A opção foi pelo Woody Allen e a sua Blue Jasmine. Em boa hora. Woody volta à America, depois de deambular por várias cidades europeias, e realiza um dos seus melhores filmes a par de Match Point, talvez o meu preferido.
Larga a Scarlett Johansson dos seus últimos filmes, para pegar nessa fabulosa actriz que é Cate Blanchett e fazer dela uma socialite que não pensa - para que havia de pensar? - e abandona os estudos para casar com um biltre milionário, que a rodeia de jóias e boa vida, mas a trai por dá cá aquela palha. Trata-se de uma interpretação magnífica de alguém que vacila entre a adaptação à vida real - dura e difícil - e o retorno à caça do marido rico.
No outro polo está a irmã, Sally Hawkins, digna representante de um proletariado que jamais deixará de o ser, que a recebe quando fenece o mundo cor de rosa da primeira.
A crítica social de Allen não se fica pelo mundo dos ricos e da sua loucura. Ela estende-se a esse proletariado crédulo, manejável, que se pauta pela falta de ambição e recua sempre que o seu pequeno mundo é ameaçado.
Tudo se torna surreal quando Cate se passeia vestida de roupa de marca no bairro pobre onde a irmã vive, ou quando esta frequenta, com roupa espalhafatosa, o mundo da gente com dinheiro, nessa permanente dicotomia dos dois pequenos universos que elas representam.
Um belo filme que nos não azeda nem deprime, talvez porque Woody Allen nunca é moralista nas histórias que conta e tem a mesma dose de humor negro quer para ricos quer para pobres. Felizmente, aquilo que o continua a interessar são as pessoas!
HSC
No outro polo está a irmã, Sally Hawkins, digna representante de um proletariado que jamais deixará de o ser, que a recebe quando fenece o mundo cor de rosa da primeira.
A crítica social de Allen não se fica pelo mundo dos ricos e da sua loucura. Ela estende-se a esse proletariado crédulo, manejável, que se pauta pela falta de ambição e recua sempre que o seu pequeno mundo é ameaçado.
Tudo se torna surreal quando Cate se passeia vestida de roupa de marca no bairro pobre onde a irmã vive, ou quando esta frequenta, com roupa espalhafatosa, o mundo da gente com dinheiro, nessa permanente dicotomia dos dois pequenos universos que elas representam.
Um belo filme que nos não azeda nem deprime, talvez porque Woody Allen nunca é moralista nas histórias que conta e tem a mesma dose de humor negro quer para ricos quer para pobres. Felizmente, aquilo que o continua a interessar são as pessoas!
HSC
27 comentários:
Também fui ver o filme, gostei muito e partilho integralmente a sua opinião.
E depois é engraçado ler sobre ele. Já li o texto do Paulo e agora este seu e, sendo diferentes, ambos acabam por complementar-se e ser muito enriquecedores para quem, como eu, viu o filme e gostou do que viu. :)
Beijinho
(Fabulosa a Cate Blanchett, no que será, talvez, o papel da sua vida ;)
Eu hoje também fui derrotada pelo calor, quase nem saí de casa. O mais engraçado é que ontem desloquei-me ao santuário de Fátima e apesar do calor tórrido que se fazia sentir não havia nada que incomodasse.
Um beijinho
Vânia Baptista
A história até nem tem nada de especial, mas as interpretações são fabulosas. Fui a primeira a fazer a crítica do filme no meu blogue ( na 5ª feira em que estreou) e por isso não me alargo aqui. Só há uma coisa que não gosto muito nas críticas em blogues, é que se conte o desenrolar da história, tirando o "suspense" a quem ainda não viu o filme. Nunca o faço, nem leio críticas do publico ou expresso antes de o ver e de fazer a minha crítica. Penso que saber a história corta metade do interesse, mesmo quando é Woody Allen ( para mim o melhor realizador americano de sempre).
Os primeiros filmes, Anna's sisters, Alice, NY Stories, são excepcionais. Matchpoint e Midnight in Paris, mais recentes também...
Boa semana!
Depois de esta semana, cabe a vez do BLUE JASMINE esta 3ªfeira.
Deliro com as "loucuras" do Woody Allen.
Melhores cumprimentos.
Perdi a sessão no Corte Ingles, por uns breves minutos, e acabei por não ter paciência para esperar pela das 19 e tal... Já vi várias vezes o trailer e vou gostar até porque a Cate Blanchett é uma das minhas atrizes de eleição e acho imensa piada ao Alec Baldwin...
Quanto ao Match Point é, até ao momento, o meu preferido do Woody Allen. Soberbo!
Isabel BP
Acabei de ver o filme e adorei, aliás sou fã do Woody Allen, concordo plenamente com tudo o que diz.
