domingo, 26 de outubro de 2025

O drama da alma elegante em corpo que não coopera

O texto de hoje é dedicado ao Luís Osório, por causa de um delicioso post seu sobre a problemática do vestuário. Espero que ele se ria, como eu me ri com o seu!

Há pessoas que nasceram para o luxo. Todos as vemos: vestem um blazer e, de repente, parece que vão assinar um contrato milionário. Já outras... vestem o mesmo blazer e parecem ter fugido de uma reunião para que não entenderam o motivo de ter sido chamadas.

É uma injustiça da natureza: a roupa chique deveria elevar todo mundo, mas às vezes ela só nos entrega um ar de “fui obrigada”. A calça de alfaiataria, por exemplo, em uns transmite poder; em outros, parece uniforme de estagiário de buffet.

E o sapato social? Ah, o sapato social tem o dom de transformar qualquer pessoa comum, em alguém que anda como se o chão estivesse cheio de ovos. A elegância fica no salto, mas a dignidade escorrega.

Há quem diga que “a roupa faz o homem”. Mentira. A roupa tenta, mas o corpo, a postura e o olhar de quem preferia estar de jean, denunciam a farsa. Há gente que veste blazer, mas o espírito continua de chinelo.

Mas tudo bem, porque o mundo precisa tanto dos que brilham no smoking, quanto dos que dominam a arte dos jeans confortável. Nem todo herói usa capa. Alguns só usam o casaco coçado de confiança!

 

sábado, 25 de outubro de 2025

Cozido à portuguesa: como nasceu e se tornou nosso


Não é uma metáfora da política portuguesa. Mas podia ser. É muito, muito, melhor!

O cozido à portuguesa é, mais do que um prato, uma celebração da diversidade e da alma da cozinha lusitana. Reúne, num só tacho, carnes, enchidos, legumes e sabores que contam a história de Portugal — um país que sempre soube aproveitar o que a terra e o gado lhe ofereciam.

As suas origens perdem-se no tempo. O cozido é uma herança camponesa, nascida da necessidade de aproveitar todos os ingredientes disponíveis, sem desperdício. Em tempos antigos, as famílias juntavam num mesmo pote os restos de carnes salgadas, enchidos feitos nas matanças, e legumes da horta — couves, nabos, cenouras, batatas — deixando tudo cozinhar lentamente. O resultado era um prato rico, nutritivo e partilhado à mesa, símbolo de união e fartura.

Com o passar dos séculos, o cozido foi-se refinando e ganhou lugar de destaque na gastronomia nacional. Hoje, cada região tem a sua versão: o cozido das Furnas, nos Açores, que se cozinha lentamente no calor vulcânico da terra; o cozido à moda do Minho, mais leve e com enchidos fumados; ou o cozido beirão, robusto e generoso. Apesar das diferenças, a essência é sempre a mesma — a harmonia entre ingredientes simples e o sabor profundo do tempo e da tradição.

O que torna o cozido “nosso” é exatamente isso: a capacidade de representar Portugal num prato. É uma receita que reflete o espírito do povo português — criativo, acolhedor e capaz de transformar o que tem, em algo extraordinário. Servido em domingos de família, festas ou almoços demorados, o cozido à portuguesa é um ritual de partilha, conversa e memória.

Hoje, mesmo nas cozinhas modernas, ele resiste como um símbolo de identidade nacional, um lembrete de que as nossas raízes estão tanto no sabor como na história.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

DESCER NEM SEMPRE É MAU!

Domingo, fui com uma amiga almoçar a um restaurante simpático, junto ao rio, que só serve peixe. O empregado que nos recebeu, para além de nos chamar de “belas senhoras”, rodeou-nos de toda a atenção, explicando com pormenor, o que havia de melhor para comer.

Depois de algumas dúvidas nossas, perante tão detalhada descrição do cardápio, eu escolhi uma coisa levezinha – não quero aumentar o meu volume físico – e a minha amiga, que por hábito não janta, escolheu um belo peixe grelhado.

Porque conto isto? Porque o dito empregado, a certa altura, mencionou algo que me impressionou. “Sabem, eu já estive como chefe de sala num dos nossos outros restaurantes. Mas não estava feliz, sentia-me empertigado a receber as pessoas com “ar de dono”.

Um dia, disse para mim próprio, que o que eu gostava, mesmo, era de ser empregado de mesa, de girar pelas pessoas, conversar com elas e de as ajudar a escolher o repasto”. Desci de posição mas, agora, estou contente, aqui a falar convosco!

