Sempre que leio uma notícia como a que hoje vinha no Correio da Manhã a dizer que "quinze mil docentes reformados custam ao Estado cerca de vinte e seis milhões de euros", fico um pouco baralhada.
"Custam"? Mas então nós não andamos a descontar, para ter direito à reforma? A reforma não será a contrapartida do que entregámos para ela? Claro que eu sou paga pela geração seguinte, como a geração anterior foi paga por mim.
O verbo "custar" tem por isso, aqui, um significado abusivo. Não é ao Estado que custa. É a nós. O Estado foi apenas o fiel depositário do que previamente nós lhe entregámos para mais tarde receber. Ou não?!
HSC
20 comentários:
Nem mais!
Obrigada, HSC, porque acho que este esclarecimento é mesmo vital!
Eu acrescentaria que o Estado tem sido um fiel depositário muito incapaz... porque tem esbanjado indevidamente e isso custa-nos a todos nós, os que somos contribuintes...
é um tema que me assusta...
Cara Dra Helena:
Concordo plenamente com a observação de fundo.
Tenho, no entanto, uma dúvida, realçada pela parte final da mensagem. De facto, se previamente se entregou para mais tarde se receber, então o que agora se recebe é o que previamente se entregou, e não o que agora se está a entregar (tipo PPR)… Ou seja, a dúvida deve-se a eu neste momento não saber como é que o processo se iniciou (se com um fundo ou sem ele).
J. Rodrigues Dias
Caro José Rodrigues
Há sempre um ponto de partida que é o zero.
Ignoro tanto como o JR qual foi o processo. Mas costumamos dizer que estamos a comer o futuro dos netos.
Ouvi uma vez um especialista dizer que cada activo pagava X reformados.Daí o meu raciocínio.
Mas vou saber qual o quociente certo de activo/reformado e depois esclareço-o.
Querida Helenamiga
Totalmente de acordo. O princípio está correcto; as contas, não sei fazê-as. Cá em casa é a Raquel quem as faz...
Eu sou um zero em geologia, daí...
Tem toda a razão.
Mas tal insere-se naquilo que vai sendo, recentemente, a percepção de quem nos governa e o que pensa sobre quem desconta, ou descontou, ao longo de muitos anos: os funcionários públicos (há umas décadas atrás, segundo familiars meus, eram designados, com mais dignidade, de funcionários do Estado). Vivemos hoje numa sociedade impiedosa, aviltante, corrupta (de trafico de influencias), sem valores e que nãon tem qualquer respeito por quem trabalhou anos a fio, descontando, outros tantos anos a fio.
Enfim, tenho pena de quem sofre, hoje, as agruras de um Estado (e governo) que já nem sequer tem pruridos em manifestar o seu desprezo pelos seus funcionários.
A imprensa de hoje apenas reflecte o que o Estado e quem o gere pensa deste tipo de questões.
P.Rufino
Helena,
Está a criar-se um clima malsão, em que parece que se sente que há injustiça em pagar reformas aos reformados, como se fossem pessoas inúteis, que não trabalham, que vivem que se fartam, e que querem estar sossegados a receber dinheirinho a troco de nada.
Assustadora esta mentalidade.
Fez muito bem em explicar que quem recebe uma pensão de reforma está a receber sob a forma de renda vitalícia aquilo que acumulou, com os descontos que fez durante o seu período activo.
Nunca será demais explicar que é isto que acontece, e que é natural que a esperança de vida se dilate e que o ser humano, com o avanço da civilização, deve viver com mais e melhores direitos - e com dignidade e com o respeito que lhes é mais que devido.
Um beijinho, Helena.
Carissima Dr Helena o Correio da Manha nunca fez parte desses jornais que existem para informar e formar a população. Ao Correio da Manha o que interessa é vender papel e fazer "papel".
Claro que a Senhora tem razão. Claro que é assim que se passa.
No minimo acho simpatico e elegante o titulo do CM para com esses 15 mil cidadaos : (
Que pena abatermos tantas florestas para isto !
TANT DE FORÊTS
Tant de forêts arrachées à la terre
et massacrées
achevées
rotativées
Tant de forêts sacrifiées pour la pâte à papier
des milliards de journaux attirant annuellement l'attention
des lecteurs sur les dangers du déboisement des bois
et des forêts
Jacques Prévert
In "Arbres"
Cara Helena,
A minha noção de fiel depositario(e certamente a sua tambem) é: o que guarda fidelidade, aquele que cumpre aquilo a que se obriga. Ora o que este governo faz não é bem isso.
Falam tanto da "pesada herança", ora essa herança é constituida tambem por 23% do meu ordenado, pago pelo patrão mais 11% pago por mim durante 40 anos.Não sinto que esteja a custar nada ao Estado.
Se o não geriram bem,vamos ser nós a pagar essa incapacidade?
Expliquem-me por favor, como se eu tivesse cinco anos.
Para além do texto, a imagem também é muito elucidativa. Já vi que todos os meses os 11% do meu vencimento que desconto vão direitinhos a um saco com um buraco no fundo. Sempre quero ver que pensão vou ter daqui a 28 anos, se entretanto não acharem que tenho que trabalhar até morrer.
Estou perfeitamente de acordo!
