segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

NATAL EM TEMPO DE GUERRA

O Natal, tradicionalmente marcado pela esperança, pela união e pelo nascimento da paz, adquire um significado profundo e doloroso quando vivido em tempo de guerra. Enquanto em muitos lares o brilho das luzes e o calor das reuniões familiares anunciam celebração, em outros o som que ecoa é o das explosões, das sirenes e do choro silencioso de quem perdeu tudo.

Em cenários de conflito, o Natal deixa de ser apenas uma data no calendário e transforma-se  num ato de resistência. Celebrar, ainda que de forma simples, é afirmar a humanidade diante da destruição. Um pedaço de pão dividido, uma vela acesa, uma oração sussurrada ou um abraço apertado tornam-se símbolos poderosos de fé e sobrevivência. Onde a guerra tenta apagar sonhos, o Natal insiste em reacendê-los.

As crianças, que deveriam associar essa época a presentes e alegria, aprendem cedo demais o significado do medo e da ausência. Muitas esperam não por brinquedos, mas por notícias de pais que não retornaram, por um dia sem bombardeios, por uma noite de sono tranquila. Ainda assim, os seus olhares carregam uma esperança teimosa, como se acreditassem que a paz pode nascer mesmo no meio dos escombros.

O Natal em tempo de guerra também convida à reflexão daqueles que estão longe do conflito. Ele lembra que a mensagem de amor ao próximo não pode ser seletiva, nem limitada por fronteiras. A solidariedade, a empatia e o compromisso com a vida tornam-se presentes urgentes e necessários.

Assim, mesmo cercado pela dor, o Natal continua sendo uma chamada à paz. Um sinal de que, apesar da guerra, a humanidade ainda pode escolher a compaixão. Porque enquanto houver alguém disposto a amar, a partilhar e a esperar, o verdadeiro espírito do Natal não estará perdido — estará apenas lutando para sobreviver.

 

sábado, 20 de dezembro de 2025

PESSOAS: MARIA SERUYA A MULHER DE MIL SUPERFICIES

 

Maria Seruya não cabe em rótulos. É daquelas presenças que, ao entrar numa sala, parecem expandir o ar, como se cada gesto contasse várias histórias ao mesmo tempo. Multifacetada — palavra que nela deixa de ser metáfora e se torna um modo de existir — Maria caminha por diferentes mundos, com a mesma naturalidade com que outros mudam de roupa.

Artista por intuição, pensadora por inquietação e criadora por necessidade vital, ela constrói pontes entre universos que, para muitos, jamais se tocariam. Num dia fala com a precisão de quem decanta ideias; no outro, cria imagens que parecem brotar diretamente do subconsciente. Maria tem o dom raro de transformar fragmentos em sentido, caos em ritmo, silêncio em linguagem.

Os seus projetos — sejam eles artísticos, humanos ou simplesmente quotidianos — sopram a mesma marca: a autenticidade. Nada em Maria é superficial. Cada escolha reflete uma camada dela, e há sempre outra por baixo, vibrando, chamando, pedindo para ser descoberta. Talvez seja por isso que tantos se sentem atraídos pela sua presença: ela é um convite permanente à curiosidade.

Mas o que realmente torna Maria Seruya multifacetada, não é a quantidade de coisas que faz, e sim a profundidade com que habita cada uma. Ela sabe ser plural sem perder o centro; sabe ser vasta sem se dispersar. Uma mulher que reflete muitas luzes — e, ainda assim, guarda o mistério de algumas sombras.

Maria Seruya, na sua multiplicidade, lembra ao mundo que ninguém precisa ser apenas uma coisa. Que a vida, quando vivida com coragem, pode ser um mosaico — e que a beleza está exatamente nisso.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

AS MALVADAS CONTAS

“O primeiro-ministro, que uns dias antes tinha sugerido aproveitar a oportunidade da possível mudança das leis laborais para elevar o salário mínimo para os 1.500 euros e o médio para 2.000 ou 2.500, disse não querer "que o salário médio chegue aos 1.600 ou 1.700", mas sim que "chegue aos 2.500, 2.800 ou 3.000 euros".

Não costumo falar de política, mas esta frase do primeiro-ministro, retirada das notícias que respeitam a economia do país, levantou-me algumas dúvidas, e por isso, obrigou-me a faze umas contas de matemática básica, em que apenas entrei com números que são do domínio público.

De acordo com elas, a afirmação parece-me, sobretudo, retórica e aspiracional. O primeiro-ministro projeta salários médios muito elevados (2.500–3.000 euros) para mostrar ambição política e distanciar-se de metas mais modestas. No entanto, do ponto de vista económico, esses valores parecem pouco realistas a curto prazo, sem um forte aumento da produtividade e reformas estruturais. Falta também clareza, sobre como esses objetivos seriam alcançados, o que reforça o carácter mais discursivo do que prático, da declaração. Isto de acordo com as minhas contas, claro!

