terça-feira, 22 de outubro de 2013

As dores e as alegrias

A propósito do post anterior, vários comentadores manifestaram dificuldade em compreender uma regra na qual fui educada, que pratico, e que tem por base um lema muito simples: "consumir as dores e partilhar as alegrias". Uma parte dos comentários defendia que a dor não deve ser vivida em solitário e, como a alegria, deve ser dividida.
A minha posição - cujo exercício está longe de der fácil -, baseia-se num sentimento muito pessoal. Com efeito, aquilo que denomino de dor, é tão íntimo, tão profundo que seria impossível reparti-lo com quem quer que fosse, mesmo sendo muito amigo. Talvez, no máximo, conseguisse faze-lo com a minha mãe, de quem sempre me considerei uma extensão. Jamais com amigos, por muito íntimos que estes possam ser.
Vejamos um exemplo. Perdi um filho há ano e meio. Alguém imagina que essa dor imensa pudesse ser dividida, falada, descrita, chorada com um amigo? Para mim, isso seria insuportável. Essa mágoa, como tantas outras pelas quais já passei, precisaram de um enorme silêncio dentro de mim. Silêncio para aceitar, para suportar, para me não revoltar, enfim, para poder continuar a viver.
O luto que acompanha a perda - pode não ser uma morte, pode ser um divórcio, pode ser uma doença grave - impõe, por norma, percorrer um caminho de pedras, que sendo o "nosso" caminho, tem de ser escolhido pelo próprio.
Acresce a tudo isto, que existem "outras pessoas" que esperam, que precisam do exemplo da nossa fortaleza. Não para sermos tidos por heróis, mas porque uma parte da força deles reside na nossa própria força.
A minha mãe viveu dezasseis anos com um cancro de sangue. Da sua cama, na parte final da sua vida, comandava toda a casa. Nunca vi nos seus olhos senão alegria. Por estar viva e por poder gozar da nossa companhia. Nunca lhe ouvi um queixume. E sempre se riu do médico lhe ter dado seis meses de vida e ela ter durado mais dezoito anos!
Ao contrário, quando partilhamos alegrias, contribuímos para a paz dos outros, para o seu bem estar, para a sua pequena felicidade. Por isso sempre achei útil para mim e para aqueles que me estimam, dividir com eles as minhas pequenas vitórias.
Nada disto inibe que falemos daquilo que nos entristece, se essa conversa tiver alguma utilidade. Para nós e para quem nos ouve. Mas isso não é partilhar a dor...

HSC

40 comentários:

Eulália Tadeu disse...

Não podia estar mais de acordo. Também eu gosto de percorrer sozinha os meus caminhos de pedra. O silêncio dessas caminhadas dão claridade aos pensamentos.
Quanto às alegrias, essas sim, são para partilhar.

Isabel Mouzinho disse...

Percebo muito bem o que diz, gosto particularmente do modo como o diz, e creio que no fundo também fui educada um pouco nesse princípio, mesmo que de uma maneira mais ou menos implícita: o de calar as dores mais fundas e vivê-las no silêncio, com tudo o que isso tem de bom e mau. Isso explica talvez que ainda hoje tenha tendência a esconder as lágrimas, mesmo reconhecendo que como ouvi dizer ao seu filho Paulo: "as lágrimas são sinal de uma emoção e não de uma debilidade". Não sei se as palavras eram exactamente estas, mas a ideia seria...

Beijinho. Grande.
Isabel Mouzinho

TERESA PERALTA disse...

Helena, a sua explicação faz tanto sentido... :)
As experiencias vividas, numa dada situação, podem fortalecer os “outros”, mas, só depois de estarem bem meditadas dentro de nós próprios. Caso contrario, também, transmitimos pormenores e não conclusões.
Beijinho, Helena, e um bom dia para si.

Alcipe disse...

"Deixa-se de ser jovem quando se aprende que de nada vale contar uma dor" (Cesare Pavese, "Ofício de Viver")

Professora disse...

