sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Levar-se a sério


"Eu não me levo muito a sério. É a melhor maneira de viver. Aquele que se leva a sério está sempre numa situação de inferioridade perante a vida." 
                        
                                               (Agustina Bessa-Luis)

Já o escrevi várias vezes. Eu também não me levo muito a sério. Porque, se levasse, a minha vida deixaria de ter a graça que tem e os acontecimentos tomariam conta de mim. Ora eu não gosto nada que tomem conta de mim. Gosto de ser eu a faze-lo, mesmo que nem sempre o tenha feito da forma mais feliz. Acontece a todos. Só que, à distância, mesmo naquilo que não terá corrido pelo melhor, acabo sempre por descobrir um lado em que as coisas poderiam ter acontecido de modo bem pior.
Digo imensas vezes isto aos amigos que atravessam problemas sentimentais. Se são novos, lembro-lhes o risco que correriam se tudo se passasse quando já fossem velhos. Se já são entrados na idade, recordo-lhes os bons momentos que, apesar de tudo, também viveram...
Sempre apliquei este princípio à minha própria vida. E quanto mais velha vou ficando, mais me rio de mim própria, da importância que atribuí aos percalços por que passei e da coragem que tive nas asneiras que também fiz. As quais, aliás, à data, me souberam muito bem...


HSC

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Por onde vamos


Ontem, o programa "Por Onde Vamos", da Sic Notícias, decorreu nas instalações da Imprensa Nacional -  Casa da Moeda e teve como mote o Orçamento do Estado de 2015. Contou com João Salgueiro (economista, antigo ministro das Finanças, ex Presidente da CGD e da APB), Octávio Teixeira (economista, ex-deputado PCP), Alberto de Castro (professor da Faculdade de Economia da Universidade Católica do Porto) e José Manuel Fernandes (empresário, Frezite – fábrica de ferramentas de precisão).


Como já tenho dito, vejo muito pouca televisão nacional. Mas ontem ao ouvir o tema e os convidados, decidi que talvez valesse a pena assistir. Pessoalmente julgo que me foi útil. Não porque se tenha discutido o Orçamento, mas porque a primeira intervenção, feita por João Salgueiro, teve o enorme benefício de "situar" logo a discussão no que verdadeiramente deveria interessar ao país e sem o que, este ou qualquer outro Orçamento, mais não seriam do que peças soltas de um comboio cujo motor e motorista não tinham um objectivo definido.
De facto, o mais importante para Portugal e para os portugueses seria considerar o crescimento económico como uma prioridade e então discutir publicamente os caminhos possíveis para o alcançar. Assim, os portugueses teriam sido envolvidos na escolha, sabendo antecipadamente qual o preço que ela implicaria. Ao contrário, este governo, apresentou-nos desde o início as suas opções como as únicas possíveis sem definir qual a sua política de crescimento. 
Deste modo, os orçamentos não podem constituir mais do que um mero  exercício contabilístico, cujas parcelas servem para que as contas dêm certas. E isto vem sendo assim desde os anos noventa. Não é apanágio apenas daqueles que agora nos governam. 
Todavia, se há três anos este exercício de escolha do caminho tivesse sido feito, talvez as soluções encontradas pudessem ter sido diferentes.
Dir-se-á que nada disto é novidade. Não será. Mas os últimos acontecimentos ao nível da UE, mostram que Portugal, apesar da sua insignificância, ainda pode ser uma pedra no sapato daqueles que estão demasiadamente habituados à nossa complacência.
Foi um programa útil, no qual, pese embora ter-se falado de política, se abordaram os temas que verdadeiramente nos interessam. Seja com esta equipa ou aquela que vier a seguir. Por uma vez, não dei por mal empregue uma hora do meu descanso ligada a um debate televisivo!

