Esta tarde enquanto trabalhava recebi uma mensagem de uma jornalista a perguntar-me se queria dizer alguma coisa sobre a morte do Nicolau Breyner. Fiquei em estado de choque e só lhe respondi por educação, a dizer que acabara de receber a notícia por ela...
A tarde inteira o telefone tocou e eu não atendi. Não me apeteceu enfileirar no grupo de pessoas que tinham muitas coisas inteligentes a dizer sobre o Nico. Reservei para aqui o meu desconsolo.
Não sei quem mo apresentou há uns longuíssimos anos, mas creio que foi o Herman ou a Bola. Não tem qualquer importância esse facto. Conhecia-o há muito tempo e era visita usual da sua casa, onde só faltava ir de robe, tal a proximidade das residências e o à vontade que tínhamos. Foi nessa casa que conheci muitos outros e outras que hoje são meus amigos. A gente do cinema e do teatro foi-me, felizmente, sempre muito chegada.
Chorei, com lágrimas verdadeiras, a sua morte, porque quando desaparece um amigo próximo, fica-se sempre muito mais pobre. Eu fiquei.
Mas não me apeteceu partilhá-lo com declarações públicas. Quando muito fá-lo-ia com a Mafalda - a quem escrevi de imediato - e com as filhas. A intimidade só se divide com um número restritíssimo de pessoas. Os desgostos, esses, consomem-se em privado. Sempre defendi este critério. É o que farei, rezando por ele.
Ficam-me lembranças muito ricas de uma casa onde filhos, pais e amigos se sentavam todos à mesma mesa acompanhados de dois cães enormes que não arredavam pé das cadeiras dos donos. E a memória das imensas gargalhadas que demos juntos. A juntar cai a tremenda saudade que dele sentirei, ao fim de semana, na esplanada da Cristal.
HSC
Nota: Hoje há Estado da Arte
Nota: Hoje há Estado da Arte
13 comentários:
Que tarde triste, foi a minha filha de 18 anos que me deu a noticia, estava tão estupefacta como eu fiquei, este senhor atravessou gerações, que esteja em paz.
AC
"Até sempre Nicolau"
As palavras bonitas ficam para quem as sabe dizer.
Maria Isabel
🌷🌷🌷
Acabei de saber agora (22:47 hrs) ao ler o seu blog. Fiquei em choque! O Nicolau sempre fez parte da minha, nossa vida. Que pena! Estou mesmo impressionada. E só tinha 75 anos. Como católica só posso pedir que descanse em paz. Maria F. Silvestre
🌷
Que pena que tenho de uma pessoa com quem nunca privei, mas que sentia que me pertencia um bocadinho...não precisava de grandes discursos para entender a sua inteligência, sagacidade,cultura, bondade, humildade e a forma como se confundia com o que o rodeava. A sua luz permanecerá sempre na minha memória! Repose em paz, vou rezar!
M.Conceição Pinheiro
Nicolau Breyner era um daqueles actores que não deixava ningém indiferente. Daí ter ficado chocada a ve-lo fazer de porteiro no filme do Jeremy Irons. era uma afronta ao nosso grande, talentosissimo artista. Cresci com Nicolau Breyner, não me lembro de não o ver...e gostava sempre do que via...
Cheguei a acasa por volta das 16h. liguei o computador e fiquei a saber.
Toda eu tremi!
Nunca falei com ele pessoalmente.
Admirava-o muito e respeitava-o.
Paz à sua alma.
Portugal está a ficar muito pobre a todos os níveis.
Os meus cumprimentos.
Irene Alves
Helena
Existem pessoas que partem antes do tempo, o Nicolau foi um deles.
Penso que partiu sem saber, tranquilo como o seu ser demonstrava ser.
Fiquei muito triste com a noticia, pensei logo nas filhas que adoravam o pai, na falta que lhes vai fazer, em termos de afecto, do sorriso que lhes dava. Gostava do Nicolau da sua genuinidade, sempre alegre, um sorriso cativante, das palavras que emanavam da sua boca, um homem de valores. Não sei, se foi alguma vez condecorado pela presidência, mas se não foi era homem que merecia por todo o seu percurso profissional. A sua morte fez-me chorar, perder um pai sem esperar é duro, muito duro. Revi-me na dor das suas filhas. Devia ser um amigo daqueles que todos gostariamos de ter.
Entrevista a Nicolau
Lembra-se dos primeiros dias em Lisboa?
— “Lembro-me daquela coisa estranha que era abrir a porta e não estar na terra. E de ter uma caixa que era um elevador, que subia e descia. Nos primeiros dias era engraçado, mexia nos botões todos. Mas depois cansei-me. Era um animal de campo, estava habituado a levantar-me às seis da manhã e ir para o campo com o meu avô.” — Sábado, 2005
Olhando para trás, para a sua vida toda, o que é que o deitou abaixo? E o que é que o fez tão resistente?
Nasce-se resistente. Outra coisa, que é uma couraça, é o meu sentido de humor. O humor com que vejo a vida e o quanto me divirto a viver. Divirto-me a ir tomar um café ao “Chefe”, aqui na Lapa, a ver uma porcaria qualquer na televisão, a ler um livro, a rir com os meus amigos, a fazer as cenas mais dramáticas numa novela.
Na íntegra
http://anabelamotaribeiro.pt/nicolau-breyner-114891
Carla
Sou dona de uns insignificantes quase 34 anos de vida. Digo insignificantes por me parecerem poeira aos pés dos muitos e muito bem vividos anos com que já conta.
Ainda assim, esta morte, fez-me mais uma vez obviar o que muitas vezes nos passa ao lado: a maior riqueza que temos nesta vida (e dela levamos) é o produto das relações que mantemos.
O Nicolau Breyner teve a sorte de tê-la nos amigos próximos. A Helena Sacadura Cabral teve a sorte de ter o Nicolau Breyner no seu circulo de amigos próximos.
O Nicolau enquanto cá esteve foi muito rico e sai de cena com essa riqueza vivida.
A Helena é muito rica, pela multiplicidade de relações com pessoas humanamente muito desenvolvidas que estabeleceu e quando um dia partir, partirá com essa riqueza gravada em cada célula do seu corpo.
Um brinde à riqueza que um e outro proporcionou à vossa vida.
Helena
Dois grandes homens, o patrogonista na sua essência mais pura. Bebi cada palavra.
http://cabaredogoucha.pt/um-homem-decente/
Carla
Querida Drª Helena!
É muito triste perder um amigo, mas mais triste ainda é vê-lo sofrer!
Felizmente, não sofreu.
Um beijinho,
Vânia
Helena
Partilho um video com muita pena não consigo ouvir, mesmo activando o som. Nicolau deve contar uma história engraçada,pode ser que tenha sorte de a poder ouvir no seu computador.
http://like3za.pt/nicolau-o-substituto-de-ultima-hora/
Abraço
Carla
Enviar um comentário