domingo, 29 de novembro de 2009

Ignorância e ingratidão

Por mais estranho que pareça nos dias que correm, gosto e/ou admiro muitas pessoas que não pensam como eu. O que somos depende da nossa história familiar, das nossas capacidades, das influências que sofremos, da classe social em que crescemos, da memória genética que transportamos no ADN e de muitas outras coisas mais.
Com fui educada no respeito pela diferença, tenho amigos em todos os quadrantes políticos e, possivelmente, não penso como nenhum deles. Convencionou-se que sou uma mulher de direita o que, confesso, me diverte imenso. Não vejo, aliás, qualquer necessidade de me situar politicamente, para esclarecimento de quem quer que seja. E muito menos necessidade, ainda, de desdizer uma filiação ideológica que apenas irrita aqueles que, de facto, se sentam nessa cadeira. Sempre disse o que penso e nunca essa convenção ideológica me privou, alguma vez, de o fazer. E quando olho o percurso que fiz e aquele que certas pessoas conotadas com a esquerda acabaram por fazer, então, sim, a vontade de rir é maior ainda.
Acresce a esta circunstância, que tenho uma memória de elefante e, por isso, quando alguém ensaia endeusar algumas criaturas reescrevendo as suas histórias pessoais, eu reajo. Como reajo, quando, ao contrário, pretendem denegrir gente que não pensando como eu, merece o meu respeito.
Lembro a este propósito, a nossa Amália Rodrigues que depois de ter sido considerado por um certo país, uma reaccionária está, neste momento a ver dignificado o seu nome e a sua história.
Portugal gosta pouco de heróis. Os do passado, por ignorância, não sabe quem são. Os recentes, por ingratidão, já os esqueceu. Há algum país que possa viver sem honrar os seus?!

H.S.C

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CSI Lisboa

Declaro já, à partida, que vejo sempre que posso, as séries CSI. A que mais gosto tem um homem gordinho de barba - julgo que se chama Peterson - mas qualquer delas me diverte imenso. É, até, dos raros casos em que ver o médico fazer uma autópsia me não me leva, de imediato, a zarpar para outro canal... É claro que, também eu, tenho destas pequenas debilidades mentais!
A propósito do tema, li hoje nos jornais que a nossa polícia dispõe já, desde Julho, de carros de segurança equipados com leitura automáticas de matrículas, que permitem detectar se os veículos têm ou não seguros actualizados, se têm ou não permissão de circular, se têm ou não ordem de apreensaão, etc. Ou seja, no momento tem-se o retrato legal duma viatura.
Além deste "polícia automático" iremos também passar a ter o "voador" em que os agentes viajarão em ultraleves de onde poderão dar as suas ordens e potentes motorizadas de dois lugares para a perseguição de criminosos. E, finalmente, num verdadeiro enquadramento da série de Miami, foram adquiridas doze carrinhas dotadas de todos os meios necessários para analizar o "local do crime".
Confesso que devo a estas séries uma informação de investigação criminal que antes não possuía. E, mesmo que nem tudo seja real, o que é certo é que a polícia de investigação científica ganhou, entre nós, louros que no passado lhe não reconhecíamos.
Só por isso, já sinto justificada esta minha preferência!

H.S.C

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Inês Pedrosa

Gosto da Inês. Das suas múltiplas capacidades. Do que escreve. Da fidelidade aos amigos.
Mas falo hoje aqui dela porque a acção que tem desenvolvido na Casa Fernando Pessoa é digna dos maiores elogios. Inês Pedrosa conseguiu torná-la um centro permanente de actividade cultural, sem alarde pessoal e sem descurar os compromissos que mantinha anteriormente.
Ela venceu - já - onde outros soçobraram. E conseguiu colocar no mapa geográfico de Campo de Ourique, um polo de atracção pelas artes e pelas letras. Tudo com muito poucos meios e uma criatividade prodigiosa. Merece a nossa admiração e, sobretudo, o nosso respeito!
Parabéns, amiga!

