domingo, 22 de dezembro de 2024

Queridos(as) leitores(as),


Neste fim de ano, desejo que cada página da sua história seja repleta de amor, esperança e conquistas. Que o Natal traga a magia de reencontrar, na simplicidade e na união, o verdadeiro sentido da festa: a partilha de bons sentimentos e a celebração da vida. E que o Ano Novo chegue renovando energias, inspirando novos sonhos e fortalecendo cada meta que cada um deseja alcançar.

Agradeço pela companhia e confiança ao longo do ano e que, juntos, possamos continuar trilhando muitos caminhos de conhecimento e emoção, nas próximas páginas que a vida nos reserva.

Boas festas e um maravilhoso Ano Novo! 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

SEMPRE EM CASA

Conhece aquela sensação de quem comprou um pacote de arroz de 5 kg e, quando o abre, o pacote vem com um aviso: “A validade é ilimitada”? Agora ele está permanentemente no seu armário. Pois é, ter um filho que não sai de casa é mais ou menos isto. Eles chegam pequenininhos, mal ocupam um berço, e num piscar de olhos viram espécies raras de “filhos-adultos-acomodados” no sofá, agarrados ao computador, com a mesma naturalidade com que se respira.

Quando bebé, mal podemos esperar para ver o primeiro passo. No momento, décadas depois, ficamos na expetativa de ver qualquer passo em direção à porta de saída. Mas não, eles não vão.

E se perguntamos: “Filho, quando é que vais arranjar um canto só para ti?”. A resposta é tão certa quanto a falta de dinheiro na carteira: “ando a pensar nisso, mãe, ando a pensar...”. Entretanto, o frigorífico fica vazio, mais rapidamente do que a magia num show infantil.

Mas eles têm sempre uma justificação original. “A economia tá difícil, pai”. “O mercado de trabalho é selvagem, mãe”. “Meu signo diz que não é momento de mudanças”. São argumentos tão convincentes quanto o “cachorro comeu as bolachas”, do jardim de infância.

Aí, um dia, o pai ousa, quase envergonhado: “Filho, se pagares a conta da luz por mês, já ajuda”. A reação é digna de ópera dramática: “Eis que me arrancam a juventude! A luz, ó céus, a luz, símbolo da minha liberdade, agora cobra pedágio...”! Tudo isso, claro, enquanto assistem às séries em streaming na TV da sala, esparramados como se o mundo acabasse ali.

No fundo, nós até rimos (para não chorar). Porque sabemos que, um belo dia, vai surgir aquele momento mágico, em que eles enfim partem, empacotam as meias, os posters de banda que já se separou há dez anos e seguem rumo ao desconhecido. E, pode crer, nesse dia, nós vamos sentir saudade. Mas até lá, que tal mais um franguinho de churrasco, na hora do jantar? Quem sabe, assim eles saem... ou não?  Mas, pelo menos, já nos divertimos a contar esta história tão comum?

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

SE O ARREPENDIMENTO MATASSE

Há dias em que o arrependimento pesa sobre o peito como um sopro abafado, um sussurro que se arrasta pelos cantos da memória e acaba por erguer muros dentro de nós. É um sentimento denso, de contornos quase invisíveis, que se insinua no silêncio, nos intervalos entre um pensamento e outro, na brisa leve que entra pela janela sem pedir licença. Diante dele, tudo que não fizemos, tudo que deixámos para depois, tudo o que fingimos que não importava, retorna na forma de fantasmas: palavras que nunca foram ditas, olhares que não se cruzaram, cartas que ficaram fechadas em gavetas empoeiradas de incerteza.

Carregamos o eco dos gestos contidos, dos abraços que não demos, das confissões sufocadas pelo medo de ser julgado ou não compreendido. O arrependimento é a morte lenta das possibilidades que, um dia, pareceram eternas e inquebrantáveis. É testemunhar, impotente, o desbotar de cores que, um dia, foram vívidas e o ranger de portas que se fecharam para sempre. Há uma certa melancolia na perceção de que nem sempre é possível retornar aos instantes onde a escolha andava no ar, esperando que estendêssemos a mão e a recolhêssemos para dentro de nós, transformando-a em realidade.

