segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Critérios de violência...

Não tenho a mínima aptidão para violências sejam elas físicas ou verbais. Nem faço qualquer tipo de esforço para as entender. E fujo de tudo o que se ocupe de política como Diabo da cruz. Feitas estas declarações, falta completar que, como é natural, não vejo filmes que abordem tais temas. Já me basta o que vivemos...
Porém, este fim de semana, e embora a contra gosto pessoal, mas a gosto familiar, levaram-me a ver o Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow, considerado pela crítica nova-iorquina como o melhor filme do ano. A qual lhe deu ainda mais dois prémios: o da melhor realização e a Greg Faser o da melhor direcção de fotografia.
Saí da sala com o coração aos pulos e o estomago retorcido porque passei quase duas horas a ver torturas inimagináveis, atentados em série e a mais violenta hipocrisia política que se possa imaginar. Tudo para contar, a branco e preto e também a cores, a morte de Bin Laden. Enfim, uma espécie de tirocínio para um ataque cardíaco induzido.
Devo ser completamente idiota, inculta, e tudo o mais que me queiram chamar. Mas continuo a perguntar se o saldo de um filme destes será positivo. Para mim não foi. Nunca duvidei que os americanos torturaram. Como não duvido da prática de tortura nas prisões de países ditos democráticos. Então para que se fazem filmes destes?
Saí da sala mal acabou o calvário, deixando para trás filho e cunhada. Devia te-lo feito muito antes, deixando-os a ambos a ver a obra prima. Por educação não o fiz e estraguei a noite.
Só depois de caminhar sozinha um bom bocado pelas ruas vazias e ter respirado o ar frio da noite é que consegui recompor-me. Ele há com cada estopada...

HSC

17 comentários:

Anónimo disse...

O que não se faz por amor a um filho! ;)

Um beijinho,
Vânia

Carochinha disse...

Assim fiquei eu com o Amour. E nem com o vento frio da noite me passou o desconforto. Dias depois ainda penso naquilo...
Assim sendo, se calhar vou dispensar esse. Para quando obras-primas com histórias felizes? Todos os bons filmes dos últimos tempos - Django, Lincoln, Amour, 00:30 Hora Negra, Argo - envolvem violência.

Pôr do Sol disse...

Cara Helena,

Também não consigo compreender como se fazem filmes desses e como alguem ainda paga para os ver. É suposto um filme ser uma obra de arte em fotografia, musica, historia.

Não consigo ver filmes onde a violencia é o chamariz.

Perfiro-me menos culta a passar por aí.

Um beijinho

Fatyly disse...

Já somos duas e diria mais que estes filmes são educativos para que outros aprendem a fazer actos bárbaros (que a meu ver muitos são cometidos debaixo de drogas), o que abomino por completo daí não ver nada do género.

Anónimo disse...

Pois eu achei-o demasiado soft, em termos de tortura e afins, em comparação com a realidade... e sim, acho que é um dos melhores filmes do ano.
Ah, minha querida, como eu gostava de conseguir pensar como a Helena... e tenho eu ainda 45 anos. até tremo só de pensar no que me posso tornar...
Não, não estou a ser irónica.
Um grande abraço e bem haja por ser assim!

AEfetivamente disse...

Muito engraçada esta sua pequena reflexão. Desde que fui mãe, "decidi" não ir ao cinema ver filmes que me incomodam. Não estou para sair do cinema mal disposta. Lembro-me de dois filmes que me puseram assim (devia andar stressada nessas alturas, provavelmente) porque, no entanto, depois disso já os vi e senti-me "normal": O Resgate do Soldado Ryan e Um dia de raiva. Antes de ser ma~e. Agora, nem pensar. Bom cinema mas sem violência, muito menos urbana, política, tecnológica. Bj de Aveiro

Teresa Peralta disse...


Ainda bem que avisa!... Também dispenso, do fundo do coração, situações de stress... Eu sei que até parece mal, mas, sabe que, por exemplo, dispenso os filmes e livros que recordem os horríveis episódios da 2ª guerra mundial.
Pois é!... Esse filme, para mim, está fora de questão...
Um abraço agradecido pela partilha

António Pedro Pereira disse...

