sábado, 15 de novembro de 2025

FÁTIMA LOPES MERECIA MAIS

O desaproveitamento incompreensível de Fátima Lopes na televisão, é um daqueles mistérios que revelam tanto sobre o estado atual do panorama televisivo, quanto sobre a própria forma como o talento, por vezes, é negligenciado. Num meio onde comunicadores genuínos, empáticos e consistentes são cada vez mais raros, a ausência de Fátima Lopes nos grandes formatos levanta, inevitavelmente, a pergunta: como é possível deixar de lado uma profissional com uma carreira tão sólida, respeitada e versátil?

Ao longo de décadas, Fátima construiu uma relação de confiança incomum com o público. A sua postura humana, a capacidade de ouvir, a sensibilidade sem dramatismos artificiais e a competência jornalística, fizeram dela uma das comunicadoras mais completas da televisão portuguesa. Não se tratava apenas de apresentar programas — tratava-se de criar um espaço de partilha onde histórias reais encontravam acolhimento e respeito.

O mais incompreensível é que, enquanto se multiplicam programas descartáveis, formatos repetidos e opções claramente menos eficazes, uma apresentadora com provas dadas permanece à margem, como se o seu contributo fosse secundário. A televisão perde — mas perde sobretudo o público, que reconhece e sente falta de figuras que realmente acrescentam algo.

Não é apenas um desperdício profissional. É um sintoma de decisões que parecem ignorar o valor da credibilidade, da empatia e do profissionalismo. Fátima Lopes representa, exatamente, aquilo que muitos dizem faltar na televisão de hoje. E ainda assim o seu talento continua subaproveitado, quase como se não houvesse espaço para a qualidade num cenário dominado pela lógica do imediato.

Resta esperar que esta fase seja apenas um intervalo e não um destino. Porque talentos como o de Fátima não desaparecem. Apenas aguardam o momento em que sejam novamente reconhecidos pelo valor que sempre tiveram. Iremos poder matar saudades na nova série AQUI HÁ SABOR, no canal Casa e Cozinha, a partir de 5 de dezembro.

 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

COMO A LITERATURA PERMITE ENTENDER A ECONOMIA

Hoje resolvi escrever acerca de um assunto que explica a minha dupla situação de economista e autora, tirando de qualquer delas o mesmo prazer. Tentei sintetizar.

1. Humaniza a economia

  • A economia lida com produção, consumo, riqueza, crises… Mas a literatura mostra como isso afeta as vidas reais.
  • Por exemplo, em Vidas Secas de Graciliano Ramos, vemos a seca, a pobreza e a luta pela sobrevivência, de uma família nordestina.

2. Retrata contextos históricos

  • A literatura fixa no imaginário coletivo os efeitos de períodos económicos.
  • Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, critica a elite brasileira do século XIX, dependente do esclavagismo e do parasitismo económico.
  • Em romances russos, como Anna Karenina de Tolstói, percebemos os impactos da modernização agrícola e a aristocracia em declínio.

3. Ilustra conceitos económicos

  • Desigualdade: Charles Dickens, em Oliver Twist, mostra o contraste entre a miséria dos órfãos e a riqueza da elite londrina no capitalismo industrial.
  • Mercado e trabalho: Em Germinal de Zola, o autor faz uma análise quase sociológica das condições dos mineiros na França.
  • Consumo e status: Em O Grande Gatsby de Scott Fitzgerald, vemos a crítica ao consumismo e à desigualdade nos Loucos Anos 20.

4. Crítica e reflexão social

A literatura não apenas descreve, mas questiona:

  • Quais são os custos humanos do crescimento económico?
  • Quem é incluído e quem é excluído?
  • Quais os valores que guiam as nossas escolhas económicas?

 Concluindo a literatura é uma espécie de laboratório imaginativo da economia. Enquanto os economistas usam dados, modelos e teorias, os escritores criam mundos que mostram como esses fenómenos afetam pessoas, culturas e sociedades.

 

terça-feira, 11 de novembro de 2025

O DIA DE S. MARTINHO

Não sei porquê, gosto de certas tradições populares. O dia de hoje é uma delas, que durante anos, celebrei com amigos tão foliões como eu era. Ainda sou!

Para os que não sabem, o Dia de São Martinho celebra-se a 11 de novembro e é uma das tradições mais conhecidas em Portugal. Nesta data, recorda-se São Martinho de Tours, um soldado romano que ficou famoso pela sua bondade e generosidade.

Conta a lenda de São Martinho que, num dia muito frio e chuvoso, Martinho encontrou um mendigo que tremia de frio. Com pena dele, cortou, com a espada, a sua capa ao meio e deu-lhe uma parte, para ele se aquecer. Nesse momento, as nuvens abriram-se, a chuva parou e o sol brilhou. Diz-se que foi assim, que surgiu o chamado “Verão de São Martinho”, um período de dias mais quentes em pleno outono.

Em Portugal, é costume celebrar este dia com magustos, onde se juntam amigos e familiares para assar castanhas, beber jeropiga ou vinho novo e conviver à volta da fogueira. É uma festa que marca o fim das colheitas e o início do tempo frio, mas cheia de alegria e partilha.

