quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Por causa da maternidade!

No tempo em que fui mãe, as férias de parto não existiam. Nem existia qualquer apoio à maternidade. Tive os meus filhos, como muitas mulheres da minha geração, tentando conciliar vida profissional e vida familiar. Muitas horas de sono perdidas, mas muita satisfação à mistura. Porque se queria ter vida profissional, na época, era assim. Muito, felizmente, se evoluiu nesta área. E muito falta ainda fazer. 
O apoio da familia era escasso porque a do marido vivia no Alentejo e a minha estava em África. Venci todos estes obstáculos num tempo em que o companheiro preparava um doutoramento, já que o meu ficara adiado com a primeira gravidez. Foi difícil? Foi. Como terá sido para milhares  de mulheres deste país que não tinham sequer uma carreira, mas cujo salário era necessário ao sustento dos seus. Mulheres que, inclusivé, aceitaram trabalhar por turnos...
Há dias uma deputada não aceitou um convite para um debate, invocando a sua condição de mãe solteira de uma criança de 3 anos e explicando o excessivo tempo de trabalho desse dia, superior às tradicionais 8 horas. Fiquei surpreendida, confesso.
É que, talvez por ter tido a experiência que referi vejo, com alguma dificuldade, a aceitação de responsabilidades profissionais de grande exigência, quando se sabe, à partida, que elas irão impor sacrificios à vida familiar que se não está disposto a aceitar. Parece-me tremendamente injusto para o mundo laboral feminino que alguém as invoque, como explicação para aquilo que não faz ou não fará. 

HSC

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Parasitas



Não é muito frequente sair de um filme e não conseguir encontrar as palavras que possam definir as reações que o mesmo me provocou. Mas foi o que aconteceu, ontem, comigo, ao ver o filme sul coreano PARASITAS. 
Só o título me causou um certo arrepio, mas filho e neto insistiram que eu ia gostar e relembraram – me a obra do realizador que eu já vira. O argumento foi eficaz e assim lá fomos os três.
Trata-se de um filme longo – para os orientais o tempo demora mais – e que conta uma história feita de várias histórias em que o imprevisto está sempre à flor da pele. Por vezes, calculem a ousadia, senti-me num filme de Woody Allen ou até num de Jacques Tati, tal a comicidade subtil de certas cenas. Para mim é um filme magnífico. Mas não sei se toda a gente saberá apreciar aquele género de cinema.
Vim para casa a recordar com o meu filho alguns pormenores da película cuja "marca" poderia ter a assinatura de Allen ou de Tati. Ambos rimos, de gosto, com elas. Depois, ao deitar-me, percebi que o ser humano, nasça na Coreia do Sul ou em Portugal, tem sempre uma parcela, por mínima que seja, de um ADN comum. E isso reconfortou-me!

HSC

domingo, 27 de outubro de 2019

Chuva em New York


Fui ver o último filme de Woody Allen, Um dia de chuva em Nova Iorque, e, confesso, gostei bastante. Mas duvido que, comercialmente, ele possa constituir um sucesso. 
A sua paixão por aquela cidade continua a ter o mesmo fulgor, mas nota-se – noto eu -, no realizador uma melancolia mais acentuada, por não poder estar lá, ou melhor, por não o deixarem viver lá. Aliás, os americanos, com o seu tremendo puritanismo, continuarão a não poder ver mais este seu filme.
É uma história de amor, contada “a prestações”, que põe à vista muitos comportamentos da sociedade actual e, como sempre, tem momentos fabulosos. Exemplo disto, é a conversa a dois, olhos nos olhos, que a mãe decide ter com o filho e que, a meu ver, constitui um dos grandes momentos da película. 
Eu saí da sala com a impressão de ter visto algo diferente de uma comédia e que meu comigo. Creio ser, repito, uma fita que exige do espectador uma grande capacidade de saber ler nas entrelinhas...
Um espetáculo a não perder para uma mente aberta e um gosto muito especial por Woody Allen!

HSC

Very fashion!