H.S.C

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Surpresas

Já aqui disse que ando a escrever dois livros ao mesmo tempo. A experiência é, no mínimo, curiosa. Ler duas obras em simultâneo, faço com frequência. Mas escrever exige outra disciplina e eu até estou espantada comigo!
Um deles é constituído por pequenas biografias de mulheres do sec XX de quem nos habituámos a ouvir falar pelos feitos cometidos nas várias áreas em que intervieram.
Pois bem, se para algumas a vida privada foi relativamente pública, a surpresa veio de outras em que a vida pública teve uma privacidade que não esperava. Não vou mencionar nomes porque quero que comprem o livro quando ele sair!
Mas a descoberta levou-me a pensar em casos mais recentes e a fazer do tema matéria deste post. Nunca aqui referi - apesar de tentar falar da actualidade - nada que envolvesse casos por julgar ou aspectos da vida familiar de políticos. Relativamente aos primeiros aguardo sentenças. Relativamente aos segundos, para além de me não interessarem minimamente, não estou nada vocacionada para partilhar da intimidade de pessoas com as quais não tenho qualquer convivência e que não pertencem ao meu grupo de relações.
Julgo que se não estivermos muito atentos a este problema, corremos o risco de não sabermos distinguir entre informação e "voyeurismo".

H.S.C

sábado, 21 de novembro de 2009

Sentimento de pertença

Ontém, com bastante sacrifício pessoal - ando estafada e não aprecio o chamado social - fui ao lançamento do livro da Rita Ferro. No agradecimento a minha amiga tocou num ponto que, de há uns anos para cá, tem sido matéria de muita meditação da minha parte. Trata-se, como diz o título deste post, do "sentimento de pertença" que eu tenho, mas que me parece andar em vias de extinção, face à velocidade com que se renovam as relações sentimentais.
Explico-me melhor. Esta sensação é algo que vai muito para além do amor. É como se na nossa carne e na nossa alma ficassem gravados os elos que nos ligam a certas pessoas. E que só porque esses elos existem é que sobrevivemos às perdas que, ao longo dos anos, vamos tendo. Não querendo pessoalizar demasiado a questão, estou a falar desse laço sui generis que me une aos meus pais. Que "só" podiam ser aqueles e mais nenhuns outros. Esse laço que também me liga aos meus filhos, que só podiam ser aqueles que tenho e nenhuns outros mais.
Esta espécie de magia vai muito para além do sangue. Pode, até, dar-se com alguém que amamos, a quem nos entregamos e a quem ficamos a pertencer. Isso não significa morte para outros amores. Significa que "aquele" tem ou teve e continuará a ter, um cunho especial. Uma marca de pertença que jamais se apaga. E que é boa, porque nos mantém unidos a um pedaço de vida que mesmo eventualmente perdido, continua a ser profundamente regenerador.
É isto que, para mim, significa pertencer a alguém!

H.S.C

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O protesto resultou!

Há poucos dias escrevi aqui que se começava a sentir, no seio da U.E, algum mal estar por não se encontrarem mulheres nos seus lugares de topo.
Pois bem, em hora e meia de reunião, vinte e sete países escolheram os dois mais altos cargos criados pelo Tratado de Lisboa, para aquela organização. O senhor Hermann van Rompuy, até aqui Primeiro Ministro belga, será o Presidente do Conselho Europeu e a britânica baronesa Catherine Ashton ocupará o posto de Alto Representante para a Política Externa, ou seja o de Ministra dos Negócios Estrangeiros.
O primeiro era o grande favorito, dadas as suas qualidades profissionais e de carácter amplamente reconhecidas como relevantes para o cargo. A segunda desempenhava, desde há um ano, o cargo de responsável pela política comercial, pelo que a sua indigitação causou alguma surpresa. Mas o seu nome foi a alternativa encontrada para compensar o de Tony Blair que o PM britânico, em vão, tentou catapultar para o lugar de Senhor Europa, apesar de saber que só teria o apoio de muito poucos membros.
Preencheu-se, assim, a vaga e resolveu-se a necessidade atrás já referida. No segundo lugar da U.E está, agora, uma senhora indicada pelos socialistas. E, se me permitem o humor ... ainda por cima, baronesa!

