segunda-feira, 30 de junho de 2014

A perda maior

Ao fim de semana raramente ligo a televisão. Por isso, só hoje, no noticiário da manhã, tive conhecimento do que se passara com o filho de Judite de Sousa. Fiquei completamente gelada e ainda não recuperei completamente do choque.
A morte de um filho é algo tão íntimo, tão privado, que deve ser chorado na maior solidão. Eu sei que isso não vai ser possível com a Judite, como não o foi comigo, quando o Miguel morreu. É o preço a pagar por ter certas profissões.
E, se abordo aqui este assunto, é apenas para dizer que acredito na força anímica da mãe do André e que gostaria muito, se a conhecesse melhor, de lhe dar o mais apertado e sentido abraço do mundo! 

HSC 

domingo, 29 de junho de 2014

As feiras

Alguém me dizia hoje, a rir, que a minha aptidão para as feiras começava a explicar muitos aspectos da actividade familiar...
É um facto que não gostando de multidões, não desdenho ir a uma feira, seja do livro ou qualquer outra. Trata-se de um lado popular, muito meu, que não quero perder. É genuíno, aproxima-me das pessoas e faz vir ao de cima uma certa ruralidade que também possuo e de que muito me orgulho.
Hoje foi a vez da Feira do Artesanato à qual dois amigos me arrastaram, depois de um pacato almocinho em casa do meu filho. Andei quilómetros, não sinto os pezinhos, e apesar de ter ingerido um repasto beirão carregado de colesterol - presunto e queijo da Serra -, devo ter desgastado todas as calorias ingeridas.
Mais outra e estou transformada na Leninha da Feiras...

HSC

sábado, 28 de junho de 2014

Delituoso almoço


Hoje a Ana Vidal recebeu, na sua bela varanda em Sintra, alguns dos amigos do Delito de Opinião, blogue colectivo a que pertenço há dois anos, levada pela sua mão. Estes repastos são sempre de excelente qualidade gastronómica e humana, permitindo-nos confirmar como é enriquecedor o convívio entre pessoas muito diversas.
A tarde estava amena, a cavaqueira abordou os mais variados temas, desde a política à política, eu estava em dia de trocar os nomes a tudo e a todos - não sei se foi do branco geladinho - o que serviu para uma imensa risota.
Ainda agora não sei porque pertenço ao Delito de Opinião que, do meu ponto de vista, aborda demasiados temas políticos. Mas o que é certo é que lá continuo e considero que a sua é, também, a minha gente!

HSC

sexta-feira, 27 de junho de 2014

E depois queixa-te...


Há quem acumule tarefas. Eu acumulo convívio. E quanto mais velha vou ficando, mais boémia me torno. Gosto de jantar com amigos fora ou dentro da minha casa e ficar até às tantas na conversa. Hoje olhei para a minha agenda e ia colapsando. Não tenho uma única refeição livre nestes próximos 10 dias. Ou seja vou andar num virote como se fosse uma miúda, para cumprir prazos - sou de um profissionalismo doentio nesta matéria - mas, em simultâneo, não perder nenhum dos repastos aprazados.
Ao invés, em Agosto, quando todo o mundo está fora, eu delicio-me  em Lisboa. Há sempre lugar para arrumar o carro, os restaurantes atendem-nos melhor, os cinemas agradecem a nossa presença, as esplanadas têm quase sempre lugar e os estrangeiros que nos visitam, transformam o burgo numa capital cosmopolita.
Claro que em certos dias, estou mesmo cansada e censuro-me. Mas não demoro muito na censura, porque me lembro da minha Mãe a dizer-me "...e depois queixa-te. Sabes? Quem corre por gosto, não cansa". Tinha toda a razão!

 HSC

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Heranças!


