terça-feira, 29 de junho de 2010

A síndrome das Finanças

Os CTT, uma empresa muito moderna que já só serve para nos enviar o IRS, está a ser acusada de ser conivente nos assassínios fiscais em série que, através da DGI, estão a acontecer um pouco por todo o país.
De facto aqui na rua já fomos atacados. Um vizinho meu, residente no bairro, ia toma a sua bica ao café mais próximo, quando encontou o carteiro. Simpaticamente pediu-lhe a sua correspondência. Apenas uma carta. Percebeu que se tratava das Finanças.
Tal como na "síndrome da bata branca" o ritmo cardíaco dispara só com a visão do médico ou enfermeiro, também a "sindrome das Finanças" provoca uma terrível aceleração da corrente sanguínea.
O senhor Francisco olhou o envelope e sentiu de imediato o coração a bater mais. O nervoso era tal que teve de pedir um copo de água e que lhe abrissem os bordos colados da missiva. Todos os que assistimos ao caso, vimos o olhar esbugalhado do homem. Que não parava de tremer.
"Não é possível", gritava a criatura, desanimada. "Não é possível", repetia cada vez mais lívido. À terceira não acabou a frase. Está internado. Dizem que foi um ataque de pânico...
Mas nós na rua, mais realistas, pensamos que foi um ataque fiscal!

HSC

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os novos milionários

Não. Não somos nós - eu, vós, os que diariamente lutam contra a crise - que estamos mais ricos. São 600 novos ricos que entre 20008 e 2009 apareceram, saídos sabe-se lá donde e vieram enriquecer os já muito ricos deste país. Mas não diminuiram no mesmo número os nossos pobres. Não acreditam? Mas é verdade. Eles serão certamente todos os cidadãos nacionais a quem morreu uma tia rica, saíu o euromilhões, acertaram na lotaria ou, quem sabe, até passaram por uma empresa que dá prémios chorudos. E que contribuiem, claro, para que Portugal fique ao nível dos anteriores países de Leste.
Neste momento a terrinha tem 11.000 milionários. Podemos apresentá-los ao mundo sem receio de sermos mal vistos. Somos pobres mas temos muitos ricos. Qualquer coisa como um rico para 351 aflitos.
Sugiro dividir a população aqui do burgo em grupos de 350 cidadãos comandados por um líder que será o dito milionário, o qual encherá de orgulho os restantes e os encaminhará no sentido da prosperidade. Deste modo, o nosso jovem filósofo nacional, bem como o menos jovem ministro das finanças escusavam de se preocupar com uma crise que, por este meio, deixaria de existir. Com efeito, as responsabilidades de governação seriam repartidas por 11.000 governantes, aliviando em muito o trabalho de cada um.
A ideia parece-me excelente visto que com tal solução eu já saberia quem era o responsável de eventuais reclamações. E com o dinheiro que poupávamos resolviamos o problema do deficite em menos de um ano!

HSC

sábado, 26 de junho de 2010

E pegou...

Hoje levei o dobro do tempo a ler meio Expresso escrito na língua de Lula. De facto, perdão de fato - também pode ser de saia e camisola - vi-me completamente "grega" para prestar atenção ao conteúdo dos textos, porque estava "vidrada" na nova escrita. E, como alguns acentos também caíram, a trapalhada foi enorme.
Eu compreendo o Henrique Monteiro. Há um Acordo Ortográfico, que embora não tenha merecido o acordo de muita gente, tem de ser cumprido dentro de certos prazos. Assim, ele tinha - não sei se teria - de o pôr em marcha.
Logo, foi neste belo sábado que fomos mimoseados com a prenda. Por aqui vai continuar a escrever-se como se escrevia antes do dito desacordo. Quem não gostar, abandona-me. Quem não se importar ou até compreender continuará. Eu apenas estou a exercer o meu direito à indignação... Se o Dr Soares podia e pode, eu não poderei?!

HSC

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mais outro...