O Dia de São Martinho lembra-nos, também, a importância da solidariedade, da generosidade e da amizade — valores que tornam esta tradição tão especial!

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Hino à Alegria

Alegria, chama que aquece os corações!
És fonte pura que jorra no íntimo da vida,
és canto que rompe o silêncio das dores,
és luz que vence as sombras do desânimo.

Tu nos levantas quando os passos vacilam,
tu nos recordas que viver é celebrar,
tu és o sorriso que une estranhos,
és abraço invisível que sustenta o mundo.

Sem ti, o fardo se torna pesado,
a esperança se perde no horizonte.
Contigo, tudo se torna possível,
e até a noite escura revela estrelas.

Alegria, a tua presença é sagrada,
teu sopro é alimento da alma,
teu brilho é centelha do eterno
que nos convida a dançar a vida.

Seja em cada gesto, em cada encontro,
em cada lágrima transformada em canto,
seja tu, alegria, nossa oração,
nosso louvor, nosso hino de eternidade.

 

domingo, 9 de novembro de 2025

QUEM NÃO TEM CÃO…

Diz-se por aí que, “quem não tem cão, caça com gato”. Há pessoas que, quando a situação aperta, parece que viram ninjas. Acabou a solução óbvia? Eles inventam outra. O plano deu errado? Eles criam um plano Z, em cinco minutos, e ainda riem do processo. São os verdadeiros representantes do ditado: “Quem não tem cão, caça com gato.”

Mas o ditado é sábio e um pouco malandro. Ele não fala de caçada, fala do improviso. É o resumo português da “arte de dar um jeitinho” quando falta o ideal. Não tem impressora? Vai em foto de telemóvel. O café acabou? Água quente e fé. O plano A deu errado? O B, o C e o D já estão em modo de espera, tremendo nas bases.

“Caçar com gato” é viver no improviso, mas com estilo. É usar clipe no lugar do agrafo, sapato no lugar do martelo e criatividade no lugar dos recursos. Porque, no fim, o gato pode até não ser o cão, mas traz charme, elegância e, com sorte, um bom meme.

Então, da próxima vez que faltar o “cão” na sua vida - seja um recurso, uma pessoa ou um plano - lembre-se de que o gato está aí. Preguiçoso, talvez. Mas quem sabe se ele não dá um jeito diferente (e mais divertido) de conseguir o que queremos? 

 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

AS FOLHAS DO OUTONO

As folhas do outono dançam ao sabor do vento, num ballet silencioso de despedidas. As suas cores — dourado, vermelho e castanho — pintam a paisagem com tons de melancolia e beleza. Cada folha que cai, conta uma história de tempo, de transformação e de ciclos que nunca cessam.

Há algo de sereno, nesse cair lento, como se a natureza respirasse fundo, antes do repouso do inverno. As árvores, agora mais leves, preparam-se para recomeçar, lembrando-nos que a vida também é feita de deixar ir.

O outono ensina o valor do desapego, a arte de aceitar as mudanças e a certeza de que até o fim pode ser belo. Porque, assim como as folhas, nós também precisamos cair, mudar e renascer — sempre com as cores da experiência, gravadas na nossa alma.

 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

HUMOR E HUMILDADE

Eu sei que os humoristas me vão matar e considerar alguém que não entende o seu trabalho. Não é verdade. A família já foi -é – alvo de diversos tipos de “humores” …

O humor e a humildade são duas características essenciais que influenciam significativamente a maneira como nos relacionamos com os outros e como vemos o mundo à nossa volta. Embora à primeira vista, possam parecer opostos, quando combinados de maneira adequada, podem resultar numa abordagem equilibrada e saudável da vida.

O humor, quando usado com inteligência e sensibilidade, é uma ferramenta poderosa para promover conexões interpessoais, aliviar tensões e enfrentar desafios com leveza. A capacidade de rir de si mesmo e encontrar o lado cómico das situações, pode ajudar a reduzir o stresse e a ansiedade, além de promover um ambiente mais descontraído e inclusivo nas interações sociais.

No entanto, importa exercer o humor com humildade e respeito pelos sentimentos dos outros. O que pode ter graça para uma pessoa, pode ser ofensivo para outra, e é fundamental estar ciente das diferenças individuais e dos limites de cada um. Além disso, é importante reconhecer que o humor não deve ser usado como uma forma de ridicularizar ou menosprezar os outros, mas sim como uma forma de criar conexões genuínas e até promover um sentido de camaradagem.

Por outro lado, a humildade é uma qualidade que nos permite reconhecer as nossas próprias limitações, aprender com os erros e aceitar as contribuições dos outros. Ao cultivar a humildade, somos capazes de nos relacionar de maneira mais autêntica com os que nos rodeiam, demonstrando abertura para diferentes perspetivas e experiências.

A combinação de humor e humildade, convida a abordar a vida com uma atitude de leveza e aceitação, reconhecendo a importância de não nos levarmos a nós mesmos muito a sério, e a estarmos abertos à aprendizagem contínua. Ao integrar essas duas qualidades na nossa maneira de ser e de interagir, podemos criar relações mais significativas e construir um ambiente mais positivo e inclusivo para todos.