terça-feira, 30 de junho de 2015

Um desastre


Há ocasiões em que o calor tolda o raciocínio. Foi o que me aconteceu e a mais duas amigas, quando decidimos ir ver o filme “Enquanto somos jovens” que uma certa crítica dizia valer a pena. Embora qualquer de nós duvidasse, o que queríamos mesmo era uma sala fresca para poisarmos. Fomos ao Allegro de Alfragide que ficava perto da casa de uma delas.
A primeira surpresa foi a de que estaríamos dez pessoas na sala, o que, do meu ponto de vista, até nem seria mau de todo. Só que, em período de crise, este número de pessoas não merecia, da parte dos responsáveis, o ar condicionado ligado. Pese embora tivéssemos pago um bilhete em que esse gasto deveria estar incorporado. Adiante.
A segunda surpresa foi a manifesta falta de qualidade da fita, que nos mostrou, uma vez mais, como uma boa história pode ser estragada, ou como confiar nas críticas pseudo intelectuais, pode dar azo a um verdadeiro desastre. Foi o caso!


HSC

Onde tudo começou

A análise que se segue é importante porque refere pontos que explicam muito do que agora se passa. É da autoria de Carlos Guimarães Pinto e foi postada no blogue Insurgente em http://oinsurgente.org.

A Grécia entrou no Euro em 2001. Desde essa altura, teve um crescimento imparável. Enquanto os outros países, incluindo Portugal, atravessavam o que veio a ser chamado de a década perdida, a Grécia viu o PIB crescer 32% em 7 anos. No mesmo período o PIB português cresceu menos de 9% e o alemão pouco mais de 11%.
PIB
Este crescimento do PIB foi acompanhado também pelo crescimento dos salários. Entre 2000 e 2007, a massa salarial na economia cresceu uns fantásticos 75%, quase o triplo de Portugal e 10 vezes mais do que na Alemanha.
massasalarial
Assim, os gregos puderam consumir muito mais. Nestes 7 anos, o consumo cresceu 33%, enquanto o alemão estagnou e o português cresceu quase um terço.
consumo
Como foi isto possível? Não houve nenhuma revolução tecnológica na Grécia, nenhum fluxo de investimento internacional e não foram descobertos recursos naturais no Mediterrâneo. Isto foi conseguido graças a um extraordinário aumento do endividamento público, em boa parte escondido. Foi uma espécie de Portugal Socrático com esteróides (no gráfico abaixo podem ver apenas a despesa pública oficial, excluindo a que foi escondida).
desp
Chegamos a 2008, os gregos tinham aumentado os seus padrões de vida como nunca antes tinha acontecido. Mas esse padrão de vida só foi atingido graças a uma enorme distorção da sua economia. Tinham um padrão de vida que só era sustentável graças a permanentes fluxos de dívida. Uma boa parte da sua economia dependia de um nível de despesa pública que o estado só conseguia atingir endividando-se brutalmente. Quando o estado deixasse de se poder endividar, toda aquela parte da economia se desmoronaria.Foi o que aconteceu em 2008-2009…
                                (Fonte dos gráficos: Eurostat)

HSC

sábado, 27 de junho de 2015

A caminho do fim?

“...Chegou, finalmente, o momento de o primeiro-ministro grego mostrar as cartas que tinha na mão. E não há, face a estes factos, duas leituras. É evidente que o Syriza apresentou aos eleitores um programa que não podia cumprir. Utilizou o desespero dos gregos para os iludir com promessas e palavras vãs. Ao remeter agora a decisão sobre o acordo com as instituições para a decisão popular, Tsipras assume o fracasso do seu confronto com os credores e a inconsistência da sua proposta política. Pelo meio, ficam mais de cinco meses de governação que teve como único resultado uma enorme sangria  da economia, do sistema bancário e das finanças gregas...” 