Conheço muito bem o silêncio. O meu. E é com ele que partilho as minhas maiores dores. Muitas e intensas! Uma gargalhada pode ser colectiva, uma perda não consigo...

Luísa Moreira

Anónimo disse...

Com efeito, faz sentido...

E é tão importante os nossos pequenos momentos de silêncio.

Um beijinho
Vânia

Mineu Borques Leal disse...

Quando temos uma alegria é bom partilhá-la, pois, se são nossos amigos ficarão alegres também.
O mesmo se passa com um desgosto...Por isso será melhor evitar espalhar a tristeza à nossa volta.

Paula Ferrinho disse...

Também acho que a dor é pessoal, única e de uma cor e forma que só nós conhecemos e podemos decifrar. É difícil partilhar com alguém, uma coisa que só nós deciframos completamente. Parece que não há sintonia, para além de que sinto sempre algum "pudor" em "dar" um bocadinho da minha dor aos outros,só assim a partilharia e parece que não tenho esse direito. Por outro lado, é como diz, querida Helena, a dor precisa do silêncio do nosso "santuário" pessoal para ser processada e aceite de forma natural, embora dolorosa...
Sempre profunda, querida Helena!
Um beijinho!

Carlos Fonseca disse...

Não comentei o post anterior, por uma espécie de pudor, que talvez nem fosse capaz de explicar bem.

Depois de ler este, não hesito em lhe dizer que concordo inteiramente consigo. Também eu não partilho dores. As dores são minhas, carrego-as comigo, enquanto faço as minhas "auto-curas", nos casos em que isso é possível. Porque há dores para as quais não encontrei bálsamo capaz. Nem creio que venha alguma vez a encontrar.

Virginia disse...

Sou das que sofrem em silêncio, mas há momentos em que o partilhar funciona como uma terapêutica para a nossa própria psique.

Em 2005 a minha filha adoeceu com esquizofrenia em Inglaterra. Passado o choque, senti necessidade de falar, falar para eu própria me compenetrar de que não era pesadelo, mas realidade. E foi ao falar que encontrei as pessoas certas para me trazerem algum alívio e muita paz. Abençoadas foram - nem sequer eram amigas, apenas colegas - a sua solidariedade naquele momento trouxe-me imenso conforto.

rmg disse...


Um texto extraordinário que , por várias razões algumas das quais lá estão também , partilho da primeira à última palavra.
Obrigado .

RuiMG

Gaivota Maria disse...

Adorei a sua posição. E como não tenho junto de mim quem goste de partilhar as minhas vitórias, as suas palavras ajudaram-me a saber consumir essa dor. Obrigada, Helena, por ser quem é.

MARGARIDA disse...

Cara senhora,
Sigo com interesse as suas publicações neste blog e se algumas vezes me apeteceu comentar, outras tantas encontrei nos comentários já feitos eco do que penso, ou por comodismo ou inercia me fiquei pelas intenções...Hoje quero concretizar a intenção de dizer usando no entanto as palavras de um fado que muito me diz " a desdita não se diz" subscrevendo o que afirma - Que a dor é um lugar intimo que as boas intenções ou afectos dos que nos amam, não chegam a alcançar. Ate penso que nesse lugar de onde regressamos, sobreviventes ou fragilizados, para os outros é fundamental ser preservado como só nosso...falar dele é ainda deixar tudo por dizer. Cumprimento-a.
MCR

zia disse...

Tenho andado muito silenciosa mas hoje não resisto a opinar...
Penso que falar de comentar a dor e a alegria e a sua partilha não é fácil, no entanto são sentimentos tão intímos que a cada um cabe o que conseguir e sabe exprimir. Há quem tenha facilidade de realizar essa partilha mas para os que têm dificuldade em ser otimistas também são desajeitados quando toca a expressar dor e alegria...
Um abraço amigo,
zia

Maria disse...

Drª Helena, admiro-a muito mesmo! O seu post deixou-me sem muitas palavras... A Senhora é um exemplo!
Um abraço da Maria (seg. int.)