Há dois locais onde não volto há muito tempo. Um é Vila Viçosa e outro é Paris. Ao primeiro não torno há quase três décadas e ao segundo há cerca de dois anos. Em ambos passei bocados preciosos de vida - e, talvez por isso, quem sabe? -, não me apetecia revistá-los noutro estado de espírito.
Todavia tenho pensado muito nisto nos últimos tempos. Julgo ser chegada a hora de virar a página destas lembranças e partir à sua re-descoberta. E, na senda do que ando a fazer com as minhas "provas de vida" - quilos de papel guardados há anos -, que serenamente venho destruindo porque defendo que a intimidade de cada um só a si diz respeito, decidi voltar aos sítios onde fui muito feliz.
Ainda nesta onda, reuni várias dezenas de livros sobre temas femininos e, com a ajuda da Maria Antónia Palla, ofereci-os à biblioteca Ana de Castro Osório. Vai seguir-se a literatura gastronómica, que penso dividir pelas duas Escolas de Turismo que funcionam em Lisboa. Depois, será a vez dos livros de Economia e Finanças, que irão para o ISEG e Católica, as duas casas onde me licenciei e graduei.
Ficarão as literaturas e as músicas - livros, CD´s e discos de vinyl - que revelam, mais do que quaisquer outros objectos, as minhas escolhas pessoais, aquilo que me toca mais fundo. Uns serão para o Museu da Marinha. Outros, talvez para duas bibliotecas, sediadas na Beira e no Alentejo, as regiões de onde provêm os meus Pais.
Estão ainda sem destino peças de uso pessoal que são as mais difíceis. Não tendo filhas nem netas, ando a matutar no que lhes irei fazer. Se nada decido, arrisco-me a que os homens da família vendam as coisas e enfiem na política, à esquerda e à direita, o valor obtido. Assim, ando a magicar numa boa surpresa para lhes deixar... e eu rir quando chegar lá acima!

HSC

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fading gigolo


Há alturas em que até um filme sofrível acaba por nos pôr o coração ao alto. Estes meus últimos dias não têm sido fáceis porque se juntaram, ao mesmo tempo, cansaço físico e preocupação com um familiar doente. Nada que não aconteça a milhares de famílias, mas eu estou sem férias há três anos e não vislumbro que a curto prazo as possa ter.
Para grandes males grandes remédios, diria a minha mãe e eu segui-lhe o conselho. Comi um belíssimo jantar de tapas que me ficou - pasme-se! - em 9€ e zarpei para o cinema ver o Woody Allen no filme de Turturro intitulado Fading Gigolo, que entre nós acabou num triste "Quase Gigolo".
Ora Fading significa algo entre o moribundo e o lânguido. Logo, a tradução é desastrosa. Trata-se, de facto, de um gigolo, ou melhor, de alguém que Woody resolve transformar num "engatatão". E, acredite-se ou não, um triste e pacífico canalizador vai "virar" um amante apreciadíssimo.
Se Woody fosse o realizador, a história seria deliciosa. Mas não é. É apenas actor e, embora Turturro tente copiar o clima de Allen, o resultado não é famoso. Todavia, o guião, o ambiente nova-iorquino, Allen e o meloso amante feito à pressa, conseguiram, confesso, fazer-me rir e esquecer, por uma hora e meia, os ambientes hospitalares a que o amor fraterno me tem levado nestes dias.
Se está cansado, com calor, sem paciência, relaxe e vá ver. Se não sair melhor do que entrou, pelo menos, esqueceu males e ainda riu alguma coisa!

HSC

As minhas gémeas


Ontem vim a voar contra o tempo para chegar ao Corte Inglês e assistir à apresentação de As Minhas Gémeas, o primeiro livro da Ana Marques, uma mulher de quem gosto muito e que tem uma família adorável. 
Cheguei a horas e ainda tive ocasião de abraçar a autora e a sua mãe. Casa cheia de amigos comuns, uma alegria enorme pela sala. Regalei-me com a apresentação feita pelo Diogo Quintela e com as palavras da autora. E, claro, revi o meu grupo da boémia, que estava todo lá, a desafiar-me logo para maus caminhos... Mas não cedi!

HSC

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Voltar para casa


Há um excelente livro de Alejandro Zambra intitulado "Voltar para casa". O diário do mundial - que tem dado alguma folga à política governativa e permitido disfarçar as tensões no interior do PS - está a tornar-se numa rota com o mesmo título.
Assim, quando a selecção retornar à terrinha, os políticos e o Partido Socialista que se cuidem, porque é em cima deles que tudo vai desabar. Só resta saber "quando" retornamos, já que o "como" está à vista...

HSC

sábado, 21 de junho de 2014

Estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria. 
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria
Ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza!
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria
Ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza!
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto
É por ti que adormeço e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

A Patricia Reis lembrou hoje o Ary dos Santos neste belo pedaço de poesia. Porque será que, de repente, tive tantas saudades deste homem com quem convivi?!

