quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O tempo cura

Entre as perplexidades que assolam a minha vida - e não são poucas -, a da juventude tardia é das que seguramente mais tem ocupado o meu espírito.
Já fui nova e já sou velha. No meio fui assim assim. E é aqui que reside o problema. Não para mim. Mas para um grande número de pessoas. Explico-me.
Nasci numa época em que a idade era posto. Depois veio um novo vento, em que a juventude era a salvação de um mundo que os velhos não haviam sabido construir. Foram os anos setenta, foi o make love not war, a que se seguiu o make sex, os partouse, os swinger, as drogas cada vez mais refinadas, o aborto assistido, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
A que se seguirão as barrigas de aluguer e a adopção por casais homo. É a lei da vida. Uns concordaram, outros não. Uns aderiram, outros não. Outros experimentaram, outros não. É, também, a lei do livre arbítrio.
A tudo isto assisti sem grandes sobressaltos e fazendo apenas o que considerava certo para mim. Nunca me considerei detentora da verdade universal e sempre estive aberta à mudança, se reconhecesse haver errado.
Aquilo para que estava menos preparada, confesso, foi para ser comandada por uma classe cuja definição se confina ao que em francês se chama de jeunisme. E de que se trata, então? Trata-se de uma nova classe social que não sendo já nova, ainda está longe de ser velha. Algo, como podem calcular, que dificilmente se define, a não ser por um desejo imenso de não se envelhecer. Ora a velhice é um caminho irreversível no plano físico, embora possa ser bem mitigado no plano intelectual, quando as pessoas são inteligentes. 
Estes "jeunistes" dominam a sociedade actual. Daí essa permanente necessidade de prolongar a juventude. Sem que qualquer deles se aperceba que ela é a única doença que o tempo cura...

HSC

20 comentários:

avoluisa disse...

Valhanos isso,que tempo cure!!isso e outras coisas que estão desajustadas.
Saudações !!!

Unknown disse...

Gostei muito! Um beijinho.

Anónimo disse...

doutora helena sacadura cabral, que linda e sofrida descrição da vida de cada um e que na maior parte das vezes esse cada um salta étapas. esquece que o tempo não perdoa...
hoje ou antes ontem vi-a na sic e fiquei com muita vontade de lhe dizer o quanto nobre é nesta época que lhe deve ser tão difícil de viver!
desejo-lhe muita paz nestes dias em que mais do que nunca a ausência do miguel lhe fará doer a alma.
minha querida todo o carinho cheio de ternura da.
lb/zia

Isabel Mouzinho disse...

Na verdade, Helena,não sei se isto tem muito a ver com o seu post, mas hoje dei comigo a pensar que a Helena é de facto, em tudo "uma senhora" no que isso tem de mais nobre e digno.

Um grande beijinho
Isabel Mouzinho

Anónimo disse...

Sobretudo nas profissões em que a aparência é decisiva, como a televisão por exemplo, sempre existiram e existem cada vez mais discriminações: sexismo, 'jeunisme', etnicismo.

A partir dos 50 ou menos, na maior parte dos casos, as locutoras são afastadas e substituídas, subrepticiamente.

O 'jeunisme' é engendrado por uma ilusão social que não tem em conta os jovens concretos, como os seus problemas reais: obesidade, insegurança, desesperança, desemprego, sida, falta de dinheiro para pagar os estudos, junk food, etc.

Não esqueçamos que muitos empregos preferem jovens tb pelos salários e pelos encargos mais baixos.

Ao culto da juventude idealizada alia-se o culto da beleza idealizada. A questão da beleza é ainda mais complexa.

Não me lembro quem disse 'A beleza impressiona mesmo aqueles que a não constatam'.

Os ideais de beleza nem sempre coincidem com a saúde.

A nossa sociedade tem , ou já teve, como ideal de beleza, a anorética.

O jeunisme assim como o velhismo, ou a maior parte dos ismos, são anti democráticos.



Fatyly disse...

Tal e qual e posso subscrever?

Anónimo disse...

Giovinezza giovinezza
primavera di bellezza

a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)

Anónimo disse...

Mais um post delicioso e que dá que pensar.Mas mais do que comentar o seu post, quero deixar-lhe um voto de boas festas e dizer-lhe que dou comigo muitas vezes a pensar em si e a dá-la como exemplo em conversas.
Desejo que passe um Santo Natal e que Deus lhe dê muita saúde.

FL

Maria Júlia Sobrinho disse...

Dra Helena: pode ser que ainda venham a aprender alguma coisa com os chineses. Cá, no mundo ocidental, quando um velho morre, é um alivio. Para os chineses, quando morre um velho, vai-se uma biblioteca. Até nisto são muito mais ricos do que nós, porque cuidam deles e não os deixam passar privações. Resolvem o problema ao Estado e são pessoas com mais afectos do que nós.
Abraço da júlia

Madalena Amaral disse...

