quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A figura pública


Nem sei como explicar este fenómeno. Recentemente chegou às minhas mãos a carta de uma mãe a pedir-me orientação para que o filho pudesse satisfazer o seu sonho de se tornar uma "figura pública".
Primeiro julguei que tinha lido mal. À segunda tentativa admiti que seria um amigo meu, que quando reaparece das suas longas ausências - trabalha expatriado -, costuma faze-lo de modo inesperado e, por norma, servindo-se da maior comicidade. Porém, algo não batia certo a quem, como eu, o conhece muito bem.
À terceira leitura apercebi-me de que a carta era mesmo verdadeira. A pessoa assinava e deixava um número de telefone. Mandei ligar e confirmou-se a identificação. Só então percebi que o pedido era real e que o que se pretendia de mim seriam dicas para se chegar ao que cheguei como "figura pública"...
Dado que comigo acontecem sempre situações pouco comuns ao resto dos mortais, pensei no que é que poderia levar uma pessoa a colocar-me uma questão desta natureza. E depois de muito matutar na carta que me haviam escrito, confirmei algo que penso há muito tempo. E que está relacionado com o que, nos novos tempos, constitui o "sonho" de uma parte expressiva da juventude e que é o de se "ser conhecido". 
Não pelos bons motivos - esses sim, eventualmente, justificáveis - mas porque aparecer na televisão ou nas revistas cor de rosa se transformou numa espécie de obsessão. Dos filhos e, de certo modo, também dos pais. No caso vertente, fiquei mesmo com a impressão de que quem queria ser conhecida era a mãe daquele que pretendia dar-se conhecer. 
Depois disto e sem ir ao psiquiatra, acabei por soltar uma boa gargalhada a "ver-me" como figura publica de triste figura! Só a mim é que me acontecem destas...

HSC

9 comentários:

Terapia das palavras... disse...

So alguem como a Helena, com esse espirito que admiro ha imenso tempo, poderia dizer tao bem e com esse seu peculiar sentido de humor, que tanto falta a gente cinzenta com que sou obrigda a conviver..me poderiam fazer soltar o riso..

A nossa sociedade, tende cada vez mais a banalizar as partilhas as amizades as pessoas ditas "reais" , que tudo isto nao passa dum imaginario muito acalentado pelos nosso medias que nos entram pela casa dentro e que desenvolvem cerebros mais ou menos cheios de nada,,,

Parabens mais uma vez,,e gosto muito de a ler..mas ainda gosto mais da Helena, vulgo nome de mulher , mae, pessoa ..e que por acaso ate se torna figura publica ,,mas sempre sempre por bons e prestigados motivos..

Beijinho

Ana

Anónimo disse...


Helena,
imagino a sua gargalhada, é para rir mesmo, com o que lhe pediram.

Carla

Anónimo disse...

O desejo dessa mulher, digamos, é o mesmo de milhares e milhares de pessoas deste país. Mas ir ao ponto de manifestá-lo, nem ao diabo lembraria...

Anónimo disse...

Olá D. Helena,

não que discorde de si, de facto, é uma situação caricata, em que o melhor remédio talvez seja mesmo o riso.

No entanto, não consigo deixar de sentir uma certa tristeza por essa mãe.

O trabalho de descobrir a sua morada, o endereçar-lhe uma carta, hoje em dia, algo tão em extinção, enfim, todos estes cuidados levam-me a crer que, independentemente da validade racional e moral do acto, esta mãe, à sua maneira, exerceu um acto de amor pelo filho.

Só consigo sentir uma certa tristeza por pensar não só no tipo de valores que os pais passam aos filhos, mas também no que alguns pais devem sofrer para "ajudar" os seus filhos a sentirem-se alguém na sociedade voraz que vivem...

Nesse acto, vejo o resultado de alguns post que já publicou sobre a banalidade e a tolerância, por exemplo.