Às vezes pergunto-me como sobrevivem os portugueses à enxurrada de notícias negativas a respeito da situação do seu país. É que não há dia em que um qualquer meio de comunicação social, ou mesmo todos, não façam mais um aviso do que "ainda" falta acontecer... Eu própria, aqui neste blogue tenho dificuldade em me defender e defender os que me possam ler.
Porque, para quem tem formação económica, como é o meu caso, a preocupação é maior dado que sabe o que está pos detrás de certos chavões técnicos utilizados para fazer deglutir o que, por si, já é bastante indeglutível.
Agora foi a vez da Ernest & Young, que prevê para a economia nacional, este ano, uma quebra de 1% e antevê para 2011 um agravamento para os 1,5%. Tudo por causa da revisão, em baixa, do PIB, causada pela forte quebra verificada no investimento e pela menor expansão das exportações decorrentes das vicissitudes que o nosso maior mercado, a Espanha, está atravessar.
Fico-me por aqui em dados estatísticos, porque todos sabemos o que isto arrasta consigo, nomeadamente no emprego.
Apenas pergunto de que é que estamos à espera para mudar de vida e de rumo, quando a evidência mostra que o que estamos a seguir não serve?

HSC

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Aprender custa!

"...Criou-se a ideia de que a aprendizagem não é dolorosa" queixava-se recentemente uma professora universitária. Nada mais errado. Nada mais indutor de uma certa forma de encarar a instrução. Nada mais responsável do estado a que o ensino chegou, sobretudo em disciplinas nucleares como são a Matemática ou o Português. Nada mais errado para o desenvolvimento das relações que devem existir entre professores e alunos.
O estado de ignorância dos discentes é tão surpreendente que, numa prova de aferição, realizada há algum tempo, numa turma de caloiros do Instituto Superior Técnico, destinada a testar o seu grau de dificuldades, à questão "quanto é um meio mais um meio", 27% errou a resposta...
Ora os alunos não se tornaram menos inteligentes. O que aconteceu e acontece, é que o grau de exigência hoje pedido - para atingir certos níveis estatísticos na educação -, veio tolerar uma degradação que anteriormente se não consentia.
E se a Matemática, por exemplo, parece não ser necessária para determinados cursos, ela é indispensável para treino do raciocínio. Tanto como o ensino da língua se justifica para quem vá para medicina ou engenharia e pretenda fazer-se entender.
Torna-se cada vez mais urgente que os alunos compreendam que estudar custa, pese embora o prazer que também possam tirar disso. A cultura da década de noventa instalou no espírito dos estudantes a ideia romântica de que a aprendizagem tem que dar prazer, o que, como se sabe tem pouco de verdade absoluta.
Mais, ensinar e aprender abrange comportamentos pessoais e colectivos, que vão muito para além do conteúdo das matérias. Trata-se, também, de atitudes. Um aluno não está numa aula a falar ao telemóvel, de pés em cima da carteira, ou mesmo de boné na cabeça. Poderá ser muito modernaço consenti-lo. Mas isso não é certamente instruir ou ensinar!
Educar é algo infinitamente mais importante. É preparar para a vida. Por isso envolve escola, pais e família. E por isso eles hoje são ouvidos. Não para "aliviarem" os filhos, mas para os fazerem cidadãos dignos e competentes!

HSC

terça-feira, 22 de junho de 2010

Nós e a riqueza europeia...

A Eurostat, essa instituição europeia de produção de estatísticas, veio dizer aquilo que uns já sabiam e outros já sentiam. Ou seja, que há três anos - já portanto no governo do filósofo nacional - Portugal se mantém a marcar passo no que respeita a poder de compra, num per capita que se situa nos 78% da média da União Europeia...
Em abono da verdade e excepto para quatro - Àustria, Inglaterra, Suiça e Malta -, tudo o resto teve um mau ano para os ganhos de riqueza, porque ou perderam ou estabilizaram esses ganhos.
O nosso país mantém-se, assim, no nono lugar dos países mais pobres da UE, comparando-se agora a Malta, cuja posição de 2008 para 2009 melhorou dois pontos. Não é, de facto, comparação que nos ilustre...
O mais rico é o Luxemburgo com 268% da média europeia, apesar da perda relativamente ao ano anterior de oito posições. Depois dele vem a Irlanda e a Holanda com 130%.
Um facto curioso é o da Espanha, que apesar da crise, alinha com a média da União, com um PIB de 102% por cabeça. A Roménia e a Bulgária ocupam o fim da linha com 45% e 41% respectivamente.
Como já disse em post anterior, os indicadores valem o que valem. Mas são ferramentas de trabalho que servem para nortear medidas governativas. E, como cada vez mais, infelizmente, o governo de Portugal está nas mãos de Bruxelas, e estes dados são de um organismo da sua competência, a nossa individualidade, parece, só se mantém no futebol...
Triste destino este nosso. Antes, demos mundo ao mundo. Agora, estendemos a mão à Europa!

