segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A importância de certas profissões

Eu sou doutora, sei cozer e cozinhar e, à falta de melhor, tenho a ousadia de tentar ser electricista. Escusado será dizer com as inenarráveis consequências... 
Mas tenho a desculpa. É que numa casa onde havia três homens e um deles até era arquitecto, ninguém - mas mesmo ninguém - levantava o rabete do seu poiso para mudar uma lâmpada. Era sempre aqui a donzela que, prenha ou não, cansada ou não, tratava destes negócios
Um dia marcharam os três de casa. E, algumas vezes, ainda acudi aos descendentes. Até que, um dia, dei o grito do Ipiranga e fiquei a ver os desaires acontecerem. Eram os frigoríficos que perdiam a luz, eram os ferros de engomar que não aqueciam, eram as anilhas que cediam, eram os filtros que entupiam e era aqui a menina a assobiar para o lado.
Há tempos, com um gosto de vingança retardada por parte dos três energúmenos moçoilos que abandonaram o lar, fui eu castigada. Por duas vezes quase seguidas, como vão ver. 
Com todas as mudanças atmosféricas esqueci-me de adaptar o esquentador ao modo inverno. Numa noite em que tinha vindo de arrolhar, na televisão, contra o governo, estafada, meti-me na banheira para o duche nocturno - tenho a mania de tomar duche antes de me deitar - e eis senão quando, fui submetida a uma torrente de água fria, gelada. Como não podia atravessar, encharcada, o caminho que me separava da cozinha, onde está o esquentador, aguentei firme o desafio. Mas, confesso, lembrei-me que a um deles já acontecera o mesmo, perante a minha passividade.
A outra foi pior. Dias depois, tentando eu, com adequada chave inglesa - tenho uma caixa de ferramentas de fazer inveja a um profissional -, colocar uma anilha na torneira da dita banheira, esqueci-me de fechar a água e, claro, acabei encharcada e sem o problema resolvido. 
Estes happenings convenceram-me duma verdade aterradora. É a de que não sou, definitivamente, capaz de substituir o canalizador. 
O qual, quando chegou para reparar a desgraça, me lançou a rir "mas porque é que a senhora não fica só pela cozinha e pelas escritas?". 
Ficarei. Mas que lhe vou demorar a pagar esta conta, lá isso vou... 

HSC

21 comentários:

Marina Maia disse...

O que eu me ri agora com esta "história", efectivamente nós mulheres precisamos de algumas ajudas nesses serviços, eu também não tenho a minima habilidade para os mesmos, e a minha sorte em casa é nula, marido e filho(18 anos) mas eu posso esperar sentada...

Anónimo disse...

Ai querida Drª Helena: o que eu agora me ri! Desculpe, que eu sei que não é bonito rir-mo-nos das desgraças alheias mas não me contive.
Eu até gosto de um belo duche de água fria... mas de manhã, para acordar e ficar com energia para o dia inteiro, à noite é BEEEEEEEEM PIOOOOOOOR.

A mim também já me aconteceram alguns destes desaires mas o melhor de todos foi partir-se o chuveiro enquanto tomava o apreciado duche. Ensaboada que estava só me restou concluir o banho "à moda antiga" enchendo um velho garrafão de água e despejando-o por mim abaixo!

:/

Às vezes acontece...

Um beijinho,
Vânia

Anónimo disse...

Ah! É verdade,

Quanto ao canalizador, pague-lhe a conta só depois dele comprar o seu mais recente livro! ;)

Vânia

Anónimo disse...

já me fez rir. que maravilhosa forma de narrar os falhanços como canalizadora!!!
pois é além de geito é prediso saber, e eu que também fiquei sozinha, só tento aprender bricolages quando é indispensável e, mesmo aí muitas vezes tem de vir o técnico...
força...
beijinhos de amizade,
lb/zia

Isabel Mouzinho disse...

De chorar a rir! Mas como eu a compreendo... A minha melhor história do género foi chamar o canalizador por achar que a torneira deitava pouca água e era só porque a torneira de segurança não estava bem aberta... O canalizador riu-se imenso à minha custa, mas não me levou nada (por abrir a torneira)...
Eu ainda sou pior Helena! Mesmo para pregar um prego, sabe Deus... Diverti-me imenso, porque me identifico com este tipo de situação ;)
Beijinho
Isabel Mouzinho

Maria Filomena disse...

Cara senhora,
as histórias reais ( desculpe a redundância) são mais engraçadas dos que a estórias ( ficção)....
Desculpe as explicações, mas estou escrevendo da maneira como aprendi fora de Portugal).

As suas duas histórias da vida domésticas dariam para ser parte de um livro, tal como Retalhos da Vida Doméstica....Fica a ideia....


abraços de MF

Hélia Cruz disse...

Cara Helena,
Ao ler esta prosa magnífica e com o humor brilhante que a caracteriza, só posso dizer como a compreendo bem. Aconteceu-me o mesmo. Sempre com amizade.

Unknown disse...

Pois como eu a compreendo.... ainda não tenho 3 homens em casa mas dois, apesar do petit ainda não puder fazer grande coisa, embora tenha vontade e lá vai pegando na ferramenta da "mãe" e diz e "e eta?".
Aqui em casa já estaríamos às escuras ou então a bater o dente de frio, visto que é mãe que faz os "concertos": lâmpadas, programação da caldeira, parafuso desapertados.
Enfim daqui a um tempo (quando perder a paciência) passarei à fase de observador passivo a ver se resulta....
Pelos visto consigo não resultou....mas tentar não custa!!!
Um abraço.

