segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O lado negro das praxes

Abordo hoje o tema das praxes académicas, que tem estado na ordem do dia pelas piores razões.
Devo confessar que tais tradições sempre me deixaram de pé atrás – onde estudei elas não existiam –, porque infelizmente aquilo que supostamente seria uma maneira de integração dos novos alunos está, a meu ver, a tornar-se num meio de humilhação, de desrespeito e até de ameaça à própria vida. A situação é profundamente lamentável e exige que se tomem medidas urgentes.
A grosseria e a violência destas práticas atingiram níveis tão inadmissíveis que não podemos continuar a encolher os ombros, ou a não nos indignarmos.
É que todos somos mais ou menos cúmplices do que se passa, consequência de uma certa forma de demissão das funções paternas e de uma educação com fortes laivos de laxismo e permissividade.
Parece ser cada vez mais a altura de pensarmos nisto, num tempo em que quase todos os jornais admitem que a tragédia do Meco poderá ter tido como origem praxes académicas.

HSC

26 comentários:

Mineu Borques Leal disse...

Já era tempo de alguém pôr termo a uma violência que tem vindo a aumentar e que já fez tantas vítimas, numa ocasião que devia ser de alegria e divertimento.
Queria aproveitar este post para lhe falar de outro assunto. Tomei a liberdade de ilustrar o seu poema "Chuva”, que descobri no seu blogue de poemas, com fotografias que tirei na Barragem dos Patudos.
Se achar que foi um abuso eu retiro-o imediatamente.
Aqui vai a hiperligação

http://www.youtube.com/watch?v=ZyMPUD1b2mo

maria isabel disse...

Sou contra as praxes.Sou contra as festas da queima das fitas.Enquanto os meus filhos foram estudantes foi um susto permanente. não aconteceu nada de mal com eles felizmente,mas o exagero assusta.
É uma maneira muito estúpida de integração dos colegas

João Menéres disse...

Alguém que corte o mal pela raíz de uma vez por todas !

PROIBIÇÃO TOTAL, JÁ !

Rita disse...

Não posso dizer que tenha sido humilhada nas minhas praxes, o maior vexame consistiu em fazer uma declaração de amor a um antepassado seu, Pedro Alvares Cabral, em plena praça publica.

No entanto, ouvi relatos de verdadeiros atentados à dignidade do individuo que me deixaram a pensar na diferença entre brincadeira e crueldade..

Fatyly disse...

Pensarmos? eu diria mais agirmos sem medo.

Uma vez em pleno Rossio, numa praxe da maior estupidez, com uma assistência e peras...eu dirigi-me aos 5 responsáveis/padrinhos/ou com outro nome mais apelativo e disse-lhes o que entendi e o certo é que pararam, alguns alunos dispersaram e desapareceram e outros foram pelo Restauradores.

Isto já começa a ser um "crime público" porque quem não aceitar as praxes poderá ser perseguido e marginalizado e as mesmas deveriam ser feitas dentro das faculdades perante professores, amigos e familiares.

Tal como ver alguém à tareia na rua, todos ficam a ver e ninguém faz nada?

Enfim...e desculpe o desabafo!

Tété disse...

Olá Helena, mas depois de tudo o que se lê e ouvimos dizer há uma coisa que me deixa intrigada: neste caso concreto como é que jovens com mais de 20 anos, pessoas já licenciadas e por isso logicamente com um conhecimento global acima da média, se deixam levar em conversas e atos que mais parecem pertencer a seitas de ignorantes? Isto, se realmente se passou algo fora do comum que não uma onda gigante inesperada.
A ver vamos, como diz o cego, com o desenrolar das investigações.
Abraço
Teresa

Virginia disse...

Já abordei o assunto no meu blogue há 2 dias.
A falta de cultura dos estudantes portugueses revela-se nestas práticas humilhantes e ordinárias a que chamam praxe. Os meus três filhos sairam ilesos dela, embora tivessem participado à força.Nunca quiseram usar trajes academicos e apesar de tocarem vários instrumentos musicais, nunca quiseram entrar em tunas.
Nunca se investiga nada a fundo, nunca se defendem os que são maltratados, os jovens continuam a beber deslamadamente sem que haja limites aos destemperos.
Em Leeds, onde a minha filha fez o Erasmus e um mestrado, a primeira semana era de acolhimento aos jovens com eventos culturais, exposições, visitas guiadas, bailes, saraus, etc. Isso é que demonstra o nível dos estudantes e das entidades que regem as academias.