HSC

A figura pública


Nem sei como explicar este fenómeno. Recentemente chegou às minhas mãos a carta de uma mãe a pedir-me orientação para que o filho pudesse satisfazer o seu sonho de se tornar uma "figura pública".
Primeiro julguei que tinha lido mal. À segunda tentativa admiti que seria um amigo meu, que quando reaparece das suas longas ausências - trabalha expatriado -, costuma faze-lo de modo inesperado e, por norma, servindo-se da maior comicidade. Porém, algo não batia certo a quem, como eu, o conhece muito bem.
À terceira leitura apercebi-me de que a carta era mesmo verdadeira. A pessoa assinava e deixava um número de telefone. Mandei ligar e confirmou-se a identificação. Só então percebi que o pedido era real e que o que se pretendia de mim seriam dicas para se chegar ao que cheguei como "figura pública"...
Dado que comigo acontecem sempre situações pouco comuns ao resto dos mortais, pensei no que é que poderia levar uma pessoa a colocar-me uma questão desta natureza. E depois de muito matutar na carta que me haviam escrito, confirmei algo que penso há muito tempo. E que está relacionado com o que, nos novos tempos, constitui o "sonho" de uma parte expressiva da juventude e que é o de se "ser conhecido". 
Não pelos bons motivos - esses sim, eventualmente, justificáveis - mas porque aparecer na televisão ou nas revistas cor de rosa se transformou numa espécie de obsessão. Dos filhos e, de certo modo, também dos pais. No caso vertente, fiquei mesmo com a impressão de que quem queria ser conhecida era a mãe daquele que pretendia dar-se conhecer. 
Depois disto e sem ir ao psiquiatra, acabei por soltar uma boa gargalhada a "ver-me" como figura publica de triste figura! Só a mim é que me acontecem destas...

HSC

domingo, 26 de outubro de 2014

O sexo e a idade


O Supremo Tribunal Administrativo reduziu o valor da indemnização que a Maternidade Alfredo da Costa terá de pagar a uma mulher que ficou impedida de voltar a ter relações sexuais com normalidade depois de ali ter sido operada há já 19 anos. Um dos argumentos invocados pelos juízes, com idades entre os 56 e os 64 anos, foi o de que a doente “já tinha 50 anos e dois filhos”, isto é, “uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança”. 

Abstenho-me das considerações clínicas que negam esta realidade. Vou directa ao que estava em discussão : a perda de um direito de personalidade. E relativamente a estes - nos quais a sexualidade se integra - nenhuma destas considerações tem qualquer relevância. 
A idade da lesada e a referência ao facto de ser mãe de dois filhos poderiam ser importantes se o que estivesse em causa fosse uma indemnização por perda da capacidade de reprodução. Não era manifestamente o caso. Nem tão pouco faz qualquer sentido, no século XXI, associar a maternidade à sexualidade. 
Curiosamente um dos magistrados pertence ao sexo feminino e, confesso, não sei o que terá sentido ao ver este retrato. Quanto aos homens e a atendendo às suas idades, sinto um calafrio só de pensar no que esta “avaliação” poderá dizer das suas próprias vidas...
HSC

sábado, 25 de outubro de 2014

É a vida!


Gosto de mudanças. Gosto do Outono. Gosto de sair do Verão. Gosto de mudar de hora. Só que este ano tivemos frio no Verão e temos muito calor na entrada do Outono. Logo, não mudo de vida, de edredon, de roupas. Pareço uma barata tonta num virote de tira e põe que nunca mais acaba.
Formiguinha cautelosa quando veio o frio, fiz a tradicional e oportuna arrumação das peças frescas e abalancei-me às roupas quentes. Nessa noite o calor foi tanto que o edredon voou para o cadeirão e o resto seguiu igual caminho. 
No dia seguinte as olheiras estavam à vista e voltei à ligeirissima roupa de cama, uma vez que esta está mais à mão. Só que a de vestir - germanicamente arrumda, como nem Madame Merkel faria melhor - impunha que para tirar umas poucas peças ligeiras, eu tivesse que desmanchar parte do trabalho feito antes. 
Não arrisquei, confesso, perante a árdua tarefa. E, desde então, vivo com dois trajes. Um para dias pares, outro para os impares. Tem sido uma experiência muito patriótica, pese embora as reclamações daqueles que não a apoiando mas nada fazendo para me ajudar, lhe sofrem as consequências. E eu respondo, lapidar, que é a vida!

HSC

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Duas surpresas


O leitor encontra nestes quadros a evolução das contas nacionais. Este foi publicado no bandalargablogue.blogs.sapo.pt/, onde Luís Moreira os analisa e revela duas pequenas surpresas. Uma, a de ser praticamente igual a contribuição da receita e da despesa para a redução do deficit das contas nacionais. Outra, a subida das prestações sociais, facto que se fica a dever ao apoio dado aos desempregados e aos mais pobres.