HSC

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A goleada!

Portugal voltou, no futebol, por uma vez, aos tempos de glória. Enfiar sete golos na baliza da Coreia do Norte, é um fenómeno daqueles que só costumam acontecer no Entroncamento.
O Professor Queiroz, o Mister, deve estar impante. E os nossos goleadores devolveram o orgulho perdido à Pátria...
Nada de melhor podia ter acontecido a Socrates, o filósofo nacional. Durante mês e meio não houve nem haverá no Portugal dos pequeninos, agora transformado no gigante Adamastor, outro motivo de conversa que não seja o Mundial. Até ao jogo com o Brasil...
Não há crise, ninguém ouve os políticos e estes nem ousam aparecer. A única excepção foi a morte de José Saramago e até esta foi favorável - Deus me perdõe - ao Primeiro Ministro, porque proporcionou unir situação e oposições nessa humanidade que só nos cerca quando morremos.
Por isso, Portugal que ontem estava de luto, agora rejubila. São os alcatruzes da nora. Hoje em cima, amanhã em baixo. Mas sete golos é, de facto uma proeza que levou o mundo, a olhar-nos de maneira diferente. Somos devedores, estamos endividados, mas uma goleada destas ninguém nos tira. Essa é que é essa. O resto, por enquanto, são cantigas...
HSC

Indicadores...

Não é fácil ser-se economista nesta terra. De facto, para além das dúvidas que sempre nos assaltam sobre o que é que os indicadores económicos valem realmente, o que é certo é que sem eles só caminhamos no escuro. Em termos aeronáuticos, é a diferença entre navegar à vista ou por instrumentos.
Vejamos então o que se passou com os últimos indicadores revelados pelo Banco de Portugal. O que mede a actividade económica cresceu 0,2% entre Abril e Maio, sendo positivo desde o princípio de 2010. No mesmo período o sentimento económico registou uma quebra de 2,7%. O indicador de consumo privado caíu 0,1% depois de ter passado um ano a melhorar. O que mede a confiança dos consumidores, mais irregular, retomou as quedas verificadas desde Fevereiro, depois de ter estabilizado em Abril.
Não é fácil tirar qualquer espécie de conclusão destas ferramentas que vá para além de vulgaridades. Contudo parece que o peso do fraco crescimento verificado não teve qualquer significado nas expectativas dos portugueses e pouco ou nada terá influenciado o consumo. Por outras palavras, continuamos com poucas perspectivas de melhoria de vida. Podia ser pior!

HSC

domingo, 20 de junho de 2010

O "copianço"


O título não é lá muito bonito. Mas não encontro palavra melhor para o conteúdo deste post.
De acordo com um estudo levado a efeito pelo Professor Ivo Domingues, da Universidade do Minho, sobre a forma como os alunos prestam provas, conclui-se que no ensino superior três em cada quatro alunos copiam. Aliás, este comportamento vem de já de trás, porque ainda de acordo com a investigação, 90% destes alunos começou a copiar desde a escola primária...
É evidente que com os avanços tecnológicos também se sofisticaram as técnicas utilizadas pelos discentes, nomeadamente através das diversas aplicações que hoje se dão aos telemóveis.
Num outro estudo, objecto de publicação no Journal of Academic Ethics, o Alentejo é a região onde o "copianço" é mais visível, com uma taxa de oito em cada dez.
Há notícias que nos deixam a todos perplexos. E esta, seguramente, aos professores em particular. Como é que um país que tem como norma, para a avaliação individual, utilizar o trabalho feito por outros, pode alguma vez, na sua vida profissional dar prioridade à ética?!
HSC

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O futebol

Perante o maremoto de programas de futebol que invadiu os nossos meios de comunicação social, fazendo esquecer quaisquer crises que aqui possam existir, aconselho vivamente os espíritos mais pessimistas a olharem e verem o video cujo link está em baixo:


Alguém poderá ficar indiferente a este luso representante das nossas forças vivas, vulgo povo, cuja inata filosofia desafia a dos nossos melhores políticos?!
Abençoado seja Portugal e o seu Visconde da Apúlia. Bom riso a todos com votos de ótimo fim de semana.

HSC

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bem chipados...