Rafael Esteves Martins nasceu em Lisboa há 31 anos. É investigador bolseiro, com formação em estudos artísticos (licenciatura) e comparatistas (mestrado). Desde cedo despertou para a política, onde foi dirigente associativo da Escola Secundária Padre Alberto Neto e presidente de três comissões eleitorais da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e co-redactor do Manifesto por um Futuro Europeu. 
Foi militante da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) antes de ser fundador do Livre, o partido liderado por Rui Tavares que, pela primeira vez, elegeu uma deputada à Assembleia da República, a afrodescendente Joacine Katar Moreira. 
É sócio fundador da Estufa – Plataforma Cultural (Torres Vedras).
Segundo a página do Livre, tem como interesses a literatura-mundo, os estudos camonianos e a aprendizagem do sânscrito. 
Actualmente é assessor de Joacine e no dia 25 apresentou-se na Assembleia da República vestido com uma saia preta, meias cinzentas e sapatos rasos. Ignora-se qual a influencer que poderá ter ditado a sua opção, mas a mim, pareceu-me bastante fashion!

HSC

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Acontece...


primeiro dia do Parlamento assemelhou-se a um primeiro dia de aulas. Alguns deputados, que só conheciam o hemiciclo das transmissões televisivas tentavam, com alguma dificuldade, encontrar a porta de entrada e o seu lugar no hemiciclo. E lá iam sendo conduzidos por alguém que já conhecia os cantos à casa. 
Talvez por isso, Mariana Mortágua acabou sendo abordada por três novos deputados, indecisos diante da porta do plenário ainda fechada. 
- “Desculpe, como é que se entra?”, pergunta um deles, hesitante. 
- “É nesta porta à direita e sempre em frente”, explica Mariana.  
Claro que perante tal resposta, houve logo quem sorrisse, ao ouvir a deputada bloquista, recomendar a alguém que seguisse “à direita e sempre em frente”!

HSC

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O livro!


O livro é, sem dúvida, uma preciosidade. Mas ler um livro impresso, que tem cheiro e se manuseia, continua a ser um prazer que nenhuma tecnologia substitui!


HSC

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Impossível não sorrir...

O humor entre nós é tremendo. Ora vejam o que acabo de receber no telemóvel!

"Se bem entendo, temos um secretário de estado adjunto e da administração interna e uma secretária de estado da administração interna, mas não devem ser confundidos com o secretário de estado da descentralização e da administração local, e muito menos com o secretário de estado do ordenamento do território que, naturalmente, não se confunde com o secretário de estado do planeamento nem com o secretário de estado das infra-estruturas, sendo os dois diferentes do secretário de estado da mobilidade, mas também do secretário de estado do desenvolvimento regional, totalmente distinto da secretária de estado da valorização do interior que, em qualquer caso, em momento nenhum pode ser associada ao secretário de estado do desenvolvimento rural.
É agora que o território nacional vai ficar um brinquinho."

                (Texto atribuido a Henrique Pereira dos Santos)

HSC

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Marcelo e as influencers...


Marcelo Rebelo de Sousa recebeu, no Palácio de Belém, em Lisboa, várias dezenas de influencers portugueses. Com efeito, o Presidente mandou chamar a Belém quatro dezenas de pessoas que marcam a diferença pela sua presença nas redes sociais, num encontro que ficou de fora da agenda oficial. O programa, claro, incluiu, como seria de esperar, muitas selfies.
Estas cerca de 40 personalidades, na sua maioria associadas à moda e beleza, mas também às artes de representação, ao humor ou ao activismo social — que, nas redes sociais, somam fãs e uma posição de relevo —, compareceram em Belém, para uma conversa com o Presidente da República sobre a importância dos influencers no mundo do digital.
O convite seguiu para nomes como as Youtubers Sea3po e Mafalda Sampaio (Maria Vaidosa), a blogger Maria Guedes ou a apresentadora Raquel Strada. 
Aliás, esta última, partilhou logo no seu perfil de Instagram, que quando o Presidente da República te convida para ires ao palácio debater ideias, metes o fatinho e vais”. “No fim [do encontro com Marcelo Rebelo de Sousa] tiras uma foto, que eu e as selfies não nos damos bem”, escreveu a apresentadora que conta com 384 mil seguidores. E rematou “agora, a sério, estou muito feliz com o resultado deste encontro e tenho a certeza que estamos todos confiantes que vão sair daqui coisas espetaculares”.

                          excertos retirados das redes sociais

Confesso que, no inicio, fiquei um pouco baralhada com a avalanche de noticias e quantidade de fotos de Marcelo com as influenciadoras de moda e beleza, que vêem deste modo, consagrada uma nova profissão. E, pelo interesse presidencial, de vital importância para o país.
Só tenho pena que o Presidente não tivesse convidado quarenta dos nossos grandes cientistas e nos desse a conhecer o seu trabalho. Mas nos dias de hoje só posso exclamar " é a vida". A que temos, claro!

HSC

domingo, 20 de outubro de 2019

Ensinamentos!

"Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer as suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigos do ambiente.

A senhora pediu desculpas e disse: 
- Não havia essa onda verde no meu tempo.
O empregado respondeu: 
- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso meio ambiente.

- Você está certo - respondeu a senhora. 
A nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava-as de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso. E os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, muitas outras vezes, sempre esterilizadas.
Realmente, não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. 
Até as fraldas de bebês eram lavadas com sabão, porque não havia fraldas descartáveis. A secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas secadoras elétricas. A energia solar e eólica é que realmente secavam as nossas roupas. 
Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela de 14 polegadas, não um telão do tamanho de um estádio, que depois será descartado, não sei como.
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia batedeiras elétricas, que fazem tudo por nós. Quando enviávamos algo frágil pelo correio, usávamos jornal velho como proteção, e não plástico bolha ou pellets de plástico, que duram cinco séculos para começar a se degradar.
Naqueles tempos não se usava motor a gasolina para cortar a relva, utilizávamos um cortador que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não era preciso ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos água diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos.
Na verdade, não tivemos uma onda verde naquela época. Naquele tempo, as pessoas tomavam o electrico ou autocarro coletivos e os meninos iam nas suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar os pais como serviço de táxi 24 horas. 
Então, não surpreende que a atual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não queira abrir mão de nada e não pense em viver um pouco como na minha época!"

Aqui fica, numa espécie de metáfora, uma aula gratuita, dedicada aos jovens que tem tudo nas mãos e só sabem criticar os mais velhos, ministrada por uma idosa considerada ultrapassada!.

HSC

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

O enorme valor dos amigos!

Depois da passagem pela TVI fiquei mesmo cansada, pese embora todos me tivessem tratado como uma princesa. Tudo o que pedi foi satisfeito e senti que todos compreenderam que eu só aceitara fazer aquelas cinco semanas, por amizade com a Felipa Garnel. 
Há muito que me vêm convidando para voltar à televisão e há muito que venho recusando, por saber muito bem qual é o formato em que eu mais renderia e o que me têm pedido não corresponder às minhas expectativas. Para ser inteiramente verdadeira um deles, bem recente, estaria lá muito próximo, mas como em tudo na vida, houve um senão, que foi a negociação das condições financeiras. E, aí, não chegámos a acordo.
É que eu prefiro não trabalhar, a faze-lo por um preço que não corresponda àquilo que eu entendo ser o meu valor. É um critério que sigo há muitos anos, talvez porque me posso, ainda, dar a esse luxo.
Este longuíssimo intróito vai explicar o que vem a seguir.
Vivo num prédio onde somos quatro condóminos. Difícil seria, não ter com qualquer deles relações de grande correção. De facto, assim é. À excepção de um, que está sempre alugado pelo proprietária, em termos de grande rotatividade e do qual não conhecemos nem inquilinos, nem dona.
Porém, desde que ali vivo, já lá vão perto de 30 anos, um dos andares trouxe-me sempre gente, que se havia de transformar, com o tempo, no que chamo de grandes amigos. Os últimos, chegados há 3 anos - a Rita decoradora e o António advogado -, foram mesmo o que chamo de algo especial e que se assemelha muito com a que tive com os primeiros proprietários, que continuam, para mim, a ser elementos de uma família escolhida.
Pois bem, quer a Rita quer o António, quando me vêem mais cansada, levam-me com eles para o Alvito onde têm duas casas maravilhosas, que gostam de ter sempre cheia de amigos, parte dos quais hoje já são, também, meus. A sua qualidade humana é tão rara que decidiram fazer de um palheiro um quarto, para que eu ficasse na sua habitação e não na das vistas.
Fui estrea-lo este fim de semana. É uma suite encantadora toda forrada a madeira, onde não falta nada de que possamos carecer. Para além disso e dos repastos em casa, saltitamos também a comer em sítios que só eles conhecem.
Este fim de semana teve, porém, um happenning. É que o António levou-me a passear, montada numa moto quatro,  perante a rizada de todos os amigos presentes. E eu, com esta idade, adorei... Foi um fim de semana de luxo, que só a muita amizade deste casal me poderia proporcionar.
Acresce que a casa, linda, e os seus donos, sempre que lá estão, atraiem montes de amigos, que ali se sentem bem tratados e em total à vontade. E eu que já tenho pouca familia, quando estou com eles, volto ao tempo da minha infância rodeada de primos e primas.
Bem hajam, Ritinha e António, pela  já muito rara amizade que ambos me dispensam!

HSC

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Aquilo de que gosto!


