domingo, 29 de abril de 2018

O tempo e a vida

Com este Abril, para mim desolador, conto os dias até ao 1 de Maio, data em que o meu filho Miguel faria sessenta anos. Esta semana é duríssima de passar, porque sempre sonhei que seria uma data a celebrar. Por ele que os fazia e por mim que estava viva e assistia. Não quis o destino que assim fosse. Os amigos sabem, a familia sabe, mas ninguém sabe como proceder.
A vida tem destas dificuldades. Queremos ajudar a suavizar o sofrimento de alguém, mas não encontramos o caminho certo para o fazer. No meu caso concreto, são sete dias mais ou menos silenciosos e a única quebra que faço é talvez o que escrevo neste blogue.
Creio que todas as coisas importantes que acontecem na nossa existência carecem, no imediato, de um profundo silêncio interior. Só quando este está verdadeiramente terminado é que o espírito se abre ao quotidiano e nós estamos capazes de falar sobre aquilo que nos silenciou.
Ao longo da minha vida terei tido cinco ou seis momentos destes. O penúltimo terá sido quando decidi deixar o Banco de Portugal para começar uma nova carreira, que nada tinha de seguro, mas que correspondia a um sonho muitas vezes adiado. Nessa altura precisei, também, de um período silencioso, de uma espécie de caminhada interior ou, melhor, de uma peregrinação intima da qual jamais me arrependi.
São tempos essenciais para, afinal, tentarmos ficar de bem com a vida!

HSC

terça-feira, 24 de abril de 2018

Mais um ano


Passa hoje, neste malfadado mês de Abril, que risquei do calendário, mais um ano que o meu filho Miguel me deixou. Sempre acreditei que o tempo seria o grande obreiro da memória, atenuando quer a dor quer a forma como o lembrava. É mentira.
A dor foi-se entranhando fundo, como um espinho. E a memória está cada vez mais viva. Uma só consolação me resta que é de já quase não me lembrar da sua actividade política.
Recordo risos, recordo conversas, recordo até algumas discussões que tivemos, sempre pelo mesmo motivo, que era a minha profunda convicção de que só trabalho dignifica as pessoas. 
É esse Miguel, livre de constrangimentos de qualquer natureza, que eu mais relembro e do qual tenho cada vez mais saudades. Digamos que, por fim, consegui o prodígio de ter afastado totalmente das minhas lembranças, a sua vida política. Hoje elas são, exclusivamente, do "meu filho" e é apenas o "meu Miguel", que agora choro na intimidade daqueles que me são caros!

HSC

domingo, 22 de abril de 2018

Assim não vais longe...


Depois de duas semanas de um tempo miserável e de uma televisão que se concentrou nas corrupções nacionais, achei que era altura para arejar nem que fosse a ver uma qualquer idiotice que me fizesse rir e me mostrasse que há vida para alem do deficit. 
Nesta perspectiva decidi-me por uma comédia francesa, em cartaz nas Amoreiras. Não conhecendo actores nem realizador, estava reunida a possibilidade de ir ver uma tremenda idiotice. Mas nada seria pior do que ficar em casa, a ouvir as nossas notícias. Pois bem, tive uma agradável surpresa. 
"Assim não vais longe" é uma comédia light, sem lamechices e que prova o trabalhão que dá manter uma mentira até ela ser descoberta. Nada que os mentirosos compulsivos não saibam já. Mas, de vez em quando, é bom lembrar quem já esqueceu...
Saí bem disposta, ri um bom bocado e, por momentos, pareceu-me viver num país normal e sem tropelias. Mas, claro, quando cheguei a casa e liguei o icónico aparelho, tudo voltou ao que era antes. Uma pena!