Pela maneira como os governantes têm gerido o nosso dinheiro, eu nem isso receberei, ou seja, estou a pagar (porque sou obrigada, já que não tenho dinheiro para mais outro tipo de aplicação) e quando precisar, não terei.
É que o poço tem fundo, assim como tudo o resto...
Muito lucido e esclarecedor, este comentário. Ler este blog é uma lufada de ar fresco!
O conceito parece não ser percebido por tanta gente!!!
ou não interessa ser passado desta forma tão simples!!
O problema é que os reformados recebem a parte da sua contribuição durante a vida activa durante muitos anos... mas já temos a Drª Manuela Ferreira Leite, o Dr António Barreto e o Prof Sobrinho Simões a tratar da nossa saúde..., agora já podemos dormir descansados... de certeza que eles tratam bem!!!
Bjs
Parabéns mais uma vez, Helena!
E os seu comentadores deram contributos lúcidos. O Estado (entidade abstracta), o Governo (e os anteriores) querem acabar com as reformas, daí estes "fraseamentos" que, infelizmente, convencem muitos até chegar a vez deles.
São precisas mais pessoas como a Helena para abrir os olhos aos adormecidos. Ainda acredito que o esclarecimento pode ser feito, assim, com toda a clareza directa.
Raúl.
Muito bem visto, subscrevo.
Cara Helena
Baralhadiiiiiiiiinha da Silva mesmo,também ando eu.
Então, ainda há poucos dias, o Governo foi à pressa buscar o FUNDO DE PENSÕES DA BANCA, absolutamente indispensável para conseguir cumprir o déficit exigido,dizem.
E, poucos dias depois oiço umas bocas de gente do Governo também, referir que "vão ter de vender umas coisas" para conseguir pagar as pensões dos bancários.
Será que afinal andei trinta e cinco anos a trabalhar para a senhora D. Branca???
Enfim...
estavam os nossos" fundozinhos lindos e postos em sossego
de seus anos colhendo doce fruito"
quando montado no seu camelo
o rei mago mais meiguinho
e de seu nome Gaspar
em vez de trazer presente
os levou como um tesouro
e eis que agora já não sabe
(d e v a g a r
d e v a g a r i n h o)
como é que nos vai pagar?
Quero lá saber, venda o ouro, venda o ouro, VENDA O OURO!!!
O Estado foi fiel depositário dos descontos do privado, agora do sector público é muito relativo.
O dinheiro (descontos) não se sabe por onde passa e está brutalmente inflacionado, como agora se vê não existe e as reformas dos excelentíssimos senhores doutores são pagas via empréstimos a taxas de juro bastante altas como aparece na TV. Que chatice.
Eu também pensava que sim. Mas começo-me a questionar seriamente se quando chegar a altura de me reformar (eu tenho 27 anos) se haverá dinheiro (o meu, por sinal) para me entregar. Penso que o sistema de segurança social em que vivemos actualmente precisa de uma revisão urgente dado que com o envelhecimento populacional e outras variáveis à mistura pouco restará para receber quando chegar a altura de me reformar (que, na minha altura, deverá ser aos 85 anos :) ).
ora pois eu sou funcionaria publica desde 1973...fazendo as contas ja vou fazer 39 anos de serviço e fiel!Entretanto, pelo meio, fiz uma licenciatura porque, divorciada, tinha uma filha para mandar para a faculdade, que nem recebia pensão de alimentos.
Concluída a licenciatura de 5 anos em 2003 so em 2005 passei a Técnica superior mas apenas em 6/2007 saiu publicado em D.R.
A trabalhar sempre como Tecnica(mesmo durante o estagio,tinha o mesmo volume de trabalho que as minhas colegas)mas a ganhar como administrativa.
Fiz, em 11/2011 , 60 anos.
Tinha requerido a minha aposentaçao em 29/04/2010, (mesminho no dia em que entrou em vigor a lei que alterava de 4,5%para 6% a penalização de cada ano que me faltasse para a idade da aposentação.
Este ano ,como não me diziam nada, enviei um mail à CGA para saber o ponto da situaçao. No dia 16 de Dezembro telefonaram-me a avisar-me que estaria reformada a partir de 1/1/2012 com cerca de 800€. Tenho compromissos mensais(casa,luz,agua,telefone alimentação,passe,saúde)de 1000€, vivo só,tenho sido autónoma e independente.
Desisti da minha aposentação e continuo a trabalhar. Ganho pouco mais de 1000€, mas da para viver. Ou antes sobreviver. Nao ha cinema,nao há deslocações para fora do Porto a visitar um(a) amigo(a), muito menos uma viagem mesmo pela Raynair, pois nao há dinheiro.
Tenho uma doença cronica e queria dedicar-me a minha pintura mas pelo que vejo nao posso pois nem dinheiro tenho para comprar tintas e telas.
A minha reforma, pago-a eu, integralmente ate ao ultimo cêntimo.Como milhares e milhares neste pais.Que trabalharam sempre e sempre levaram com o estigma do FP. E agora, para cumulo, levam com este sacanear fininho,este total desrespeito pelos compromissos assumidos quando ainda eram jovens,tratando-os com cidadaos de 3ª para nao dizer lixo.
um abraço,Helena!
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