sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Da simplicidade


Sempre gostei de ser mulher e não me lembro de, alguma vez, ter desejado ser homem. Embora nunca tivesse sido uma feminista ferranha não deixo de agradecer às que o foram, as liberdades, os direitos e as garantias que hoje tenho e, sem dúvida, lhes devo. 
Não desdenho o lado fútil da vida - se nele incluirmos umas fatiotas, um perfume ou um creme - mas jamais lhe dei primado sobre muitas outras coisas que considero vitais na minha existência.
Trabalho há anos em televisão sem passar pelas maquilhagens ou arranjos capilares. As poucas vezes que, no princípio dos princípios, tal consenti, ao ver-me no ecrã, senti logo que estava ali outra que não eu.
Assim, um dia decidi que ninguém mais me punha a mão em cima - no sentido metafórico do termo, claro - e, a partir daí, a "bela Helena" passou a entrar directamente em estúdio, indiferente às aflições de todos aqueles que, muito justamente, preferiam que fosse não quem sou, mas sim quem deveria ser para ficar bem no ecrã. É evidente que a "bela Helena" terá, muitas vezes, surgido bem pouco bela mas, pelo menos. era real.
Talvez por tudo isto nunca fui muito de pinturas. E, confesso, "pelo-me" por enfiar uns jeans com uma camisa de homem, calçar uns sapatos rasos e meter-me a passear pela borda do rio, de cara lavada.
Porque falo nisto? Porque recentemente me fizeram um convite que me iria impor o retorno a um cuidado pessoal muito particular, uma vez que seria o rosto de algo em que esse aspecto, distintivo, era essencial. No primeiro instante vacilei. Pedi para pensar. Porque isto de casamentos indissoluveis fazem-se apenas uma vez na vida, até se perceber que o prazo de validade também se lhes aplica.
Vim para casa e fiz - como sempre faço - uma matriz das vantagens e dos inconvenientes e, a cada um, dei a minha notação. Resultado, não aceitei. Porque iria perder não a minha privacidade, mas sim, a minha simplicidade. E eu não quero perder nem uma nem outra!

HSC

12 comentários:

Virginia disse...



Leio isto à 1 da manhã....mas vale a pena estar acordado para dar uma boa gargalhada...

Essa dos jeans então é demais....estou com uns vestidos e sinto-me na maior!!

Nunca fui à Tv embora já me tivessem convidado duas vezes...não é experiência que inveje, mas acho excelente que se vá...

TERESA PERALTA disse...

Como a compreendo... A solução é mesmo, fugir a sete pés porque a vida é muito curta para ser vivida em pressão constante, através de artificialismos sofisticados que nos privam constantemente da própria liberdade.
Leonardo da Vinci teve sempre muita razão.
Bom fim de semana, Helena. Beijinho :)

(Amanhã trabalho e tenho saudades do Sol)


Escrever Fotografar Sonhar disse...

Simplicidade e autenticidade.

bea disse...

É reconfortante ouvir alguém falar assim e agir em conformidade. Valeu.

Anónimo disse...

Bom dia Helena!
Dá gosto ler, como vive a sua vida tão intensamente,li os textos abaixo.
Como diz no seu ultimo livro " Ás vezes peco com gosto", aqui pecou para o seu colestrol, o pecado da gula às vezes dá-nos um prazer imenso!
Também adoro leitão, era manjar que não faltava na consoada e anos da minha filha. Era feito por encomenda, a pele estalidiça e tempero no ponto.
Há algum tempo deixamos de comprar, a consoada com uma mesa repleta de gente, começou a ficar cada vez mais vazia, pessoas que partiram e não voltam, a alegria dessa noite, passou a ser nostálgica...hoje prefiro que esses dias passem depressa.
Não é de admirar, o carinho que os seus leitores têm por si, a sua boa energia é transcendente, autencidade, simplicidade, como outros atributos que têm, fazem de si uma mulher admirada por muitos e invejada por outros, que gostavam de ter a sua áurea.
Ontem, comprei o seu último livro, vi que o dedicou ao seu neto André :-), quando o comecei a ler senti um déjà vu, a Helena foi-nos presentiando nos seus textos do blog com alguns dos temas ali escritos.
O que o seu filho Miguel fez quando celebró os 50 anos, estava eu a planear fazer nos meus 40, numca fui de comemorar os meus anos, mas a entrada nos 40 tinha que ser diferente. Queria fazer uma grande festa com aqueles que gosto, infelzmente 1 mês antes aconteceu o imprevisível, não houve festa, não houve nada...
Um ano depois, quiz comemorar mas com uma vertente, que me dava alguma felicidade, ajudar quem precisava, todos os presentes para mim, seriam canalizados para ajudar uma associação de animais abandonados.
Penso seguir o mesmo percurso, mas ajudando sempre associações diferentes.
A sua atitude não pudia ser outra, a recusa do convite só demonstra mais uma vez que a sua vontade prevaleceu!

http://restaurantetigracinda.pt/

Carla

Anónimo disse...

Desde sexta-feira que não posta nada!
Com o desejo de que esteja tudo bem.

Beijinhos,
Vânia Baptista

olga soares disse...

:-)
Como dizia um amigo meu

"Já nao tenho idade nem estatuto para isso"...ou seja,faço o que quero e até logo.É tao bom...

A Srªsp o será,com ou sem

KANOKA disse...

Muito de acordo....sermos nós mesmas e pronto,um direito que temos......

KANOKA disse...

Muito bem, nada como sermos nós mesmas, temos esse direito! Basta de nos deixarmos manipular por esteriótipos....

Anónimo disse...

Optima decisão!
Gosto muito da sua coerencia, aliás também pratico.
Igual a sí mesma. Parabéns,
VW
P.S. Vou partilhar o seu post numa rede social, com a devida identificação do autor, aliás não podia ser de outra forma. Obrigada. :)

Anónimo disse...

A menina recusou dois. convites para aTV?
-Estou decepcionado !

Anónimo disse...

A Virgínia dá uma no cravo e outra na ferradura, como é seu apanágio.