HSC

segunda-feira, 16 de abril de 2018

O Elogio da Sede



O Elogio da Sede foi o tema que o padre José Tolentino Mendonça propôs ao Papa Francisco, quando este convidou, pela primeira vez, um padre português a orientar os exercícios espirituais da Quaresma para os responsáveis da Cúria Romana.
Durante 5 dias, em Fevereiro, o Padre Tolentino teve a seu cargo duas meditações diárias, com o resto do tempo em silêncio, para que cada pessoa se confrontasse com a reflexão proposta.
Foi sobre essa busca e sobre esse tatear na procura de Deus, que Tolentino se debruçou, numa mescla de investigação de textos bíblicos e inspirações literárias e artísticas que marcam a sua obra, quer como poeta, quer como ensaísta
É esse cruzamento permanente que transparece no livro agora publicado, com prefácio do Papa, no qual se reúnem as suas dez meditações. Das quais, aliás, no tempo da Quaresma, aqui fui dando conta neste blogue. 
O maior risco deste livro é o de se tornar numa das grandes obras da mística actual.

HSC

domingo, 15 de abril de 2018

De facto!


Recebi esta mensagem de um amigo. É verdadeira. E muitas vezes descuramos as amizades, por preguiça ou falta de tempo, perdendo velhos amigos!

HSC

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Costa ou Centeno?

Neste momento, assalta-me uma dúvida cartesiana que é a de saber quem manda em Portugal. Uns dizem que é o PM Antonio Costa, outros que é o Ministro das Finanças Mario Centeno. 
Pessoalmente inclino-me para este último, que já comanda tudo. Só não comanda o futebol que bem precisa de ser comandado...
Com este tempo totalmente imprevisível, o país decidiu seguir-lhe o passo. Nada funciona, apesar de estar tudo muito melhor. Na educação não se entendem. Na saúde é o que se vê. Na banca não se encontra adjectivo adequado e no futebol a desorientação é total. E de tudo o governo de Passos é o responsável. Está certo. Parece-me uma evidência,
Só não consigo perceber é quem governa o país. Se fosse Antonio Costa, tomaria algumas cautelas e empenhava-me, a serio, na carreira internacional de Centeno, que desde que virou chefe europeu, até já aponta o dedo indicador...

HSC

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O nome e o golo


Enquanto toda a gente falava de Cristiano e do seu golo de bicicleta, não me apeteceu abordar o assunto. Fiquei tão atónita e mesmo comovida perante o espectáculo que vi, que perguntei a mim própria se não estaria a olhar para aquele golo como se de uma obra de arte se tratasse. Estava sim e não me custa nada confirma-lo, porque penso que foi mesmo disso que se tratou. O equilíbrio do esforço muscular com o objectivo pretendido foi tal, que seria impossível não se ficar maravilhado.
Gosto de CR7 e já o afirmei perante muitos que o criticam, basicamente pela forma como ele gasta o dinheiro que lhe sai do próprio corpo, ou pela inveja inconfessada daquilo que ele faz e não obedece aos padrões do chamado politicamente correcto. 
Ainda bem que Cristiano existe, porque ele leva uma parte significativa do bom nome de Portugal por esse mundo fora, até num golo em que o adversário se levantou para o homenagear !

HSC

quinta-feira, 5 de abril de 2018

E agora... a capa



Pronto, aqui fica a ultima etapa do suspense, ou seja, a capa, que costuma ser, depois da escrita, a parte mais difícil de esfolar. Curiosamente, desta vez, foi quase à primeira, Está lá tudo, desde a solidão do ser humano às pegadas que vamos deixando nos outros e  em nós próprios, do sol que nos ilumina aos maciços montes que acompanham o nosso caminho. É isto que vão encontrar no livro  que escrevi...



HSC

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Uma certa forma de vida

Aqui vai mais uma deliciosa informação. O novo livro já tem título e já tem capa. Por enquanto falo apenas do primeiro. Irá chamar-se "UMA CERTA FORMA DE VIDA" e como o nome revela será da vida de todos nós - mais uns do que outros - que irei falar. E de mim também, como se depreenderá. Estará nas livrarias a 19 de Abril. Sai na altura do Dia da Mãe e eu espero que muitas filhas decidam oferecê-lo àquelas que lhes deram a vida. Ficaremos todos muito contentes!