H.S.C

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O outro lado da questão

Os dados recentemente publicados pelo Ministério do Trabalho sobre o desemprego são preocupantes. Pelo montante alcançado mas também por um outro aspecto de que não costumamos falar mas também lhe está associado.
É que em Portugal os últimos elementos estatísticos disponíveis - fim de 2007 - revelam que cerca de 23% dos nossos empresários tem apenas a primeira classe e 20% dos empregadores tem, maxime, o terceiro ciclo do ensino básico, ou seja o antigo 9º ano de escolaridade obrigatória.
O retrato é semelhante se olharmos para a restante população activa. Nos trabalhadores cerca de 22% tem a primeira classe e são também 22% aqueles que acabaram a escolaridade obrigatória. Com qualificações tão baixas de um lado e do outro do binómio empresarial, como esperar inovação, sucesso, empreendorismo?
Vale a pena pensar no que escondem estes números e atacar o mal pela raíz. Ninguém nasce empresário. Tornamo-nos, isso sim, empresários.
Sem habilitações e com baixas qualificações que margem de manobra nos resta? Apenas a de reinventar a formação de base que não possuímos e fazer dela um objectivo pessoal, empresarial e nacional. O resto, vem por acréscimo e dispensa demagogia.

H.S.C

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Savoir se retirer...

Charles Aznavour cantava, quando eu era nova e ele também, uma canção em que o refrão era "savoir se retirer", ou seja saber retirar-se a tempo. Lembrei-me dela a propósito duma entrevista curiosa que Belmiro de Azevedo dá hoje ao jornal Económico.
Este tema tem sido, aliás, uma das minhas preocupações recorrentes. Não há nada mais triste do que o apego aos lugares, que inviabiliza o acesso dos mais jovens que, por causa disso, se vêem privados de participar activamente na construção do seu próprio destino.
Na família e entre amigos tenho afirmado várias vezes que há uma idade crucial para se tomarem decisões. Trata-se dos 50 anos, uma época da nossa existência em que já não se é novo e ainda não se é velho...
A canção elencava, com alguma tristeza, várias situações em que saber sair é uma mera questão de bom senso. De facto, o problema essencial está, muitas vezes, ligado a uma questão de bom senso. Ninguém pode pretender ser novo toda a vida. As diferentes idades têm diversas possibilidades. E é nesta distinção que reside o nó górdio da questão. Na minha idade, tem-se toda a liberdade. Excepto a de ser egoista e a de ser ridícula. A primeira marginaliza. A segunda...mata!


H.S.C

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desafio

A Oficina do Bosque fez-me um desafio: responder a cinco questões. Aqui vai:
EU JÁ TIVE muitas alegrias que devo a pessoas que mudaram a minha vida;
EU NUNCA deixarei de amar os meus filhos;
EU SEI que me esforço para entender quem não pensa como eu;
EU QUERO para o meu país um futuro melhor;
EU SONHO que o mundo dos meus netos será melhor do que o meu.
Aqui ficam, minha atenta e estimada Helena, as respostas ao desafio.

H.S.C

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Recriminação

Li na imprensa diária que a Comissão Europeia estaria a ser alvo de críticas por descriminação de género. Ou seja, que não haveria tratamento igualitário, no que se refere ao acesso de mulheres aos lugares de topo na referida organização.E noticiava-se que Neelie Kroes, Comissária para a Competitividade, e Margot Wallström Vice da Comissão teriam assinado uma carta chamando a atenção para a necessidade de reparar aquela situação e de passar a nomear elementos do sexo feminino para as mais altas funções na U.E.
Não pude deixar de sorrir - com riso bem amarelo, entenda-se - ao ler esta notícia, depois de, aqui, há poucos dias ter chamado a atenção para a Lei da Paridade e para a falta de mulheres não só na política como nas administrações das grandes empresas. Pelos vistos, parece que o problema não é só de cá. Mas que seja a Coissão Europeia a dar um mau exemplo, isso é que me parece lamentável!

H.S.C

domingo, 15 de novembro de 2009

New York, I love you !

