quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Uma conversa tranquila

Já aqui o tenho dito. Não sou uma avó tradicional. Não o fui como filha e tão pouco o fui como mãe. Fui, isso sim, o melhor que eu sabia, podia, queria ser.
Há dois dias, o meu neto mais velho veio almoçar aqui a casa. Já o não via há algum tempo porque os exames na Universidade o tinham monopolizado. E andava triste porque estes repastos são essenciais ao meu equilíbrio pessoal, num tempo em que o meu unico filho, só me abraça quando Passos Coelho permite...
Almoçámos calmamente e fomos para o terraço apanhar sol e beberricar o café. Foi nessa altura que decidi falar-lhe na morte do Pai, tema suspenso entre todos nós, desde 24 de Abril de 2012.
Confesso-vos que fiquei abalada. E se falo disto aqui, é porque muitos outros poderão já ter passado pela experiência da morte prematura de um pai, na adolescência dos filhos. Não sei se quando tinha a sua idade reagiria como ele, mas o que sei, é que esta conversa entre nós foi das mais importantes que tive na minha vida. E das mais belas lições de humanidade que recebi.
Onde quer que o Miguel esteja, não terá ficado menos surpreendido do que eu. Porque tudo o que ouvi foi muito para além daquilo que a família lhe transmitiu. Foi ele André, coração e cabeça próprios, que me mostrou como um jovem pode ultrapassar a perda de alguém muito querido sentindo que os afectos são o essencial da vida de todos nós.
Não pela educação recebida - que, acredito, terá sido boa -, mas porque ele soube escolher a melhor forma de se refazer. E, nessa espécie de renascimento, ter falado dos seus, em particular do tio e de mim, nos moldes em que o fez, comoveu-me.
Fico sempre maravilhada com este perpétuo contínuo da vida, quando ela não esquece e até valoriza, a importância dos que vieram antes de nós. Não terei feito nada de importante na minha existência. Mas deixar cá, quando partir, esta pequena semente, enche o meu coração!

HSC

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um fim de tarde

Hoje assisti, ao fim da tarde, no Auditório do Hospital da Luz, ao relançamento do livro "ÓSCAR e a Senhora Cor-de-Rosa", de Eric-Emmanuel Schmitt, editado pela Marcador, numa tradução da actriz Lídia Franco. Na mesa estava um painel constituído pela Isabel Galriça Neto, a tradutora, o João Gonçalves editor e a Laurinda Alves que fez a apresentação da obra que, parecendo para crianças é, como o Tintin, para gente dos sete aos setenta anos.
Por norma, fujo dos hospitais como diabo da cruz, mas neste sinto-me em casa. Conheço e estimo muito o seu director clínico, Prof. José Roquette - não sei como, mas há vinte anos que continua um belo homem - e um dos meus três Arcanjos de eleição dirige a Unidade de Cuidados Paliativos. Os outros dois são, como já aqui tenho referido, o Pedro Abreu Loureiro e  a Isabel Almasqué. O primeiro cuida do meu coração e a segunda dos meus belos olhos.
Quando a Galricinha - é assim que a trato - me convidou para estar presente aceitei, sabendo que o tema me podia fazer tremer a voz, caso participasse na conversa. O que, de facto, aconteceu. Mas quem, como ela, abre sempre os braços a toda a minha família quando andamos mais tremidos, merecia isso e muito mais. Assim, com estes pilares, ir lá não me custou nada e vim mais rica do que entrei. De vida, não de dinheiro.
O livro serviu para um debate muito enriquecedor sobre a morte, que, como se sabe, é a única garantia certa que temos. Depois de tudo o que por lá se disse vou ler a obra com muito interesse. É que, no fundo, ela trata de uma luta por morrer com dignidade.
Ora a Isabel Galriça Neto fez desta luta a sua vida profissional. Só é pena que outros hospitais, nomeadamente os públicos, não façam o mesmo e olhem esta área de actividade como algo de que que apenas os ricos podem dar-se ao luxo de usufruir. Mais do que um problema economicista trata-se de um problema de vontade governamental. Vontade e respeito por quem tem a vida a prazo.

HSC

As más sementes


Depois do barulho de Mario Nogueira deliciem-se com esta belíssima canção que, apesar do título, me repousa e pacifica.

