sábado, 25 de julho de 2020

Nada acontece por acaso

Se algum lado positivo esta pandemia me proporcionou, foi ter, talvez, hoje uma noção mais equilibrada do que na nossa vida é individual e do que nela existe de colectivo. Sempre pensei que no campo individual a unica limitação que tinha, era não colidir com aquilo que se aceitava como sendo o pensamento maioritário da colectividade.
Hoje afinei essas distinções. O individual é um campo imenso em que se jogam todas as minhas características e onde só eu mando. O colectivo pode impor-me atitudes, comportamentos, decisões que vão contra mim e o que sou. Mas eu sou livre de as adaptar, cumprindo-as, à minha maneira de ser. Não gosto de política, mas ela existe e condiciona a minha vida. Certo. Mas eu tenho a liberdade de cumprir esses mandamentos e obrigações da forma que mais satisfaça. Desde que cumpra, ninguém me pode forçar a cumpri-los de forma que vá contra a minha forma de ser. 
Por exemplo. Todos temos um IRS para pagar e um período para o fazer. Eu sou livre de pagar no ultimo dia, se for isso que eu quiser. Sou eu que decido. ou até nã pagar e sofrer as consequencias. Podia dar outros exemplos bem mais quotidianos nos quais entendo que ninguém mete o bedelho, a não ser eu. 
Fundamentalmente o que tenho e defendo é a liberdade de escolha. Todos devemos votar, por mil e uma razões. Mas o voto não é obrigatório. Logo posso não ir votar, se assim o entender.
Quase decorridos oito meses de 2020, passados em casa, sem sair para outro lado que não fosse o hospital - tranquilizem-se porque ainda cá estou, apesar de me ter de submeter a uma nova intervenção que, espero, me deixe como nova - tive muita oportunidade de pensar, ler, ouvir música, trocar mensagens com os amigos e de, pela primeira vez nesta minha já longa vida, "preguiçar"através da oração. E aplico este termo porque rezei quando me apeteceu, do modo que quiz e, talvez, penso, em plena liberdade.
Tenho amigos praticantes de outras religiões, que me apoiaram muito. Foi das descobertas mais deslumbrantes da minha vida, essa forma de nos comunicarmos. Senti-me tão perto deles como se estivesse nas "suas casas" e a paz que tal me trouxe foi enorme. Até nesse campo, a minha liberdade individual se manifestou. Rezei com eles e eles comigo!
Que bom foi ter tido consciência desta minha nova "ferramenta" que me vai permitir, depois da intervenção a que vou ser submetida, olhar com gratidão estes longos oito meses da minha existência!

HSC

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Odiar quem odeia...

A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, garantiu em entrevista ao Expresso que o Governo não vai lançar qualquer mecanismo de controlo ou bloqueio de discurso de ódio nas redes sociais, mas recorda que essa possibilidade está prevista por instâncias europeias. No entanto, será adjudicado um estudo capaz de apurar resultados mensais sobre o discurso de ódio na Internet .
Todos sabemos que a internet, pelo facto de não ser regulamentada, é um campo fértil para o tal discurso do ódio que a governante refere. Mas também sabemos que a democracia, entre muitos outros princípios, tem na liberdade de expressão um dos seus maiores pilares.
Portanto, tudo o que constitua uma proibição, ou uma limitação a essa liberdade, é um acto antidemocrático.
Pessoalmente mais do que o discurso do ódio, o que sinto que existe é a inveja, a má língua e, sobretudo, a calúnia. Podemos chamar a isto de ódio? Tenho dúvidas e mesmo alguma dificuldade em aceitar que, o que desse tal ódio lá possa existir, justifique qualquer medida governamental no sentido de censurar – porque é de uma censura que se trata – a opinião que os jornalistas ou os opinion makers possam expressar.
Parece-me então mais lógico que haja, à semelhança dos jornais, um a espécie de “estatuto” que regula os princípios a que devem obedecer os seus utilizadores. Deste modo quem lá escreve sabe  à partida o enquadramento e os riscos que corre.
Sem essa reserva estabelecida, as limitações ao “discurso” do ódio podem tornar-se, elas próprias, em ferramentas perigosas, e levar simplesmente pessoas de bom senso a transformarem-se em criaturas quem se tornam capazes de odiar quem odeia...

HSC