Depois de todos os tristes acontecimentos que partilhei convosco esta semana, ontem deitei-me sem sono, sem lágrimas mas com a garganta tão apertada que nela, acho, não cabia um feijão frade. Acontece-me sempre este aperto, quando estou emocionada e não consigo chorar. Não houve livro, revista ou programa televisivo que conseguissem alterar o meu estado de espírito. Já altas horas da madrugada, decidi que era melhor levantar-me e vir para a sala ouvir Vivaldi no meu Spotify. Fechei os olhos e julgo ter repassado mentalmente tudo o que me acontecera. E que, tendo sido invariavelmente mau, ao lado do que muitos meus amigos passaram, não era nada.
Tudo bem, não via o neto instalado no Algarve, mas falava com ele e ficava compensada. As amigas, em grupos de três e às distâncias convenientes vinham ver-me ou eu ia vê-las. O meu filho quase diariamente almoçava ou jantava comigo e, apesar de tudo, eu ainda fora capaz de escrever outro livro que estará nas livrarias em meados de Abril. Então, porque é que nesta época da Quaresma, eu não oferecia pelos outros as dificuldades que tinha sofrido e agradecia ao Pai estar "vivinha da costa"?
Se assim pensei melhor o fiz. E aninhada no Vivaldi, acabei por adormecer e pregar um susto à minha Melania - sim, é o nome fino da georgiana que tenho em casa há um ano - que ao ver-me a dormir na sala, pensou que me tinha acontecido alguma coisa. Aqui, ri com a aflição dela. Depois, olhei através da janela o sol maravilhoso que despontava e a vida pareceu-me outra vez cheia de promessas!
HSC