Pôr do Sol disse...

Cara Helena,

As praxes deixaram há muito de ser uma brincadeira para passar a ser o sublimar de frustações ou a alucinação do "podersinho".

Aos dezoito ou vinte anos pensa-se ser-se imortal e nunca nada de mal acontecerá.

Mas daquela idade deveria ter-se um enorme respeito pela vida e por quem lhes deu tal dom. Pô-la em risco esquecendo aqueles que muitas vezes com grandes sacrificios os levaram até a um curso superior no propósito de uma melhor vida, é falta de consciencia.

Não sabemos ainda o que aconteceu, mas espero que a perda daquelas vidas e a dor daqueles pais, sirva para pôr fim a algo que não acrescenta nada à formação dos jovens universitários. Não os faz crescer como pessoas conscientes e respeitadoras do próximo.

Penso muitas vezes no jovem que restou. Deve estar a sofrer horrores, mas tem o dever de dizer o que se passou.

Maria Gonçalves disse...

Não posso estar mais de acordo consigo. As praxes em si são vergonha,indignidade, falta de respeito próprio e pelos outros, abuso,arrogância,sobranceria .......mas infelizmente estão na linha de muitos outros comportamentos e atitudes que presenciamos todos os dias, dos mais pequenos aos mais velhos...na rua, nos cafés, nas escolas, na tv e certamente muitos lares adentro...
É preocupante ver este galopar crescente de falta de amor próprio, de respeito, de valores trocados e delapidados...
Sim, não podemos continuar a ignorar toda esta triste realidade e hipocritamente lamentarmos muito o bullying, a violência doméstica e todo este tipo de crimes...
Boa semana.

Mariana disse...

Esta gente que tem prazer em humilhar os outros colegas será psicologicamente saudável? As escolas e universadades têm que tomar uma decisão muito urgente e definitiva: proibir estas práticas absurdas. Ou será que consideram também uma mais valia nos currículos dos alunos?...

Isabel Mouzinho disse...

Subscrevo na íntegra e sublinho, em particular, o seu terceiro parágrafo: hoje tendemos a reagir a tudo com um encolher de ombros, como se tudo fosse "sinal dos tempos" e não houvesse nada a fazer. Mas há! E passa também (muito!) por nós.

Anónimo disse...

Não tenho filhos na universidade o mais velho optou por uma profissão o mais novo ainda não chegou lá, mas o que vejo todos os dias perto de uma universidade onde trabalho deixa-me sempre muito apreensiva.
Garrafas de cerveja em punho, muito tabaco muito "convívio", não me parece bem.
Esta "coisa" das praxes, deixa-me desconfiada, uma coisa é brincar, descontrair, ambientarem-se mas outra é humilhar!Não acho graça nenhuma às praxes!!!!!
O futuro destes 6 jovens terminou abruptamente e gratuitamente sabe lá Deus porquê. O jovem sobrevivente devia falar, o mal já está feito e aliviava a sua carga psicológica e a dos pais.
Muita coisa devia ser explicada e muita muita coisa devia ser mudada!
FL

Americo Coutinho disse...

As generalizações são sempre perigosas e extremamente injustas; muito mais quando se escreve sem conhecimento de causa, como aliás refere "– onde estudei elas não existiam –"; por isso aconselho-a vivamente a visitar as faculdades de Coimbra no primeiro dia de aulas antes de emitir juízos de valor.
As imitações, não passam disso mesmo e às vezes até se tornam perigosas porque não se entende o espírito e os limites.

Helena Sacadura Cabral disse...

Américo Coutinho
Todas as praxes que têm alimentado os jornais são humilhantes. A da própria foto é-o.
Se as praxes servissem para ambientar os novos alunos e os pôr em contacto com a nova realidade, ninguém as contestaria. Seria, ao contrário, uma tradição a estimar.
Mas quando elas atingem a subserviência e marginalizam aqueles que a elas se não submetem, algo estará errado.
Familiares meus estudaram em Coimbra e um dos meus netos anda na Universidade. Eu própria leccionei 25 anos no ensino superior. Creio, por isso, não ser completamente ignorante nesta matéria de Dux veteranorum e suas hierarquias.

Anónimo disse...