Maria disse...

Já li e reli este seu post! Presumo que a inexistência de comentários se deva a uma reflexão maior, como aconteceu comigo.
Concluo que tenho muito a aprender!
Sempre partilhei com amigos os piores e melhores momentos,mas sei que as suas palavras são sábias e, por isso, tenho necessidade de ler e pensar de novo.
Obrigada!

Anónimo disse...

nem imagina com a compreendo. também, eu fui educada assim, e até hoje é a minha postura. Os "outros" também têm as suas dores e julgo que não devemos sobrecarregá-los com as nossas. Podemos sim alegrá-los com as nossas alegrias.
Uma Boa noite e obrigada por pôr por escrito aquilo que eu sinto.
Nocas

Dalma disse...

E partilhar as nossas alegrias junto de quem as não tem será justo?
Partilhar as nossas alegrias junto de quem está triste não será "ofensivo"?

Anónimo disse...

Deixa que a respiração profunda
do teu Ser aconteça. Só isso. Não
interrogues, nem busques. Deixa
que seja Deus a procurar-te. Não
caminhes. Ele virá ao teu encontro.
Não procures contemplar. Permite,
antes, que Deus te contemple. Não
rezes. Deixa que, em silêncio, Ele
reze o que tu és.

in Um Deus que Dança, José Tolentino Mendonça

Cara dr.ª Helena,
como a entendo na "não partilha" das dores que nos sangram o coração.Só nossas,e que mesmo que as partilhassemos isso não aliviaria...
...contudo,há Alguém Maior que nos escuta e ampara,e só isso me alivia.
Gosto de silêncios,de sentir que aí a minha alma dança com Deus.
E...É TÃO BOM.

Um sorriso,uma música,uma rosa de porcelana lhe deixo aqui.
MFK

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Dalma, julga que alguém de bom senso vai partilhar a sua alegria junto de quem esteja triste e precise de apoio?!

Aos meus comentadores
Eu não disse que a minha prática era "a certa". Disse que fui assim educada e que é assim que vivo.
Mas isso não me qualifica para estar certa e os outros errados. Portanto, práticas diferentes, valem tanto como a minha!

Anónimo disse...

Também eu tinha a minha mãe como confidente. Durante toda a sua vida a minha mãe foi sempre uma pessoa muito positiva, bem disposta, ativa, com sentido de humor. Embora com uma cabeça excecional para a idade (89) e boa saúde, percebi que nos últimos 3, 4 anos, ela já não gostava de falar de problemas.

A partir daí, passei a partilhar com ela apenas os momentos bons e passei a aligeirar os momentos mais difíceis, como quando tive de fazer uma cirurgia. Disse-lhe em poucas palavras que era uma coisa simples, que ia correr tudo bem e que o meu bem-estar ia ganhar com isso. Felizmente foi exatamente o que aconteceu.

Quando deixei de ter a minha mãe como confidente, senti esse vazio, e que não havia mais ninguém com quem pudesse falar como estava habituada a falar com ela, mesmo no que se refere à família e amigos.

Fiquei só comigo mesma, recorri à aprendizagem de métodos de meditação e relaxamento, e outros, o que me tem ajudado muito.
Num momento mais complicado, fiz uma terapia de grupo breve, que me ajudou a encontrar de novo os meus caminhos, mas só cada um de nós o pode encontrar, ninguém pode fazê-lo por nós.

Mesmo quando temos a felicidade de ter alguém como confidente, cada um de nós tem de aceitar a sua solidão e tem de saber estar consigo mesmo em silêncio.

Tomei consciência que ter alguém como confidente é algo de extraordinário (e agradeço à minha querida mãe, que já não está conosco, o tanto que ela me dava e que eu tinha como um dado adquirido)e talvez por isso eu própria me tornei confidente de algumas pessoas, o que não é fácil, mas também me dá muito.