A Cate Blanchett está fabulosa.
A semana passada fui ver o Mordomo e também gostei muito.
Beijinho
Vânia, felizes os que acreditam!
A australiana Cate Blanchett magnífica no filme de finais dos anos 90 - Elizabeth - em que interpretou Isabel I de Inglaterra, é uma escolha perfeita para Jasmine, em Blue Jasmine,
uma personagem decadente e blue, isto é, muito em baixo, cheia de buzz e pílulas, que ouve insistentemente Blue Moon, e cuja vida teve como suporte os seus genes. Estes foram responsáveis por se demarcar da sua irmã (ambas são filhas adotivas)que vive uma vida medíocre e sem aspirações, porque tem piores genes, genes medíocres (!).
É patética a obsessão de Jasmine em aconselhar a irmã para que suba na vida, quando das duas, ela é a mais encurralada.
Quantas vidas se baseiam nos genes, na beleza física? todas, quase todas, muitas, algumas?
«Nós somos assim, não somos só nós. Somos nós e as circunstâncias» diz Blanche Dubois em Um elétrico chamado desejo de Elia Kazan. Baseado numa peça de Tenessee Williams, o filme (Oscar dos anos 50) tem como protagonistas Vivien Leigh (Blanche Dubois) e Marlon Brando ( o primário cunhado, Stanley).
Alguns críticos comparam Blue Jasmine com Um Elétrico C.D. e na verdade existem semelhanças: uma estrutura temática semelhante, as personagens, a mesma claustrofobia, desilusão, depressão, álcool, o presente ensombrado pelo passado, um refúgio na fraude e na ilusão estilhaçada, como fuga à dura realidade.
Em Portugal, em 2008 ou 2009, Alexandra lencastre interpretou Blanche Dubois e Albano Jerónimo, Stanley, numa encenação de Diogo Infante no Dona Maria. Quis ver mas saiu de cena e acabei por não ver.
É assim por isto e por aquilo, acabamos por não apoiar os nossos que quase heroicamente, não desistem.
Resta dizer que Woody Allen foi buscar Blanchett precisamente porque ela protagonizava Blanche Dubois na peça de teatro Um Eléctrico chamado Desejo. Isto, claro, sem retirar nenhum mérito à fabulosa Cate Blanchett. Curiosamente, há uma outra personagem que me surpreendeu, o gigante Chili (Bobby Cannavale), muito bom nas mãos de Ginger (Sally Hawkins).
Vi o filme e concordo com o seu
texto.
Bj.
Irene Alves
A maior parte dos temas de Woody Allen repete-se, embora muitas vezes não se dê por isso.
Os seus filmes são em geral cómicos, ternos e comoventes, com enquadramento histórico e social, enredos amorosos e dramas da mobilidade social, uma visão anti-psiquiatrização do mundo, irónica e corrosiva, um entendimento de figuras desvalorizadas porque tidas como falhadas, como o judeu neurótico que geralmente W.A. interpreta.
Quando se ri de si mesmo, WA lembra Charlie Chaplin the Trump, o gentleman de fraque puído e largueirão, sapatos grandes à palhaço, o famoso chapeau-melon, a bengala. Amo Charlot.
Existe um forte contraste entre esta personagem que WA interpreta, esta figura aparentemente insignificante, mas pungente e certeira, que despoleta a nossa afeição, e as figuras de divas magníficas como Diane Keaton, Mia Farrow, Scarlett Johansson, outras, e agora Cate Blanchett.
Há em Blue Jasmine qualquer coisa de Zelig, um filme de WA da década de 80, talvez um dos meus preferidos. Não sei se passou em Portugal. Existe um falsear do real, uma irupção do que se desejaria que fosse a realidade em Jasmine, existe uma metamorfose permanente do personagem Leonard Zelig.
No filme Zelig, Scott Fitzgerald observa L. Zelig numa festa e constata que este (interpretado por WA)tem o dom de se metamorfosear de acordo com o ambiente, como o camaleão. Mia Farrow interpreta uma psicanalista que vê nessa característica camaleónica de Zelig, uma necessidade permanente de aprovação. Zelig torna-se conhecido como fenómeno, como o camaleão humano.
Neste filme WA utiliza artesanalmente técnicas, vários anos antes do afinamento das tecnologias digitais.
O filme apresenta-se como um documentário envelhecido, com imagens retiradas dos media dos anos 20, 30, a preto e branco, em que são inseridas as imagens dos actores e ainda, a cores, figuras significativas que comentam o fenómeno Zelig, como a ensaísta Susan Sontag, o psicanalista Bruno Bettelheim, Charlie Chaplin, Al Capone, Josephine Baker, etc.