Porém, talvez haja um consolo neste desconforto: o arrependimento também é um lembrete de que somos humanos e falíveis, um convite a reconhecer as nossas limitações e fragilidades. É no amargor das oportunidades desperdiçadas que encontramos o fermento para novas tentativas. A dor de não ter tentado abre espaço para a determinação de não mais hesitar. O remorso, por si só, não reverte o passado—mas pode iluminar o caminho adiante, ensinando-nos a não fugir do que sentimos, a não nos intimidarmos pelo que não sabemos, a não poupar ternura e honestidade quando o coração a pede.

Assim, resta-me carregar o arrependimento como um espelho que me faz encarar a mim mesmo, com meus lapsos, silenciosas covardias e arroubos de orgulho. E, ao fazê-lo, crescer na direção da coragem, da transparência e do cuidado com o agora. É nessa assimilação lenta que repousa a chave para um futuro menos marcado pela dúvida e mais iluminado pela clara vontade de viver com autenticidade.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

A COREOGRAFIA DO ADEUS

Há um silêncio especial que antecede o adeus — como se o tempo segurasse, por um instante, a respiração, antes de deixar as palavras deslizarem, uma a uma, entre as fendas daquilo que já não se pode mais dizer. É nessa pausa suspensa, quase um abismo, que a dor encontra voz: ela instala-se nas pequenas coisas, no cheiro conhecido do café, na dobra do lençol, na tinta desgastada do corrimão.

Não é a partida em si que pesa, mas o espaço vazio que o outro deixa. O eco dos seus passos no corredor vazio, a cadeira vazia à mesa. O adeus não é apenas uma palavra, é um quadro que se desvanece, um retrato arrancado da parede, um sopro de ausência que espalha memórias pela casa. E ainda assim, mesmo no luto subtil do que já não é, floresce uma semente de compreensão. O adeus, por mais que custe, nos ensina a gentil e árdua arte de soltar as mãos.

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O retorno ao que já não é

Perguntaram-me se gostaria de voltar a alguma parte do meu passado. Pensei no que foi bom, mas respondi “não”. Explico.

"O retorno ao que já não é" pode ser interpretado como uma expressão poética ou filosófica que aborda a ideia de revisitar algo que já não existe mais no presente. Essa sentença suscita reflexões sobre a impossibilidade de recuperar o passado tal como ele foi, bem como sobre a natureza mutável do tempo, da memória e da identidade.

Ao tentar retornar a um momento passado, a pessoa depara-se com a impossibilidade de o reconstituir exatamente como era. O que resta são memórias, sempre marcadas pela subjetividade e pelas transformações do próprio sujeito que as lembra. Nesse sentido, o “retorno” torna-se uma reconstrução mental, idealizada, e não um reencontro fidedigno.

Aquilo que “já não é” pode ser interpretado tanto como um lugar ou situação do passado, como a um estado do próprio indivíduo. A tentativa de regressar ao que um dia existiu, encontra barreiras na mudança contínua: nem o contexto é o mesmo, nem a pessoa que vivenciou a experiência anterior se manteve inalterada.

Do ponto de vista filosófico, esta frase remete à fluidez do tempo e à irreversibilidade dos acontecimentos. O passado, uma vez transcorrido, não retorna ao seu estado original. O próprio ato de tentar “voltar” seria confrontado pela constatação de que o que passou tornou-se outro tipo de existência — talvez recordações, talvez vestígios — mas não o objeto presente, para onde se quer voltar.

“O retorno ao que já não é” encapsula a tensão entre o desejo de resgatar uma experiência passada e a constatação da impossibilidade de a reproduzir ou de a viver novamente. É uma reflexão sobre a natureza dinâmica da vida, do tempo e da própria subjetividade. Por isto tudo julgo ter dado uma boa resposta!

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

UM OUTRO NATAL

O Natal, ao longo dos séculos, consolidou-se como uma celebração pautada por símbolos inconfundíveis — a reunião familiar, a árvore decorada, a troca de presentes, a ceia farta e a atmosfera de paz e esperança — mas, se o observarmos por um ângulo mais original e menos convencional, poderemos encontrar dimensões menos óbvias e igualmente ricas em significado.

