sexta-feira, 26 de julho de 2019

Dia dos Avôs

Não tenho em grande apreço o hábito de dedicar certos dias a certas ocasiões. Lá temos o Dia da Mãe - agora transformado em data móvel o que lhe retira ainda mais o sentido... -, o Dia do Pai, o Dia da Mulher, etc, etc.
Hoje é o Dia dos Avós (o correto seria Avôs) e porque é o menos conhecido e celebrado, apeteceu-me falar deles e da sua importância. 
Eu tive avós maternos, mas não conheci - pena minha - os paternos. Cresci numa familia muito numerosa quer do lado da minha mãe quer do lado do meu pai. Agora, creio, isso seria impensável, porque juntos éramos mais que três dezenas.
Muito do que sou hoje devo-o aos meus avós e a minha primeira grande perda foi ficar sem eles. Julgo não ser injusta, quando afirmo que lhes devo tanto como aos meus pais.
A alegria, a ternura, a cumplicidade, foram aprendidas com a minha avó Joana. Já a força perante a adversidade, a dignidade e a honra/orgulho nos meus, foi aprendido com a meu avô José.
Em poucos tempo perdi os dois. Ele de morte natural, ela de morte por saudades dele, três meses depois.
Julgo que, ao longo da minha vida nunca terei encontrado casal que se amasse mais e nunca esquecerei a festa dos seus 50 anos de casados. Não pela festa em si que foi linda, mas pelo olhar de ambos. Se a ternura é e continua a ser, para mim, uma qualidade essencial, a eles lhe devo.
Dos avós paternos tudo o que sei foi por via oral, já que a minha tia Alda, a filha mais velha, tomou para si o papel da minha avó Augusta e, na sua casa, seguiam-se todas as tradições da casa de seus pais. 
Dizem os meus que herdei mais do lado Sacadura do que do lado Trindade e que me pareço bastante, no sentido do compromisso, ao aviador, irmão mais velho do meu pai e figura tutelar que todos admiramos. Menos o país que parece ter esquecido os seus heróis...
Apesar desta historia de família não me considero uma boa avó. Sempre disse que fui excelente mãe e creio que fiz, nesse campo, o melhor que sabia e podia, dado que não foi fácil educar sozinha dois pré adolescentes. Mas nunca fui aquela avó que mima os netos e por vezes até estraga a educação dos pais. Sempre vi nos meus dois netos uma extensão parcial do Miguel e como os nossos conceitos de educação eram diferentes, nunca tentei "intervir" nessa área.
Assim, o que neles me interessava eram os potenciais futuros adultos a quem eu pudesse transmitir alguma da minha experiência de vida. E porque eles são bastante diferentes, isso sempre foi mais fácil com um do que com o outro.
Hoje são homens com vida própria. Pouco ou nada, portanto, "intervenho"nela. Mas gosto de sentir neles - nos defeitos e nas qualidades - as marcas que, considero, são típicas das minhas duas famílias. E isso faz-me sorrir e dá-me uma certa tranquilidade. Quanto ao afecto e à ternura, dou aquela que deles recebo. Como, aliás, entendo que deve ser!

HSC

8 comentários:

Anónimo disse...

Mais outro belo texto, pragmático e sem floreados.
É também assim que entendo a função de avó. Estar presente, ajudar quando for preciso, mas não tentaralterar a educação paterna, porque é a vez destes perceberem o que foi o nosso papel.
Obrigada!

Anónimo disse...

Não gostei do final do seu post.
Se diz que aprendeu a ternura com a sua Avó, por que acha que só deve dar aos seus netos a ternura que deles recebe? Não acha que lhes pode ensinar a ternura?

E devemos dar aquilo recebemos? Ou devemos dar sem esperar receber de volta?

Pedro Coimbra disse...

Avô e avó materna viviam connosco.
O avô, o gajo mais porreiro que conheci, mordeu no dia 26 de Abril de 1974.
Era um fiteiro bestial!
Com um coração do tamanho do Mundo.
Conduzia eléctricos (o 7 do Tovim) e era um bem disposto que adorava o menino (sic).

O avô paterno era mais fechado, mais austero.
Sempre que me queria chamar a atenção pedia para eu ir com ele ao mercado ou à mercearia.
Um “convite” destes significava que tinha pisado o risco.
Nem que fosse só por ter o cabelo um bocado mais comprido ou os jeans um bocado desbotados.

