quarta-feira, 4 de setembro de 2019

A ressaca

“Contrariando os números oficiais sobre o crescimento da economia e a queda do desemprego, menos de um terço por portugueses sentem que a crise económica foi ultrapassada e 53,5% estão mesmo convencidos que esta ainda não passou.A conclusão é de um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, coordenado por Luisa Schimdt.
...A investigadora defende que estes números e a perceção dos portugueses sobre a existência ou não, ainda, de uma crise, mostram que, no fundo, estamos de "ressaca" e que a crise económica de 2008 foi tão forte e afetou tantas pessoas que deixou marcas profundas.”

                                    Elementos colhidos na TSF

Há algum tempo que desconfiava de que esta era uma realidade psicológica que se pretendia esconder, já bastante antes das eleições. 
Para quem como eu pertence a uma classe média que vive do seu trabalho, é dona de casa a tempo inteiro, faz as compras de supermercado, e paga todas as contas relativas ao seu nível de vida, os resultados daquele estudo não surpreendem. 
Já aqui escrevi, por mais de uma vez, que o aumento do custo de vida não acompanhava a subida das pensões e dos salários, sobretudo os mais baixos.
Com efeito, o trauma da crise de 2008 está longe de ter sido superado. Ele subsiste sob a forma de medos vários que persistem, nomeadamente no que se refere à saúde e à eventual perda de emprego. E isto, mesmo entre os mais novos...
No caso dos traumas individuais, as pessoas tratam-nos ou no psiquiatra, ou no analista. No trauma colectivo o processo é bem mais difícil, porque para além do sentimento geral, há a vivencia, o comportamento, próprios de cada um. Ou seja, vive-se uma espécie de duplo traumatismo.
Não são os discursos dos políticos a dizer que está tudo bem, ou tudo mal que aliviarão os nossos medos. Pelo contrário, já que muitos de nós, pensam que quando esse discurso acontece, é porque algo pode vir a correr mal.
Entrámos no período eleitoral. Ou seja, na altura em que se vai ouvir dizer justamente o contrário do que este estudo afirma. Vamos ter que ter muita paciência...

HSC

3 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Um dos problemas que se aponta frequentemente aos governantes aqui em Macau é que não vivem na cidade, vivem numa realidade alternativa.
Como é óbvio, não é só em Macau...

Mea Culpa Mea Maxima Culpa Miserere Dominus Meo disse...

a paciência é apanágio dos portugueses, pelo menos quanto à política

Anónimo disse...

António Costa dá um chega para lá ao BE, para tentar a maioria, embora diga que esta é de má memória, e é. Depois se for preciso fará um chega-te para cá. As campanhas são sempre períodos em que é ativada a máquina e o seu xadrez, não se podem esperar debates orgânicos, ligados à realidade, à vida das pessoas, sobre ambiente, saúde, educação, cultura, ciência, finanças, etc.
A consequência de tudo isso é uma maioria, sim, A MAIORIA DA ABSTENÇÃO.