                Rui Rocha no http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/

A importância das coisas


Ouvi hoje, na íntegra, a entrevista dada por Marcelo Rebelo de Sousa ao Daniel Oliveira, no programa "Alta Definição". O entrevistador, que tem a sabedoria e inteligência de perguntar pouco e ouvir muito, deu mais uma prova disso mesmo.
Devagarinho foi perguntando tudo o que queria ao Professor. E este não se esquivou. Mesmo nas questões delicadas da sua vida sentimental ou do seu relacionamento com os Pais foi respondendo com a habilidade que se lhe reconhece mas também com a fragilidade que, em certas ocasiões, o brilho excessivo do seu olhar deixou transparecer, nomeadamente ao falar dos filhos e da Mãe.
A certa altura disse algo que, a mim, tocou particularmente porque é tema de muitas conversas aqui em casa. E que foi mais ou menos isto: na vida há muito poucas coisas muito importantes. Depois, em maior número, há coisas importantes. Finalmente há milhões de coisas que são muito pouco importantes. E nós, na vida, perdemos um tempo enorme com estes últimos milhões de coisas. É tão verdade que até dói.
O resto, que foi ainda bastante, mostrou um homem que pese embora ser muito activo, sabe que a idade irá determinar que  faça certas opções.
Marcelo é tudo menos um homem consensual. Há os incondicionais e há os intolerantes. Depois há os outros, que, se ele estiver interessado em voos mais altos, terá de conquistar.
Goste-se ou não, Rebelo de Sousa não deixa ninguém indiferente!


HSC

Madame Bovary


Ontem fui ver a Madame Bovary que foi talvez o primeiro romance que li. E fi-lo muito cedo numa época em que os amores são sempre românticos. E que quando não correm de feição acabam, por norma, com pelo menos, uma morte. Este não foge à regra...
Já Chabrol, há uns anos, se tinha dedicado a filmar esta tragédia de Flaubert. O filme de agora é realizado por uma mulher, Sophie Barthes*, e todo o ambiente que se respira denota esse olhar feminino sobre o drama.
A protagonista, Mia Wasikowska é, talvez, para meu gosto, demasiado fria, o seu primeiro amante demasiado imberbe e o segundo, o conde, com demasiados tiques de classe.
Co-produção da Bélgica, Alemanha e Estados Unidos, possui uma fotografia soberba e um acompanhamento musical muito bem escolhido. O enredo, esse, todos conhecem.
Não sendo uma obra prima é uma película que vale a pena ver, agora que as salas de cinema, à tarde, estão quase vazias e onde a temperatura é amena..
Um pormenor que me causa algum "incómodo" - só deve acontecer comigo -, é assistir a um romance de Flaubert, no qual toda a gente fala em inglês!

HSC

* Nota: estreia-se na longa metragem, em 2009, com Cold Souls.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Reportagem dos santos populares

 As belas da Grupa
 Eles e elas
As Helenas
Andava num desatino para comer sardinhas assadas, mas não queria ir para o meio da confusão. Desafiei o meu grupo de amigos - a Grupa boémia - e aqui podem ver a reportagem fotográfica da noite. Descobrimos um espaço em Alcântara, sem borburinho e onde puderam assentar praça vinte amigos. E ainda tive a surpresa de rever a minha querida Nayma - linda, linda - e o meu amigo Ivan Lins que, com a mulher, havia chegado a Portugal.
As sardinhas estavam óptimas. Mas bom, muito bom mesmo, foi o "convívio entre todos nós!

HSC

O Diário da Rita

Depois de "Veneza pode esperar", a Rita Ferro decidiu dar continuidade ao estilo diarístico ao publicar, na passagem para os 60 anos, o segundo volume das suas memórias e reflexões. 
A sala do Corte Inglês onde ontem o livro foi lançado estava cheia de amigos e admiradores. A apresentação esteve a cargo da vereadora Helena Roseta e do realizador Vicente do Ó.
A Rita entrou numa nova etapa da sua vida. E desse outro caminho, muito pessoal, nos dá conta neste livro. 
Uma sua frase - "numa época em que a beleza e a juventude se apresentam como divindades e o dinheiro se revela – dir-se-ia – como a única religião verdadeiramente ecuménica do Mundo, é com a singularidade do indivíduo à margem destes padrões que a grande humanidade se identifica" - põe bem a nu os problemas da sociedade actual e, em particular, os das mulheres que nela gravitam, aprisionadas num corpo cuja idade difere da do coração e da razão.
Cada um de nós resolve o problema do envelhecimento de forma distinta. A visão da Rita é diversa da minha, o que se explica pela diferença de idades que nos separa e pelas características que nos distinguem. Mas ela exemplifica bem a ditadura que apanha uma boa parte das minhas congéneres da sua geração e delas faz um retrato fiel!

