terça-feira, 16 de outubro de 2012

O pano de fundo

O grande perigo das manifestações populares é sempre a possibilidade do seu aproveitamento por parte de quem tem apenas por objectivo usar o justo descontentamento do povo em proveito próprio ou transforma-lo em algo que se assemelhe à queda do poder na rua.
Foi, julgo, o que se terá tentado que acontecesse no fim do dia 15 de Setembro e ontem pelas onze e meia da noite, de novo, junto à Assembleia da República.
É pena, porque arreda dessas manifestações pessoas que o fazem de forma genuina e sem necessidade de serem acantonadas por partidos políticos. Falo assim, porque já andei nelas e mal comecei a ouvir palavras de ordem que se não identificavam com a causa que me movera, afastei-me. E comigo alguns mais que não seriam poucos.
Os povos só têm duas formas de se manifestar em democracia: pelo voto e pela palavra. Esta última, na rua, desde que seja isso mesmo, ou seja com a garantia de que é uma expressão colectiva de desagrado, de mal estar, sem recurso a qualquer tipo de violência.
Estou de acordo com Silva Lopes quando diz que uma boa parte do que nos está a acontecer é fruto da política europeia e que se houver manifestações contra elas irá para a rua. Eu também.
A enorma, diria mesmo, desbragada falta de solidariedade do velho continente é algo que a mim não surpreende. A construção do projecto de uma Europa Unida e não federada é uma utopia cujas consequências estão à vista. Nem esquerda, nem direita saem bem na fotografia.
E nós, que só pensamos em ser bons alunos, mesmo que a matéria não nos interesse, vamos pelo mesmo caminho. Este obtuso Orçamento como pano de fundo da crise interna é bem a prova disso!

HSC

8 comentários:

Anónimo disse...

as manifestações de 15 e de 17 de outubro foram convocadas por muitos..., fações políticas, sindicais e outros, desvirtuando o seu fim. como tão bem o exprime.
tem que se ter um pouco de calma e ver a que os "lindos" deputados e o governo vão chegar... não sei como, mas ainda tenho um vaga esperança que surja um ajuste, a meu ver à custa de um novo governo de carís presidencial... devo estar a ser ingénua!
força e todo o carinho,
lb/zia

Anónimo disse...

Hoje sou profundamente céptico do dito Projecto Europeu. Quer-me parecer que esse sonho, que começou bem, está, aos poucos, a desfazer-se. A UE está, aos poucos, a cavar a sua próprio sepultura.
Não me surpreenderia pois que um dia viessemos a assistir ao fim da UE e, em consequência, do Euro.
Não existe, actualmente, da parte dos líderes europeus, designadamente dos principais países nenhum empenho, nenhum gesto, nenhuma medida, nenhum projecto, nenhuma proposta séria, nada que permita acreditar na continuidade e viabilidade do projecto Europeu a longo prazo.
Sou de opinião de que ninguém – dirigentes políticos dos diversos membros da UE- em sua consciência acredita verdadeiramente na UE.
A impressão que me fica é que se está a salvar o “barco” que se sabe ter poucas hipóteses de sobreviver à “tempestade”. Mas sem acreditar que é possível.
Outro dia, DSK, o mesmo das aventuras sexuais e outras pirutetas do género, disse uma coisa acertada (se não erro na interpretação do que li) numa qualquer reunião na Coreia – de que as taxas juros (baixas) com que a Alemanha e a França se financiam e as dos países como a Grécia e Portugal (altas), por exemplo, deveriam ser idênticas, o que se obteria da média de ambos os valores praticados. Pareceu-me razoável e inteligente. Mas, como sabemos, não irá vingar. Não existe suficiente solidariedade para tal no seio da UE.
Manter o Projecto Europeu “alive” requer decisões de carácter politico-economico, de grande exigência e de grande visão, que os principais líderes europeus não são capazes de levar a cabo, por não possuirem capacidade criativa, nem espírito de solidariedade.
E isto porque eles próprios são os primeiros a não acreditarem verdadeiramente no futuro da UE.
A agonia da UE está à vista, a sua incapacidade para se salvar é evidente, resta saber quando, como e de que forma implodirá. E sobretudo com que custos sociais e políticos, para já nem falar de económicos.
P.Rufino
PS: e concordo quando diz que este nosso orçamento-2013 (esta violência fiscal e social que nos aguarda a partir de Janeiro próximo) é igualmente uma boa (má) prova disto.

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Tudo isso, orçamento obtuso (só isso?), Europa á deriva (nos últimos anos, na minha opinião), manifestações às vezes aproveitadas por quem quer atingir outros fins, é verdade, mas também, não esqueçamos, pelo Poder instituído, muitas vezes para atirar o descrédito para as mesmas, pela infiltração de pessoas. Tão velha a táctica "como a Sé de Braga", não?

Raúl.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Subscrevo totalmente. É preciso
não desvirtuar as manifestações
com casos de agressividade e certas
frases. Também ouvi o Silva Lopes
e concordo com ele.Deveria haver
uma manifestação no mesmo dia e
à mesma hora de todos os países
europeus em dificuldade.
Bj.
Irene Alves

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Luisa
Não sou eu que vou responder à sua pergunta, como calcula.
Julgo, até, que ganhará alguma coisa em esperar para saber a resposta à questão que me põe.

Fatyly disse...

Subscrevo inteiramente, mas sinceramente vejo o quadro muito negro para os mesmos de sempre!

Enfim...

Blondewithaphd disse...

Nesta Europa de ressurgimentos sinistros tem dias que me envergonho e me desculpo pela ascendência alemã. Não foi isto que aprendemos com a Guerra, com a Reconstrução e com a Reunificação. Eu, e tantos, acreditámos no potencial europeu, agora...
Depois olho para esta minha outra pátria gentil e vejo-a neste enxovalho, neste desnorte, nesta ausência autonómica. Ando muito consternada e afligida. Para quem, como eu, foi criada por entre papões e medos de certas ressurreições, os tempos não auguram nada de bom.

avoluisa disse...

Que sei eu!"pobre" leitora....mas que vamos de mal a pior,isso eu sei!!!temos uma Europa desmantelada...Mas que nos portamos bém,até de mais. De quem é o mal? a ver vamos (veremos?)...não sei....
Um abraço Doutora Helena.
Uma sua admiradora.