terça-feira, 4 de agosto de 2015

Todos precisamos de dono


"As pes­soas, como os cães, pre­ci­sam de dono", é a frase com que Eugénia de Vasconcellos termina um seu post no blog "Escrever é triste".
Creio que ela tem razão, que todos tam­bém exis­ti­mos para dar tes­te­mu­nho de vida. Cada um de nós traz consigo a marca da família que teve. Ou não teve. Ou até que sonhou ter. E por tanto ter sonhado, acabou por crer que existiu. 
É assim que em cada velho, já com idade a apon­tar para o fim, permanece a criança que a mãe pariu e o rapaz do seu pai.
E é assim, também, que em cada velho existe sempre um miúdo com sonhos e alguém que o amou. Apesar de, uma famí­lia depois, ele andar sozi­nho, por aí!

HSC

21 comentários:

Fatyly disse...

Comovente e verdadeiro, embora muitas vezes é preferível andar sozinho do que mal acompanhado. Há casos e casos, há pais e pais, filhos e filhos...netos e netos! Muitos deram o seu melhor e quando mais precisaram, nada, excepto no funeral e depois nas malditas heranças.

Outros foram e são reles...ó que caramba e nada os demove da sua "maldade".

Falo assim porque tive e tenho familiares das duas qualidades mas pior é ver um filho que toda a vida e sem merecer foi maltratado em termos verbais, chegar-se ao pai, visitar o pai e ouvir o que ouviu...é dose e depois falam em "abandono". Ele aguentou até à exaustão eu não aguentaria nem 1/3!

e fico por aqui sem saber se me fiz entender!!!!

Gostei imenso deste post!

Um abraço

Terapia das palavras... disse...

Que texto tocante...

De tao verdadeiro, de tao real..

Um beijinho Helena

Admiro-a imenso!

Virginia disse...


Infelizmente, vêem-se para aí muitas crianças sem dono...terão sonhos, mas será que não serão eles trucidados pela sociedade impiedosa, onde o dinheiro impera?

Sei que é demagogia, mas um casamento como o de domingo pagaria infantários e creches a milhares de crianças que andam nas ruas ou ficam abandonadas em casa. Devia ser proibido fazer tal show off num país com tantas carências.

Não me admirava que pusessem uma bomba num dos carros que levou os famosos empaturrados depois da boda! Mereciam.....

Anónimo disse...

E algumas pessoas são fiéis ao seu "dono",outras são capazes de o matar.A linha que separa homens e animais é ténue...
Fátima

Anónimo disse...

Imagem do escritor sul-africano John Coetzee, nascido em 1940 e nobel da literatura em 2003. Declinou estar presente pessoalmente nas atribuições do Booker Prize que ganhou duas vezes.
Um crítico escreveu «Coetzee é um homem com a dedicação e auto-disciplina de um monge. Não bebe, não fuma, não come carne. Com elevada frequência faz tours de bicicleta para se manter em forma e passa, no mínimo, uma hora por dia à sua mesa de trabalho, sete dias por semana. Um colega que trabalhou com ele mais de uma década, afirma que o viu sorrir uma única vez, apenas.»

Coetzee dono de si mesmo. Ninguém é dono de ninguém. Todos precisamos de paridade, ou de pertença, mas de submissão NÃO.

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 13:23
É Coetzee sim e não foi escolhido ao acaso. Foi intencional. Creio que não terá entendido o que escrevi..Apesar de ninguem ser dono de ninguem, o facto é que todos temos pais, família, sonhos, gente que nos amou, gente que nos marcou. Felizmente!
Até Coetzee. Ou, sobretudo, Coetzee.

Dalma disse...

HSC, dá-me licença de responder à Virgínia.

Virgínia, eu sou uma pessoa "low profile" e sabe bem o que isso quer dizer. No entanto estou em absoluto desacordo com o que escreveu!
Nunca me esquece o que o meu pai dizia quando a minha mãe era relutante em fazer uma despesa que ela achava desnecessária: "Alice, o dinheiro precisa de circular e só circulando de reproduz..."
Resumindo já viu por quantos se dividiram esses milhões que dizem ter sido gastos? Eles repartiram-se por quem concebeu, realizou as tendas, por todos os que intervieram no jantar, por todos/as que confessionaram, venderam as indumentária dos convidados, quem produziu, vendeu a passadeira vermelha etc, etc para não falar nos que a montante produziram as matérias primas e ainda todos os que prestaram meros serviços mesmo que menos visíveis. Muito melhor tê-los gasto assim, repartindo-se os ganhos por muitos, do que tê-los no Banco a render a favor da Banca! Não concorda?