Fui, com um grande amigo com quem já muito viajei ver, este fim de semana, o filme "New York, I love you" que , em Portugal, creio, corre com o mesmo título.
Costumo seleccionar os filmes pelo realizador, ou pelas críticas que respeito ou, excepcionalmente, pelos actores.
Desta vez foi o meu neto mais velho que me disse " avó, vá ver que é excelente. Tenho pena de não o ter visto consigo!".
As escolhas cinematógráficas do André são bíblias, para mim. Logo, conselhos a seguir. Ainda bem que o fiz. Trata-se de um filme que conta várias histórias - onze curtas metragens de dez minutos cada - passadas numa cidade que adoro, sem que saiba explicar porquê. Mas aqueles "apontamentos" - porque é mais deles, do que de histórias, que se trata - só podiam decorrer na big apple. Os realizadores são vários e isso nota-se aqui e ali, embora algumas situações até se cruzem.
Não se trata de uma obra prima. Trata-se, sim, da vida de todos nós, das nossas fraquezas, das nossas alegrias, do nosso humor, da solidão de quem não sabe envelhecer, do amor entre novos e velhos casais. Só que, tudo desenrolado em cinco bairros de New York, essa cidade onde tudo pode acontecer. E onde tudo, de facto, acontece. Mas que no filme, vem envolto numa grande sensibilidade na abordagem dos temas.
Enfim, um verdadeiro bálsamo para quem, com eu, quando abre os noticiários televisivos, julga que se encontra, não em Portugal, mas numa espécie de purgatório!

H.S.C

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Paridade

Sempre pensei que não era pelo sistema de quotas, que o problema da participação das mulheres na política se iria resolver. Continuo a pensar o mesmo.
Até agora e por via da renúncia ou da suspensão de mandatos, pelo menos em quatro câmaras, as eleitas já foram substituídas por homens. Muito provavelmente, outros casos surgirão.
É que, para cumprirem com os mínimos da Lei da Paridade, os partidos põem em lugares elegíveis mulheres que, antecipadamente, sabem não irão lá ficar. É lamentável. E é-o duplamente. Pela preversão partidária de uma lei e pela cumplicidade do género feminino que se presta a tal jogo.
Não sei porque é que as mulheres não vão para a política. Ou antes, até julgo saber. Mas sei porque é que nunca para lá fui, nem quando os rebentos familiares não passavam disso mesmo. Tenho-o dito muitas vezes. Gosto de analisar o que se passa à minha volta com um olhar critico e livre. Ora o exercício do poder - e é disso que se trata quando se fala de política - pressupõe um jogo de cintura para o qual, duvido, alguma vez possa estar preparada.
Além disso, para exercer actividade política são necessários, pelo menos, três predicados: competência, independência económica e gosto pelo poder. Não tenho nenhum deles.
Posso ser mais ou menos competente em certas áreas, mas dependo do meu trabalho e não tenho qualquer gosto pelo comando do que quer que seja. Acresce que não pretendo ver na praça pública enxovalhado um nome do qual me orgulho. É que, na política, não basta ser sério. Já vi vários sossobrarem justamente porque o foram.
Logo, se muitas mulheres pensarem como eu, ficam bem longe de tais desígnios. As outras sabem ao que vão e os riscos que correm. Por isso, para mim, paridade, só... com ameaça da forca. Porque, já agora, a ter de seguir por mau caminho...prefiro que seja eu a escolhê-lo!

H.S.C

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Estranha democracia

Paula Teixeira da Cruz é uma mulher muito inteligente e dispensa qualquer tipo de apresentação. Leio-a por norma com muita atenção, pese embora o facto de nem sempre estarmos de acordo.
No Correio da Manhã, na sua crónica de hoje, escreve sobre um tema que me é muito caro. Trata-se da necessidade que o nosso país tem, urgente a meu ver, de não rotular, à partida, pessoas ou decisões. O facto de alguém ter filiação partidária não deve ser impeditivo do apoio que possa dar a uma proposta de outro partido, desde que, em consciência, entenda tratar-se de uma medida correcta.
O mesmo se pode dizer a nível do julgamento pessoal. O facto de idelogicamente se ser de um determinado sector da vida partidária do país não qualifica eticamente ninguém. Não se é bom ou mau por se ser do PS ou do PCP.
Depois de mais de trinta anos de democracia, os labéus continuam a florir entre nós, tornando os consensos cada vez mais difíceis e estratificando uma sociedade que se deseja paritária.
Estranha vida partidária e bizarra democracia, esta nossa...