Quando saímos perguntei à minha amiga – uma ex-gestora de top de uma das nossas maiores empresas –, se ela dera pela lição. Rimos as duas. De facto, o fato não faz o homem, e quem não gosta não se estabelece. Ser feliz é que interessa!

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A DOR E O LUTO

A notícia da morte de Francisco Pinto Balsemão, aos 88 anos, em Lisboa, no dia 21 de outubro de 2025, deixou-me muito triste.

Para mim, que me estreei no programa SEGREDOS, seis dias após a abertura da nova televisão, este será, o mais directo e tocante aspeto da sua vida. De facto, o lançamento do canal em 1992, abriria novas vias para a televisão, desta vez privada, em Portugal.

Balsemão foi, também, uma figura central na política portuguesa, como deputado da Ala Liberal e um dos três fundadores do PPD. Entre1981 e1983 seria primeiro-ministro. Tornar-se-ia ainda mais influente na área dos media, quando decidiu fundar o jornal Expresso e o canal privado SIC.

Embora nem sempre tivesse apreciado facetas do entretenimento e da informação prestadas até hoje, é inegável o seu legado que, aliás, se deixa ver nos muitos momentos de televisão e de cultura popular em Portugal, que tomaram forma, sob a égide do novo canal.

Neste momento a minha tristeza é uma forma de homenagem a um homem que deixou uma marca indelével nos media, na democracia portuguesa e nos muitos que, como eu, trabalharam ou se estrearam sob o seu impulso.

À viúva e aos seus filhos, as últimas palavras de agradecimento, pelo que, em vida, pessoal e profissionalmente, Francisco Balsemão me proporcionou. Que descanse em paz. 

 

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

FUGIR AO QUOTIDIANO

Há dias em que o peso das rotinas parece maior do que devia ser. O despertador toca, o trânsito repete-se, as conversas soam iguais, e tudo se mistura num ciclo previsível, quase automático. É nesses momentos que nasce a vontade de fugir - não necessariamente de um lugar, mas de uma sensação. A vontade de respirar ar novo, de ver rostos desconhecidos, de sentir que o tempo pode ser vivido de outra forma.

Fugir ao quotidiano é um impulso de liberdade. É o desejo de romper com a ordem, com os compromissos que nos definem, com as obrigações que nos moldam. Não se trata de rejeitar a vida que temos, mas de lembrar que há outras formas de existir. Uma viagem improvisada, um passeio sem destino, uma tarde de silêncio - pequenos gestos que nos fazem recuperar o sentido de estar vivos.

Talvez o que realmente procuramos ao fugir não seja a distância, mas o reencontro. Reencontro com a curiosidade, com o espanto, com aquilo que o hábito nos fez esquecer. E quando voltamos - porque sempre voltamos - trazemos connosco um pouco dessa liberdade que nos renova e dá novo significado aos dias comuns!

 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

AS MARCAS

Algumas pessoas passam pela nossa vida como o vento leve de uma tarde de verão. Não ficam para sempre, mas deixam uma brisa que refresca a alma.

Outras, chegam como tempestade, transformam tudo, revolvem, ensinam, e obrigam-nos a crescer. Há, também, aquelas que parecem raízes firmes, silenciosas, sempre ali a sustentar os nossos passos, mesmo quando não percebemos.

Cada encontro, seja breve ou duradouro, deixa em nós um traço invisível. Às vezes, é um sorriso que lembramos em dias cinzentos. Outras vezes, uma palavra que ecoa quando precisamos de coragem. Pode ser uma dor que nos ensina limites, ou um gesto de bondade que nos mostra que ainda existe beleza no mundo.

O que realmente marca não é o tempo que alguém passa ao nosso lado, mas a intensidade da presença, a verdade do afeto, a maneira como nos tocam por dentro. E, no fim, somos feitos disso: de pedaços das histórias que vivemos com os outros, de lembranças que nos moldam, de marcas que nos transformam.

 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

QUANDO O TEMPO QUISER

Há coisas que não dependem da pressa, nem da ansiedade.
O tempo tem seu próprio compasso, um ritmo invisível que conduz a vida.
Quando o tempo quiser, as respostas chegam,
as feridas cicatrizam,
os encontros acontecem,
e os sonhos florescem.

É inútil forçar o que ainda não está pronto,
assim como não se apressa o nascer do sol
nem se antecipa o desabrochar de uma flor.

Tudo vem no instante certo —
nem antes, nem depois.
Enquanto isso, cabe a nós aprender a esperar,
cuidar do presente
e confiar na sabedoria do tempo.

Porque, quando o tempo quiser,
a vida se revela em plenitude.