Anónimo disse...

Por acaso tenho um marido com muito jeito para esses concertos mas também gosto de me aventurar em algumas coisas mas concluo quase sempre que estrago mais do que o que arranjo e ainda por cima tenho que ouvir um ralhete.
Só que ele é mais curioso que profissional, e então para arranjar por exemplo um puxador é capaz de desmontar a porta limpá-la toda ao promenor e só depois colocar o puxador e tornar a pôr no sitio o que me leva ao desespero!
FL

Anónimo disse...

Bom dia!

Há dias q só apetece mesmo é gritar e dizer assim uma daquelas bem ditas!!
bom, mas se precisar de alguns desses trabalhinhos de canalização ou problemas com frigoroficos, há na minha casa um homem mto jeitoso para essas coisas! (não custa tentar!)
Beijinho amigo

Ana Isabel

Anónimo disse...


Um ano e tal a lavar a roupa da familia toda na banheira e as avarias deixam de ter tanta piada!
A falta de fundos ensina-nos a dar valor a pequenas coisas mas chateia muito.

Anónimo disse...

Há cada uma ... :-)
Eu também não tenho muito jeito para determinados trabalhos!
Deixo-os ao cuidado do meu queridíssimo marido, fervoroso adepto do deixa para amanhã o que não te apetece fazer hoje!
Bjos
Cláudia

António Pedro Pereira disse...

Marina e restantes:

Eu conheço alguns homens que nada ficam a dever neste aspecto à Helena.
E mulheres cheias de perícia nestas artes.
O problema é cultural e teima-se em perpectuá-lo.

Anónimo disse...

Pesquisei os seus blogues. Gostei. Vou tentar seguir sempre que tiver “tempo”

Maria (publicamente anónima), mas grande admiradora da Drª Helena!... Gostava de conhece-la pessoalmente, sigo muito daquilo que a Senhora partilha publicamente, teria muito para lhe contar. Temos alguns pontos cruzados, mesmo sem nos conhecermos.
Se eu escrevesse a história da minha vida, apareciam certamente pessoas, que muito admiro e se cruzaram de algum modo nas nossas vidas. Não sei como posso contacta-la em particular.
Pensei em comentar esta sua história por me identificar, de algum modo com ela, que alias me fez rir. Fiquei a “ouvir” a sua típica gargalhada…que adoro ouvir na televisão.
O meu caso é semelhante ao seu. Nesta casa também existiam três “homens” que foram partindo. Ficando a Maria sozinha. Mas desde sempre foi a Maria que “mudou as lâmpadas”.
No caso do canalizador e do electricista… também não tenho aptidão para os substituir. Como eu a compreendo!

Peço desculpa pelo meu desabafo
Estou muito grata por a Senhora partilhar tanto do que é seu.
Obrigada e acho que ajuda muitas mulheres.
Permita-me que me despeça com um abraço.
Maria M

Manuel Tomaz disse...

Dra. Helena, a sua versatilidade é extraordinária! Tanto escreve sobre politica económica como das coisas mais simples (mas que todos nós necessitamos). Gostei, por isso lhe envio os meus parabens.
Meus cumprimentos
Manuel Tomaz

Anónimo disse...

O canalizador tem toda a razão, o seu "core" não são os canos são as emoções.

N371111

nadia disse...

Que bom é rir!

A Srª conseguiu fazer-me rir...hoje o dia está dificil.

bjo

Maria disse...

Por mim, bem podem esperar sentados. Não tenho a minima habilidade para este tipo de bricolage. O marido, lento e bagunçeiro vai ainda dando conta do recado. Se o problema é anilhas ou canalizações, prontifico-me para lhe ir dando as ferramentas que me pede ( não as conheço ), mostro-as e ele confirma. Se o problema for eléctrico, fujo a 7 pés. Quando nos casamos, eu, que tinha a mania da limpeza , resolvi limpar o n/ quarto de cama, para isso, levei um balde com água, sabão e pano. Olhei a parede e pareceu-me ver pó nos buraquinhos da tomada, vai daí, torci o pano mto bem e enfiei. Não morri porque não foi a minha hora, porque o esticão foi dos valentes. A primeira discussão que tivemos, teve a ver com uma fritadeira. Sempre que a ligava era choque na certa. Quando ele chegava, eu contava minha dor, e ele repetia, calça sapato com sola isolante. Um dia fartei-me da repetição, e levei a fritadeira para o lixo.

Raúl Mesquita disse...

Se precisamos de rir, sobretudo com histórias verdadeiras, Cara Helena!

Cada vez tenho mais raiva a televisões e telefonias, a não ser pelas minhas óperas ou para adormecer, com "Pure Screens", aquele canal com quadros contados ao pormenor.

Cada vez é mais difícil estar numa sala ou num jantar e ouvir e contar histórias com sentido de humor. Consigo há, com certeza.

Onde estão os meus amigos, a minha família, com quem partilhei momentos desses? Desculpe, e desculpe, mas deixei-me ir… Sinto-me tão à vontade neste seu Blog!

Raúl.

Ana disse...

Sua companheira nessas (des)aventuras, aqui lhe deixo, a si, e a todos aqueles que a leêm, http://www.ifixit.com/
em que os consumidores dão "dicas" para solucionar problemas "caseiros".

AEfetivamente disse...

Hehehe, que maravilha, Helena. Já me ri, mas arrepiei-me com essa do duche gelado. BRRRR! Já me aconteceu, por bocadinhos, e é uma gritaria - substitui a pilha!!! Já!
Viva o (seu) humor.