Com este Abril, para mim desolador, conto os dias até ao 1 de Maio, data em que o meu filho Miguel faria sessenta anos. Esta semana é duríssima de passar, porque sempre sonhei que seria uma data a celebrar. Por ele que os fazia e por mim que estava viva e assistia. Não quis o destino que assim fosse. Os amigos sabem, a familia sabe, mas ninguém sabe como proceder.
A vida tem destas dificuldades. Queremos ajudar a suavizar o sofrimento de alguém, mas não encontramos o caminho certo para o fazer. No meu caso concreto, são sete dias mais ou menos silenciosos e a única quebra que faço é talvez o que escrevo neste blogue.
Creio que todas as coisas importantes que acontecem na nossa existência carecem, no imediato, de um profundo silêncio interior. Só quando este está verdadeiramente terminado é que o espírito se abre ao quotidiano e nós estamos capazes de falar sobre aquilo que nos silenciou.
Ao longo da minha vida terei tido cinco ou seis momentos destes. O penúltimo terá sido quando decidi deixar o Banco de Portugal para começar uma nova carreira, que nada tinha de seguro, mas que correspondia a um sonho muitas vezes adiado. Nessa altura precisei, também, de um período silencioso, de uma espécie de caminhada interior ou, melhor, de uma peregrinação intima da qual jamais me arrependi.
São tempos essenciais para, afinal, tentarmos ficar de bem com a vida!
HSC