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 11:27

Os meus netos são homens feitos, que me dão a ternura que entendem que eu mereço. E eu fico satisfeita. Um dá mais do que o outro. Sempre foi assim mais fechado e cioso da dua privacidade. Questão de feitio, penso.
Por isso não creio que tenha de lhe ensinar a ser mais terno. Ele dá o que sente que o satisfaz e isso para mim é o que importa. Porque mais do que a minha satisfação pessoal nessa matéria, eu quero a satisfação deles.

Anónimo disse...

Onde estão os jovens em Portugal?

- O mercado branco e prata
A televisão em Portugal é um imenso lar de terceira idade, mediático, a céu aberto. Brigadas de avózinhas em roupão e pantufas, passam todo o dia na tv e na net, e defendem nas redes, ferozes, as suas estrelas, censurando sumariamente, a mais leve critica que lhes seja dirigida, etiquetando-a de inveja. E quem atinge o estrelato? Só quem consegue ganhar muito acima da média. Em Portugal nunca houve, e continua a não haver, uma cultura de debate de ideias, é mais «se não me bajulas, então é porque me queres arrasar». Onde estão os velhinhos pobres, isolados, que morrem sós?

- O mercado dos jovens
E onde estão os nossos queridos jovens? Nas horas infindáveis de publicidade (o maior programa da tv) que os persegue como alvo sinalizado, na indústria das novelas que se esticam por meses e meses e se repetem por anos e anos, com as suas estafadas histórias de pobres que casam com ricos, nas festas dos canais, sempre debaixo de escrutínio cerrado, do seu corpo, do seu look de marca, das suas barrigas, dos seus abdominais.

E os outros jovens onde estão?
Não têm voz, nem rosto, em Portugal. Não votam, não vêem televisão, estão na netflix, no computador, no tablet, no smartphone.

Anónimo disse...

Cara Helena, Ontem mesmo em conversa com um dos dois filhos (o que tem 2 filhos)disse uma vez mais o que a Helena escreve e transcrevo, dois filhos sozinha(quão difícil foi atravessar aquelas adolescências) nunca desisti e sempre acreditei que não perdia tempo, gastava tempo.
"Sempre disse que fui excelente mãe e creio que fiz, nesse campo, o melhor que sabia e podia, dado que não foi fácil educar sozinha dois pré adolescentes. Mas nunca fui aquela avó que mima os netos e por vezes até estraga a educação dos pais".
"Quanto ao afecto e à ternura, dou aquela que deles recebo. Como, aliás, entendo que deve ser!"
Gostei imenso de a ler, e que não estou só, ao verbalizar este pensar e sentir.
Deixo aqui todo o afecto e ternura para os filhos dos Nossos Filhos.
Gosto tanto de si. Maria Helena

Anónimo disse...

Cara Dra Helena
Uma das coisas que mais aprecio em si é a frontalidade, o não ter receio do que os outros pensem de si, o actuar da forma não só como lhe dita o coração, mas também como lhe dita a sua cabeça. É tão raro encontrar isso!
Venho aqui há 11 anos e sempre encontrei a mesma transparência, a mesma indignação com a injustiça e o humor mais afiado quando está para aí virada.
Nem sequer me lembro da idade que tem. Sinto-a sempre como se fosse da minha geração - tenho 49 anos - e a sua cabeça continua com a assertividade que lhe conheci nas negociações que conduziu em Paris - e foram muitas - quando eu iniciava os meus passos profissionais,
É muito difícil alguém não gostar de si e no entanto creio que vive sozinha e satisfeita, como é possível?!
Desculpe esta invasão da sua vida privada, mas conheço vários homens que adorariam conhecê-la e têm uma verdadeira paixão por si! Mundo injusto, este!

Alvaro

Anónimo disse...

Todos gostamos muito dos avós, com muitos passarinhos a voar à roda deles, coraçõezinhos a acender e a apagar, mas mais uma vez também por motivos económicos. Porque são eles, os avós, que ainda aguentam muitas das dificuldades que resultam do desemprego. Com idade avançada são muitas vezes as avós, maioritárias, mas também alguns avôs, em sua casa, a cuidar dos netos, a cozinhar, a limpar a casa, e dos filhos, e até a ter um emprego.
Mas os avós sem nada, na maior parte dos casos são abandonados por todos, deixados no hospital pela família, os netos não querem saber deles (às vezes roubam-lhes as reformas miseráveis e tratam-nos mal até fisicamente) e a sociedade ignora-os. Sei que já ninguém quer ouvir falar dos ciganos, mas eles não abandonam os seus velhos.