Eram oito e trinta da manhã, lá estava eu em Belém, a votar por antecipação. Como não tenho, felizmente, filiação partidária - basta-me a filiação familiar, que é rica - o voto é algo que, para mim, vale ouro. Calculo o que não valerá para aqueles que se anicham num partido e nele ficam presos até ao resto dos seus dias...
Desta vez tive que pensar bem. E o meu pensamento assentava numa equação com algumas constantes e bastantes variáveis. Quem saiba um mínimo de matemática perceberá bem o meu problema. Aliás, para ser verdadeira, creio que uma grande parte dos portugueses, encarou hoje ou vai encarar no dia 30, problema idêntico.
Colocada a "cruz" no seu lugar, senti um alivio semelhante aquele que senti, quando assinei o papel de divórcio. É uma sensação de irreversibilidade e, em simultâneo, de questionar sobre o que se irá seguir. Tal e qual como, quando um grão de areia emperra uma máquina e, só depois de várias tentativas, é que o dito se solta e tudo volta ao normal. Eu tive a consciência de que fui um grão de areia, para todos aqueles em quem não votei!
Confesso que cheguei a casa meia grogue, porque isto de saltar da cama, ao domingo, às 7 da matina para cumprir um dever/direito cívico, é bonito mas dói. A vontade era voltar, de novo para a cama, desligar telefones, desligar tv, colocar um qualquer daqueles discos de música zen e relaxar até pegar o sono outra vez.
Não fiz nada disto, claro. Peguei no teclado do computador e recomecei a escrever, já que penso, lá para Outubro, ter um novo livro, se tudo correr bem.
HSC