HSC

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma certa linguagem sindicalista

Pode não se gostar deste governo. Pode não se gostar de um ministro. Pode não se gostar de Nuno Crato. Podem os professores ter toda a razão nas suas reivindicações. 
Mas poderá/deverá o professor sindicalista Mário Nogueira, pago por todos nós, através do Ministério da Educação, expressar-se publicamente em termos de português vernáculo, insultuosos, como fez, quando representa uma boa parte daqueles que, em princípio, têm por missão educar? E dizer que o ministro tem as mãos sujas sem provar o que afirma?
Preocupa-me um pouco que os meus netos possam, um dia, vir a expressar-se naqueles moldes, invocando que estão a copiar um professor...

HSC

E se pensassem?!

O Prof. Marcelo, todo expedito, censurou Arménio Carlos por uma infeliz afirmação que o mesmo havia feito quanto à cor da pele de um dos elementos da Troika, que considerou racista e que deveria obrigar o seu autor a um pedido de desculpas. Que não aconteceram, claro.
Mas, rápido no gatilho e perante as diferenças existentes entre António José Seguro e António Costa, o mesmo Marcelito responderia, por sua vez, lépido, que elas (as diferenças) eram "como televisão a preto e branco e televisão a cores"!
Nem comento, está de ver.

HSC

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Edit Mag


Já aqui falei desta revista nacional. É um produto de excelente qualidade que trata a moda e a cosmética de uma forma quase cénica, teatral. Melhor que muitas estrangeiras conceituadas que conheço, prova bem do que somos capazes quando decidimos pôr mãos à obra..
Como sabem esta não é área de que me ocupe, por norma, neste blogue. Mas a Edit tem qualidade, é portuguesa, aborda outros temas que podem interessar a muito leitores e merece ser divulgada.

HSC

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Democracia moralista


«Basta olhar para a forma como decorre grande parte do debate político português, com a sua gritaria, a sua preferência peloslogan inconsistente, a sua propensão para um radicalismo doentio, para se poder ter uma noção muito aproximada do que se está a passar. Numa época de crise, os defensores de soluções extremistas reclamam-se, aliás, de uma superioridade moral com que pretendem condicionar grande parte da discussão política.
As nossas democracias de opinião, com a propensão excessiva para a valorização das emoções, e em grande parte determinadas pela influência televisiva, não estão especialmente bem preparadas para enfrentar um risco de tal ordem. Bem pelo contrário, este parece ser o tempo dos moralistas, dos radicais e dos sectários. Para obstar a isso, teremos de apostar no triunfo de um pensamento complexo e exigente, capaz de mobilizar amplos sectores das nossas sociedades.»

Estas são palavras de Francisco Assis - roubadas ao Delito de Opinião -, um dos socialistas que, a meu ver, merece ser ouvido com atenção. E que confirmam aquilo que aqui escrevi num post recente.
Mas não é apenas no debate político que a sociedade portuguesa está enferma. É em tudo o resto. Todos se julgam no direito não só de saber de tudo, como, inclusive, ousam criticar as emoções ou o carácter de quem não conhecem. 
Se a ditadura impôs a lei da rolha, a nossa democracia está a começar a impor o pensamento único, a emoção padronizada, o carácter formatado. Tudo acompanhado da chamada liberdade de expressão que lhe confere estatuto especial. 
Quanto tempo demorará, ainda, a perceber que em democracia há uma base inalienável que é o direito a ser diferente e a não ser descriminado por isso? Uma coisa é aceitar a vontade expressa da maioria. Outra coisa é a obrigação de lhe ser igual.

HSC

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tragam sol e dinheiro...


Enquanto esperamos pelos resultados da nossa ida ao mercado e pelo sol de inverno, divirtam-se com este vídeo delicioso. Mas vejam até ao fim...

HSC

Quer comprar?

Pela primeira vez, desde que pediu ajuda financeira externa, Portugal volta aos mercados com dois mil milhões de euros em obrigações a cinco anos a uma taxa que rondará os 5%.
Barclays, BES, Deutsche Bank e Morgan Stanley foram os bancos escolhidos para liderar a colocação de uma linha sindicada com maturidade a cinco anos e com um cupão de 4,35%.
Trata-se de um teste para provar aos investidores que o nosso país voltar a caminhar sozinho quando o programa de ajustamento terminar, o que deverá acontecer em 2014.
Devo confessar que esta notícia vinda do esfíngico Ministro das Finanças me parece trazer um surpreendente cariz político. 
Porquê? Porque Vitor Gaspar sempre atirou esta operação para Setembro e porque, como técnico, tem sido pouco dado a este tipo de surpresas. Assim - e não sabendo eu, ainda, quando escrevo estas linhas, qual o resultado desta colocação de dívida -, fico, confesso, com a impressão de que se pretendeu tirar daqui um qualquer efeito. Mas como não quero ser bota abaixo, esperemos para ver o que nos dizem os responsáveis.