H.S.C

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

4&1Quarto

Garanto-vos que não tenho qualquer percentagem nos dois livros que, acidentalmente, ontem e hoje, refiro. Agora a vez pertence a Rita Ferro, escritora que não precisa de ser apresentada.
Acontece que sou amiga pessoal da autora por quem, além de muita estima, tenho muita consideração. Conhecemo-nos há muitos anos e, pese embora pertençamos a gerações bem distintas, é muito aquilo que nos une. Tanto, que até já publicámos um livro juntas. Que, aliás, vendeu muito bem, se é que as vendas podem, alguma vez, ser sinónimo de qualidade...
Lança agora "4& 1 Quarto", que talvez seja o seu romance mais arrojado. Como não sou crítica literária e sou suspeita pela amizade que nos une, apenas posso sugerir que o leiam de espírito aberto e tirem as vossas próprias conclusões.
Quem, como eu, conhece a Rita, lê os seus livros com um olhar diferente do leitor comum. E, talvez por isso, facilmente reconhece a sua maneira, muito pessoal, de observar a sociedade em que vivemos. Para mim, é uma delícia vê-la nas linhas que escreve. Por isso não posso deixar de a recomendar. Com a vantagem do conhecimento de causa!

H.S.C





terça-feira, 10 de novembro de 2009

"Receber com estilo"

Já aqui disse várias vezes que tenho amigos especiais. De cuja família acabo, também, por fazer parte. Há mais de vinte anos que conheço os Machaz. Só não conheci o patriarca. Mas ainda convivi com a Senhora D. Antónia que, enquanto permaneceu entre nós, nunca deixou de desempenhar o papel de agregadora dos seus. E, também, dos amigos desses seus.
As circunstâncias em que conheci a Maria Guiomar vieram do facto de sermos duas das condóminas num prédio que apenas tinha quatro. Desde a primeira assembleia, ficámos logo muito próximas. A nossa vida tomou rumos diferentes mas a nossa amizade, mesmo com solavancos, manteve-se.
Quando, um dia, ela decidiu trabalhar, eu estive na primeira linha para a apoiar. Mal sabíamos as duas o que daí adviria. Mas isso dava um belo conto!
Licenciada em História e senhora de muitíssimo bom gosto fez-se à vida profissional pelo lado das revistas de decoração que dirigiu. Recentemente, pensou fazer um livro no qual aliasse o gosto de bem comer ao gosto de bem receber. E se pensou, melhor o fez. Com Joana Mayer lança amanhã um livro lindíssimo, intitulado "RECEBER COM ESTILO".
Vale a pena fazer-lhe aqui referência. As receitas são deliciosas, as fotografias de Francisco Bento têm a excelente qualidade de sempre e a produção da Guiomar é, de facto, magnífica. Com o low profile profissional que sempre a caracterizou, o seu nome vem apenas em sub-título. Mas se folhearem o livro vão perceber as minhas palavras. Metade do seu valor, deve-se, incontestavelmente, ao bom gosto e ao apuramento da Guiomar Machaz.
Um bom presente para o Natal!

H.S.C

Si non e vero, e ben trovato...

Corre na net um discurso que se atribui ao Embaixador do México, Guaicaípuro Cuatemoc, de ascendência indígena, feito na Conferência dos Chefes de Estado da União Europeia, Mercosul e Caribe, que decorreu em Madrid e que pode ouvir-se em:

http//:www.youtube.com/watch?v=IA2MdbWakwk


A ser verdadeiro, é uma verdadeira bomba no modo de encarar a dívida externa mexicana. E, se não fôr, tem a imensa virtude de chamar a atenção para aspectos em relação aos quais, os países ricos "assobiam para o lado", como se diz na gíria popular.
Ou, como diriam os italianos, si non e vero e ben trovato!

H.S.C

domingo, 8 de novembro de 2009

A política no sangue...

