inferno são os outros"!

HSC