Uma grandiosidade sem o ser, de Woody Allen.
Caro Anónimo das 20:10
Vi esse filme em Paris. Não sei se passou em Portugal. E creio compreender o que diz.
Não é a personagem em si. É o que está por detrás dela...
Não sou grande fã de Woody Allen.
Passado o efeito de encantamento que a interpretação de Cate Blanchett tem sobre nós, começamos a ver como Jasmine é detestável, sem um pingo de ternura, um sorriso, um gesto de compreensão, completamente fechada sobre si mesma no seu pretensiosismo e afetação, num mundo de fraude e hipocrisia que, apesar de o negar e de responsabilizar o marido, ajudou a construir, fingindo não ver nada, não saber de nada.
Não faz a mínima ideia o que é uma criança, quando fala com os meninos, que a confrontam com o rosto límpido da infância, continua a falar consigo mesma. Ela está sempre a falar consigo mesma, olha mas não vê os outros.
No momento em que se abre uma brecha nessa fachada, nessa sua cegueira, é a própria Jasmine a origem da sua destruição, arrastando todos na queda, o marido corrupto que se suicida, o enteado que a odeia, a irmã Ginger (que ela não ama, que talvez até despreze) e que embasbacada, paspalha, acolhe as suas hipercríticas e tenta caçar um homem com um estatuto social mais elevado do que o seu namorado Chili.
O único contacto que Jasmine tem com os outros só acontece quando alguém compra a imagem de si mesma que ela lhe quer impingir, como é o caso do novo pretendente Dwight, a quem diz ser decoradora, etc.
Jasmine é uma charlatã, com o poder de sedução que costumam ter os impostores.
Sincero, emotivo, mais tolerante porque quer conquistar Ginger, Chili é para mim a personagem mais humana, e não se deixa enganar pelo charme duvidoso de Jasmine.
E como «Chili» que é, condimenta, em contraste com o chic de marca, deslavado e desenxabido, de Jasmine, e o pimba sobrecarregado e enjoativo de Ginger.
Mas pronto...os horizontes de Chili não vão além da cervejola, da pizza e do futebol, é a vida!
Isto contado assim parece uma novela das piores, mas Woody Allen envolve tudo num glamour decadente muito próprio, num jogo de espelhos que reflete os nossos próprios defeitos, aspirações e fraquezas.
Ainda não tive oportunidade de ir ver o filme, mas vou com certeza, gosto muito do Woody Allen.
Entretanto, partilharam comigo um tango, muito bem dançado, talvez um pouco diferente mas eu gostei muito e quis partilhar com a Dra. Helena, creio que ainda não o publicou aqui no seu blogue.
Um beijinho
http://youtu.be/wd5xaPT2I9M
Todos os filmes de Woody Allen passaram em Portugal .
E todos eles foram editados com legendas em português .
Vi todos e tenho todos em DVD .
E passe a publicidade o "Zelig" custa 5 euritos na FNAC , como muitos outros agora reeditados por cá .
RuiMG
Caro Anónimo das 07:28
O seu comentário, apesar de não ser fâ de Allen, é o melhor elogio que lhe podia fazer.
Com efeito, ser capaz de em duas horas e meia, dar o retrato que acaba de descrever, não é para qualquer realizador. É para alguém com um talento especial. É para Woody Allen!
jasmine com a sua farda fotocópia das socialites loiras deste mundo. all the world is a stage...
digamos que é notícia que vai com este post-)) http://www.ionline.pt/artigos/portugal/portas-reuniu-se-equipa-woody-allen-negociar-filme-lisboa
Então Doutora Helena
É trabalho, preguiça ou é castigo não nos adoçar o bico com mais uma opinião ou história sempre muito interessante.
Ai ai 3 dias sem nada é muito.
Um abraço
Maria Isabel
- Jasmine
O conhecido e aromático chá de jasmim pode já ter sido símbolo de sofisticação mas banalizou-se. Hoje é mais exótico o arroz feito com chá de jasmim.
Jasmim é uma pequena flor branca perfumada, originária da Índia e da China.
- Ginger
O gengibre é um rizoma muito usado em culinária, fresco ou em pó.
São tradicionais no Reino Unido e USA os gingerbread cookies (bolachas com a forma de bonecos típicas do Natal) a casinha de gingerbread, a célebre ginger ale, etc.
Ginger é tb um gatinho que fala.
- Chili
Abrange vários tipos de pimentos, em geral vermelhos e de diferentes tamanhos e intensidades no que se refere ao picante, que pode levar até às lágrimas. Cozinhados frescos ou usados secos em pó.
