Durante bastante tempo, confesso, fui uma espectadora regular das telenovelas brasileiras. Depois, como acontece com frequência quando consciencializamos que há outros lazeres mais úteis, deixei de as ver. Coincidiu com o aparecimento das nacionais, de que a única que segui, foi Vila Faia.
Agora, num destes dias de tempestade eleitoral, dei conta de que havia muita gritaria no televisor, mas que a cadência não era comicial. Acerquei-me do dito e percebi que se tratava de um diálogo - estou a ser gentil - entre duas mulheres acerca da filha de uma. Pareceu-me - porque o tempo não deu para mais - que gritavam demasiado. Por isso, zarpei para uma arruada, que sempre é uma telenovela mais paroquial. Tirei o som e debrucei-me, isso sim, sobre a linguagem corporal das caras mais conhecidas. Cinco minutos depois passava, deliciada, para a Fox Crime, onde assisti a mais um episódio da excelente série Vera.
Umas noites mais tarde repliquei o sucedido e, noutro canal, vejo uma filha a gritar desabridamente com a mãe sem que esta tivesse a mínima reacção. Fiquei confusa, sem saber se o azar era meu ou se a trama das nossas telenovelas terá a discussão violenta como forma de expressão sentimental.
Pode sempre dizer-se que a minha amostra foi muito limitada. É um facto. Mas que me pareceu estranha a coincidência, isso pareceu!
Bastante razão tinha uma antiga empregada minha que me dizia que só via telenovelas brasileiras, porque as nossas eram muito parecidas com o que se passava na casa dela…
HSC