Se há virtude que a maioria dos portugueses não possui, é a da contenção. Em particular a classe jornalística tem uma enorme tendencia para emitir opiniões disfarçadas sob o manto da notícia. Ou de, através desta, salientar os aspectos que mais choquem aqueles a quem a mesma se destina. O que, como se depreende, é bastante diferente de fornecer informação.
Em contrapartida, os portugueses são todos brilhantes técnicos de ideias gerais. Provam-no os telejornais que, a propósito do que quer que seja, ouvem a "voz do povo". Por mais específico que o assunto seja, lá está o repórter de microfone em riste, a inquirir o senhor A ou a senhora B, sobre o que é que qualquer deles pensa da energia nuclear... ou da pedofilia.
Há umas semanas um destes diligentes operadores da comunicação social questionava uma cidadã do Portugal profundo, que deveria ter mais de oitenta anos, sobre o que é que ela pensava da "bissexualidade". Lépida, respondeu "acho muito bem. Olhe que eu tenho esta idade e ainda... bom, ainda a pratico com o meu marido".
O empenhado repórter tentou dar-lhe uma ideia mais clara sobre o tema mas, cheio de contumélias, não terá sido muito eficaz. Quando, finalmente, depois de um diálogo que mais parecia de loucos, a anciã julgou ter percebido do que se tratava, respondeu "olhe meu caro senhor adentro de casa, a gente faz o que quer. Mas lá isso da bi, enfim, lá essa coisa que falou, eu não sei nada. Mas talvez o senhor me saiba dizer. É tão bom como o que eu e o meu homem fazemos? Olhe, se é, porque não? Mas sempre adentro de casa".
O jornalista permaneceu, hirto, uns segundos, agarrado ao microfone, sem resposta para devolver, até que a pivot da estação o tirou oportunamente do ar.
Não seria útil que estes jovens inquiridores tivessem alguma melhor preparação? Ou, pelo menos, alguma contenção não só na escolha das palavras como, e sobretudo, na escolha das pessoas a interrogar? Nós agradecíamos!
HSC