Daqui a uma semana, ou seja no próximo dia 23, estará nas livrarias o meu novo livro, de que vos mostro a capa, acima.
Os livros são sempre uma parte de nós. Talvez por isso, quando saem das nossas mãos , o sentimento que temos é semelhante ao de ver um filho levantar asas e largar os progenitores, para seguir o seu caminho. A partir daí, ele é mais vosso do que do seu autor. Cada leitor irá lê-lo de forma diferente. O livro irá transformar-s e já não será, mais, apenas aquilo que o autor escreveu. Será, também, aquilo que o leitor nele percepcionou, dando-lhe uma alma nova.
O que eu desejo, quando escrevo, é exactamente isso. E a cada novo título, o que eu espero, é que ele seja mais uma obra escrita, afinal, a várias mãos. As minhas e as vossas!

HSC

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Pronto, já está!

A experiencia televisiva acabou! Durante cinco semanas, no meio de discursos politicos e campeonatos de futebol, um quarteto ao qual pertenci, pretendeu desanuviar o espírito de quem só nos falava das desgraças eminentes ou das complexas estratégias futebolísticas.
Embora seja muito cansativo fazer um programa de televisão diário, sobretudo aquela hora e porque apenas tivemos uma semana e um "piloto" para nos prepararmos, julgo que cumprimos aquilo que prometemos e no fim já só acontecia o inesperado e era nele que funcionávamos melhor.
Sei que me diverti, me irritei, e ri. Tudo ao mesmo tempo. Fiz este sacrifício - estava muito longe de pensar aceitar voltar à televisão - porque sou muito amiga da Felipa Garnel que já fez, por minha causa, alguns "sacrificios". Não me arrependo. Ganhei amigas e amigos que conhecia mal e confirmei as qualidades humanas da Silvia Rizzo, que todos devíamos conhecer melhor.
Como se costuma dizer aqui em casa, face às dificuldades, "pronto, já está. Até à próxima..."

HSC

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Partiu Manuela Silva


Conheci Manuela Silva depois de me ter tornado amiga de Lurdes Pintassilgo e ao mesmo tempo de Adérito Sedas Nunes e João Salgueiro. Todas estas pessoas deixaram em mim uma marca que, ao longo da vida, jamais se desvaneceu. De cada uma e de cada um recebi ensinamentos. 
Acabo de ter conhecimento da morte da Manuela, tendo já perdido o Adérito e a Lurdes. Aos poucos, devagarinho, vão-se esvanecendo bocados de mim.
A Manuela, com aquele seu olhar límpido que todos lhe conhecíamos, era muito mais que a Presidente do Movimento Internacional dos Intelectuais Católicos, ou da Comissão Justiça e Paz ou da Fundação Betânia. 
Ela foi a pioneira do desenvolvimento comunitário em Portugal e era alguém profundamente preocupada com as desigualdades ou com a injustiça social.
Guardo e guardarei sempre dela a imagem da colega, da amiga e da profissional que nunca se dobrou perante aquilo em que não acreditava. 
E, quem sabe, talvez por isso, fosse menos ouvida, conhecida e admirada do que devia. Em Portugal as ideologias ainda separam muito as pessoas...

HSC

Dias polisipos

Descobri — numa carta de Clarice Lispector para Lucio Cardoso — que polisipo, em grego, significa “pausa na dor”. Estes dias, que se estão a seguir às eleições, têm sido para alguns partidos, dias polisipos. Vai demorar tempo até que se tornem dias normais!


HSC

Grande Fernanda Montenegro!


Uma mulher extraordinária a falar pela boca de outra mulher igualmente singular!