Cara dra Helena,o seu humanismo é reconfortante.
Este é um assunto triste e trágico que corta a alma e entristece o coração.
A dor imensa de perder um filho só por si já é gritante e então com "estes contornos estranhos" pior ainda...
Infelizmente há seres hediondos entre nós capazes de barbáries terríveis contra humanos e não humanos.
Este caso chocou-me imenso,assim como me chocou ver no noticiário,hoje,a barbárie contra os golfinhos no Japão.
Seres humanos e não humanos que perdem a vida porque alguém não tem "limites" !?
Peço a Deus forças para enfrentar e dizer,Basta de Crueldade Gratuita contra os nossos semelhantes e contra os animais.
Aos pais destes estudantes deixo uma benção de luz,paz e força para enfrentarem os dias que se seguem e se esclarecer o que realmente se passou!?
Solidário com o fim das praxes e com a matança dos golfinhos.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Não sei o que se passou no Meco. Por outra, sei: foi uma imensa tragédia.

Quanto às praxes não gosto, nunca gostei e sempre fui contra.
Como é óbvio, não me submeti à praxe (só é praxado quem quer - pelo menos onde estudo -). e não me senti desintegrada por isso evidentemente tenho amigas de quem gosto profundamente e colegas, que só queria ver ao longe. A única vez que a integração causou problemas foi quando parei num estágio com colegas que já se conheciam há anos e eu tive de conviver com elas. Deu para o torto... ao fim de dois meses tive de mudar de grupo, é certo, mas à exceção deste acontecimento pontual nunca me dei mal com ninguém nem me senti menos enturmada.

Um beijinho
Vânia

Ana disse...

ola Helena, antes de mais desculpe intrometer-me assim no seu blog, já algum tempo que sigo e gosto bastante do que publica ;)
Gostaria de dar uma opinião diferente quanto a este assunto das praxes! Sou estudante na Universidade de Coimbra, e tenho vivenciado bastante os rituais de praxe académica nesta cidade que se tornou o meu lar... A praxe é é um conjunto amplo de tradições, usos e costumes, consiste num “sentimento de integração, de ensinamento de valores, entres os quais, respeito, cooperação, integração, pertença e palavra de Honra”. Em termos práticos, é através da praxe que os novos alunos têm o primeiro contacto com uma nova instituição. A praxe deve ser praticada com dignidade e respeito, nunca indo contra valores e princípios! Actos marginais existem em toda a sociedade, porque não existem sociedades perfeitas! Ao longo destes anos aprendi bem o orgulho de estudar em Coimbra, e gosto de em praxe passar aos novos caloiros tudo o que aprendi :) ouvi-los a gritar por Coimbra! ouvi-los a cantar as baladas das tunas. Mas acima de tudo que se divirtam, e que amem a cidade que foi feita para eles, que vivam o que eu vivi e que respirem o espírito académico que se vive nesta cidade. Ninguém é obrigado a ir à praxe. Só vai quem quer. E como é óbvio no momento em que vir alguém fazer algo que va contra aquilo que acho digno, abandonaria a praxe e faria queixa da pessoa! Como em tudo na vida, é preciso saber dizer não quando algo cruza os nossos limites do aceitável! É preciso conciliar a praxe com os direito de cada um! E sejamos honestos e realistas: não há nada que possa acontecer na praxe que não possa acontecer fora dela!
Cumprimentos ;)

Helena Sacadura Cabral disse...

"É preciso conciliar a praxe com os direito de cada um! E sejamos honestos e realistas: não há nada que possa acontecer na praxe que não possa acontecer fora dela!"

São justamente esses direitos que foram postos em causa nos vários casos que vieram a público.
Quanto ao que nos pode acontecer "involuntariamente" estou de acordo. Com o que "voluntariamente" acontece é que discordo.

Anónimo disse...

Nunca frequentei o ensino superior. Pelo que tenho observado ao longo dos anos, a PRAXE parece para mim algo como: "Eu já cá estava, tu, que estás a entrar, és inferior a mim". Assim, o que já lá estava, acha-se no direito de humilhar o novato. Passa de ano para ano... e daí os abusos e excessos. Falta de formação, que deveria começar em casa...

Anónimo disse...