Agora, procurando o "lado divertido da coisa", a D. Helena já pensou em escrever um livro sobre os "10 passos para se transformar numa figura pública"? Olhe, olhe, que poderia ser uma fonte de rendimento extra ...

Cláudia


Anónimo disse...

Para aparecerem nos media e ganharem dinheiro fácil, muitas pessoas estão dispostas a tudo.

Há programas (não preciso de dizer quais) que promovem isso, saltando por cima da dignidade dos participantes.

A maneira como os miúdos são tratados atinge a insanidade e a alienação: são pressionados PERMANENTEMENTE para se enrolarem uns com os outros (mesmo quando estão indecisos), são etiquetados (são eleitos) perante os outros e os espectadores como 'o mais mentiroso', 'o mais burro', etc.

E sabemos como a Tv influencia as opiniões, as decisões, etc.

A apresentadora chama-lhes 'queridos', mas por vezes tb, 'palermitas'.

Em nome do 'jogo' vale tudo, a produção ludibria-os, submete-os a provas psicológicas para obter reações que promovam audiências. Faz-lhes perguntas com pouca probabilidade de obter respostas corretas, como 'ósculo' por exemplo.
Para todos se rirem alarvemente com a ignorância demonstrada.

O à vontade com que esta mãe lhe escreve a pedir a receita para ser famoso, mostra como está enganada sobre como a HSC se tornou conhecida, e representa o que muita gente pensa sobre aparecer na TV.

Helena Sacadura Cabral disse...

Claudia
Felizmente a carta foi para a editora que ma fez chegar às mãos. Mesmo assim, deve ter dado algum trabalho...
E, claro, foi um gesto de amor. Mas se eu correspondesse a todos estes gestos, a minha vida daria uma série!

maria isabel disse...

Porque não perguntar dicas para o filho ser alguém na vida à custa dum trabalho digno e assim ser merecedor de admiração da sociedade? Este querer ser "famoso" também me dá vontade de rir, mas ao mesmo tempo tenho pena.Estas pessoas precisam de tão pouco!!!!!

Fatyly disse...

Eu seria incapaz de o fazer, excepto ir até ao fim do mundo por um motivo de saúde de um filho! Como não conheço essa mãe, não posso dizer nada sobre o seu pedido.

Quer queira ou não a Dª. Helena é uma figura pública mas nem consigo imaginar os pedidos que deve receber. Também afirmo que INFELIZMENTE na actualidade em tudo ou quase tudo voltámos "à velha cunha". É triste? Claro que sim, mas regredimos 20/30 anos em vez de progredirmos em tudo!!!

Que emigrem é ou foi a ordem e quantos mais melhor para "baixar o desemprego, o estado social e a saúde"!

Um abraço sincero

Inês disse...

Queridíssima Helena
Sigo-a por aqui com muito prazer. Sempre.
Este post faz doer. Não consigo rir.
Assistimos impávidos à corrida desenfreada de jovens a caminho da fita fama. A todo o custo. Há uma exposição doentia é feia das suas vidas ( pobres?) , basta olhar as capas de revistas.
Há, igualmente, pessoas que trabalham nos meios de comunicação e esses, sim, dão entrevistas numa obrigatoriedade de publicitar/ dar a conhecer programas, etc... São as tais " celebridades", os famosos... Mas são trabalhadores da comunicação. E o preço que pagam por essa celebridade é caríssimo.
Veja-se a gravidade dos casos mais recentes e que aparecem retratados em capas de revistas e onde há fotos de crianças com polícias. À porta de casa.
A exploração duvidosa e enganosa da vida de uma pessoa " conhecida" já não tem limites.
Tudo é tratado dá ânimo levissimo a raiar o mau gosto, mesmo tratando-se de temas graves.
Não, a "fama" não é nada, limita-se a umas capas de revistas com péssimas fotos e textos cheios de erros.
Não sei se consegui exprimir com clareza o que penso.
Abraço

Isa