Mas pior, pior é a sua ideia da bomba! Essa sim só daria lucro a quem a tivesse produzido/vendido!
E eu quietinha a Virgínia por uma pessoa sensata!

CF disse...

Não diria dono, mas diria reflexo...

Anónimo disse...

Don't forget the Bridge.

http://youtu.be/oBJOl4x-7T8

:-)

Silenciosamente ouvindo... disse...

Sobre o casamento de Jorge Mendes o dinheiro é dele e
faz o que muito bem entender.
Li há tempos referência de umas empregadas do casal
que se queixavam de ser mal tratadas, de trabalhar sem
horário e que a comida que lhes davam era péssima.
Isso sim, se for verdade, me repugna!
Cumprimentos, drª. Helena.
Irene Alves

Fatyly disse...

Dalma

Concordo totalmente, mas se me permites acrescentaria apenas mais isto: nos convites de casamento era dito que "prendas em dinheiro" para darem os próprios e ou iriam ser entregues a 3 associações e não deve ter sido assim tão pouco.

Desculpem o abuso da minha intervenção

Anónimo disse...

Entendi HSC, já tinha pensado quando comentei, e voltei a pensar depois da sua resposta, e discordo vivamente. Não vejo relação entre os laços familiares, quem nos marcou, quem nos amou, os sonhos, a criança que todos temos dentro de nós (felizmente) e a frase «Precisamos de ter um dono».
Se em determinadas circunstâncias da nossa vida, tivemos um dono, precisamos sim de tomar consciência dessa dependência, desse ascendente. Depois de tomarmos consciência, decidimos se aceitamos essa influência (essas memórias), ou se nos queremos libertar dela. Mentores, mestres, companheiros de rota, são bem-vindos, pessoas que admiramos e em quem acreditamos, mas nunca lhes chamaria «meus donos», porque alguém que quisesse ser dono/dona, não o/a admiraria.
Os bons pais e familiares, os nossos amores, os verdadeiros mestres, são justamente AQUELES QUE NOS APOIAM NO NOSSO PERCURSO PARA SERMOS NÓS PRÓPRIOS, e não aqueles que querem ser nossos «donos», de trela posta e horizontes confinados.
COM UM DONO INTERIORIZADO, A CRIANÇA QUE TODOS TEMOS EM NÓS, DURANTE TODA A NOSSA VIDA, NÃO PODE MANIFESTAR-SE ESPONTÂNEA E CRIATIVAMENTE E ISSO, EM CASOS MAIS GRAVES, PODE MESMO SER PATOLÓGICO.
No extremo da escala temos o agressor que espanca, ou chega mesmo ao extremo de matar a mulher, porque se considera seu «dono».
Quanto a Coetzee lembremos que aquilo que a sua obra parece ter de «autobiográfico» é na sua maioria ficcionado, essa é uma característica muito pessoal da sua escrita.

Helena Sacadura Cabral disse...

CF
Que bem você entendeu!
Bjo

Helena Sacadura Cabral disse...

Caros comentadores
Os pais sentem-se, até ao fim da vida, os "donos" dos seus filhos, pese embora os tenham educado para voar pelas próprias asas. Não se trata de se ser proprietário, mas sim de elos de amor -ou ódio - que nos ligam a eles. No fim do caminho, todos percebemos isso. Ou porque fomos, por nossa vez, pais ou porque temos mais sabedoria e enxergamos melhor o que nos rodeia.
E como muito bem diz CF os filhos são reflexo desses pais, desses amores, dessa famlia tida ou não, dos sonhos realizados ou não. E na maior parte dos casos é isso que nos dá o "sentimento de pertença"!

Anónimo disse...

His master's voice!
Reflexos pavlovianos, isso não pode dar certo.
Chamar-lhe-ia tropismo, em alguns casos, hábito noutros, acomodamento noutros, vício noutros.

Alcipe disse...

Sinto o mesmo, Helena. Gostei particularmente deste texto. Um beijo amigo.
Luis Filipe (Alcipe)

Anónimo disse...

🌹🌹🌹

Anónimo disse...

Dalma tem toda a razão.Que os milionários venham todos casar a Portugal.Ganha o país sem dúvida.Se o tal casal fosse casar fora de Portugal é que era mau.O país precisa que entre dinheiro.Que sejam muito felizes e um enorme obrigado por tal acção.
JLemos

Anónimo disse...

Por vezes fica muito difícil distinguir entre animais racionais e irracionais quem são os verdadeiros bichos.
Teresa

Anónimo disse...

Meu comentário era para o post - Cecil.
Teresa

Virginia disse...

Dalma, a sensatez não tem nada a ver com a indignação. E todos temos direito a ela.