Eu sou aluna na Universidade do Porto: Estou a concluir uma licenciatura e não fui sujeita a qualquer praxe. Sou mais velha, podia ser mãe dos meus colegas e nunca, sequer, me abordaram para a praxe. Será hábito, não sei, os mais velhos não 'fazerem parte'. Não sei e também não me interessa. Ingressi na faculdade para tirar uma licenciatura. Dou-me muito bem com todos os meus colegas, nunca me senti excluída do que quer que fosse e devo ser uma das melhoras alunas do curso. Outros colegas não aderiram à praxe, não por serem mais velhos mas porque não quiseram, e também não vejo que sintam qualquer tipo de diferenciação por isso. Ou seja, participa da praxe quem quer e não é a praxe que nos vai ajudar a alcançar os nossos objetivos enquant estudantes. Quanto à integração, desculpem, não concordo. Inicialmente seria esse o objetivo, mas penso que de objetivo passou a ser uma 'desculpa'. Eu sou aluna e considero-me com boas capacidades de observação. Viajo em transportes publicos onde viajam centenas de estudantes universitários, e, como não tenho 'ar' de ser 'um deles', acabo por testemunhar alguns diálogos e comentários que me fazem crer que, de facto, a praxe desviou-se completamente dos seus objetivos de integração. Depois há ainda outra questão, não tenham dúvidas que é dificil conciliar episódios de praxe com aulas, trabalhos e estudo. As fracas notas do ultimo ano do meu curso são as dos jovens 'doutores' que andam a praxar os caloiros. Aliás, alguns desses 'doutores' ainda ´t~em cadeiras do primeiro ano por fazer. Não vou ser radical para dizer que se proibam as praxes, mas sou radical ao ponto de dizer que todos os episódios de praxe que não são mais do que humilhação e desrespeito pelos direitos humanos devem ser considerados CRIME PÚBLICO.
Obrigada
Madalena

TERESA PERALTA disse...


Concordo com aquilo que escreve e chamo à atenção para o exagero que se faz sentir, hoje em dia, ao nível da falta de limites temporais marcados para estes acontecimentos. O ano passado vi decorrerem praxes, na cidade universitária, em Lisboa, até meados do 2º semestre, demonstrando que, também neste sentido, a deturpação de significados alcança níveis desmesurados. Vamos ver o que acontece este ano!..
Abraço

Ana disse...

Tem razão, eu não pretendo de forma alguma criticar os outros pontos de vista, compreendo perfeitamente a revolta sentida, também a mim enquanto estudante me revolta e entristece... somos todos diferentes uns dos outros e nem todos têm a mesma força para dizer NÃO! De facto nestes últimos anos temos assistido a práticas que nada têm a haver com aquele que pessoalmente considero o verdadeiro "sentimento de integração" e alunos que depositam confiança em quem não a merece. Mas essas praticas não são nem devem ser consideradas ou chamadas de "praxe" porque não o são! são actos de gente infantil e cobarde. As únicas palavras que descrevem esta nova aberração a que chamam “praxe” são: Ridículo, tristeza e vergonha! A verdadeira praxe é a que "Integra" e não a que "Humilha"! Pessoalmente não acredito que a melhor forma de combater a Praxe seja criticando, fazendo dela o "Bicho-papão" das praticas universitárias ou até mesmo proibindo-a. O melhor caminho será a construção de alternativas reais, que atraiam os estudantes, através da desconstrução dos mitos que se criam à volta da entrada no Ensino Superior!

patricio branco disse...

sim, há excessos sem graça, violencias, sadismos, não haverá um codigo escrito sobre as formas e limites da praxe universitária, terá regras e uma etica?

Anónimo disse...

Dra diz e muito bem - lado Negro das praxes - e eu concordo.
Isto é macabro e coisas do demónio com certeza!
O mal existe e aqui está a prova neste trágico caso.
Mentecaptos que tristeza...é para isto que andam na Universidade? Ensino Superior? Drs. de Malvadez.
Tão jovens e com tamanha perversidade...
O escândalo destas organizações veio á tona.
Podemos estar descansados com os nossos filhos num estabelecimento de ensino?
Isto é simplesmente aterrorizador!
Dux e companhia = a anjos negros.

Anónimo disse...

Boa tarde dra.
Será que existe um lado branco nas praxes?
Não creio.
Encontrei num blog as palavras que podiam ser minhas.
Acho excelente esta carta!

http://pesnosofa.blogspot.se/2014/01/carta-aberta-dux.html

Um dia com luz para si.

Anónimo disse...

Estou de acordo a 100%.

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/a-abjeccao-1621031

A Sta Inquisição está activa no século XXI!

praxe é sinónimo de Abjecto