Ontem a Rita fez anos. A casa estava cheia de amigos. E bastava olhá-los para se ter a noção da diversidade de que eles são feitos. Havia jovens, os da geração dos filhos e havia adultos cuja profissão ia do professor universitário, ao comentador televisivo, do escritor ao actor. Tudo, mas mesmo tudo, numa saudável confraternização.
Aqueles amigos todos gostam da Rita como ela é, embora possam discordar dela em imensa coisa. Mas há uma transbordância humana, um excesso temperamental que, diga-se o que se disser, faz realmente dela uma pessoa especial, que se ama ou se detesta, mas à qual jamais se é indiferente. Eu pertenço, felizmente, aos primeiros!
HSC
8 comentários:
os parabens a uma escritora que nos enriquece com a sua literatura e muito mais.
Dear Helena, tenho que lhe confessar que nao conheço Rita Ferro (hélas !). Mas no outro dia li este artigo...e penso que se trata obviamente da mesma pessoa. Aqui o deixo para que a aniversariante o possa ler quando por aqui passar. Eu achei-o fabuloso...sobretudo porque foi escrito por um homem.
Enjoy ; )
CENAS DA LUTA DE CLASSES
Ontem, no regresso de uma reunião em Coimbra, e no meio de uma programação radiofónica onde parecia não haver nada de interessante, fui parar a um programa da Antena 3. Intitula-se Conversas de Raparigas e é feito por Rita Ferro, Ana Coelho e Rita Matos. Rita Ferro sei quem é, os outros nomes não me dizem nada. Ontem falava-se do grau de satisfação sexual das portuguesas. Que é, aparentemente, elevado. A informação baseia-se num estudo.
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A dado momento, discutia-se a validade do grau de satisfação e como se pode avaliar tal coisa. Nesse momento, uma voz upper class (Rita Ferro?) profere esta frase fatal: Como é que se pode medir a satisfação? Provavelmente, a D. Alzira de Vila Nova de Poiares tem relações uma vez por semana ou por mês e considera isso satisfatório.
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Achei graça à alusão. Não se reportou a nenhuma condessa ou baronesa, nem a nenhuma socialite do Estoril, com coloridas e efervescentes vidas íntimas mas sim à D. Alzira, presumivelmente da classe D ou E. Cujas práticas sexuais se regerão pelo cinzentismo e pela mais elementar frugalidade.
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Será mesmo assim? Terão disso a certeza? Terão mesmo? Eu não tenho. Mesmo nada. E, veja-se mais abaixo, os clássicos concordam connosco.
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E de repente sentiu ao lado, sob as ramagens, vindo do cháo, d'entre a herva, um resfolgar ardente d'homem, a que se misturavam beijos. Parou, varado: e o seu impeto logo foi esmagar a cacete aquelles dois animaes, enroscados na relva, sujando brutamente o poetico retiro dos seus amores. Uma alvura de saia moveu-se no escuro: uma voz soluçava, desfalecida — oh yes, oh yes... Era a ingleza!
Oh santo Deus, era a ingleza, era miss Sarah! Apagando os passos, atordoado, Carlos escoou-se pelo portão, cerrou-o mansamente, foi esperar adiante, n'um recanto do muro, sob as ramarias d'uma faia, sumido na sombra. E tremia de indignação. Era preciso contar immediatamente a Maria aquelle grande horror! Não queria que ella consentisse um momento mais essa impura fêmea, junto de Rosa, roçando a candidez do seu anjo... Oh, era pavorosa uma tal hypocrisia, assim astuta e methodica, sem se desconcertar jámais! Havia dias apenas, vira a creatura desviar os olhos d'uma gravura d'Illustração, onde dois castos pastores se beijavam n'um arvoredo bucolico! E agora rugia, estirada na herva!
Na estrada escura, do lado do portão, brilhou um lume de cigarro. Um homem passou, forte e pesado, com uma manta aos hombros. Parecia um jornaleiro. A boa miss Sarah não escolhera! Bem lavada, toda correcta, com os seus bandós puritanos, aceitava um qualquer, rude e sujo, desde que era um macho! E assim os embaíra, mezes, com aquellas suas duas existencias, tão separadas, tão completas! De dia virginal, severa, córando sempre, com a Biblia no cesto da costura: á noite a pequena adormecia, todos os seus deveres sérios acabavam, a santa transformava-se em cabra, chale aos hombros, e lá ia para a relva, com qualquer!...
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Transcrevo este excerto - que tanto me divertiu na juventude - de um grande clássico da literatura. Não me parece necessário indentificar o livro ou o seu autor. A tentação está aqui bem representada na fotografia de Robert Mapplethorpe.
PS Pena que a foto que ilustrava o artigo nao possa aparecer. : (
Consegui encontrar a foto do artigo acima :
http://1.bp.blogspot.com/-DEGCnzw6qZ8/TVaHIa_j2YI/AAAAAAAADSc/meri1p4uRyU/s1600/robert_mapplethorpe.jpg
Minha deliciosa Júlia
O que me ri com as arrebatadas envolvencias que transcreveu e eu felizmente conhecia.
Estou bastante de acordo consigo. Se há D. Alziras que nunca exclamaram um "ai", outras há que só não terão subido pelas paredes porque elas estão na vertical
Basta ler Eça para saber quantas "outras", libertas dos espartilhos de classe se manifestam. Sabe? Creio mesmo que aquelas que fazem sexo uma vez no mês estão sobretudo na upper class. Ufa!
Vou escrever sobre o tema e publico a foto. Que nem ginjas!
Abraço
Esqueci-me das aspas. Vao de CENAS até Mapplethorpe.
O seu a seu dono : )
E toca a dormir...boa noite !
Eu também sou dos primeiros e amo a 'minha' Rita.
Estou à vontade na declaração, porque ela 'declarou-se' assim antecipadamente, eu só retribuo. Com gosto!
:)
É um vórtice delicioso!
(e só a 'conheço' virtualmente! de perto devemos ter de tomar qualquer coisinha, para não marearmos com a excitação!)
Drª. Helena,
Parabéns à Rita, parabéns à Helena, parabéns a ambas pela grande amizade que se dedicam, parabéns às três, Rita, Helena, e Amizade, pela harmonia que sabem manter entre si!
Cumprimentos
MO
O comentário da Júlia é delicioso! :)
Isabel BP
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