HSC

Da tolerância


Nos tempos que correm, somos todos pouco tolerantes. Não sei exactamente porque é que isso se tem acentuado, mas há quem diga que a intolerância vai sempre de par com a liberdade. Quando uma cresce a outra vai-lhe na peúgada.
Com efeito, como hoje cada um tem a sua verdade, a dos outros só pode ser irremediavelmente mentira. O que faz com que, no fundo, vivamos a meio gás, divididos entre verdades e o seu contrário. Situação que impossibilita pontes e acordos, mas facilita ditaduras. Aliás, as maiorias absolutas - sejam elas de direita ou de esquerda - são perigosas por causa disso mesmo. 
Em tempo de eleições, este é um tema que devia ser discutido, aos olhos, até, das maiorias absolutas que já tivemos. Essa análise seria proveitosa não só para os partidos que as pedem, como para os próprios cidadãos que lhas concedem.

HSC

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A espuma dos dias


A Europa está em risco de enfrentar a terceira recessão desde 2008. A Grécia está em vias de outra intervenção financeira externa de emergência. A Itália e a França não cumprem as metas do Tratado Orçamental. A Alemanha caminha para a estagnação da sua economia. Em Portugal pululam as crises partidárias sob o manto diáfano de uma eventual antecipação eleitoral que conduza ao milagre de uma maioria absoluta do PS.
E tudo isto se desenrola, como diz o Pedro Correia, na espuma dos dias, como se a dívida pública não permanecesse incontrolada e a despesa do Estado não cessasse de aumentar. Ou, quem sabe, como se o petróleo jorrasse, em força, nas Berlengas...

HSC

O novo Diário de Notícias


Saí do DN, para onde fui levada por Bettencourt Resendes, há sete anos, a quando da entrada de João Marcelino. Por lá permaneci, após a saída de quem me convidara, em excelente convívio com os três directores que se lhe haviam de seguir. De um deles guardo, mesmo, boas recordações, porque fez tudo o que pedi para me lá manter.
Assim, confesso, a saída de Marcelino - que, a meu ver, havia transformado o DN numa espécie de Correio da Manhã para gente mais ilustrada -, não me causou grande pena ou surpresa. 
Ao contrário, a entrada de André Macedo - cuja carreira conheço - e pelo que ultimamente tenho visto, faz-me acreditar que o jornal possa a vir a ser objecto da transformação desejada, já que, sob a batuta da anterior direcção, perdeu mais de metade dos seus leitores.
Irei, a título de observadora, passar a comprar, de novo, o DN. Oxalá Macedo consiga fixar-me, porque isso seria, do meu ponto de vista, um bom sinal!

HSC

Os Direitos da Criança


Começo por fazer uma declaração de interesses: sou amiga do casal Eanes que estimo, admiro e respeito. Em particular de Manuela Eanes que sempre esteve comigo nas boas e más horas. Isto para que se perceba o meu empenho em dar a notícia que se segue.
Amanhã e terça feira, dias 20 e 21 do corrente, irá decorrer no Auditório da Assembleia da República uma Conferência subordinada ao tema "Os Direitos da Criança - Prioridade, para quando? ", promovida pelo IAC - Instituto de Apoio à Criança - no âmbito da comemoração dos 25 anos da Convenção dos seus Direitos. Os oradores são pessoas cuja experiência pessoal e profissional poderá ser muito útil à discussão do tema.
Como se sabe o IAC nasceu há mais de trinta anos e a sua actividade em prol da criança desenvolve-se na família, na escola e na saúde, com especial enfoque na criança maltratada e sexualmente abusada, intervindo directamente em domínios não cobertos pelo Estado. Tem por objectivo principal contribuir para o desenvolvimento integral da criança, na defesa e promoção dos seus direitos, encarando-a na sua globalidade como sujeito de direitos na família, na escola, na saúde, na segurança social ou nos seus tempos livres.
É uma instituição sem fins lucrativos, criada em 1983 por um grupo de pessoas de diferentes áreas profissionais – médicos, magistrados, professores, psicólogos, juristas, sociólogos, técnicos de serviço social, educadores e tantos outros,  inspirados no Dr. João dos Santos, médico e pedagogo de grande sensibilidade e prestígio, que sabia que “uma política da infância deve ser obra de toda a comunidade com a participação activa e generalizada das pessoas e em trabalho coordenado das instituições” e que defendia que “o destino do homem se determina na forma como é gerado, no calor dos braços que se lhe estendem, na ideologia que o envolve e na liberdade que lhe é proporcionada para imaginar, experimentar e pensar”.
Manuela Eanes é a Presidente da Direcção e tem sido o seu rosto mais visível desde a fundação. Quem, como eu, a conhece, sabe o empenho e carinho que sempre dedicou a este projecto.