HSC 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Maturidade, precisa-se!


"... O certo é que, do que leio, a coisa passou-se mesmoNa verdade, independentemente de todas as dúvidas de interpretação que uma decisão de um tribunal possa levantar, um governo legítimo não pode admitir, em caso algum, que a aplicação dessa decisão tenha como consequência uma violação flagrante do princípio da igualdade dentro de um mesmo grupo profissional ou a completa desacreditação do princípio da certeza jurídica"... 

Quando os outros dizem aquilo que nós sentimos, o melhor é copiar. Foi o que fiz ao transcrever a citação acima, que foi retirada de um post mais longo publicado por Rui Rocha no Delito de Opinião.
De facto, algo se passa ou comigo ou com Poiares Maduro. Não é possível que um homem com o seu currículo faça afirmações desta natureza. Logo devo ser eu que não consigo atingir a craveira necessária para o entender!

HSC

  

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Setenta anos depois!


Setenta anos e muitas vidas depois, como diz hoje o Paulo Abreu Lima, no seu blogue - http://assimterraceu.blogspot.pt/ -, Chico Buarque está cá para nos mostrar como se pode continuar a encantar com esta belíssima idade. Há até quem se descubra nela...
Sabem? Considero que ele é, agora, muito mais "apetecível" - desculpem, mas não encontro, no nosso vocabulário, outra expressão mais fiel para o qualificar - do que há meio século, quando nos começou a enfeitiçar!

HSC

Dança, luz e som


Aqui fica um vídeo que um comentador me enviou e que, por ser bastante original decidi partilhar, para não serem só post´s tristes!

HSC 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Estar preparado

Creio que todos pensamos estar preparados para a felicidade. E também julgo que só os santos estarão receptivos à infelicidade. No entanto, o que é difícil é ser feliz, já que infelizes, todos somos um pouco.
Vem isto a propósito das "perdas" recentes que tenho tido, de tantos amigos que cumprindo o seu destino, partiram cedo demais. Mas, ultimamente, por causa de um familiar próximo que está bastante doente, dei-me conta de algo muito doloroso, que nunca havia experimentado, e que é estarmos com alguém que não está connosco. Há doenças destas, terríveis, que para além de nos corroerem o corpo, nos roubam a alma. As pessoas estão cá, estão no meio de nós, mas nós não sabemos se quando as olhamos elas nos vêem, se quando lhes falamos elas nos ouvem, se quando as abraçamos elas sabem quem somos.
E, quando, no mais fundo do nosso coração, pedimos a Deus que as poupe ou as leve, descobrimos, afinal, que apesar disso, ainda não estamos preparados para a sua partida!

HSC

Ana Maria Adão e Silva

Há pessoas de quem gostamos, mal as conhecemos. Este fim de semana morreu Ana Maria Adão e Silva, que era uma delas. Nunca fomos íntimas, mas todas as vezes que nos cruzávamos - e foram muitas - havia muita alegria nesses encontros. Acresce que tínhamos grandes amigos comuns, o que facilitava que fossemos sabendo uma da outra.
Hoje estive com ela três longas horas antes da primeira missa que seria celebrada em sua intenção numa capela mortuária da Igreja da Ressurreição, nas Fontaínhas. Foi desta forma silenciosa, mas muito sentida, que me despedi dela, da sua boa disposição, da sua alegria, enfim, do gosto que tinha pela vida. E comigo esteve a Maria Nobre Franco que, além de sua vizinha, era também sua amiga.
Depois, com a aproximação da hora da missa, o local havia de ficar apinhado de gente, grande e humilde, numa comovedora cerimónia. Lá havia de encontrar o casal Adriano Moreira - amigos do peito - ou Maria Barroso e filha, lado a lado com o pessoal que a serviu e a quem ela nunca esqueceu.
Eu sei que há uma idade a partir da qual, todos os dias, vamos perdendo alguém de quem gostamos. Mas lá em cima podiam fazer esta "tarefa" de forma mais pontual. É que ultimamente tem sido uma enorme razia naqueles que estimo!