Originários das Américas, existem muitas variedades, como os jalapeños, a malagueta, o poblano, o piri piri, etc.
Ó Paulo o Chili não faz jus ao nome. De picante não tem mesmo nada...
Caro Anónimo das 08:12
Bela nota sobre o jasmim. Adoro gengibre que uso em todos os refogados.
O batido de leite e gengibre com menta que faço em casa é uma delícia.
E, à noite, quando acabo de cozinhar, esfrego gengibre fresco nas mãos. É melhor que limão!
Chili é hot alright mas para quem gosta do estilo, mais físico do que. E depois pensemos no círculo onde se move, olha os outros barriguinha de cerveja, caninitos.
Os contrastes à la Woody Allen good genes/bad genes, ele próprio um caganito. Bobby Cannavale com 1 metro e oitenta e tal é muito conhecido por ter um papel na popular série da tv norte americana Third Watch. Esta série sobre o dia a dia dos nova-iorquinos, homenageia os heróis desconhecidos, polícias, bombeiros, paramédicos, que salvam e confortam milhares de vidas.
Mas Chili é picante porque é um grandalhão que chora, uma receita que comove muito as mulheres.
Lembremos Francisco Macau do biguibroda vip que, aliás não tinha graça nenhuma. Mas há quem goste.
É talvez o mito do bom gigante.
Porque é que Blue Jasmine não é uma soap opera barata quando tem os ingredientes para o ser?
Porque na novela os personagens são esteriótipos extremados, existe o bom da fita e o mau da fita. Numa novela Jasmine seria uma socialite egoísta e maluca e Ginger uma empregadinha adorável com bom coração, e pronto. Na telenovela os espetadores ficariam presos ao écran vendo a vida da socialite a desmoronar-se, tal como a sua maquilhagem, o seu hair style, os seus modelitos a mostrarem marcas de suor nos sovacos, a amrrotarem-se.
Em Blue Jasmine, como em geral nos seus filmes, W.Allen dá-nos a conecer as personagens, humaniza-as mostrando.nos o seu mind set e os seus desejos, leva-nos a identificarmo-nos com traços delas.
Nas soap as personagens provocam simpatia ou antipatia exaltadas, Allen leva-nos a ter empatia, numa mistura de trágico e cómico.
O tema de Blue Jasmine é o dinheiro, por isso é tão atual.
Tal como Ginger e Chili, Jasmine não tem ambições culturais, a não a vontade de fazer um curso (mas descobre como isso é difícil) e uma queda para a decoração, que resulta mais dos seus hábitos de rica com poder de compra, do que dum conhecimento do métier.
Jeannete criou a personagem Jasmine, com guarda-roupa, falas, caracterização e cenários próprios.
Quando muda de cenário, esquece-se ou não consegue mudar de falas e de figurinos, e não larga os seus sautoirs en perles, os seus Chanel, Hermés e por aí fora. Dentro duma bolha narcísica, o seu canto do cisne esmaga tudo e todos à sua volta.
A tudo e todos torce o nariz com desdém e sem um gesto de gratidão.
Ah como a telenovela resolvia isto em três penadas, com meia dúzia de receitas de junk food mental.
Será que Woody Allen vai filmar Lisboa?
O batido de leite com gengibre e menta deve ser muito yammi. Põe açúcar ou mel? Vou experimentar. Nos refogados põe o gengibre ralado ou em pó? E em que altura?
BB
Cara BB
Ponho mel mas muito pouco. Uso sempre gengibre fresco e ponho no refogado desta forma. Primeiro a cebola até começar a ficar translúcida. Nessa altura junto o alho, que refoga mais depressa. E quando o alho começa a ficar mole junto o gengibre picado grosso, baixo o lume uns dois ou três minutos e depois junto o que vou cozinhar.
Hoje fui ver Blue Jasmine e quem sou eu para escrever o que vou escrever, que me perdoem os entendidos.
A fantástica Cate Blanchett é uma das minhas atrizes preferidas, mas a sua interpretação em Blue Jasmine não é demasiado intensa, esmagadora e melodramática? No universo de W. Allen não se esperaria que o comportamento de Jasmine totalmente cega à realidade, fosse pontualmente mais ridículo e mais cómico? O filme satiriza, arrepia, mas não (me) faz rir. Serei eu?
E o que é que Jasmine andou a fazer o tempo todo enquanto assobiava para o lado e esbanjava guito, que nem de computadores ela sabe, uma ricaça gorgeous e infoexcluída?
Como tenho saudades dos personagens interpretados pelo próprio W. Allen um queridíssimo pequenitates (como aqui um comentador já lhe chamou) com um humor tão bom, tão seu, tão libertador, tão inigualável.
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