sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O RECONHECIMENTO PÓSTUMO

Há vidas que passam silenciosas diante do mundo, mas intensas dentro de si. Pessoas que constroem, criam, inovam, servem, inspiram – e, mesmo assim, caminham à margem do aplauso. Só depois que se vai a presença, é que desperta a ausência. E com ela, surge aquele reconhecimento tardio, quase sempre acompanhado de um arrependimento coletivo: “Como não vimos antes?”

O reconhecimento póstumo revela, acima de tudo, a dificuldade humana de valorizar o que está perto, o que é quotidiano, o que não se impõe. É mais fácil admirar à distância do que contemplar quem está diante de nós. Talvez porque, no dia a dia, confundimos simplicidade com falta de grandeza, e humildade com falta de valor.

No entanto, quando alguém parte, a memória ilumina o que os olhos não enxergaram a tempo. Pequenos gestos ganham profundidade; contribuições antes discretas revelam-se essenciais; talentos ignorados tornam-se, de repente, irrefutáveis. A ausência escancara o tamanho da presença, que antes foi tratada como comum.

Mas o reconhecimento póstumo também serve como espelho. Nele refletimos nossa tendência a adiar elogios, silenciar gratidões e deixar para depois, a celebração de quem faz diferença. A partida transforma esse “depois” em nunca mais.

Por isso, lembrar que muitos só foram reconhecidos depois de partir, é um convite à urgência. A de valorizar hoje. quem merece ser visto. Celebrar em vida, o que tantas vezes, só se exalta na memória. Porque todos carregam dentro de si uma história digna de ser reconhecida — e é injusto permitir que o mundo só a descubra quando não houver mais tempo.

SERIA BOM PENSAR

Este tema, infelizmente, continua a ser objeto de preocupação das Famílias. Não será altura de tomar decisões por parte do Ministro da Educação, ou ele está inteiramente de acordo com o que aqui se transmite?
 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

ELOS QUE NÃO SE EXPLICAM


Há vínculos que desafiam a lógica com a mesma naturalidade com que a gravidade mantém os corpos próximos, sem que precisemos compreender o fenómeno. São laços que emergem antes do pensamento, como se encontrassem o seu fundamento em algo mais antigo do que as palavras — talvez na própria estrutura da experiência humana.

A filosofia tenta, muitas vezes, reduzir o mundo ao que pode ser dito. Mas há relações que pertencem ao domínio do indizível, aquilo que Wittgenstein chamaria de “o que se mostra”. Não são explicáveis, apenas reconhecíveis. Revelam-se em gestos mínimos como a familiaridade imediata, o conforto espontâneo, o sentido de continuidade sem história prévia.

Estes laços insinuam que o encontro entre duas consciências, não é apenas um cruzamento acidental, mas a atualização de possibilidades invisíveis, que existiam antes. Como se cada pessoa carregasse potenciais de afinidade, que só despertam diante de certas presenças - e não de outras - sem qualquer aparente explicação causal.

Aristóteles diria que há amizades que nascem da virtude ou da utilidade. Mas, talvez exista um tipo de afinidade, que antecede ambas, um modo de reconhecimento, que depende de uma espécie de harmonia ontológica. Dois modos de ser que, por razões insondáveis, vibram na mesma frequência.

O mistério desses laços lembra-nos que a vida não pode ser totalmente contida no racional. Há dimensões que a linguagem não captura e que, no entanto, orientam profundamente o nosso caminho. Talvez a função desses vínculos seja, justamente, ensinar-nos humildade diante do inexplicável, aceitar que nem tudo o que nos toca pode ser dissecado, e que parte da beleza da existência, reside justamente em convivermos com aquilo que apenas se sente e não se resolve, não se define.

Em última análise, os laços que não se explicam são um testemunho silencioso de que o humano ultrapassa o humano. São fissuras por onde o mistério escorre, lembrando-nos de que a vida acontece também no que escapa, no que surpreende, no que não cabe em nenhum porquê.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

COMO SE PASSA DE POBRE A MENOS POBRE (com leveza, porque rir é de graça)


Passar de pobre a menos pobre é espécie de videogame: começa-se sem itens, sem moedas e com um monstro chamado “conta de luz a perseguir-nos. Mas dá para avançar.

Primeiro, terá de descobrir para onde seu dinheiro se some, ou melhor, foge. Controlar gastos é, basicamente, pôr uma coleira neste bicho.

Depois, vem o ritual de expulsar dívidas. Não é exorcismo, mas quase. Renegoceia aqui, corta juros ali e, de repente, sobram uns trocados que antes se evaporavam misteriosamente.

A seguir, aparece a fase de ganhar um qualquer extra. Vender algo, fazer um biscate, aceitar, sim, aquele concerto que não queremos, mas que o dono quer. Cada moeda a mais, deixa-nos menos na masmorra.

Aprender algo novo também ajuda. Quanto mais habilidades, mais valemos — tipo Pokémon evoluindo, só que mais cansado.