Lá temos mais uma bizantinice: o DEM - dispositivo electrónico de matrícula - um chip para aplicar na viatura e toda a gente saber por onde andamos. Calculo o perigo que tal medida venha a causar entre casais... pese embora a garantia governamental de privacidade!
Limito-me à questão administrativa. A medida agora aprovada entra em vigor dentro de dias, se não for impugnada. Neste momento, como duvido das leis que me regem, nem sequer sei se a medida é impugnável. Penso que não.
Iremos assim pagar 19 euros pelo tal chip obrigatório. Exceptuam-se, claro, os veículos do Presidentes da República e do Parlamento, do Procurador da República e dos membros do governo. Espero que se limitem aos carros oficiais. Mas já nada me admira depois de impostos retroactivos e quejandos...
Só me pergunto como vai ser com os turistas e emigrantes que venham de carro e que aqui se deslocam para passar férias. Exige-se-lhes que passem a pagar um imposto de entrada em solo nacional, do tipo das taxas aeroportuárias que desembolsamos por aterrar e descolar no país?
É evidente que com esta medida se cria logo uma instituiçãozinha para fiscalizar a coisa, a SIEV, uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. E quem irá para a administração da dita? Quem arrisca nomes? Quem?!
Como sou uma pessoa educada e com sentido de humor, limito-me a dizer que andamos bem chipados...

HSC

terça-feira, 15 de junho de 2010

Comer saúde!







Gosto de partilhar o que sei por experiência própria ser bom. As fotos que acompanham este post têm uma história que vou contar. Dois amigos excelentes profissionais no ramo alimentar de qualidade - Diogo Saraiva e Sousa e Luisa Lacerda Lampreia - resolveram aliar a amizade e o saber e abriram as lojas ARTISANI onde se podem experimentar verdadeiras delícias de paladar, todas feitas com frutas frescas, leite Vigor e Agua do Luso. Desde os sumos naturalíssimos, aos crepes , aos wafles, aos gelados, passando por tostas, empadas e sandes variadas, há lá de tudo. Feito à nossa frente, como se estivessemos num paraíso gastronómico.
E, pensando nos diabéticos a Luisa e o Diogo resolveram a questão. Basta que o cliente diga qual o artigo que pretende para a sua situação e o problema está resolvido.
Se estiver em Lisboa pode deliciar-se na Av Alvares Cabral nº 65 B ou na esplanada do Restaurante Doca de Santo em Alcântara. Mas se viver na Linha, pare em Caracavelos e dirija-se ao Edifício da Pizaria Capricciosa ou espere mais uns dias e vá à praia da Duquesa em Cascais.

Quem o avisa seu amigo é. Depois de degustar estas maravilhas qualquer um de nós vem para casa com mais saúde!

HSC

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Estatuto social?!


A Deco terá aconselhado 5.500 famílias em situação de sobreendividamento. Poderia, numa visão rápida, considerar-se que se tratariam agregados familiares de baixíssimos rendimentos. Pois não é assim. Quem usa este serviço são os lares cujo rendimento médio mensal líquido ronda os 1500 euros.
A leitura que aquela organização faz é preocupante, dado verificar que nas soluções para a redução das dívidas, estas famílias preferem cortar na alimentação e nos medicamentos do que no automóvel ou no telemóvel. Porquê? Porque tentam manter as aparências, isto é o mesmo estilo de vida. Surpreendente? Nem por isso.
Há muito que os portugueses se recusam a encarar a realidade de que Portugal é um país pobre e, como tal, não deve levar vida de rico. A globalização - que também é interna - deu a cada um de nós a ideia fundamental de que se pode ter os mesmos direitos sem lhe fazer corresponder os mesmos deveres. Daí que se fale sempre e apenas num dos lados da equação. Que leva a esconder uma outra verdade. É que hoje, para manter os mesmos direitos tem de se pagar mais deveres. Como acontece com as taxas de remuneração do dinheiro. Quando há mais, as taxas baixam. Quando há menos, as taxas sobem.
E como os portugueses ainda não perceberam esta nova realidade, o nivel dos créditos incobráveis bate recordes e atinge os mil milhões de euros nos calotes ao consumo. Em contas redondas por cada cem euros pedidos, sete não são devolvidos à banca.
Talvez se não houvesse o cartão de crédito e a impunidade que lhe está associada, as pessoas pensassem duas vezes antes de comprar telemóveis ou de pôr combustível nos carros. Chama-se a isto "prevenir antes de remediar". É bom para a saúde e... para a bolsa.
Por outro lado, já é altura do estatuto social de cada um de nós se definir pela qualidade do trabalho feito e não pelos lamentáveis sinais exteriores de classe, que apenas revelam uma sociedade tão falha de valores autênticos, que nem deles se dá conta!