HSC

sábado, 18 de outubro de 2014

Da tolice e da surpresa


Quem é que, em seu juízo perfeito, se lembraria de ir ao Corte Inglês, hoje, num sábado cinzento que se não decidia entre o sol radioso e as nuvens carregadas? Eu. E, claro, uma multidão de gente tão insana como a que vos escreve estas linhas.
Havia comprado, há uns dias, no citado estabelecimento, um lindíssimo blazer azul cobalto, na qual já me via glamourosa - é nesta altura que se costuma dizer que todas as idades têm o seu encanto... - combinando-o com uma calça cinza peito de rola, da qual muito gosto.
Porém, chegada a casa, o azul cobalto, por efeito da luz natural era, de facto, algo situado entre o beringela e o lilás. Pensei para comigo que teria de o ir trocar. Pensar, eu fui pensando. Ir é que não ia, porque se impunha faze-lo de dia, o que era sempre inviável.
Foi assim que, de postergação em postergação, acabei por me encontrar hoje, às 13:00, no meio de um mar de gente que fazia compras, comia, ou pacificamente esperava a sua vez de comprar bilhete para o cinema.
No meio de todo este caos, tive imensa pena de mim. E, quando tudo apontava para que fizesse marcha atrás e saísse dali, a decisão tola que tomei foi a de ficar, almoçar, ir ao supermercado. E, surpresa, trocar o blazer azul cobalto por um vestido branco e preto mais um casaco de malha de cor indefinida. Peças de que visivelmente não necessitava... Salvou-se terem tido uma boa redução de preço, mas não se salvou a minha manifesta estupidez.
Derreada, resolvi tomar um café, num pequeno espaço do andar onde fiz todos estes disparates. Já sentada e com uma imensa vontade de mandar os sapatinhos às urtigas, dei-me conta da azáfama com que as peças de vestuário iam desaparecendo dos cabides e das prateleiras para os sacos que as pessoas amontoavam nas suas mãos.
De repente, sem qualquer explicação plausível, só consegui pensar no Orçamento para 2015. Porque diabo havia eu de lembrar tamanha desgraça? Ignoro. Mas é por mais evidente, que devo estar a precisar de acompanhamento clínico especializado. Só pode ser isso!

HSC

O velório


Estiveram ambas lá no velório. Sentadas uma ao lado da outra. Não porque tenham procurado ficar assim, mas porque os amigos que as vinham abraçar, acabaram por se ir sentando de um lado e do outro de cada uma, acabando por deixá-las bem juntas.
Era estranho? Nem sei que vos responda. Afinal cada uma delas havia vivido com aquele homem uma boa parte da sua vida. Uma, a primeira, durante quinze anos. A outra, que veio a seguir, durante dezassete.
Assim, quem as abraçava havia conhecido ambas e a qualquer delas entendia dever testemunhar o seu apoio e carinho.
A certa altura, divagando um pouco sobre o que estava a acontecer, perguntei-me mesmo se esta não deveria ser a prática corrente, uma vez que nenhuma das duas poderia ter sido eliminada da vida daquele homem que ali estava. Nem a do passado nem a do presente. Uma e outra eram, naquele momento e de direito, as suas viúvas.
Ao fim de umas horas, a sala havia de fechar-se, porque era noite e havia chegado a hora de cerrar as portas.
Caminharam lado a lado até ao adro exterior da Igreja. Era já noite feita. Aí abraçaram-se sentidamente e seguiram cada uma para o seu destino. O enterro, esse, seria no dia seguinte.


HSC

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Tão simples, tão bom!