HSC

domingo, 15 de junho de 2014

Os psicopatas


Kevin Dutton é um psicólogo da Universidade de Oxford que concedeu uma entrevista ao jornal Publico que merece ser lida com atenção, já que quando falamos de psicopatas é sempre num sentido pejorativo. 
Pois bem aqui aprende-se alguma coisa a esse respeito, já que ele acaba de publicar um livro sobre o assunto que talvez leve a rever alguns preconceitos que a maioria de nós tem relativamente a esta "doença". 
Podem faze-lo carregando nas palavras a vermelho, porque vale a pena pensar no que ele diz.

HSC

O Eixo do mal

Não é programa que me prenda. Falam todos para o seu ego e abstenho-me de dizer o que penso de cada um, para além da intelectualidade profunda de que se mostram imbuídos. E, como parecem felizes assim, deixemo-los com as suas pequenas felicidades.
Mas hoje Clara Ferreira Alves foi substituída - com imensa vantagem, confesso - por Pedro Guerreiro, um jornalista que sabe pensar e, sobretudo, sabe o que diz e a forma como o diz. Não precisa corroer, chamar nomes, alterar-se ou ser grosseiro. É frontal, não faz joguinhos e é claríssimo quando se exprime. Por isso, coisa rara, assisti ao debate. 
O convidado deu uma verdadeira lição de política à inteligenzia que o rodeava e conseguiu tornar formativo, um programa que, na maior parte das vezes, só serve para satisfação dos umbigos de cada um. Felizmente que ainda há, na comunicação, pessoas assim!

HSC

sábado, 14 de junho de 2014

O futebol e a Espanha


O El País titulava hoje a derrota da Espanha como "DESCALABRO MUNDIAL", num delicioso trocadilho entre o mundial de futebol e a tremenda goleada sofrida. Apre, que até na desfeita matêm a raça de que são feitos…

HSC

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Eu


Quem for leitor deste blogue deve pensar que eu sou um anjo sem defeitos, tantos os elogios que me fazem. Ou, até, admitir que sou alguém que nasceu e cresceu sem grandes problemas. Nem uma coisa nem outra são verdadeiras. 
Não sou santa e às vezes peco mesmo com gosto. Sou humana. Já tive dores. Já tive dificuldades. Tenho dores e tenho dificuldades. Possuo, contudo, uma qualidade enorme que é reconhecer que quando se perde quase tudo, aquilo que nos resta é uma enorme riqueza. E tenho a vantagem de saber que em lugar de chorar o que perdi, o mais saudável é lembrar o que de bom vivi.
Assim, um divórcio, foi sobretudo um bom casamento que teve um fim. Mas a alegria e o prazer que ele me deu, esses ninguém mos tira e estão, ainda hoje, bem nítidos no meu coração. Acresce que a vida me deu a chance de comprovar que tais momentos não são irrepetíveis e que algumas pessoas têm segundas oportunidades que sabem agarrar.
Já a perda de um filho não tem cura. Mas, no meu caso, existe a segurança de que nos voltaremos a encontrar. E a de que eu continuo a viver com a alegria com que ele gostaria que eu vivesse. E a isso eu sou de uma fidelidade total. Aliás, eu gosto de ser fiel, porque sê-lo me torna feliz.
O resto é tão pouco, mas mesmo tão pouco, que só posso agradecer, uma vez mais, esse dom da vida que Deus me deu e os meus Pais corporizaram!

HSC

Na Feira


Sem orgulhos desmedidos, mas também sem sombra de falsa modéstia, devo ter sido uma das autoras - não sou escritora nem nunca deixei que de tal me apelidassem - que mais tempo passou na Feira. Estive lá nove dias, distribuindo-me diariamente por duas editoras, embora nos vinte e quatro anos que levo a publicar livros - e já publiquei vinte e um -, tivesse trabalhado com seis. E à excepção de uma delas, em todas fui bem tratada e de algumas fiquei, mesmo, amiga.
Muita gente me pergunta por que faço isto, que é bastante esgotante. Respondo sempre que devo isso aos meus leitores que, em lugar de comprarem uma vistosa peça de vestuário, preferem adquirir um livro meu. É deles que vivo - estaria menos bem, de certo, com a minha "vultuosa" ( é assim que costumam apelidá-la) pensão do Banco de Portugal - e, por isso, ouvi-los, conversar com eles ou dedicar-lhes um livro, é o mínimo que posso fazer pela gratidão que lhes devo.
Terminei oficialmente hoje. Os fãs deram-me churros, flores e até objectos. Um deles, com enorme deficiência física esperou, na sua cadeira de rodas, que eu lhe desse um sorriso. Dei-lhe um imenso abraço e comovi-me às lágrimas com a sua manifestação de apreço.
Vendi muito. Ganhei eu e as editoras. Mas a verdade, é que muito mais do que isso, foi aquilo aquilo que os outros me deram em estima pessoal. E que fez transbordar o meu coração!