HSC

terça-feira, 3 de abril de 2018

Os pasteis de bacalhau

Não, não sejam já mal intencionados, logo a seguir à Páscoa. O título não é o que pensam...não tem que ver com a canção do Quim Barreiros. Vem de outro motivo, que é gastronómico. Quem me conhece sabe que sou bom garfo e que gosto de cozinhar. A fazer prova do que afirmo, aí estão no mercado seis livros de cozinha desta vossa amiga. Sou, de facto, boa cozinheira e não tenho pinga de modéstia em o afirmar. Devo-o ao meu esforço e a essa alma inspiradora que foi a minha avó Joana, mãe da minha mãe.
A que se deve este intróito? Aos pasteis de bacalhau. Mas àqueles que constituem uma surpresa porque são só bacalhau e sem pinga de gordura. Adoro este prato acompanhado com arroz de tomate malandrinho. Sou daquelas que ainda os faz à antiga, com o bacalhau desfeito num pano e não nessas máquinas chamadas "passe vite", manuais ou eléctricas, que apenas "trituram" os fios do peixe e lhe tiram toda a qualidade. 
Experimentei o prato em muitos restaurantes e tasquinhas, aos mais variados preços e sempre com o epíteto de serem os melhores. Paguei boas notas, por alguns muito bons "bolos de bacalhau" - nos menus finos - e por alguns "pastelinhos de bacalhau" nas tascas por onde andei. 
Mas nada se comparou, até hoje, aos que comi -  já por várias vezes, com a mesma qualidade - e espero continuar a comer, num dos melhores e mais agradáveis restaurantes que conheço em Lisboa, ou seja no JNÇQuois. 
É a segunda vez que aqui falo neste estabelecimento. Sempre por boas razões. Garanto que não tenho ligações financeiras nem familiares. Portanto, não tenho interesses a declarar. E, depois disto tudo, o prato não chega a 20 euros ... num restaurante de luxo, onde somos amavelmente atendidos!

HSC

segunda-feira, 2 de abril de 2018

As festas familiares


A "família", essa palavra que todos usamos e está na base da maioria de certos feriados é, para muitos, uma moeda de duas faces. Para uns porque já não existe, para outros porque se tornou pesada.
Ora é nas festas ditas familiares que esta dualidade mais se faz sentir. São dias em que se corre de uma casa para outra, num frenesim de repastos, ou que em que a nossa casa é invadida por uma "multidão" que, subitamente existe em simultâneo.
A partir da morte da minha Mãe, desaparecida no dia de Natal, este perdeu todo o lado festivo porque, ainda hoje, as saudades que tenho dela são imensas. Já quase lhe não relembro a cara, mas o cheiro, os gestos, as mãos, estão presentes diariamente. Depois o Miguel morreu e, confesso, desde aí, reuniões de familia alargada são, para mim, um sufoco. A morte recente do meu irmão mais velho só agravou a situação. 
Esta Páscoa era, por isso, uma incógnita que me andava a angustiar um pouco, visto que tinha combinado com o meu filho Paulo que os dois estaríamos pacatamente juntos.
Depois da morte do irmão e não estando mais que dez dias por mês em Portugal, ele tem sido inexcedível no apoio que me tem dado. Calculo que faça o mesmo com o Pai, mas francamente, agora, que só o tenho a ele, essa não é matéria sobre a qual me debruce.
Curiosamente, a vida troca-nos, quase sempre, as voltas. O meu irmão mais novo que saía sexta feira,  resolveu postergar, por três dias, a ida para África. Assim e sem esperar, acabámos os quatro a almoçar calmamente em Caxias na casa dele, rindo e brincando como se de nada especial houvesse a celebrar. 
Foi bom demais já que, agora, começa Abril, o meu pior mês do ano até ao dia 24, em que me despedi do Miguel. Depois é outra arrancada até 1 de Maio em que ele faria 56 anos...
Enfim, nestas alturas lembro-me de facto, de quem não tem familia e que lamenta isso. Respondo, sempre a rir, que há outros que a têm  em excesso. Mas percebo, que para os solitários, a época seja amarga, apesar dos doces que a caracterizam!

HSC