É importante, é mesmo indispensável que as pessoas falem dos seus problemas e desabafem, mas a verdade é que a maior parte das pessoas não tem com quem.
A maior parte das pessoas não tem disponibilidade para ser confidente, e não é por mal, é porque têm os seus problemas e não aguentam mais nada.

Anónimo disse...

Na dor como na alegria há uma parte que se pode partilhar e uma parte que é demasiado íntima.

Partilhar uma dor ou uma alegria com alguém não significa que se partilhe tudo (mesmo que se quisesse não se conseguiria) e que não tenhamos os nossos momentos indispensáveis sós em silêncio. Uma coisa não invalida a outra.

Todos nós temos de saber aceitar a nossa solidão, um núcleo que não podemos esperar que alguém alguma vez preencha. Só a partir daí sabemos viver com os outros, mesmo com quem amamos.

Não gosto duma cultura que não aceite as lágrimas e só aceite os sorrisos.

Mas as gargalhadas de HSC são uma lufada de ar fresco e sem elas Portugal seria mais pobre. Tal como Portugal é mais pobre sem Miguel Portas.

Mas há uma coisa que distingue HSC de muita gente, é uma figura pública, e isso determina certamente uma maior necessidade de privacidade.

Unknown disse...

Minha querida Helenamiga

Sabes que tento ser alegre, mesmo em momentos difíceis, porque tenho um "bom coração". Alguém mo disse e por isso aqui o repito.

Sem Alegria não se vive a vida. Sem Humor, muito menos. Esta é a minha maneira e mania de viver. Se me arranjarem outra, certamente que a entendo - mas não a vivo.

Qjs

Henrique

Dalma disse...

HSC, tem razão no que diz! Porém eu sinto sempre alguma relutância em demonstrar as minhas alegria, excepto junto dos meus, claro! Sinto que posso ser mal interpretada, quiçá vaidosa...

Anónimo disse...

Drª Helena toda a gente gosta de a ouvir rir mas se chorasse também ninguém ia deixar de gostar de si. O tempo em que era feio chorar já lá vai, hoje até é bonito um homem chorar.

Anónimo disse...

Mas Helena SC o que é este post senão partilhar os seus sentimentos e ideias, não tem de ser mais do que isto. E é muitíssimo, pela capacidade que tem em o fazer como grande comunicadora que é. Partilhar não é mostrar os momentos mais íntimos, esses temos de os viver e sentir em silêncio, ou junto de uma árvore, ou embrenhados na natureza, ou meditando na montanha, mas não temos de estar na montanha para meditar. Cada um tem o seu modo, há quem goste de estar no meio da multidão. Lembro-me de ter lido numa entrevista a Paula Rego em que esta dizia que quando precisava de arrumar as ideias gostava de andar num supermercado a ver tudo.
Mas todos precisamos de falar, de escrever sobre (se tivermos essa capacidade), às vezes basta um olhar, um sorriso cúmplice, um abraço. Mas há quem não tenha nada disso. Não é a quantidade é a qualidade, e essa a Helena tem-na e de que maneira.

Envio aqui um espetáculo excecional com as sombras das mãos
What a Wonderful World

www.youtube.com/watch?v=59p9Ps9oj3M

Maria Joao Morgado disse...

O silencio de cada um de nós não significa que a dor não é partilhada por quem nos ama. É!
Porque não são precisas palavras para ver ( sentir! ) a dor de quem amamos.

Paulo Abreu e Lima disse...

Helena, se quiser, ignore a minha pergunta:

Nunca pôs a hipótese de partilhar a verdadeira Dor com um "profissional de confiança" (psicólogo, psiquiatra, neurologista, etc)?

É que apesar de nobre, bonita e estoica, esta postura exige "tripas e coração"...

Beijinho,

Anónimo disse...

Bom dia,

creio que cada um terá a sua forma de reagir à dor.

Mas como elemento próximo de alguém que costuma viver unicamente para si as suas mágoas, devo dizer que não é fácil...