Caríssima Helena:
O seu texto leva-nos para uma complexa ambiguidade de sentimentos:
- abominar a violência, não a frequentando, nem sequer como espectáculo;
- alhearmo-nos da sua existência, ao tentarmos fugir dessa triste realidade cada vez mais presente nas nossas sociedades, fingindo que não existe;
- sentirmo-nos usados como compradores de sucessos fáceis, conseguidos à custa dessa triste realidade e da nossa concessão / complacência;
- alimentarmos a violência comprando-a.
É difícil gerir estas 4 contradições dentro de nós.


Carla Santos Alves disse...

Há filmes que eu nem sequer consigo ver à noite...tiram-me o sono e deixam-me angustiada.

tulipas disse...

Como a compreendo! Também a mim me acontece. Até me dói o coração! Actualmente tudo quanto seja: tortura, seja física ou verbal, vexames, injustiças... deixam-me muito incomodada. E sinto-me atada de pés e mãos. Não posso mudar nada. Mas tenho muita pena de o mundo estar no século XXI e os comportamentos das pessoas serem tão primitivos...
Um Abraço

Anónimo disse...

Duas notas:

1) Fiquei surpreso (desculpe, mas fiquei, salva-me o facto de não a conhecer pessoalmente) com a sua capacidade de criar “tal” empatia com quem sofreu as torturas inimagináveis que viu retratadas no filme. Sublinho: não com o facto de criar empatia mas com o facto de criar "TAL" empatia. Com a sua experiência e com o que os seus olhos já viram, presumi que o seu coração teria aprendido a defender-se mais da crueldade do ser humano. A consideração que já tinha por si cresceu, hoje, mais um pouco.

2) Ao contrário do que parece defender considero a importância destes filmes, na sociedade de hoje, imensurável. Estou certo que um filme destes desperta mais consciências que mil fotografias dos actos de soldados americanos em Abu Ghraib e que um milhão de relatos das condicções da prisão de Guantánamo.

N371111

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro N371111
O pior é que se não trata de empatia, porque eu não conseguiria, por mais que me esforçasse, pôr-me na posição de quem tortura, planeia, atenta contra o seu semelhante. Sejam europeus americanos, islamitas, judeus ou palestinos. Trata-se de uma aversão visceral que me ultrapassa. Assim como a "política" ou "religião" que está por detrás de todo este tipo de guerras físicas ou ideológicas.
Por isso fiquei com o pulso acelerado e o estomago revoltado.
No entanto a minha família "olhou" o filme com outros olhos e considerou que a crítica americana fora justa.
Enfim, acredito que Obama, esse que garantiu que a América não tortura tenha ficado tão mal disposto como eu. Mas por razões diferentes...
Pelo que acabo de escrever, calcula o que senti com o 11/9 e os atentados que se lhe seguiram.
Por isso acredito que o filme seja importante para alguns e nauseante para outros, exactamente por causa dos 4 pontos que referiu!

Helena Sacadura Cabral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zia disse...

Sua corajosa!
Vi o filme e apesar da violência do principio do filme, acabei por gostar da forma como se desenrolou todo o filme. Para muita gente é bom que comecem a acreditar que os USA é um país responsável por guerras sangrentas e que não são salvadores do mundo!
Gostei também que tivesse sido uma mulher a realizadora.
Um abraço,
lb/Zia

Dalma disse...

E eu que estava para ir ver! Ainda bem que vim ao seu blog!

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Zia
Violência do princípio? Mas há algum momento do filme que não tenha essa violência, essa vingança, esse ódio por detrás?
E é justamente a realização feita por uma mulher que me choca. Tudo o que lá está e sabemos pode ser dito e ser eficaz sem as imagens animalescas que ali aparecem. Não sou Obamista e ninguém me convence que ele não sabia de tudo. Agora, até deve agora saber muito mais! Anjinhos é que eles não são...

Madalena Amaral disse...

Considero actos visuais de torturas, incluindo as verbais, iguais ou pior do que a pornografia pura e dura.Deus me livre!...