«Esses tempos feriam-no lá onde a alma já não seria capaz de defender-se. Se podia ter vivido ainda com as feridas da sua vida pessoal, as feridas da grande família que era a pátria acabavam com ele. Muitos da sua classe, e geração, morreram como ele, e não eram, seguramente, os mais fracos. «Pátria» era, para o pai, um conceito mais vasto que o da família, entidade suprema cujo destino responsabilizava os seus membros mais proeminentes. Aquele golpe do destino atingira-o em todo o seu ser, no corpo e na alma, como se a sua família tivesse sido afrontada, como se a infâmia que atingia o país ferisse a própria família. A sua agonia era como o prestar de contas de alguém que admite responsabilidades no sucedido, e, a seu modo, paga por isso.»
"Divórcio em Buda" de Sandor Márai
O autor deste belíssimo texto foi-me revelado, há uns anos, pela minha querida amiga Rita Ferro. A história da sua vida é fabulosa, apesar de terminar em suicídio, numa fase tardia da sua existência.
Hoje, ao visitar o inteligente blogue da Rita, o Acto Falhado, dei com esta reprodução que lhe roubo e aqui publico. É que fiquei com a impressão de que estas palavras podiam ter sido escritas por um(a) português(a) de têmpera, sobre a sua amada pátria.
Quem me dera ter tal talento. Porque o sentimento de amor a Portugal, esse, está todo inteiro dentro de mim!
HSC
2 comentários:
Dele só li «As velas ardem até ao fim», mas este parece 'promissor'...
Margarida não dixe de ler os outros. Qualquer deles. São livros para pensar e que a mim me pacificam!
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