domingo, 8 de janeiro de 2017

Ser católica,hoje!

Embora católica estou longe de não ter desaguisados com a Igreja à qual pertenço por escolha própria. Ao longo destes sessenta anos que passaram sobre o meu batismo, não foram raras as vezes em que discuti decisões que a mesma tomava em relação a algumas matérias. E sempre tive por essencial "compreender" antes de "aceitar" normas que, de algum modo, colidissem com o que pensava ou sentia.
Julgo haver em mim uma costela de rebeldia que vem naturalmente ao de cima em momentos de descontentamento teológico ou de irritação eclesiástica. E, quando alguém me diz, nessas ocasiões especiais, "que é preciso ter fé", a coisa torna-se complicada, porque entendo que se pode ser católico, sem possuir a dádiva da fé.
Não tenho a mais pequena presunção de ver os iões ou outras partículas do género, para acreditar que elas existem. Como não preciso de nenhuma prova administrativa de que os filhos que tenho são meus e não foram trocados na maternidade. Vivo eu e vivemos todos nós, de par com uma série de situações cuja autenticidade nem sequer lembramos de questionar.
Tudo isto vem a propósito daquilo que é ser católico nos dias de hoje, e que certamente é muito diferente daquilo que possa ter sido há seis décadas, quando fiz essa opção. É que, no tempo actual, não passa pela minha cabeça que essa escolha limite a minha liberdade ou a minha consciência, das quais não abdico. Porque isso, sim, é para mim a expressão mais clara do livre arbítrio que Deus pôs à minha disposição enquanto Sua filha!

HSC

4 comentários:

Dalma disse...

HSC,o seu livre arbítrio resulta da sua intelectualidade e isso vem da sua educação e da sua formação académica e do ambiente em que tem vivido. Como pode ter livre arbítrio quem é analfabeto funcional, e mudando de exemplo uma qualquer mulher sujeita a uma burca e a um marido radicalizado?
Para ser sincera, estou à espera dos seus argumentos...
D.

Helena Sacadura Cabral disse...

Dalma
Lembrei-me de Catarina Eufémia mas podia ter-me lembrado da minha afilhada que me serviu 7 anos e que era uma das mulheres mais independentes que conheci.
Claro que o meio em que nasci foi propício, mas não foi do meu Pai que recebi o meu livre arbítrio. Ele educou-me para ser esposa e mãe. Eu é que quis mais. Muito mais. Ainda hoje quero.
Quando se nasce num país em que a liberdade dos homens é bater nas mulheres e os dirigentes politicos e religiosos concordam, só há dois caminhos: ou aceitar ou fugir. E também aqui a escolha é pessoal. Dificílima, mas possível.
No geral concordo com a sua afirmação. Mas no plano individual há, felizmente, muita gente a pensar como eu. Mesmo católicos!

Dalma disse...

Obrigada HSC, pela sua resposta. Claro, o "impossível" pode ser possível... para muito poucas, infelizmente!

Paula Ferrinho disse...

Concordo inteiramente consigo, Helena e acho até que este post é magnífico. Costumo dizer que o amor que se tem à Igreja deve ser um bocadinho como o amor que temos à nossa mãe: enorme, grandioso, mas que não nos tire a opinião própria e o livre arbítrio. Afinal, todos amamos imensamente as nossas mães, mas todos temos, certamente, imensas coisas com as quais não concordamos com elas. E esse equilíbrio entre o respeito e a autenticar de convicções é essencial para se viver uma fé forte, acho eu, daquela que não é "cega, surda e muda", mas sim lúcida, inteligente e generosa.
Um beijinho, Helena e, por favor, não deixe de escrever.