E, claro, começa a guardar um pouquinho. Mesmo que seja tão pouco, que nem vale a pena pensar “para quê?”.  

Calma: isto é a armadura anti- imprevistos. Sem ela, qualquer problema vira desastre total.

No fim, ficar “menos pobre” é isto: controlar o caos, ganhar uns extras, aprender coisas e juntar migalhas até virar pão.

E quando se dá conta… ops! Já subiu um degrauzinho. Não é riqueza, mas já dá para respirar (e talvez até para pedir sobremesa de vez em quando).

É assim que, uma modesta economista, explica como se fica menos pobre, sem ter, sequer o suficiente!

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O ESPANTO

O espanto é uma das experiências humanas mais antigas e fundamentais. Ele surge no intervalo entre o que conhecemos e o que excede a nossa compreensão, abrindo uma fissura no quotidiano pela qual percebemos, ainda que por um instante, a dimensão profunda do real. Não é apenas surpresa; é um estremecimento que reorganiza o olhar, uma chamada silenciosa que nos faz reconsiderar aquilo que julgávamos estável.

Diante do espanto, a mente suspende os seus automatismos. As explicações prontas perdem força, e o mundo revela aspetos que passam despercebidos quando estamos presos ao ritmo habitual da vida. Esse estado desperta uma lucidez particular: ao mesmo tempo em que nos sentimos pequenos perante o desconhecido, reconhecemos a vastidão das possibilidades que existem além das fronteiras do familiar.

O espanto é também fértil. Dele nascem perguntas, investigações, teorias, obras de arte. A filosofia, por exemplo, encontra na capacidade de espantar-se a sua origem. É quando algo nos desacomoda que começamos a pensar com profundidade. A ciência, igualmente, avança quando o espanto diante de um fenómeno desafia certezas e exige novas respostas.

Num tempo marcado pela pressa, cultivar o espanto é quase um ato de resistência. Exige atenção, presença e a disposição de admitir que não sabemos tudo — talvez, nem mesmo, o essencial. Mas é justamente essa abertura, que permite que o mundo continue a ser uma fonte inesgotável de sentido.

O espanto, portanto, não é, apenas, uma emoção. É uma forma de despertar. Ele lembra que a realidade é maior do que as nossas explicações, e que a vida, em toda a sua complexidade, ainda pode — e deve — surpreender-nos!

 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A IMPORTÂNCIA DE UM TIL

Vamos, hoje, aprender um pouco da língua portuguesa. Julgam que sabem tudo? Vamos ver e brincar um pouco com o til.

O til (~) é um sinal gráfico fundamental na língua portuguesa e exerce um papel importante na correta pronúncia e compreensão das palavras. Ele aparece principalmente sobre as vogais a e o, formando as sequências ã e õ, que indicam nasalização. Essa nasalidade muda completamente o som e, muitas vezes, o sentido das palavras.

Sem o til, diversas palavras ficariam ambíguas ou teriam significados completamente diferentes. Por exemplo, “maca” e “maçã”, “pelo” e “pêlo”, “cor” e “côr” eram tradicionalmente diferenciados por acentos e sinais gráficos; no caso específico do til, ele é indispensável em termos como “cão”, “irmã”, “maçã”, “nação” e tantos outros, nos quais a nasalização é parte essencial da forma correta.

Além disso, o til cumpre uma função histórica, já que muitos de seus usos derivam de abreviações de antigas letras ou combinações de vogais nasais. A sua presença ajuda a preservar a identidade sonora da língua portuguesa e garante que a leitura e a escrita sejam coerentes com a fala.

Portanto, o til não é apenas um detalhe gráfico, mas um elemento que assegura clareza, precisão e musicalidade ao idioma. Sem ele, a escrita perderia parte de sua expressividade e dificultaria a comunicação. Então, sabiam?

 

domingo, 7 de dezembro de 2025

A TRADIÇÃO COMO VANGUARDA

Num mundo que avança a ritmo vertiginoso, onde cada inovação parece superar a anterior, antes mesmo de amadurecer, há um movimento silencioso — porém cada vez mais evidente — que resgata o valor do que já existiu. A tradição, muitas vezes vista como algo estático ou ultrapassado, ressurge como força criativa, como fonte de identidade e como instrumento de resistência cultural.

A verdadeira vanguarda de hoje não está apenas no rompimento com o passado, mas na capacidade de revisitá-lo com novos olhos. O antigo torna-se matéria-prima para o novo: as técnicas artesanais ganham releituras contemporâneas, as narrativas ancestrais inspiram expressões artísticas modernas, e os valores que pareciam esquecidos reaparecem como contraponto ao excesso de superficialidade do presente.

A tradição, quando reinterpretada, não limita — expande. Ela ancora, dá profundidade, oferece autenticidade. É justamente essa combinação entre raízes sólidas e olhar renovado que define o espírito da nova vanguarda. Um futuro que não teme dialogar com o seu passado.