Não é fácil vermos a pessoa que amamos ou estimamos a viver tudo sozinha, consumindo-se, não conseguindo falar, quanto mais não seja para aliviar um pouco a dor, deixando uma lufada de ar fresco entrar e passar, porque pode ser que ajude a aliviar, é também doloroso.

Lendo as suas palavras D. Helena, o que senti, e com o que de uma certa forma me identifiquei, foi que uma pessoa precisa, primeiro, de encontrar a sua dor e identificá-la, e nesse processo de identificação, a pessoa precisa de tempo, silêncio e até um pouco de solidão, mas passado o período de "luto", é bom e saudável falar sobre a dor caso a conversa surja, falar sobre o que a causou e talvez porque é que ela marcou tanto, não será talvez om a intenção de partilhá-la com outro, mas simplesmente libertá-la, para que ela se vá e a nossa vida continue, adaptada ao que se foi ou ao que se não tem, seja ela qual for a natureza da dor.
Cpts
Cláudia

Anónimo disse...

Seria bom que , nas escolas por ex., se divulgasse os modos mais humanos e eficazes de se lidar com alunos jovens que perdem alguem de familia muito proximo.
Os psicologos e os professores, em geral, portam-se de uma forma adequada mas os outros alunos e alguns pais sem saberem bem o que dizer ou fazer, por vezes agravam o sofrimento.
.L.

Anónimo disse...

Num mundo cheio de poluição visual e sonora e em que ninguém ouve ninguém, saber ouvir e ter quem nos ouça num determinado momento difícil da nossa vida é de facto um grande e raro privilégio.

A nossa sociedade privilegia as pessoas com sucesso, saudáveis, bonitas, felizes, mesmo que tudo não passe de fachada.

Existe uma grande pressão para que se escondam e se calem os problemas. As crianças e idosos que sofrem maus tratos e abusos, calam-se porque têm medo e vergonha.

Nunca me esqueci quando há uns anos me foi diagnosticada uma doença auto-imune (felizmente tem-se mantido sem muita gravidade, mas não tem cura) e uma colega me olhou de alto a baixo e me disse 'Ai 'c'hórror' com uma expressão incomodada e depreciativa. Nunca mais falei do assunto senão com o meu médico e compreendi que não tenho de andar a incomodar ninguém.
Acabou por ser uma lição.

Ao longo dos tempos aprendi a lidar melhor com os outros sobre esta minha doença que não se deteta, não se nota, mas que me exige uma certa disciplina: o que posso e não posso fazer e dizer, não dar muitas explicações, ou dar apenas indicações leves, como por exemplo, sou alérgica ao Sol.

Drª Helena a senhora é das pessoas que melhor sabe comunicar, o mundo da não comunicação não é o seu, partilha e dá muito no seu blog, nos seus livros, nas suas participações na tv, etc. É o mundo daquelas pessoas que vivem de fachada, sem autenticidade, já nem sabem quem são.

Não se trata de não partilhar a dor (ou a alegria) trata-se de preservar a autenticidade dos nossos sentimentos.

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Paulo
Esta tranquilidade de que gozo actualmente tem uma longa, longuíssima história atrás dela.
Aos 20 anos baptizei-me e encontrei Deus pela primeira vez. Continuo com ele.
Quando me divorciei, aos 30, fiz seis de análise didáctica - para quem sabe o que é, trata-se de algo muito duro - que me permitiram descobrir quem. de facto, eu sou.
Por isso, julgo conhecer-me razoavelmente!

Isabel Mouzinho disse...

Concordo com o que diz a Maria joão Morgado, com uma pequena ressalva: eu mudaria a palavra partilhada por acompanhada, que é, apesar de tudo, diferente.
Apeteceu-me dizer mais isto...

zira disse...

As suas palavras drªforam para mim um bálsamo.Precisava de que alguém me desse um empurrão no mitigar regular das coisas más que me têm acontecido de há 20 anos para cá.Também não dou conhecimento das tristezas... mas só porque vivo sózinha. E ... não posso andar normalmente. E sim... quando posso desabafar faço-o. É mal. Aprendi hoje. Bem-haja.

maria isabel disse...