HSC

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

No Devagar Depressa dos Tempos


Marcelo Duarte Mathias nasceu numa família ligada ao anterior regime. Com efeito, o seu pai, um homem cativante, foi diplomata e ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar. O filho, que estudou em Oxford, seguir-lhe-ia as pisadas e entrou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros aos 31 anos, onde fez uma carreira brilhante. 
Passou por Brasília, Bruxelas, Nova Iorque, Nova Deli e Paris (UNESCO). A síntese desta vida encontra-se em No Devagar Depressa dos Tempos, uma antologia agora publicada pela D. Quixote e que é uma compilação do que de mais relevante Marcello Duarte Mathias escreveu nos seus Diários. 
Trata-se de uma compilação de textos descritos com humor e perspicácia e que nos revelam as riquíssimas vivências de um diplomata e os seus encontros com figuras importantes ao longo da sua carreira.
Marcello Duarte Mathias começou a escrever com cerca de 24 anos sem bem perceber, na altura, porque o fez. Mas, porque a escrita foi intermitente, só começa a publicar, em 1980, os seus diários. O primeiro recobre o período de 1962 a 1969. Passariam mais de vinte anos até voltar a reunir em volume as suas notas diarísticas, congregadas então em torno da sua experiência como Embaixador na Índia ((1993-1997). Depois deste Diário da Índiasurge o posterior Diário de Paris (2001-2003) e, em ambos, surgem notas de viagem e estadia pontual noutros lugares, sejam elas de estadia no estrangeiro ou de “regresso” ou passagem pela sua casa em Cascais. 
É quando volta a Portugal, em 2007, depois de vários postos na carreira, que recomeça a escrita e irá surgir o Diário da Abuxarda (2007-2013), para mim um dos que mais me tocou.
Para o autor, escrever é uma forma de redenção e de se encontrar. Escrever um diário é, também, a necessidade, a certa altura, de a pessoa fazer um balanço da sua vida.
Lúcio Cardoso sugere, sobre este tipo de livros intimistas, que o diário é feito da ausência de acontecimentos, de uma introspeção, de um momento de repouso, enfim, de um no man’s land. Mas é nessa terra de ninguém que, afinal, se vai exumar aquilo que nos dilacera, aquilo que nos comove, aquilo que nos cativa. 
O autor confessa que o seu Pai foi a pessoa que mais admirou, mas hoje, admite que, talvez - quem sabe -, essa admiração, por ter sido tão grande, o possa ter inibido de se afirmar.
Sou, de há muitos anos, uma leitora atenta deste tipo de escrita tão pessoal e peculiar. Portugal não é fértil na escrita diarista. Mas Marcello Duarte Mathias é, neste campo, um dos melhores. 
Vale, por isso, a pena fazer essa longa peregrinação interior na sua companhia!

HSC

domingo, 6 de outubro de 2019

Comida de Tacho


Gosto muito de Catia Goarmon como mulher e como apresentadora. Além destas qualidades, reconheço-lhe outras que para mim são cativantes: um sorriso doce, o respeito por quem a olha e segue e uma simplicidade desarmaste. Tudo características que fazem com que a considere como amiga, pese embora não a conhecer pessoalmente.
Acabei de ver com toda a atenção o seu último livro. Como autora de cinco livros de cozinha que sou, como cozinheira e comilona que também sou, deliciei-me com a sua nova obra, intitulada COMIDA DE TACHO. A capa traz a nossa Cátia no seu melhor e o conteúdo é de encher o olho de quem, como eu, gosta de cozinhar e de comer. 
Editado com muito cuidado, cheio de fotos que atiçam o apetite e nos permitem, também, conhecer um pouco aqueles com quem e para quem gosta de cozinhar, o livro tem tudo para ser um sucesso. Tanto ou maior do que aquele de que goza a sua autora.
Sigo a Cátia desde o seu primeiro episódio. Sempre me encantou o seu jeito de manusear os alimentos e, algumas vezes, tive mesmo a sensação de estar ali na cozinha ao lado dela. Por isso, creio ter autoridade para dizer que foi um gosto vê-la, ao longo dos meses, transformar-se numa mulher muito bonita e cuidada sem nunca ter perdido aquilo que em si é essencial: a simplicidade de saber fazer, o gosto de saber ensinar e a capacidade de nos encantar. 
A Cátia e a editora estão de parabéns. Por isso aqui vai o meu abraço à autora que merece todo o nosso carinho!

HSC

sábado, 5 de outubro de 2019

Um dia muito feliz!


Costumo dizer que a felicidade é feita de muitos momentos felizes.  O dia de hoje é, para mim, um desses momentos, em que me foi dada ocasião de assistir à subida de José Tolentino de Mendonça a Cardeal.
Não porque isso altere nalguma coisa a relação de amizade que nos une, mas porque fico muito feliz ao ver reconhecida pelo Papa a qualidade humana e cultural deste homem que conheci na ocasião mais dolorosa da minha existência. 
Depois dos meus pais, dos meus filhos e da escassa família que me resta, o padre Tolentino, agora Cardeal da Igreja, é a pessoa mais importante da minha vida, aquela que, eu sei, velará sempre por mim.
Assim, no dia de hoje, sinto-me muitíssimo feliz. E enche-me de alegria poder partilhar este momento, com todos os que me lêem e também apreciam aquele que sempre veremos como o nosso padre Tolentino!

HSC