As voltas que a vida dá são surpreendentes. Durante anos e anos, o povinho dava ao pessoal que vivia na linha do Estoril uma certa forma de falar, com uma acentuação muito especial. O nosso Herman e a Maria Ruef imitavam na maravilha essa espécie de dialecto.
O tempo foi passando e as "tias" da Linha, como lhe chamavam, pese embora tentarem continuar com o dito sotaque, o som já não saia o mesmo, porque a revolução lhes azedou um pouco a forma de comunicar.
Mas, curiosamente, sendo o Alentejo tido como uma das regiões mais vermelha do país, foi justamente nele, que essas familias começaram a comprar segundas casas, para onde iam quando não conseguiam deslocar-se para as suas estancias de sky habituais.
Assim, hoje, com a pandemia, foi vê-los fugir das casas urbanas para se refugiarem no "seu" Alentejo que, de um momento para o outro, deu um passo para o futuro. Está mais povoado, as moçoilas mais bem arranjadas e as tias passeiam-se nas Feiras, encantadas com aquilo que por lá encontram.
Eu não tenho segunda casa em lado nenhum, mas tenho amigos. A minha familia materna é toda alentejana. Agora uma parte da Lapa, também está lá refugiada. E, um destes dias, no Alvito, num cafezinho modesto onde parei, dei de caras com umas dessas tias numa mesa e noutra, solitário, o pai da manas Mortágua do Bloco de Esquerda. Como não conhecia bem nenhuma das familias limitei-me a dar uma boa tarde à entrada e ambas as mesas me responderam. Mas, agora, com sotaque já alentejano.
Mais dia menos dia, as tias da Linha e as da Lapa vão tornar aquela região numa nova Comporta, ultimamente de tradições um pouco recomendáveis. Esperemos que não, porque o Alentejo tinha uma beleza muito especial e eu ainda gostava de lá ter uma casinha em Vila Viçosa.
HSC
13 comentários:
HSC, não compreendi muito bem o sentimento que está subjacente no post de hoje!!
Vila Viçosa é uma das terras do Alentejo que mais gosto e também está na moda. Conheço algumas pessoas de lá que vieram trabalhar para lisboa e depois de passarem à reforma voltaram a viver lá. Também adorava poder passar lá algum tempo. Tenho lá amizades antigas. Agora já vão sendo menos. Recebi a triste noticia de que algumas já partiram.
Tenha uma boa noite
Maria
Fácil Dalma,
Na Linha de Cascais certas famílias até tinham o privilégio de dar à lígua uma entoação diferente. Pertenciam a uma classe que se distiguia pelo modo de falar. Era a elite do sangue, do dinheiro e das espectivas casas.
No Alentejo onde já tinham "investido"os alentejanos nao as percebiam e tratavam-nas como estrangeiras.
Veio a pandemia em que tosos somos iguaisno risco de apanhar o vírus e as pessoas foram viver para o Alentejo. Aí acomodaram-se ao falar alentejano e perderam aquele sotaque falso de quem pode e quer.
E o alentejano também ganhou casas para trabalhar e modelos para adaptar, Hoje passear pelo Alentejo tem um toque diferente. Como no Algarve com a chegada em massa dos estrangeiros inglese e franceses,
Sou uma sortuda porque aprendi a saborear o Alentejo em S. Lourenço do Barrocal. Recomendo vivamente.
Uma boa noite para a Senhora
HSC, vivo no Alentejo e pelo menos pelas minhas bandadas não se nota aquilo de que fala. Estranho que essa “gente da linha” se habituasse a viver no descampado de um monte alentejano mesmo que estes tenham toda a panafernália Itec! Faltar-lhes iam as amigas (os montes são distantes) e as esplanadas. Também não me parece que se mudassem para viver na simplicidade das cidades alentejanas, sem comércio chic e mt poucos eventos culturais onde se pudessem mostrar! Talvez a aquisição montes já tenha acontecido há algum tempo, mas a pandemia só dura há 10 meses , uma eternidade para mim mas mt pouco para elas se “alentejanarem”!
Com a democratização que os tempos têm trazido a “classe” de que fala já se diluiu certamente.
Não tenha qualquer duvida. Eu vivo no Alentejo por motivos profissionais, mas hoje
sito-me de cá. E tem toda a razão. As casas de qualidade que se vêm espalhadas pelo campo pertencem às tais pessoas dos bairros ditos nonres de Lisboa.
Pedro Leitão
Minha Senhora, não se escreve "no" Alvito. Mas antes "em" Alvito. Ou simplesmente Alvito, sem artigo nenhum.
Dinheiro é preciso, mas as formas de o adquirir nem sempre são sinónimo de qualidade («casas de qualidade»), nem de nobreza («zonas nobres», parece conversa de vendedor).
Anónimo das 12h50
Agradeço a sua correção. Mas já agora é capaz de ter a gentileza de me explicar porque norma gramatical em Alvito não segue a regra geral de "em o
" se transformar em "no"?
Eh!Eh!Eh!
Há uns dias passou-se algo de semelhante comigo. Eu parei nos arredores de Évora, numa taberna para beber o tal cafezinho. Dei de caras com um ex ministro e a sua companheira. Eles sairam e eu fiquei um pouco a conversar com o homem do balcão que me disse estarem a pensar mudar o nome da casa para O Café das Tias... porque depois do almoço lá apareciam as lisboetas para a mesa da conversa. E até vão de capote alentejano!
Cascais que se prepare para os novos inquilinos a pedirem manteega e queej!o
Arlindo
Uma casinha no Gerês era taoooooooó bom.
🌷
Sou alentejana para além de soar mal do/no/o Alvito. Porém, não me leve a mal o reparo que lhe fiz.
Passo a dar dois links que explicam:
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/pelourinho/em-alvito-e-nao-no-alvito/2960.com; https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/aberturas/noalvito-ou-em-alvito/1907
(Anónimo das 12h50 que se esqueceu de assinar: Marisa Lourenço)
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