"D. José Tolentino de Mendonça, o novo arquivista e bibliotecário da Santa Sé, foi este sábado ordenado bispo no Mosteiro dos Jerónimos.
Numa cerimónia presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente destacou a sensibilidade de diálogo do novo arquivista e Bibliotecário da Santa Sé, e elogiou a “fecunda escrita” do novo bispo.
“Agradecemos ao Papa Francisco por te ter escolhido para zelar por um património único de memória criativa. Imensamente maior é o nosso mundo, com quanto tudo nos espera, com quanto atinge de bom e menos bom. A tua inteligência e sensibilidade saberão partilhar o que agora é confiado ao teu bom zelo, e que assim mesmo crescerá também”, disse o cardeal-patriarca, durante a homilia.
O novo bispo recebeu, simbolicamente, os livros dos Evangelhos, a mitra e o báculo, como sinal da sua missão de pastor.
"Sou mais um português ao serviço da Santa Sé"
Quando tomou a palavra D. José Tolentino de Mendonça falou sobre a escolha do Papa Francisco, afirmando continuar a desconhecer as razões que levaram o Santo Padre a escolhê-lo para o cargo.
D. José Tolentino de Mendonça apontou ainda a sua falta de experiência como bispo, dizendo que ainda vai precisar de aprender a sê-lo. “Há 28 anos eu não sabia ser padre, como agora neste momento diante de vós eu não sei ser bispo. Vou ter de aprender com o povo de Deus”, lembrou, durante a cerimónia.
“Num dia como este, nós olhamos para a nossa vida como um filme em que parece que é possível ver de uma só vez. Eu tenho dois sentimentos muito grandes. O primeiro é sentir que Deus me ama. Não tenho dúvidas disso. De uma maneira que eu nem vos digo. O seu amor abisma-me, deixa-me sem palavras. Sei que Deus escolheu amar-se da maneira mais sublime, através de cada um de vós”, disse ainda o novo arquivista e bibliotecário da Santa Sé, que começará a exercer o cargo no dia 1 de Setembro.
Antes da ordenação, foi proclamado publicamente o mandato apostólico, do Papa, por um responsável da Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé em Portugal).
Francisco explicou que confia ao arcebispo madeirense um serviço numa instituição de “grande relevância”, que acolhe investigadores de todas as partes do mundo.
O documento destaca o cuidado que a Igreja Católica presta ao “repositório dos documentos antigos e aos tesouros da cultura humana”, que exigia, na escolha pontifícia, uma pessoa “exímia” para “zelar pelos escritos e testemunhos que os tempos legaram”.
Ao longo de quase duas horas e meia, a cerimónia de ordenação episcopal como arcebispo titular de Suava (norte de África) foi marcada por um ambiente muito especial. Até as vestes de Tolentino surpreenderam. Com efeito, o tecido de que eram feitas inspiravam-se no material das serapilheiras, que sobressaia no branco leite das vestes daqueles que o acompanhavam. Foi, seguramente, a vontade de se aproximar dos mais desfavorecidos que terá estada na base da sua escolha.
Considero que me foi dada uma rara oportunidade, ao ver esta cerimonia. Não sou de choros públicos mas, neste caso, as lágrimas correram-me discretamente pela face. Impossível nega-lo. Toda a minha familia lhe deve muito e, eu em particular, talvez não vivesse com tanta alegria a minha fé se o não tivesse conhecido.
Não sei se, ou quando, o voltarei a ver. Mas o abraço apertado que lhe dei, foi o de quem espera que as sementes que em mim lançou, me tornem mais forte e melhor pessoa. Bem haja, meu querido amigo Tolentino, por tudo aquilo que em mim soube semear!
HSC