segunda-feira, 14 de junho de 2010

Estatuto social?!


A Deco terá aconselhado 5.500 famílias em situação de sobreendividamento. Poderia, numa visão rápida, considerar-se que se tratariam agregados familiares de baixíssimos rendimentos. Pois não é assim. Quem usa este serviço são os lares cujo rendimento médio mensal líquido ronda os 1500 euros.
A leitura que aquela organização faz é preocupante, dado verificar que nas soluções para a redução das dívidas, estas famílias preferem cortar na alimentação e nos medicamentos do que no automóvel ou no telemóvel. Porquê? Porque tentam manter as aparências, isto é o mesmo estilo de vida. Surpreendente? Nem por isso.
Há muito que os portugueses se recusam a encarar a realidade de que Portugal é um país pobre e, como tal, não deve levar vida de rico. A globalização - que também é interna - deu a cada um de nós a ideia fundamental de que se pode ter os mesmos direitos sem lhe fazer corresponder os mesmos deveres. Daí que se fale sempre e apenas num dos lados da equação. Que leva a esconder uma outra verdade. É que hoje, para manter os mesmos direitos tem de se pagar mais deveres. Como acontece com as taxas de remuneração do dinheiro. Quando há mais, as taxas baixam. Quando há menos, as taxas sobem.
E como os portugueses ainda não perceberam esta nova realidade, o nivel dos créditos incobráveis bate recordes e atinge os mil milhões de euros nos calotes ao consumo. Em contas redondas por cada cem euros pedidos, sete não são devolvidos à banca.
Talvez se não houvesse o cartão de crédito e a impunidade que lhe está associada, as pessoas pensassem duas vezes antes de comprar telemóveis ou de pôr combustível nos carros. Chama-se a isto "prevenir antes de remediar". É bom para a saúde e... para a bolsa.
Por outro lado, já é altura do estatuto social de cada um de nós se definir pela qualidade do trabalho feito e não pelos lamentáveis sinais exteriores de classe, que apenas revelam uma sociedade tão falha de valores autênticos, que nem deles se dá conta!

HSC

4 comentários:

zeliams disse...

Cara HSC, não poderia estar mais de acordo consigo. Ainda ontem, depois de ler o artigo do Público - Crise: Famílias cortam sobretudo no supermercado e na farmácia - perguntava-me como é possível que se dê tanta importância ao parecer em vez do ser. Essas famílias vivem uma ilusão e temo que, quando conhecerem verdadeiramente a desilusão, esta não venha de mãos dadas com o caos.
Abraço.
Zélia

Julia Macias-Valet disse...

Helena,
Fiquei de "boca aberta" quando no fim de semana passado ouvi a noticia num dos telejornais nacionais.
Como é possivel dar mais importância ao acessorio : telemovel e TV Cabo do que ao essencial : A SAUDE !

Ja dizia o cantor : "Ai Portugal dar-te conselhos é bem pouco original..."

Como se podem educar assim as proximas geraçoes ?

Anónimo disse...

AO ouvir essa noticia também prestei atenção redobrada. Sempre me fez confusão como é que há pessoas que pedem créditos à banca para ter as tais "fachadas". Pessoalmente, acho que quem é assim vai continuar a sê-lo, mesmo que levem um valente "apertão".E já agora, olhemos para o nosso governo. Desde que seja para fazer estatisticas, tudo é permitido: os exames são cada vez mais faceis, conseguem-se niveis de escolariedade mediante uns trabalhinhos feitos em casa, já se saltam anos de ensino, tudo para que a "fachada" da educação suba de nivel, aos olhos dos outros.
- Helena

Alexandre Júlio disse...

Olá Helena Sacadura Cabral,

Sempre fui um admirador da sua frontalidade, da sua eloquência, da sua forma de estar na vida com aprumo e rectidão, infelizmente nos ultimos tempos não tenho lido ou ouvido as suas crónicas, entrevistas, ..... .

Hoje pela mão da minha amiga do Bichodeconta, conterrânea do nosso Além-Tejo, conheci o seu Blogue, do qual fiquei fã de imediato.

Dou-lhe os parabéns, por esta sua janela para o mundo com tanto interesse, onde partilho consigo a maioria das suas opiniões expressas, neste Post sobre o sobreendividamento das famílias que tanto me incomoda, pela irresponsabilidade quotidiana que assola a maioria das famílias, para se viver de aparencias.

O meu muito obrigado por poder partilhar neste cantinho, as suas palavras sábias de uma vida onde o equilíbrio sempre imperou a par dos valores humanos, autênticos.

Os meus respeitosos cumprimentos deste Além-Tejo sem fim, com o convite para visitar as minhas Abelhinhas,
Alexandre Julio.