HSC

Uma justiça especial


Leio mas não acredito. O senhor X responde por homicídio de uma vizinha. Antes havia confessado o crime à Polícia Judiciária e ao juiz de instrução criminal.
No julgamento, seguramente a conselho do seu advogado, manteve-se em silêncio, por ser um direito que a lei lhe permite. E por isso os juizes mandaram-no para casa.
Surpreendidos? Certamente. Eu também fiquei. A razão é simples e foi explicada por quem administra as leis.
"Neste país (o sublinhado é meu)as declarações prestadas ao juiz de instrução criminal servem para prender as pessoas, mas não servem para ser valoradas em julgamento quando o arguido fica em silêncio".
Algo está, de facto, errado. Porque os julgamentos servem para apreciar provas, condenar ou absolver. Na ausência de provas, não podem condenar quem não repita a confissão no julgamento.
Haverá algo mais bizarro do que mandar em paz um assassino confesso que resolveu ficar mudo quando foi julgado? Será para que ele repita a façanha com algum dos restantes membros da família da vítima?
E porque será que ninguém competente altera a lei que permite uma tal anomalia?

HSC

domingo, 13 de junho de 2010

Plano Inclinado


Ontem assisti ao programa Plano Inclinado. O convidado era, pela segunda vez, Ernâni Lopes. Parecia que alguém me tinha ouvido, porque a conversa girou toda à volta do recurso, ou não, à ajuda internacional por parte de Portugal. Por detrás do tema escolhido estava a entrevista dada por Teresa Ter-Minassian ao Jornal Económico.
Medina Carreira era favorável à opinião da analista do FMI. Ernâni defendia a "honra da pátria" e considerava que esta não era, ainda, a altura, apesar de admitir que tal pudesse, em determinadas condições, vir a acontecer mais tarde. O que significaria, afinal, mandar a honra às urtigas e negociar em piores condições.
Não fiquei completamente esclarecida. Mas se tivesse de responder de imediato à pergunta, julgo que optaria por pedir já, a citada ajuda.
Depois falou-se do modelo do "estado social" e com ele as condições em que se encontrará a nossa Segurança Social dentro de vinte e cinco anos, se entretanto não forem tomadas medidas.
De facto aquele modelo assentou em bases que estão completamente ultrapassadas e se não for feito o ajustamento à nova realidade, não haverá sequer dinheiro para pagar reformas...
Para além de tudo isto, abordou-se a espuma dos dias e os valores em que ela actualmente assenta. Ou seja, se o laxismo, a corrupção, a negligência, não forem substituidas pela competência, pela ética e pela excelência caminharemos para o abismo.
A minha pergunta é se não estaremos já lá...

HSC

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Dia de Portugal

Este ano o dia de Portugal pareceu-me bastante esmorecido. A mensagem do Presidente da Republica - representante do país e dos portugueses - foi dura.
Mas em Portugal tudo é sim e não em simultâneo. Ou seja tudo é nim.
O governo salientou a referência feita à necessidade de "coesão nacional". A oposição realçou a "situação insustentável" da nossas finanças. Tudo ideias usadas no mesmo discurso. Tudo dito pela boca do mesmo homem. Tudo se referindo ao estado da nossa terrinha. Como viver numa democracia destas em que o que importa é a visão partidária e não o interesse nacional?
Alguém me explica para que é que serve esta partidarite aguda que apenas olha para dentro de si mesma e é incapaz de olhar para o país como um todo, sabendo-se como se sabe, que cada partido não é mais do que uma parcela menor desse todo?
Quem está no poleiro só pensa em manter-se nele, distribuindo prebendas e recompensas. Quem não está lá, só pensa em alcançá-lo, para distribuir o que antes havia sido de outros.
Será que os regimes democráticos terão que ser mesmo assim? E, se a resposta é afirmativa, será que a democracia é a melhor das soluções políticas? Começo a ter dúvidas...

