Análise séria e acutilante, humorada ou entristecida, do Portugal dos nossos dias, da cidadania nacional e do modo como somos governados e conduzidos. Mas também, um local onde se faz o retrato do mundo em que vivemos e que muitos bem gostariam que fosse melhor!
domingo, 10 de julho de 2011
Os tempos do tempo
Não há nada mais falível que a noção que temos de tempo. Sendo o bem mais precioso que possuímos - mais precioso do que a própria liberdade - é também aquele que mais desperdiçamos. Há tempos de alegria, tempos de tristeza, tempos de lazer, tempos de trabalho e, sobretudo, há o tempo que não damos ao tempo.
É quando alguem proximo desaparece ou adoece que, de repente, a noção de escassez dessa preciosidade nos assalta. Nuns casos porque a morte ou a doença acontecem em idades demasiado prematuras. Noutros casos porque, ao contrário, elas se verificam numa fase em que cada dia que passa já pertence a outro tempo.
Há tambem tempos fáceis e tempos difíceis. Queixamo-nos dos últimos, mas valorizamos muito pouco os primeiros. Esta estranha noção de temporalidade faz com que passemos metade da vida a libertar-mo-nos de quem toma conta de nós e outra metade a desejar que tomem conta de nós.
Portugal atravessou momentos de grande facilidade de que apenas alguns se deram conta. Agora que os ventos são tormentosos, as queixas são enormes. Parece que, afinal, só nas dificuldades é que tomamos consciência do tempo que passa sobre nós!
HSC
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5 comentários:
É necessário perdermos para darmos valor ao que tínhamos.
E é raro aprendermos a lição para a próxima aula de vida...
Helena acabei de ler o seu livro e adorei é lindo principalmente quando fala das viagens que fez,adorei obrigada de coração por me o ter oferecido.
Beijinhos
E mais uma vez obrigada
Cara Helena:
Mais uma vez nos deixou um belíssimo texto. O conteúdo do mesmo é universal. Toda a humanidade pensa assim, julgo. Já viu se alguns povos tivessem sempre presente que tudo é efémero e não fizessem "des châteaux en Espagne" ou "if they did not daydream"? Escolhi expressões estrangeiras para mostrar a universalidade, que a Helena bem conhece, desta tendência humana.
A situação pátria é tão grave, tão angustiante, que voltei ao meu Blog. Se tiver um minuto, honrar-me-ia muito, de novo, com a sua visita:
http://omelhordosdoismundos.blogs.sapo.pt/
Um beijinho
Raúl.
O tempo é apenas um espaço entre linhas... e nelas, alinhamos letras à socapa...
Exma.Sra.Dra.Helena,
Referindo-me ao seu ultimo parágrafo deixe-me dizer-lhe o que sinto. E, estar em desacordo consigo não diminui a consideração que tenho por si.
Nunca vi um rico querer viver com as dificuldades dos pobres. Mas sim todos os pobres quererem experimentar o gosto das coisas dos ricos.É para isso que trabalham arduamente, sacrificando mulher e filhos com as suas ausências.
Se depois de um 25 de Abril, que nos abriu horizontes e nos deixou caminhar até eles vivendo um pouco melhor, não é justo que agora, depois de filhos criados, depois dos sessenta anos,depois de perdermos a saude, nos vejamos a braços com as suas situações de desemprego e injustiças e termos ordenados e reformas reduzidas em prol de uma divida para a qual não contribuimos.
Não é queixarmo-nos das dificuldades de hoje esquecendo o "bem bom" de ontem, é sentirmo-nos a descer cada vez mais patamares de conforto sem esperança no futuro.
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