 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

GLENN MILLER ORCHESTRA

Fui ontem ao CCB - Centro Cultural de Belém-, ouvir a icónica Glenn Miller Orchestra, sob a direção do maestro Ray McVay , que retornou a Portugal para um concerto especial. Foi no fim da tarde de ontem, em que dirigiu os 20 talentosos músicos e cantores desta magnifica orquestra, num espetáculo que, como num estalar de dedos, nos faz recuar até aos anos 1930. Ainda consegui emocionar-me, tantas décadas depois, porque se trata de um dos compositores de quem mais gosto.

O prazer de ouvir a música de Glenn Miller está na forma como ela envolve o ouvinte com leveza, elegância e um sentimento de alegria serena. As suas peças marcadas, pelo som inconfundível dos metais e pelo ritmo suave do swing, criam uma atmosfera acolhedora, capaz de transportar a mente para outra época. Ao ouvir as suas composições, é fácil imaginar salões de dança iluminados, pessoas sorrindo e momentos de descontração que parecem suspensos no tempo.

 A música de Glenn Miller não é apenas entretenimento. É uma experiência que desperta nostalgia, tranquilidade e prazer, mostrando como a arte pode atravessar gerações e continuar a tocar o coração de quem a escuta.

 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

O PAI DA CLARA

Não, não venho falar de Clara Pinto Correia. Já muitos, antes de mim, o fizeram e com mais conhecimento de causa do que eu, que pouco a conheci. Venho falar de um homem que era meu amigo, salvou a minha vida e era pai da Clara. Venho falar do Professor José Pinto Correia, consensualmente aclamado como um dos maiores vultos da Gastroenterologia nacional e internacional, e que deixou pegadas demasiado marcadas para que o tempo o consiga apagar. Foi das melhores mais brilhantes pessoas que conheci. E que, enquanto viveu foi o médico que sempre me acompanhou.

Conhecemo-nos numa reunião da então JUC – Juventude Universitária Católica- e a partir daí, foram várias as razões que nos juntaram, para além da saúde. Havia um lado de humor e até de diversão nele, que só os mais próximos sabiam.

Conheci, assim, os pais muito antes das filhas. Mas a existência delas, sentia-se nos pais que conheci. Havia neles um amor repartido, treinado na partilha, um cuidado que sabia multiplicar-se sem perder profundidade. Não falavam de uma filha só, mas de um pequeno mundo construído a várias vozes.

Nos gestos, via-se a experiência de quem criou mais do que uma vida: a paciência, a atenção ao detalhe, a capacidade de ouvir. Clara vinha desse espaço cheio, onde ninguém cresce sozinho, onde se aprende cedo a existir com o outro ao lado.

Ao conhecer os pais, percebi que Clara — e as irmãs — eram fruto desse equilíbrio discreto: um amor firme, silencioso, que não distingue para diminuir, mas que sustenta todas por igual.

 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O RECONHECIMENTO PÓSTUMO

Há vidas que passam silenciosas diante do mundo, mas intensas dentro de si. Pessoas que constroem, criam, inovam, servem, inspiram – e, mesmo assim, caminham à margem do aplauso. Só depois que se vai a presença, é que desperta a ausência. E com ela, surge aquele reconhecimento tardio, quase sempre acompanhado de um arrependimento coletivo: “Como não vimos antes?”

O reconhecimento póstumo revela, acima de tudo, a dificuldade humana de valorizar o que está perto, o que é quotidiano, o que não se impõe. É mais fácil admirar à distância do que contemplar quem está diante de nós. Talvez porque, no dia a dia, confundimos simplicidade com falta de grandeza, e humildade com falta de valor.

No entanto, quando alguém parte, a memória ilumina o que os olhos não enxergaram a tempo. Pequenos gestos ganham profundidade; contribuições antes discretas revelam-se essenciais; talentos ignorados tornam-se, de repente, irrefutáveis. A ausência escancara o tamanho da presença, que antes foi tratada como comum.

Mas o reconhecimento póstumo também serve como espelho. Nele refletimos nossa tendência a adiar elogios, silenciar gratidões e deixar para depois, a celebração de quem faz diferença. A partida transforma esse “depois” em nunca mais.

Por isso, lembrar que muitos só foram reconhecidos depois de partir, é um convite à urgência. A de valorizar hoje. quem merece ser visto. Celebrar em vida, o que tantas vezes, só se exalta na memória. Porque todos carregam dentro de si uma história digna de ser reconhecida — e é injusto permitir que o mundo só a descubra quando não houver mais tempo.

SERIA BOM PENSAR

Este tema, infelizmente, continua a ser objeto de preocupação das Famílias. Não será altura de tomar decisões por parte do Ministro da Educação, ou ele está inteiramente de acordo com o que aqui se transmite?