Quando, por razões que conheço, tenho alguma ansiedade - e quem, afinal, não está no momento que atravessamos algo ansioso? -, por norma meto-me no carro e paro a olhar o mar. Há bastante tempo que esta terapia resulta.
Acontece que hoje o que me apeteceu foi ir ao cinema, enquanto aguardava o resultado de uma intervenção cirúrgica de alguém que muito estimo . Ficar no hospital a passear de um lado para o outro não resultava e o médico disse-me que não o fizesse porque a operação seria demorada.
Assim, decidi-me, pouco convencida, pelo filme Hope Springs que, em Portugal, suponho, corre com o nome de "Terapia a dois". E fi-lo porque gosto muitíssimo dos seus dois protagonistas, Merryl Streep e Tommy Lee Jones. O realizador pouco me dizia porque não tinha visto um seu outro filme, intitulado "O Diabo Veste Prada".
Poderíamos estar perante uma grande película, porque estes dois monstros sagrados do cinema têm interpretações magníficas e o tema - amor e sexualidade depois dos cinquenta - são assuntos inesgotáveis, se os quisermos encarar sem os habituais tabus ou falsas moralidades, que pretendem mostrar que ele não existe...
O desempenho deste casal com trinta anos de matrimónio, propositadamente envelhecido, de uma classe média normal, menos que média que, por iniciativa da mulher, decide fazer uma análise séria ao seu percurso, é a sua mais valia porque qualquer deles vai ser obrigado a desnudar-se um face ao outro e ambos face ao terapeuta.
Vivem em quartos separados, não têm sexo há cerca de cinco anos e levam uma vida mortiça em que o diálogo já não existe. O que há é silêncio e uma rotina esmagadora...
Julgo conhecer bastantes pessoas nesta situação, que deixaram de alimentar a sua cama, se demitiram do prazer e se acobardaram porque considerarem que "a partir de uma certa idade", o sexo deixou de ter lugar. E, nesta matéria, o corte pode ser fatal. Não há idade para ter sexo. Há é sexo para cada idade. Que precisa de ser praticado e o resto é pura hipocrisia...
HSC
10 comentários:
Vale a pena ir ver o filme, querida Drª Helena?
Maria Helena
Querida amiga Helena,
O bom senso e a sinceridade são cada vez mais escassos, neste mundo de marketing e de jogos de espelhos, até na vida privada. É uma lufada de ar fresco e de autenticidade ver alguém dizer as coisas que dizes. Obrigado por continuares a ajudar os teus amigos a pensarem que vale a pena sermos autênticos!
José Honorato Ferreira
vi o filme e apesar dos actores e do tema cheirou-me a "môfo" tudo o que circundava os ditos actores.
quanto ao que diz sobre o amor é isso mesmo, como diz tão conhecedora de coisas do "coração".
é triste os comentários da assistência! ah educação?!
boa noite e todo o carinho,
lb/zia
Bom dia, querida Drª Helena:
Antes de mais, espero que a cirurgia tenha corrido bem e que aquele "a quem muito estima" (como referencia no post) esteja a ter uma convalescença não muito torturadora (embora este período pós-operatório seja um pouco complicado).
Fez bem, ausentar-se um pouco do Hospital, a espera parece sempre mais longa. Todavia, eu teria preferido o mar: as ondas têm a magia de levar os problemas para longe mas se preferiu ir ao cinema e espairecer por frente ao ecrã gigante tudo bem.
Rápidas melhoras.
Quanto ao outro tema, o conteúdo do filme, no comment. ;)
Um beijinho,
Vânia Edite Batista
Concordo com o que escreve, porque
tenho 44 anos de casada, 66 de idade
e o meu marido 70.Ainda não vi o
filme, mas adoro Merryl Streep e
tenciono ir ver.
Um beijinho
Irene Alves
PS. Desejo que a operação tenha
corrido bem, e que o(a) seu familiar
recupere o melhor possível.
Bj
Já tinha visto a apresentação desse filme e achei curioso porque estou quase nessa faixa etária e não consigo entender como se pode viver, por viver!!Sem diálogo, sem afectos, sem carinho, sem SEXO!!!!!!!É como diz, existe muita gente assim que vegeta, que não entende que só se vive uma vez, temos que aproveitar esta oportunidade ao máximo.
Tal como tudo na vida, o sexo também se adpata à nossa idade, é tudo uma questão de disponibilidade, mentalidade e sobretudo de amor!
FL
A Srª tem toda a razão o filme devia ser obrigatório de ver...é fantástico na sua simplicidade que se transforma em prefundidade,a crise não é só monetária a maior é a dos casais novos ou mais velhos que sentados num restaurante não se olham não falam...o que será em casa....
Mais uma vez foi diferente a certamente o tempo da operação foi mais curto
com amizade
Que bom que voltou :)
Vi o filme e gostei. Vi a minha realidade retratada e de muitos que conheço. Um vaso que quebra, por melhor que se restaure nunca ficará como um novo.
Como não vi o filme, embora goste do trabalho da Meryl Streep, só posso comentar o 1º parágrafo e dizer apenas o quanto gosto de estar em esplanadas à beira-mar, pois que aí me é permitido fazer um exercício muito benéfico, (a meu ver) ele é tão somente encher os olhos de mar, enchermo-nos das sensações que o mar proporciona: cor azul, maresia e marulhar da ondas. É uma sugestão para aprivisionar energia positiva.
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