quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O valor das palavras

Já tenho afirmado várias vezes que não sei viver em conflito. Acredito que seja menoridade minha. Aceito que seja da educação que tive e que jamais reneguei. E, quem sabe, talvez porque fui mulher e mãe de políticos habituei-me a distinguir os afectos das ideologias. E a gerir estes dois mundos tão diferentes.
Este intróito serve para explicar porque é que neste blogue nunca utilizei certo tipo de vocabulário. Faço juízos de valor mas não faço juízos de carácter. Não chamo nomes nem arraso pessoas de quem não gosto. Não uso palavras de ódio ou de desprezo para qualificar aqueles com quem não concordo. Não sou capaz de odiar. Não será uma qualidade. É uma questão de educação recebida e da qual me não desfiz. Não chamo estúpido, ladrão ou canalha a ninguém, apesar de poder não gostar daquilo que alguém faça. Não me considero melhor nem pior do que quem o faz. 
Acredito no valor das palavras, tanto como acredito que é através delas que o mundo se muda. Julgo que a violência verbal não facilita o diálogo e extrema as possibilidades de paz. E temo que o país que amo e onde vivo se torne numa terra de permanente conflito verbal cujas balas - as palavras - se tornem tão mortais como as disparadas por um revolver.

HSC

11 comentários:

Mar Arável disse...

Memórias vivas

TERESA PERALTA disse...

Mais um post onde estamos em absoluta concordância. Por isso é que uma boa educação e, formação, pode até ensinar um vocabulário mais pobre mas, nunca, um vocabulário tão "rasca"...
Quanto ao nosso querido País, temo que a Helena tenha toda a razão quanto à violência verbal, que se tem vindo a instalar, fruto de uma, também, enorme falta de respeito pelos "outros".

Adorei ter assistido à publicação do seu vigésimo trabalho. Como já vai sendo hábito, esta será mais uma obra que me vai ajudar a pensar e a crescer sentimentalmente.
Parabéns Helena, por tudo o que tem construído.
Mais um abraço muito grande.

Fatyly disse...

Concordo consigo e sempre tive o cuidado de jamais em tempo algum criticar a família de todos os políticos e quando critico "o que fizeram ou o que fazem" é apenas contra o político e não cntra o "ser humano que é", excepto se eles ou elas praticarem actos ilícitos dos quais se querem baldar.
A palavra corrupto é igual, pelo menos para mim, a ladrão e porque devemos ter complacência para com eles quando quem é do povão e é apanhado a roubar...quer na imprensa escrita e até falada o dizem com todas as letras?
De facto a "violência verbal não facilita o diálogo" mas há anos e anos quem dialoga directamente com o povo? Os sindicatos? pois...

Dou-lhe um pequeno exemplo: para não falar dos "maiorais" algum deputado, assessor do assesor etc e tal, se dignou ir ver, falar, perguntar, saber alguma coisa com as pessoas que foram afectadas pelos incêndios?

São reinos à parte e só se misturam ou falam com o povo em campanhas eleitorais!

Já apregoam que vêm a luz ao fundo túnel...Deus queira que não se enganem...porque pode ser um comboio em movimento.

Sei o sofre Dº. Helena e acredito que sim...daí pensar muitas vezes nas familias de...e até nos filhos ainda crianças o que pensarão do que dizem dos progenitores?

Não sei se me fiz entender...

e agora vou para a minha "lavoura - SOS avó":)

Beijos sinceros

Helena Sacadura Cabral disse...

Fatyly
Isso é o resultado dos eleitos serem sempre representantes de partidos. Numa democracia directa você sabe quem punir e a quem se queixar. Aqui não. São os partidos que os indicam e as responsabilidades perdem-se.É por isso que os partidos me não interessam e afastam muita gente da cidadania.
De qualquer modo, nada justifica os julgamentos de caracter na praça pública, num país que tem os instrumentos legais para afastar os que não servem.
Já pensou o que pode acontecer quando houver eleições se o resultado não for muito diferente ou se o PS, sem maioria absoluta, tiver de se associar à direita? Qual a autoridade que têm?!

Professora disse...

A minha avó costumava dizer "eu não odeio ninguém. Para mim, as pessoas de quem não gosto, estão apenas mortas e enterradas. Esqueço-as". Eu também não gosto de odiar mas, no entanto, não consigo deixar de sentir essa aversão terrível por algumas pessoas. Não tem a ver com políticos, tem a ver com proximidades e quotidianos. Lamento não conseguir não odiar. Sinceramente, lamento.
Luísa Moreira

Virginia disse...

Quando as pessoas nos magoam ou decepcionam, mais vale ignorá-las. É o mesmo que dar-lhes uma bofetada de luva branca.

Julgar os outros não será bonito, mas é humano e a decepção quando se espera muito de alguém também o é.

Helena Sacadura Cabral disse...

Virgínia
Nesse aspecto tenho sorte. Só me decepciona quem pode. E, creia, podem muito poucos.
Vantagens da idade!

maria isabel disse...

Há palavras que podem querer dizer muito.
Nesta última campanha para as autarquias, um candidato que já sabia que ganhava de certeza,até se prestou a ir almoçar a uma tasquinha de aldeia para estar mais perto do povo.Chegou-se à mesa onde já estava sentado um humilde homem que lhe disse:Dá-me licença que o cumprimente?O candidato levantou-se,fez-lhe uma vénia e disse: Claro,com todo o prazer.Diz o humilde homem:vou aproveitar hoje,porque depois de domingo, o senhor nunca mais me vai cumprimentar.
O futuro autarca ficou sem voz e sentou-se.
Isto foi verdade, numa cidade cá de cima.
Já dizia a DALIDA "paroles, paroles paroles

Virginia disse...

Helena,

Obrigada pela sua resposta pessoal.

Não sei se a idade tem a ver com as decepções, pelo contrário, penso que com ela tendemos a esperar um pouco de retorno daquilo que démos durante toda a vida, o que é humano e justo. Só os santos é que nunca esperam nada em troca. Há palavras que nos dizem que ferem, decepcionam e magoam muito e a net é pródiga em criar conflitos e deixar cicatrizes. Se a Helena não tem decepções das duas uma: ou é uma alma generosa que aceita qualquer opinião dos outros sem se ferir, ou cala e consente ( o que não me parece ser a verdade).

Helena Sacadura Cabral disse...

Virginia
Sou capaz de ser uma boa alma porque - superioridade ou não - fico com pena de quem precisa de ferir para se sentir bem. O ódio e a raiva são mais mutiladores para os próprios do que para aqueles que querem atingir. Isto dizia-me a minha avó que era santa - eu não sou - e eu julgo que ela tinha razão.
A Virginia sente-se com o que possam dizer os que a não conhecem? Hum! não acredito.
Só nos podem magoar aqueles que amamos. Os outros, gastam-se em ódios e envenenam a própria vida.

Dalma disse...

Acho que já aqui o disse que na minha opinião, os maus (os que odeiam, os que espumam raiva, os que tentam desacreditar os outro etc etc) vivem em permanente infelicidade mesmo que disso não se dêem conta. O inverso já não é verdadeiro, pois há muitos infelizes que na sua infelicidade são excelentes pessoas. Tenhamos pena dos primeiros isto para não sermos mazinhas e pensar que em princípio têm o que merecem!