Em vez de um feriado estritamente religioso ou comercial, o Natal pode ser visto como um ponto de convergência cultural e emocional, um marco que nos lembra da resiliência e da capacidade humana de reinventar rituais. A cada geração, novos elementos e valores são agregados, transformando a data em algo vivo e dinâmico: o que antes eram apenas velas e hinos hoje podem se unir às luzes de LED e às playlists de músicas contemporâneas.

Originalmente ligado ao solstício de inverno no Hemisfério Norte, o Natal pode ser encarado como a comemoração do retorno da luz após o período mais escuro do ano. Esse olhar simbólico, dissociado do calendário cristão, apresenta a festa como uma metáfora universal da superação da escuridão, tanto literal quanto metafórica: a busca por esperança em meio à incerteza e a renovação após as dificuldades. Assim, o nascimento celebrado não é apenas o de uma figura religiosa, mas também o nascer simbólico de novos começos — a compreensão, a solidariedade e a empatia.

Também é possível encontrar, no Natal, um convite à introspeção. Longe do consumo exacerbado, a data pode ser um lembrete para cultivar virtudes internas: a caridade que não se limita a dar presentes, mas a oferecer tempo, atenção e cuidado; a reflexão sobre o ano que passou e sobre o ano que está por vir, um momento de balanço existencial e o reconhecimento de que a verdadeira magia do Natal, muitas vezes se esconde em gestos simples e em afetos genuínos.

Assim, visto de forma original, o Natal não é, apenas, uma festa predeterminada, mas um fenómeno complexo, um campo simbólico, fértil para diversas interpretações. Ele pode ser o ponto de convergência entre passado e futuro, tradição e inovação, luz e escuridão, cultura e espiritualidade, recordando-nos a nossa humanidade compartilhada e o poder das histórias que contamos para dar sentido ao mundo.

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

O NINHO VAZIO

Quantos de nós não terão já passado por esta situação ambígua de felicidade e tristeza. Quando os filhos batendo as asas procuram o seu caminho?

A síndrome do ninho vazio é um fenómeno que ocorre quando os filhos, já crescidos, deixam a casa dos pais, muitas vezes rumo à faculdade, ao casamento ou à vida independente. Esse momento, embora esperado como um marco natural do ciclo de vida familiar, pode ser sentido de maneira profunda e intimista, especialmente por aqueles que investiram grande parte de sua identidade no papel de cuidadores.

Do ponto de vista pessoal e intimista, o ninho vazio não se resume apenas à ausência física do filho no lar, mas envolve uma ampla gama de sentimentos internos. É comum que pais e mães experimentem um misto de tristeza, melancolia, solidão e até mesmo um certo desamparo emocional. Ao olhar para os quartos vazios, para a rotina sem os sons habituais dos filhos ou para os rituais familiares interrompidos, muitos se veem frente a um vazio que vai além do espaço físico: é um vazio simbólico, que questiona sua própria identidade, propósito e valor pessoal.

Este aspecto “pessoal e intimista” da síndrome exige uma reflexão cuidadosa sobre a própria trajetória de vida. É um momento que convida à redescoberta de si mesmo: hobbies adiados podem ser retomados, interesses esquecidos podem emergir e novas conexões sociais podem ser cultivadas. Nesse sentido, embora a sensação inicial possa ser marcada pela perda, existe também um potencial transformador. Muitos pais se permitem reencontrar desejos e metas pessoais, fortalecendo a autoestima e desenvolvendo novas dimensões do “eu” que antes estavam ofuscadas pelas exigências da vida familiar.

Em última análise, o ninho vazio vivenciado de forma pessoal e intimista é um fenómeno que pode levar à dor, mas também ao crescimento. Por meio da introspeção, do acolhimento das suas próprias emoções e do investimento em novas atividades e relacionamentos, muitos pais e mães conseguem dar um novo significado à própria existência, transformando esse período de transição numa oportunidade para redescobrir quem realmente são, para além do papel de cuidadores.

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