sábado, 6 de julho de 2024

UM CERTO SILÊNCIO

Imagine que está numa festa, cercado por amigos e conhecidos. A conversa rola solta e, de repente, surge um tema polémico. Todos parecem concordar, e você, por dentro, sente que tem uma visão completamente diferente. Olha ao redor, percebe que ninguém compartilha da sua opinião e, naquele momento, opta por ficar calado. Este é um exemplo bem quotidiano da Espiral do Silêncio em ação.

A Espiral do Silêncio é essa força invisível que nos faz engolir palavras e engavetar ideias. Quando era muito jovem, lembro várias situações em que preferi calar-me em vez de causar um desconforto ou, pior ainda, ser vista como “diferente”. É um sentimento bem comum, mas que muitas vezes nem percebemos que está acontecendo.

É curioso como os media entram nesta história, amplificando as vozes que já são maioritárias. Ligamos a TV, navegamos na internet, e o que vemos? Opiniões que parecem ser universais, como se todo mundo pensasse do mesmo jeito. Isso pode fazer-nos sentir ainda mais isolados com os nossos pensamentos divergentes.

Mas, e se todos aqueles que ficaram em silêncio decidissem falar ao mesmo tempo? Talvez descobríssemos que não estamos tão sozinhos assim. A Espiral do Silêncio, no fundo, é uma ilusão alimentada pelo medo de ser excluído. Cada vez que alguém decide falar, quebra um pouco dessa espiral, e encoraja outros a fazerem o mesmo.

Tenho pensado muito sobre como seria bom se nós pudéssemos criar mais espaços seguros, para que todos pudessem expressar as suas opiniões sem medo. Onde o diferente não fosse visto como ameaçador, mas sim como uma oportunidade de aprender e crescer. Afinal, são as vozes diversas que tornam uma conversa rica e interessante.

Em tempos de redes sociais, ainda temos muito que aprender. Por um lado, elas podem ser um alívio, dando voz a quem antes era silenciado. Por outro, podem criar novas espirais, onde nos fechamos em bolhas que reforçam apenas o que já pensamos. É um equilíbrio delicado, mas essencial para uma convivência mais saudável e democrática.

No fim das contas, a Espiral do Silêncio é um lembrete poderoso da importância de cada voz. A sua opinião importa, mesmo que pareça estar nadando contra a maré. E é só quebrando o silêncio que podemos, de verdade, começar a mudar o rumo das conversas ao nosso redor.

1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

Ser bruto nos comentários que se fazem, para mais desnecessariamente, é uma coisa.
Bem diferente é ter medo de dizer o que se pensa, ser falso.
Tenha uma excelente semana