Viva! Adorei este post. Obrigada!

Soledade Silva disse...

ADOREI o que escreveu,Dra Helena!Concordo plenamente!Aflige-me ver quase diariamente notícias de pessoas que tudo fazem para apagar os traços da idade! Pura ilusão!Cuidar-se,sim!Enganar-se,não!Lamento a preocupação dessas pessoas, assim como a publicidade do que fazem!Quanta gente que vive à custa das frustrações de alguns com a idade!!!... Um beijinho,Dra Helena! Desejo-lhe um Santo Natal

patricio branco disse...

um pouco arrepiante este jeunisme, e o mais preocupante é que estão seriamente determinados em fazer escola, preparando a geração que ainda não é jeuniste a sê-lo dentro duns anos para haver continuismo, é uma "ideologia" expressa sobretudo numa forma de querer dominar, a velha etica da liberdade, fraternidade, igualidade está a tentar ser apagada, escondida, substituida, os jeunistes estão a criar uma nova organização de dominio e controle, já vimos isto, nos livros clássicos que falam de admiraveis mundos novos, no cinema, e vamos ver e sentir...

Anónimo disse...

Pois é! Ser-se velho ou meio-velho, é isso mesmo. Já foi jovem, fez algo de bom para alguns... Agora está fora de circulação, não há a espetativa de continuar a ser útil para os que estão próximos. Assim, inconscientemente, esses "próximos" ignoram-os e, ainda mais, criticam-os. É o castigo de não terem morrido novos... Feliz Natal e próspero (?) 2013. Os meus cumprimentos, Dra Helena.

Dalma disse...

Lembram-se da Brigitte Bardot com 20, 20 e poucos anos? E viram alguma vez uma fotografia recente da mesma?
Pois, o que lhe aconteceu a ela acontecerá a esses sofredores de "jeunisme" e tão só.
Um Natal com saúde!

Carlos Fonseca disse...

Quanta lucidez no seu post!

Justamente a que falta aos "jeunistes" incompetentes que atormentam a nossa vida.

São disse...

As pessoas que se preocupam, em demasia, com o aspecto exterior é porque têm muito pouco no interior.

E para o que eu não estava preparada, sinceramente, era para ter um Primeiro_ministro que manda os jovens emigrar e , simultânemante, insulta os velhos quando fala em reformas indevidas.

Para si e para os seus, desejo um 2013 que desminta o pesadelo que adivinhamos irá ser.

Teresa Peralta disse...


Não há duvida que vivemos a supremacia das imagens em relação às ideias. A “forma" prevalece sobre o “conteúdo” a “aparência mais do que a essência”, e a “representação substitui os sentimentos e os pensamentos”. A aparência ofusca a verdade...
Peço a Deus que estes problemas económicos e sociais, que assolam a nossa Europa e o Mundo, sirvam, de algum modo, para crescermos mais no "conteúdo" deixando à "forma" o lugar que merece.
Um grande abraço

Anónimo disse...

Maria (publicamente anónima)
Quanto mais leio os seus textos mais a admiro.
Tem razão “o tempo cura” e a questão que coloca sobre “velhos e novos”… ou seja, pessoas mais “maduras” e menos “maduras”. Realmente esta sociedade não está preparada para acolher todas as gerações e levar a uma aprendizagem interjeccional, que penso ser importante para todos.
Pelo contrário, criam-se problemas entre gerações que não têm razão de existir e todos perdemos com isso. Não são aproveitados os saberes acumulados nos mais “velhos”, mas é como a Senhora diz “doença que o tempo cura…”
(Declaração de interesse: pertenço aos mais maduros, ainda trabalho por força das alterações legislativas dos últimos anos. Não é que esteja cansada…mesmo com 41 anos de carreira, muito trabalho e muita luta. Bem pelo contrario, gosto do que faço e sinto-me muito bem a trabalhar. O que está mal é sermos apanhados em fim de carreira pelas alterações às regras que durante anos eram verdade e agora de um momento para o outro deixaram de o ser…), percebo que o mundo mudou e nós temos que nos adaptar, e acompanhar mas…

Peço desculpa pelo meu desabafo, mas o seu texto levou-me a pensar na minha juventude e adolescência que não existiu porque comecei a trabalhar ainda criança…enfim, coisa que aconteciam à 50 anos.

Recebe um beijo e Boas festas
Maria M

Anónimo disse...

O culto da juventude é a rejeição de todos os que não são jovens e bonitos.

Será uma consequência de termos uma sociedade envelhecida, em que os idosos vivem em situações degradantes?

Será uma tendência irracional do ser humano, cuja injustiça a sua parte racional tem de corrigir?

Isabel Seixas disse...

Que bonito o seu texto , impregnado de humanismo, bom senso e capacidade de análise, além da dissociação clara entre o essencial e o supérfluo, prevalece uma mensagem de esperança.

Boas festas
Um grande abraço
Isabel