HSC

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Por favor, Seguro, não me surpreenda

Há coisas que a gente sente e encontra escrito por outrem que não nós. É o caso da crónica que Ferreira Fernandes publica hoje no Diário de Notícias e que abaixo transcrevo para aqueles que possam não a ter lido. 
De facto, o PS "precisa" de ser oposição, "deve" ser oposição. Mas para que tal aconteça, importa encontrar um líder com força e que convença. Não é o caso do actual. Todos nós sabemos que eles existem, têm nome e têm rosto. Porque é que se resguardam tanto? Acredito que um deles se esteja a preparar para Belem. Mas o resto? E o resto até é muito bom. Cheguem-se à frente porque o partido precisa disso.

"Seguro disse: "Irei surpreender os portugueses com futuro Governo." Eu preferia não ficar surpreendido. Já chega de estranhar sobre como, por cá, é possível chegar a primeiro-ministro ou candidato a primeiro-ministro. Das próximas vezes preferia não estranhar e passar logo à fase de entranhar políticos capazes. Eficazes e sem conversa mole em entrevistas. Que não chamem "laboratório de ideias" àquilo de pensar como vão governar, nem "viveiro" ao lugar onde vão buscar os potenciais governantes. Não os quero enxertados, só bons políticos. E era simplesmente assim que gostava que eles me fossem apresentados por quem se farta de dizer "deixe-me dizer-lhe com muita clareza." Mas houve um momento da entrevista de Seguro de que gostei. Ele recordou que haver crise política ou não "depende do dr. Pedro Passos Coelho e do dr. Paulo Portas porque eles dispõem de maioria absoluta."Boa malha! São coisas assim, simples, não surpreendentes, que quero na vida política: com muita clareza (não dita, mas aplicada), mostrar contradições dos adversários. Depois, Seguro disse que a crise política começou quando Portas disse publicamente: "Se me perguntarem se eu sabia das medidas da TSU, eu respondo que não..." Ora, o que Portas disse, na altura, foi: "Se me perguntarem se eu soube [da TSU], claro que soube." Está a ver, Seguro, as surpresas que eu não quero? Um candidato a primeiro-ministro, citando mal, a estragar um seu bom argumento..."

HSC

domingo, 20 de janeiro de 2013

Amor inevitável


«I love you. I've loved you since the first moment I saw you. I guess maybe I've even loved you before I saw you».

Já alguém lhe disse isto? Espero bem que sim. E que nunca mais tenha  esquecido esse momento.
É uma das frases de amor mais românticas que conheço. Hoje, por razões várias, lembrei-me dela, ao vê-la reproduzida num post do Pedro Correia, que recorda o filme "A place in the sun" e em que Montgomery Clift a diz a Elisabeth Taylor .
Há pessoas que amamos mesmo antes de as encontrarmos. Só alguém a quem isto já aconteceu pode perceber a intensidade, a força, a paixão, a inevitabilidade de um amor assim!

HSC

sábado, 19 de janeiro de 2013

Tenho dias...

O vendaval em Lisboa foi enorme. Como não estava cá, quando cheguei, decidi que o melhor era ir passear. É verdade, gosto de andar pelas ruas com mau tempo. Foi o que fiz.
Rumei a Campo de Ourique, o meu bairro de eleição, para tomar um café. Mas ao chegar à Ruacaná, não resisti ao cheiro do cozido - que, para mim, está para o Inverno, como as sardinhas assadas estão para o verão -, e atirei-me a uma meia dose. Só ficou uma batata...
Depois, depois era necessário "esmoer". E foi assim que resolvi abeirar-me da água e passear ao longo do rio. Como estava irreconhecível, gorro na cabeça, botas nos pés e um casacão que me cobria a cara, pude dar-me ao luxo de "flanner à Lisbonne". E com que gosto, Deus meu!
O bem que me fez. Conversei com o Miguel, ri-me comigo mesma e deliciei-me a ver a turbulência com que o Tejo se atirava à capital. Nem me lembrei da crise.
Uma mensagem do meu outro filho, a convidar-me para o bife do Império, tirou-me deste remanso, que retomei até cerca das cinco e meia. Não fora o temporal e teria chegado, de novo, a casa, com luz..
O meu maior problema agora, que já bebi um quarto de Água das Pedras, é saber onde vou meter o bife mail'a batata frita e mail'o ovo estrelado... 
Tenho dias assim. E gosto!