Neste texto a Doutora Helena explica, como muito bem sabe fazê-lo, como sentimos as dores e o sofrimento.
As grandes dores não se podem partilhar, nem é preciso, porque um bom observador vê porque os olhos não mentem.Muitas vezes uma gargalhada esconde um grande sofrimento.Há uma quadra do cancioneiro popular que diz assim
"O coração mais os olhos
são dois amigos leais
quando o coração está triste
logo os olhos dão sinais".
A pior coisa que se pode dizer a quem está a sofrer é "tens de aceitar e ter paciencia".Para mim é assim. Já aceitei e tenho paciencia mas deixem-me estar so

Unknown disse...

As suas palavras fazem-me sempre muito bem. Não raramente dou comigo a pensar "olha .. é isto mesmo que eu sinto/faço"
Esta postura de "consumir as dores" fez um bocadinho parte da minha educação e a minha personalidade consolidou; a partilha das alegrias, claro que sim. É bom celebrar a vida!
Bem haja Drª Helena

Anónimo disse...

Á Mãe Helena,e filho Paulo dedico - Un Paixão - Tito Paris.

Á roda da fogueira as almas puras dançam felizes...e Deus sorri.

Deixo um silêncio com estima,pelos 18 meses de ausência física do seu Querido Filho Miguel.
Aos netos,André e Frederico,toda a coragem do Mundo.
Que acreditem que em cada pedra dorme um cristal.
MFK

Anónimo disse...

A sua imensa perda de um filho foi partilhada por todo o país. Por isso precisa tanto de viver a sua dor só para si, aquela dor funda e íntima que não se pode partilhar.

O que é a escrita senão uma forma de superar a dor? Os escritores ocupam toda a sua vida a tentar traduzir sentimentos em palavras.

Um sentimento muito intenso, quer seja dor ou alegria, em geral, no primeiro impacto, não sabemos traduzi-lo em palavras. Sentimo-lo no corpo como um aperto no peito, ou visceral, e espiritualmente como uma confusão, um novelo, uma nebulosa, doridos, ou como se estivéssemos bêbados no caso da alegria.
Quando conseguimos traduzi-lo em palavras, já conseguimos dar um passo.

A alegria que HSC nos transmite é um bem público, porque é sincera e mostra-nos que tem a capacidade de transmutar a dor, e isso é uma aprendizagem para muita gente.

Para mim o problema não está em que não se deve partilhar a dor, está em ter a capacidade para a ultrapassar, para não se enredar nela, e muita gente precisa de ajuda para isso, não consegue fazê-lo isolando-se. Muitas vezes o isolamento agrava a situação.

O que aprendemos consigo é que se pode ultrapassar ou transmutar a dor. Não é que não se deve partilhar a dor.

A Senhora consegue sabe fazê-lo, mas muita gente não consegue. Precisam de ajuda e não devem ter pudor nem vergonha em procurá-la.

Anónimo disse...

No seu comentário no post relativo aos Cuidados Paliativos a Drª Isabel GN disse uma coisa muito importante: O amor e o carinho são importantes, mas não bastam, são necessários conhecimentos e práticas específicas nos Cuidados P.

O mesmo se passa com a dor psicológica, algumas pessoas precisam do apoio de especialistas.

O que se passa é que muitas pessoas não têm nem amor, nem afetos, nem o apoio de um especialista, nem recursos como a leitura, a escrita, a música, dançar, jardinar, caminhar, rezar, etc. Acabam por tentar descarregar aquele caudal, aquele excesso que sentem, nos outros (que em geral querem é sacudir, livrar-se daquela melga), começam a espingardar queixas para todos os lados, ou então isolam-se sem conseguir digerir a sua dor e afogam-se nela.


















































Madalena Amaral disse...

Que conforto me dá ler as palavras deste post, porque me identifico com elas, no aspecto de gostar de transmitir ou dividir alegrias e raramente tristezas. Sim, deve-se à forma como fomos educados.