HSC

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A coisa complica-se

Portugal insiste em não recorrer ao mecanismo do pacote de ajuda internacional e vai emitindo dívida pública e bilhetes do tesouro (BT). As taxas a que estamos a pedir dinheiro já estão nos 5% e duvido que os BT sejam mais atractivos do que outros produtos financeiros existentes no mercado.
Teresa Ter - Minassian, que conheci nos meus tempos de Banco de Portugal, em 1983, quando liderou a equipa do FMI que aqui esteve para negociar o acordo que visou vencer a crise de pagamentos de então e que, há cerca de quarenta anos, analisa crises internacionais, é de opinião de que seria preferível o governo recorrer já ao pacote de 750 milhões de euros acordado internacionalmente.
Em defesa desta posição afirma que apesar de não duvidar que Portugal possa fazer os ajustamentos necessários sem ajuda internacional, o pedido concertado agora evitaria que, mais tarde, ele possa ser feito em desespero de causa e portanto em condições bem mais desfavoráveis.
Lembro-me bem dessa época. Que para os analistas políticos com menos formação económica é considerada terrível. E foi-o. Mas o certo é que vencemos a crise. O problema surgiu depois, porque gastámos demais.
Por isso, gostava de ver o assunto discutido publicamente por pessoas que, não tendo cor política, saibam do que falam. E é pena que a entrevista que aquela especialista deu ao Jornal de Negócios não tivesse tido uma mais ampla divulgação e não fosse, mesmo, objecto de discussão num desses multiplos debates televisivos que nos servem.

HSC

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Lá como cá ...

O El País publica uma sondagem na qual revela que Jose Luis Zapatero já nem consegue o apoio dos seus eleitores. De facto, 75% destes chumba a sua gestão e 70% afirma já não confiar no Primeiro Ministro.
Lá como cá, metade do país considera um mal maior a realização de eleições antecipadas que iriam bloquear uma série de medidas urgentes de combate à crise.
Lá como cá, o governo não quer ser comparado à Grécia e, agora por extensão, à Turquia, considerando que a Espanha é um país sério e longe da insolvência revelada por aqueles últimos. No entanto, mais de 50% dos inquiridos considera urgente e indispensável mudanças imediatas no executivo espanhol.
Lá, como cá, claro. Só que a amizade que une os dois resposáveis da Ibéria, não deixa que nenhum deles veja o "argueiro no olho do vizinho". É pena. Ganhavam os dois!

H.S.C

Familia

Domingo familiar de almoço com o neto mais velho e jantar com o filho mais novo. Urdindo uma espécie de teia de aranha à nossa volta, que se pretende elástica mas firme, a alimentar este sentimento inquebrável que nos une e nos torna um clã.
Como se, cada um de nós, neste momento, não existisse sem esse fio de aço, imperceptível, que nos segura, nos ampara e, felizmente, também nos faz rir. Sem falarmos do essencial, sabemos que é dele que estamos a tratar!
Com o André falei da gestão dos afectos, essa cadeira da universidade da vida, tão importante e tão necessária ao equilíbrio de cada um e à harmonia de todos. E de que ele é aluno exemplar.
Com o infante falei do país. E de cinema. E de nós. De coisas sérias, que quero acautelar, nomeadamente o futuro dos netos. Com a bonomia de quem tem a certeza que, quando faltar, haverá quem tome o leme e leve o barco a porto firme.
É a este lio que se não vê mas se sente, que eu chamo de família. Sem a qual não seria nada. Sem a qual nem saberia viver!

HSC

domingo, 6 de junho de 2010

A idade da vertigem

Acabo de saber do divórcio de um casal que eu julgava perfeito. Se é que há casais perfeitos. Tinham feito quarenta anos de matrimónio, celebrados com umas férias paradisíacas.
Quando o marido me deu a notícia pensei que brincava. Mas não. Era verdade.
Este homem de 63 anos decidiu mudar de vida. Daquela que lhe resta. Para trás ficam quatro filhos - um já casado e outra a caminho disso - uma companheira, uma profissão que tenciona também abandonar, enfim, uma existência.
Quando lhe perguntei porquê, a resposta foi: cansaço. Cansaço enorme de tudo o que vivera.
Incrédula, questionei se havia outra pessoa. Houve várias, tu sabes. Mas não há, agora, nenhuma especial, retorquiu.
Depois ouvi-a a ela. Não percebe o que se passou e entende tratar-se da fatídica andropausa. Perguntei-lhe se não tinha consciência de ter falhado algo, de ter gorado expectativas. Julga que não. Está infeliz, mas não fará nada para recuperar o marido. Porque, diz, sentimentos não se recuperam.
Vim para casa triste. Com a sensação de que, aos poucos, as vidas também se dissolvem. E de que, quando tal acontece, começa a haver a idade da vertigem. Que pode dar a qualquer de nós. Basta querer "recuperar" o tempo que lhe resta!