HSC

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Vale a pena partilhar...


Por uma qualquer razão que me ultrapassa, sempre que penso dedicar o meu dia a coisas pessoais, acontece algo que me "ensarilha" a vida. 
Ontem tive a alegria de ter toda a familia reunida à volta da mesa. Bem, toda não, porque faltavam os irmãos. Mas estava uma parte importante dela e eu cada vez mais olho o copo meio cheio e fico feliz. Quando me deitei fiz uma lista do que tinha para resolver hoje. Esqueci-me, logo, que tinha um jantar e o lançamento do livro da Rita Ferro em horas muito próximas...
A manhã foi um rodopio entre a porta e a cozinha. E quando, já bastante esfalfada, me preparava para almoçar tocaram, de novo, à porta. Como estava à espera de uma encomenda, abri sem perguntar quem era. 
Só que não era a encomenda, mas um cavalheiro que, identificando-se como pertencendo à Golden Energy, me queria "oferecer" a possibilidade de deixar de pagar a taxa de acesso aos contadores. Como não tinha ideia de nenhuma taxa do género, disse-lhe que ia falar com um familiar que trabalhava numa das empresas do sector. O rapaz pareceu-me demasiado impressivo para meu gosto e por isso despachei o assunto.
Contactei o amigo, que não sendo familiar, nesta área tem funcionado como tal e expus-lhe a situação. A reacção não se fez esperar e a explicação também não.
É que com a dança do actual estado do mercado da energia as mudanças de fornecedor são a mira de certas empresas, que usam de todos os meios para chegar ao fim pretendido que é a caça de mais um cliente.
Se eu tivesse assinado o papelinho, pura e simplesmente teria mudado de operador, com todas as consequências inerentes, sem me dar conta disso. Quer dizer, no meu caso daria porque, por norma, leio muito bem aquilo que assino. Este procedimento que ninguém parece condenar, convence os mais incautos, que  por desgraça e ignorância acreditam nas promessas falaciosas e não sabem defender-se.
Pergunto: o que faz o regulador perante tais práticas que têm dado origem a uma série de processos?!

HSC

Nota: umas horas depois, eis que outro novo e diligente contacto pretende o mesmo… É obra!

terça-feira, 23 de junho de 2015

O sonho helénico

O novo caderno de encargos do governo Tsipras, terá que assentar basicamente nos seguintes pontos:

1.aumento da idade de reforma para 67 anos;
2.fim imediato das pré-reformas;
3.extinção dos suplementos às reformas mais baixas;
4.aumento das contribuições dos pensionistas para terem acesso à Saúde (5%);
5.aumento da TSU (3,9%) para os patrões;
6.aumento do IVA através da passagem de diversos produtos da taxa mínima para a máxima;
7.aumento do IRC de 26% para 29%;
8.corte de 200 milhões de euros na Defesa;
9.introdução de um imposto de 12% nos ganhos das empresas com lucros iguais ou superiores a meio milhão de euros;
10.introdução de um imposto sobre iates privados;
11.aumento do excedente orçamental primário no PIB. 

O povo grego vai ser, assim, submetido a um novo plano de austeridade. Que os portugueses bem conhecem. Todavia nada está seguro, visto que o Parlamento nacional ainda não aprovou tais medidas. Mas que elas representam uma certa desilusão, isso, ninguém duvida. Não era este o sonho helénico.

HSC

domingo, 21 de junho de 2015

Saber escutar, saber fazer

“Quando iam no caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela uma irmã chamada Maria, a qual se sentara aos pés do Senhor e escutava a Sua palavra. Marta, porém, andava atarefada, com muitos serviços e, aproximando-se, disse: "Senhor, não se Te dá que a minha irmã me deixe só a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar". O Senhor, respondeu-lhe: "Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada".