Com a vida que levo só tenho tempo livre ao fim de semana e, mesmo assim, é preciso que  não entre em convívios sociais. Muitas vezes me tenho perguntado porque trabalho tanto e a resposta mais honesta é a de dizer "porque gosto muito do que faço". Mas convenhamos, na minha idade, até os gostos devem ser controlados para não darem em desgostos...
A outra razão, que vem quase a seguir, é a de que gostaria, até ao fim dos meus dias, de manter o nível com que vivo. Não estou a queixar-me, mas se vivesse da minha "choruda pensão" - já aqui expliquei que pertenço a um dizimado grupo de trabalhadores do Banco de Portugal, cujas pensões nunca foram actualizadas - não poderia faze-lo. E, como não tenho rendimentos de capital, para tal acontecer, tenho de continuar a trabalhar. 
Vem este longo intróito a propósito do meu almoço de hoje, com uma amiga que é médica e trata não só dos meus olhos, como também de algumas fragilidades que tenho.
Perguntarão se fui a um banquete? Não. Fui a um local com vista de rio, arejado e com pouca gente. Mas o que me deu mais prazer foi te-lo feito, num dia de semana, sem pressas nem compromissos, com uma pessoa de quem gosto muito, que tem uma serenidade contagiosa e um enorme sentido do humor.
Quem pode dizer que a felicidade não é, afinal, um somatório de pequenas coisas simples e de momentos como este?!

HSC

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

As segundas oportunidades


Nem todos têm segundas oportunidades na vida. Eu tive e, talvez por isso, lhes dê uma enorme importância. Mas também há quem as tenha e as não aproveite. E, muitas vezes isso acontece porque as pessoas não querem ou não são capazes de perceber o que se passa para além delas e do seu pequeno mundo.
Na verdade, é importante não esquecer que, para que essas novas oportunidades aconteçam, também se exige de cada um de nós um duplo esforço. O de acreditar e o de ficar atento. Será que, no frenesim em que vivemos, estaremos preparados para isso?


HSC

Os armários da noite


"esperar que voltes é tão inútil como o
sorriso escancarado dos mortos na
necrologia do jornais

e no entanto    de cada vez que
a noite se rasga em barulhos no elevador e
um telefone de debruça de um sexto andar

sinto que ainda ficou uma palavra minha
esquecida na tua boca

e que vais voltar
para
devolver"

Este é o 12ª poema do I Livro de "Os armários da noite", que a Alice Vieira acaba de publicar e que ontém lançou numa Bucholz cheia de amigos.
Tudo o que Alice escreve é muito bom e como tenho por ela uma imensa e fraterna amizade, os seus sucessos enchem-me sempre de orgulho. 
A sua poesia não é fácil - aliás, como toda a boa poesia - porque nela está contida uma experiência pessoal e humana muito rica e complexa. Quando acabei a primeira leitura do livro, mandei-lhe um mail dizendo que alguns poemas me pareciam verdadeiras orações. No sentido religioso e profano. Porque são bocados da Alice que ali estão, mas são, também, pedaços da intimidade de todos nós.
O Mário Felipe a quem o livro é dedicado, merece-o bem. E a Alice merece tudo o que a vida, a prosa e a poesia ainda lhe vão trazer. Parabéns aos dois, portanto! 

HSC

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Prontos para acostar


O meu sentido do humor vai-me valendo para não levar muito a sério nem os outros nem a mim própria. Assim sobrevivo às "boutades" que leio e oiço na televisão, ditas com o ar mais compenetrado deste mundo.
Eu sei que hoje é um tremendo risco ligar o aparelho ou ler jornais, porque é ébola e guerras em doses tão maciças que, ou se fica doente ou se caminha para isso.
Porém, ultimamente, algo tem despertado a minha curiosidade. Trata-se do "movimento de acostagem" que começou de forma incipiente, mas que está a desenvolver-se a muito bom ritmo.
Não conhecem? Não ouviram falar? Julgam que se trata de algo relacionado com temas náuticos? Nada disso. O movimento de acostagem é um progressivo deslize dos partidários de António José Seguro para António Costa. Com efeito, eles estão a tentar "acostar" para poderem tomar o barco.
Inicialmente terão, acredito, até discutido prebendas futuras. Mas, perante o desaire, que haviam de fazer senão frenar o barco, evitar a adornagem e tentar acostar?!

HSC