HSC

sábado, 5 de junho de 2010

Passear em Lisboa...

Confesso que, mesmo estando a tentar voltar à normalidade, a adaptação às novas circuntâncias da minha vida, não tem sido fácil. Mas, como dizia há dias, a uma amiga que me perguntava como eu estava, vou vivendo um dia de cada vez. Zangada com o meu Pai em muitas ocasiões, menos noutras. Mas as nossas relações andam tensas, confesso.
Viver uma fé, seja ela qual for, não é fácil. Viver sem ela também não. Assim, tento não me revoltar, pensando em todos aqueles que, nesta altura, passam momentos mais difíceis do que os meus... sem o privilégio que eu tenho, duma família - excelente - e duns amigos fora de série.
Por tudo isto, hoje resolvi caminhar. Dito de outro modo, passear. Olhando à minha volta uma cidade adormecida, quase deserta. Apesar da crise, os portugueses abalaram dos seus lares e fizeram esta ponte. Como irão fazer a outra, que se segue. E também os festejos dos santos populares. Com sardinhas e manjericos. Mais ou menos indiferentes a uma crise de que se fala, mas que até parece que não se sente.
Digo "parece". Porque esse é o milagre do cartão de crédito. E do endividamento. Não se sente na altura. E, quando se sente, na maioria dos casos... não se cumpre!
Penso no que foi o esforço do após guerra, que ainda conheci. No trabalho sem limite de horas. Nas férias que se não tinham. Na casa que se alugava. No carro que só os ricos possuíam. Nas crianças que nasciam. Nos benefícios sociais que não existiam.
Enfim, passeio e penso. Como é que vamos sair disto? Desta espiral infernal de endividamento desenfreado das famílias, que as está a estrangular sem que uma parte se aperceba disso. Será que passear é o que nos resta no futuro? A pé, claro!

HSC

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Io sono l' amore"

Fui ao cinema ver "Io sono l' amore" cujo título aqui é a tradução literal, ou seja "Eu sou o amor". Trata-se de uma realização de Luca Guadaguino que também assina em parceria a trama.
Trama que é a da decadência de um família da alta burguesia e nada tem de original. Uma mulher mais velha da upper class, apaixona-se por um jovem cozinheiro amigo do filho e da mesma idade. Logo, dois tabús - amores entre classes sociais muito distintas e mulheres que enganam os maridos com amantes da idade dos filhos - que, hoje, quase já o não são...
Mas tudo o resto é belíssimo. Os cenários são fabulosos, a fotografia é excepcional e a música grandiosa.
Tem-se a sensação de estar a ver Antonioni, Fellini ou Visconti numa mistura verdadeiramente surpreendente. A cena com que o filme fecha é um desastre e não se percebe o que está lá a fazer. Estraga mesmo uma certa emoção que acompanha toda a película...
Vale mesmo a pena ver para perceber que o cinema italiano está bem vivo e que a Europa nesta área não é apenas a França e a Inglaterra.
Saí da sala confortada, pese embora tratar-se de um drama. É que a beleza continua a comover-me. Cada vez mais, felizmente!

HSC

terça-feira, 1 de junho de 2010

Disse pediatra?!



Leio com total estupefacção, que a idade pediátrica vai, a partir de hoje, ser progressivamente alargada até aos dezoito anos. Volto a ler. Não percebi bem, de certeza. É falha do jornal. É piada. Não. Nada disso. É mesmo assim.
A Dra Ana Jorge teve um momento de inspiração e decidiu que os jovens em idade casadoura, ainda necessitam de cuidados pediátricos. Quais, pergunto eu? Chupeta? Dedo na boca? Fraldas? Vacinas? Peso? Altura? Vitaminas? Moleirinha fechada?
Este país cujos dirigentes já nos levaram à bancarrota, pretendem agora tornar-nos menores mentais? Endoidecer-nos? Direito a votar e ida ao médico de crianças?
Alguém se lembra de pôr os meus alunos universitários no pediatra? Ou o meu neto mais velho, um rapagão de 16 anos, a ter acompanhamento pediátrico? Que mais nos irá acontecer?!
Será que já nem o sentido do ridículo existe? Poupem-nos!

HSC