HSC
Pedro Santos Guerreiropsg@expresso.impresa.pt
Um dia na vida
Hoje. Ao fundo, um homem sai de um gabinete. O gabinete do chefe. Do ex-chefe. Do ex-chefe que ainda é chefe, ex é ele: ex-empregado. Acaba de ser despedido. É um de um rol de muitos, um nome a mais numa lista, uma fila a menos numa folha de cálculo. Sai calado, pelo espaço aberto, outros olhos viram-se primeiro para ele, depois para baixo. Outro nome é chamado, lá vai ele, o mesmo gabinete, o mesmo destino. Hoje a empresa não é uma empresa, é um matadouro. Morrem empregos. Saiu nas notícias e tudo. É um dia na vida.
A vida já continuará, mas hoje não. “Fui eu? Foram eles? O que fiz de errado? O que farei agora? Como vou dizer? Como vou fazer? Quero um abraço. Não quero ver ninguém. Quero viver. Quero morrer. Merda para isto. Respira fundo. Mas para quê? Rosna. Chora. Põe-te de pé! Desaba… Com esta idade? Com esta idade.”
Todos os dias são um dia na vida. De quem é chamado para sair. De quem não é chamado e fica, às vezes com mais culpa que alívio. Ou mais raiva que tristeza. Fuma-se lá fora, conversa-se lá dentro, recebe-se chamadas aflitas, “não, eu safei-me”. O que se faz aos braços, esmurra-se, cruzam-se? Num jogo de cadeiras, só os que tocam música não estão a jogar. De manhã, a empresa fora sacudida pelo comunicado. Alguns diretores são chamados para a consumação. Outros diretores tiraram férias, fugindo à notícia da razia. Veio o administrador, despedimento coletivo, reestruturação, corte de custos, a crise.
Ontem. Dez de Junho. “Portugueses, este ano de 2014 abre um caminho de esperança. Mas, para ter esperança no futuro, devemos continuar a trabalhar no presente. Não podemos ficar à espera, passivamente, que a situação se altere por si mesma.” Passivamente.
O discurso político é o mesmo desde 2011. É tudo muito difícil, é tudo sem alternativa, é preciso reformas estruturais, é preciso um largo consenso entre partidos e que inclua também os parceiros sociais. Tirando o não-há-alternativa, o discurso fazia sentido em 2011 e faz sentido em 2014 e é isso que não faz sentido nenhum. A devastação económica e social destes três anos tinha de ter tido um propósito de regeneração que não teve. Se tivesse tido, o discurso já seria outro. Isso é o imperdoável. Esse é o falhanço. Se ainda precisamos do que precisávamos ainda estamos como estávamos. Tirando estarmos mais pobres. E mais desiguais. E mais desempregados. “A vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor”.
Todos os dias são um dia na vida de alguém. Hoje foi naquela empresa, ontem foi noutra, e tudo seria compreensível se fizesse parte do ciclo da vida. Faz parte do ciclo da morte. O desemprego de longa duração, o desemprego de jovens e de velhos, a redução dos apoios sociais (flexisegurança sem segurança) não é sentido de justiça nem uma sociedade a funcionar. É uma nação que exclui. Quem perde sai. Às vezes até é notícia. Hoje foi. Um dia de cada vez. Um dia é de vez.
Amanhã?



"I read the news today oh boy
About a lucky man who made the grade
And though the news was rather sad
Well I just had to laugh
I saw the photograph
He blew his mind out in a car
He didn't notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They'd seen his face before
Nobody was really sure
If he was from the House of Lords"
A Day in the Life, The Beatles


Para quem não tenha tido a oportunidade de ler, aqui fica um excelente artigo de Pedro Guerreiro e o retrato do que estão a viver alguns amigos meus com os quais me solidarizo inteiramente. 

HSC