A
Assembleia da República, em fevereiro passado, decidiu por unanimidade dar
honras de Panteão Nacional à autora de «A menina do mar», como forma de
homenagear «a escritora universal, a mulher digna, a cidadã corajosa, a
portuguesa insigne», e de evocar o seu exemplo de «fidelidade aos valores da liberdade
e da justiça», segundo o texto parlamentar.
O corpo da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen,
falecida há dez anos, é assim hoje traslado do cemitério de Carnide para o
Panteão Nacional, em Lisboa, numa cerimónia que foi preparada com todo o
cuidado.
Maria
Andresen, filha da poeta, mostrou-se céptica em relação a esta trasladação
quando afirmou "retiraram a poesia da minha mãe dos currículos
escolares para lá colocarem poetas menores, considero mesmo que há uma
tentativa subterrânea para a obliterarem. Ainda recentemente um poeta português
foi galardoado com o prémio Rainha Sofia e não houve por parte dos media uma
única referência ao facto de a minha mãe ter sido a primeira portuguesa e a
primeira mulher a recebê-lo...".
De
facto a melhor forma de lhe prestar a merecida homenagem, é lê-la e dá-la a ler
a todos os portugueses!
9 comentários:
Concordo em absoluto com a última frase deste seu post, Helena e não tem qualquer razão a filha de Sophia ao fazer tais afirmações, rapidamente aproveitadas pela comunicação social e que estão a a "fazer furor" nas redes sociais.
De facto, como qualquer um pode comprovar consultando as Metas Curriculares para o Ensino Básico, a obra de Sophia, em prosa e/ou poesia, aparece indicada em todos os anos dos segundo e terceiro ciclos (do 5º ao 9º, sem excepção) na lista de obras e textos para educação literária.
E que ela surja em cinco dos doze anos de escolaridade não me parece pouco. Podem os professores, mesmo assim, como referi no meu blogue, dá-la no secundário ou até no 1º Ciclo se acharem pertinente.
Por isso não entendo a polémica. E acho-a ridícula, até!
(Muitas vezes, de resto, quando "toda a gente" no 7º ou 8º ano escolhia dar o conto que vinha no Manual, eu optei por dar um texto dos "Contos Exemplares" e outro de "Os Bichos", porque me parecia obrigatória conhecer Sophia e Miguel Torga nestas idades).
Porque como diz, Helena, o que importa mesmo é ler Sophia. Ler muito! Ler sempre!
(Peço-lhe desculpa de me ter alongado tanto, mas este é um assunto que me diz respeito e me apaixona...)
Beijinho ;)
Concordo com o que Maria Andresen diz. Parece, realmente, haver algo de estranho nesta forma a que posso chamar, 'dois pesos e duas medidas'.
Quanto aos media, digo o que um ilustre clínico me dizia, há poucos meses, quando conversávamos sobre a asistência hospitalar: "temos o que temos, não adianta reclamar".
Sublinho a sua ideia, estimada Helena. A melhor forma de prestar homenagem a Sophia Andresen é lê-la, muitas vezes.
Sempre a li, gosto muito de tudo o que escreveu, liberdade, mar, não às amarra...e já me pronunciei em tempos noutro post a minha opinião sobre esta trasladação.
Querida Helenamiga
Não conheço a Isabel Moutinho, as vou já conhecer. Isto porque me parece que ela tem carradas de razão.
Tive o privilégio e a honra de conhecer Sophia e com ela conversar por várias vezes. Uma mulher EXTRAORDINÁRIA tudo em caixa alta. E tenho toda a obra dela autografada.
O Panteão democratizou-se? Acho bem. Mas o lugar da Sophia estava lá guardado. Agora já está ocupado. E bem.
Qjs
Querida Doutora Helena:
Também considero que uma das melhores homenagens que lhe podemos prestar será lê-la e dá-la a conhecer.
Para mim, a grande autora do século XX (descxulpe, pois sei que a senhora também escreve).
Sugiro ainda uma visita ao Jardim Botânico do Porto, onde viveu Sophia e onde se "respira" a literatura de Sophia.
Despeço-me com o meu poema favorito de Sophia de Mello Breyner Andresen,
O VIDENTE
Vimos o mundo aceso nos seus olhos,
E por os ter olhado nós ficámos
Penetrados de força e de destino.
Ele deu carne àquilo que sonhámos,
E a nossa vida abriu-se, iluminada
Pelas imagens de oiro que ele vira,
Veio dizer-nos qual a nossa raça,
Anunciou-nos a pátria nunca vista,
E a sua perfeição era o sinal
De que as coisas sonhadas existiam.
Vimo-lo voltar das multidões
Com o olhar azulado de visões
Como se tivesse ido sempre só.
Tinha a face voltada para a luz,
Intacto caminhava entre os horrores,
Interior à alma como um conto.
E ei-lo caído à beira do caminho,
Ele — o que partira com mais força
Ele — o que partira pra mais longe.
Porque o ergueste assim como um sinal?
Pusemos tantos sonhos em seu nome!
Como iremos além da encruzilhada
Onde os seus olhos de astro se quebraram?
Sophia de Mello Breyner Andresen
In Poesia, 1944
Um beijinho,
Vânia Batista
Bom dia Helena!
Penso que as homenagens devem ser feitas em vida, os merecedores de tais atributos de certeza que ficariam mais agradecidos por serem reconhecidos pelos representantes do povo, sejam eles da esquerda ou direita.
Sophia Andresen será sempre uma referência que ficará na história de Portugal, a sua trasladação não vai trazer nada de novo.
Num época em que se apela à contenção de custos, este foi mais um que pudia ter sido evitado, sim porque toda esta trasladação deve ter custado alguns milhares de euritos...
Não concordo com a frase do ilustre clínico, quando não estamos contentes com algo temos que reclamar e muito, já o fiz por diversas , consegui obter resultados positivos!
Helena já se lembraram de si no dia 10 de Junho?
A meu ver devia também ser galadoarda pelo seus atributos e exemplo de vida, se não talvez seja quando já cá não esteja!!
Carla
Perdoará, estimada Helena, mas tenho que me dirigir à comentadora Carla (10:58).
Quando se faz referência a uma frase que foi dita por alguém, deverá usar-se aquele penduricalho que dá pelo nome de aspas e é reconhecido por estas duas linhas (").
Desejo ter-me feito entender.
Esta chamada de atenção não visa a discordância mostrada, nada disso.
Reiterado o meu pedido de desculpas, deixo os meus cumprimentos.
A propósito de Sophia uma dúvida: quantos livros para crianças escreveu? Ouvi, penso que Alice Vieira dizer que foram 5, tantos quantos os seus filhos,pois só escrevia quando estava grávida ou seja em estado de graça. Já depois, percebi que foram 8. Quantos e quais?
Permita-me, caríssima Drª Helena, que responda à comentadora Fátima Costa (7/7/14 - 11:24).
Sophia escrevia para entreter os filhos quando estavam doentes.
Escreveu os contos:
A Menina do Mar
O Rapaz de Bronze
O Cavaleiro da Dinamarca
A Noite de Natal
A Fada Oriana
A Floresta
O Tesouro
A Árvore
São, pois, 8 obras para a Literatura Infantil.
Mas tem obras maravilhosas para adultos.
Um beijinho,
Vânia Baptista
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