HSC

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Lapidar as palavras

Uma leitora deste blogue, com quinze anos, deixou um comentário perguntando-me se poderia mandar-me coisas que escrevera para eu lhe dar a minha opinião.
Fico sempre muito emocionada quando tal acontece. Primeiro, porque se trata de uma jovem que me lê e gosta do que eu escrevo. Depois, porque no caso vertente, a minha leitora me enviou poesia inspirada, reveladora de uma cabeça arrumada e de um coração que vibra. 
Não toquei nos versos mas, ponto por ponto, disse-lhe o que me parecia que ela deveria ter em conta no futuro. E perguntei-lhe por prosa. Que ela me enviou. Igualmente boa. Aqui ousei o que faço com os alunos de Escrita Criativa e usei a técnica do espelho. Ou seja, escrever por cima do texto de outra pessoa. 
O que fica já não é da autora inicial nem da avaliadora. É, quando muito, o chamado texto modelar. Que lhe enviei para que ela pudesse "sentir" outro pulsar. No fundo, limitei-me a lapidar um diamante que já tinha as arestas bem marcadas e a torna-las mais reflectoras da própria luz.
Quando penso que uma jovem como esta me lê e me confia algo pessoalíssimo como é a sua escrita, sinto-me compensada de todas as crises que possam existir no país e acredito que, talvez, o mundo que lhes deixamos não seja tão mau como parece! 

HSC

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sociedade Civil Solidária



Não costumo fazer parte de "movimentos". Abro raríssimas excepções, desde que os mesmos partam da sociedade civil, não tenham qualquer conotação política e envolvam objectivos e pessoas confiáveis. Julgo que esta poderá ser uma das poucas vantagens de se ser conhecido: dar rosto por uma causa em que se acredita

O Movimento Sociedade Civil Solidária pretende lançar um apelo, a nível nacional, tendo em vista maior justiça social, respeito pela dignidade humana e pelo bem comum, e drástica redução das desigualdades e da pobreza.
Foi apresentado ao público no dia 30 de Maio, no Centro Cultural de Belém. Apesar de já contar com o apoio da Cruz Vermelha Portuguesa, acabou por não ter tido grande visibilidade. Daí ter-se chegado à conclusão de que se tornava urgente, agora, dinamizar várias iniciativas na comunicação social. O que se fez como um pequeno filme de 30 segundos e várias entrevistas, a explicar melhor como todos poderão participar e dar  o seu apoio. O qual será sempre a nível nacional, e em diferentes áreas nomeadamente, restaurantes e lojas solidárias, apoio a desempregados, famílias em situação difícil e outras situações de graves carências.
Todos os portugueses poderão participar, com pequenas ou grandes contribuições, através:
1. Do NIB 003603249910000923653 do Montepio Geral, atribuído a uma conta em nome de Sociedade Civil Solidária.
2. Do site: 
http://www.scsolidaria.org/ 
3. De chamadas de VA para o n.º 760 105 010.
4.
https://www.facebook.com/MovimentoSociedadeCivilSolidaria, o nosso actual endereço no Facebook, onde poderá visitar-nos de modo a criar uma grande rede de amigos e pedir maior apoio.

Como foi referido no Manifesto, o que se pretende é colocar ao dispor de todos os portugueses um meio prático de expressarem a sua solidariedade.
Acreditamos, que este Movimento “Sociedade Civil Solidária” poderá constituir, com a generosidade e a participação de todos, um meio dessa sociedade civil se expressar de  uma forma activa, dinâmica, generosa e verdadeiramente solidária.
Contam, assim, aqueles que neste movimento se empenharam, com a ajuda de todos!

Eu sei que existirá sempre quem olhe este tipo de actuação como uma forma de caridadezinha desculpabilizadora dos vários responsáveis por este estado de coisas. Esses nada farão. Nós tentaremos, apesar disso, não ficarmos indiferentes às mais básicas carências daqueles que, nesta altura, só querem é poder ser ajudados. Venha essa ajuda de onde vier.

HSC