                       Evangelho segundo S. Lucas 10:38-42

Ando, por razões diversas, a ler certos Evangelhos. E como parece que não há coincidências hoje um blogue que frequento assiduamente referia, a propósito de uma pintura, este texto, que eu acabara de ler na véspera. Não sei explicar porque é que, com alguma frequência, sou apanhada em "transmissões de pensamento" deste género. Mas são um facto e eu sinto-me privilegiada quando tal acontece.
Sou mais do tipo de Marta - admitamos mulher de acção e do quotidiano - do que de Maria - mulher de escuta e de pensamento. Mas sempre tentei equilibrar estes dois lados da vida, pese embora os resultados só tardiamente se vejam.
O que aqui ainda me surpreende é a escolha de Jesus, que entende que uma das partes é a melhor... De facto, às vezes, tenho destas dissidências com Ele!

HSC

Página de um diário (6)


Lisboa, 21 de Junho de 2015

Entrámos hoje no Verão. Não é uma estação que me seduza. Nem agora, nem antes. É um período excessivo de pormenores dos quais não gosto: muito sol, muita gente, muito suor, muito alcool.
Sou mais das quadras intermédias, como o Outono ou a Primavera, embora esta me cative menos do que a primeira, que também possui alguns excessos. Sobretudo de vida, que desponta por todo o lado.
Dir-me-ão que o Outono tem um lado triste, de fim que se aproxima. É verdade. Mas tem aquele amarelo laranja das folhas caídas das árvores que atapetam as ruas - e pessoalmente me tocam fundo -,  que dão ao campo e às cidades uma uniformidade que nas outras estações se não descortina. Aliás, essa "tristeza outonal" que tantos referem, é o bálsamo indispensável para compensar os cúmulos estivais.
Muitas vezes me tenho perguntado o porquê desta preferência, quando a minha alegria atávica, pouco parece ter de comum com tal tristeza. Começo a acreditar que é o balanço psicológico que tal determina e que a sabedoria popular tão bem explica, quando afirma que os opostos se atraem. É um facto, comigo. E não só no campo meteorológico...

HSC

Um Presidente


Um Presidente da República pode exigir que as promessas sejam cumpridas. Pode exigir e vigiar e se entender que as promessas não estão a ser cumpridas, deve usar todos os meios ao seu dispor para encetar uma renovação política”. 

Esta foi a resposta dada por Sampaio da Novoa, este sábado, a uma pergunta que lhe foi feita num encontro com a sociedade civil, em Viseu, para falar de Cultura.
Estaremos, assim, perante alguém que demitiria o governo e dissolveria a Assembleia quando, em seu entender, o primeiro não cumprisse as promessas feitas em campanha. O que, no nosso país, poderia, como se calcula, conduzir a uma série de demissões em cadeia.
Claro que a Assembleia poderia, nesse caso, renovar a confiança no governo, ou o país eleger, outra vez, o mesmo partido, situação em que, creio, ao Presidente só restaria renunciar ao cargo. 
Mas, julgo, isso não preocupará o candidato, que também afirmou: "serei um Presidente da República despojado porque não tenho nenhuma carreira política ou outra qualquer pela frente. Não hesitarei nunca em tomar as decisões que eu ache que devem ser tomadas”. 

Teríamos, assim, um Presidente que, segundo as suas próprias palavras, nos garantiu que "todos os dias acordarei a pensar e a mobilizar os portugueses para as grandes causas”!

HSC

sábado, 20 de junho de 2015

Ganhar batalhas

“...Desde o dia em que foi eleito, Tsipras jogou todas as fichas no medo de um efeito dominó que arrastaria a periferia vulnerável. Para obter dinheiro sem fazer concessões, o primeiro-ministro pensou que a simples perspectiva da bancarrota grega levaria Portugal e Espanha na voragem dos mercados, ou seja, apostou na desgraça dos parceiros, o que é inédito na UE. Esta estratégia tinha pés de barro e o efeito dominó será mais político do que financeiro, pelo menos assim pensam os credores. Em resumo, este parece ser o fim da linha para as ilusões de quem não quiser cumprir o Tratado Orçamental.”
    
            Luis Naves no blog colectivo Delito de Opinião

Penso que estas negociações não correram da melhor forma e que os governantes gregos, nomeadamente o seu Ministro das Finanças,  não hesitou na arrogância com que falou dos seus propósitos. Infelizmente não parece ser assim que se ganham as batalhas. Na segunda feira se saberá onde está a razão!


HSC