Ainda me estou a rir quando escrevo este post. Hoje foi dia de jantar de família: filhos, nora, netos. Com a vida de cada um de nós, juntar todos é uma aventura, sobretudo porque o meu neto Frederico, o mais novo, tinha que se levantar às seis da manhã para ir fazer body board para Carcavelos...
A conversa foi longa por causa da ida do euro deputado às eleições de Moçambique. E, como sempre acontece, os dois irmãos ficaram horas a "esmiuçar" as novidades partidárias, sem dar azo a qualquer conversa generalizada que abrangesse os netos.
Foi quando decidi fazer uma chamada de atenção ao Paulo que, nessa altura, dando-se conta dos interesses do sobrinho pelo mar, lhe prometeu levá-lo a visitar um Instituto que se dedica, entre outras áreas, ao estudo das marés. O garoto ficou de orelhas no ar porque adora o tio. E perguntou onde era o tal lugar. Na Marinha, respondeu-lhe. De imediato, o meu neto questionou: na Marinha Grande, tio?
Estalou uma gargalhada geral na mesa. Eu, estupefacta com a resposta, pontifiquei, de imediato, em tom de censura, que só na minha família é que Marinha é sinónimo do local onde Mário Soares foi vaiado... Francamente, é "trazer a política no sangue"!
H.S.C

sábado, 7 de novembro de 2009

Felicidade

O que é a felicidade? Não sei responder. Nem sequer sei se há um conceito que se aplique à generalidade das pessoas. Apenas sei, melhor, o que, acontecendo, me torna infeliz.
Usei a expressão "torna" e não "faz", como seria mais natural porque, para mim, o estado de infelicidade deve ser transitório e o verbo fazer tem uma conotação mais rígida que o verbo tornar. É pessoal e não gramatical, a interpretação.
Depois, o que me torna feliz, muito possivelmente não diz nada a outras pessoas. E o que me dá, hoje, felicidade, é bem diferente daquilo que, há 30 anos, me provocava tal sentimento.
Assim, quando os economistas e sociólogos pretendem encontrar uma "taxa de satisfação pessoal", sinto uma grande desconfiança acerca daquilo que se pretende medir. Para além de que, estar satisfeito não é o mesmo que estar feliz.
Por outro lado, se não sei responder à pergunta que coloquei, sei que o sentimento que me invade quando penso que tenho família, amor, amizade, saúde, casa e trabalho, é muito próximo do que, julgo, será a felicidade. E, quando me é dada a fabulosa possibilidade de ver dois netos crescer, eu devo estar muito próxima de ser uma mulher feliz!
Será que não deveríamos todos, neste momento difícil para muitos, tentar requalificar as nossas prioridades, de modo a sentir-mo-nos um pouco menos infelizes?

H.S.C

Mal eu sabia...

Mal eu sabia que, ao colocar aqui no blog uma pergunta que vinha de uma conversa tida na véspera, daria origem a tanto post. A todos os que me deram a sua visão do assunto, um muito obrigada, porque me fizeram reequacionar a questão e pensá-la, nalguns pontos, em outros moldes. Se, e quando, chegar as novas conclusões, aqui delas darei conhecimento.

H.S.C

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os blog's

Desde que passeio por estas coisas da blogosfera algo anda a intrigar-me. Refiro-me à "ilustração/foto" que personifica o detentor do blog. No meu caso, puz o retrato e o nome. Fiquei-me por aí, dado que estes dois elementos esclareciam quem eu sou.
Mas verifico que algumas pessoas, ou não põem nada, ou usam um símbolo certamente escolhido pelos próprios. Trata-se de uma espécie de anonimato corporal.
Será que eu não devia fazer o mesmo? É que comecei a pensar se não terá sido demasiado ostentatório, o caminho que escolhi.
Por isso, aviso já. Se resolver mudar de rota vou escolher como foto, uma flor ou uma árvore. Quanto ao nome, será uma aventura descobrir-me. Como tenho três ou quatro cativos, escolho um deles. O título do blog, esse, será uma autêntica supresa. E esta hein?

H.S.C

Na Assembleia da Republica


Ontém na Assembleia da Republica devia discutir-se um programa para o país. Discutiu-se o programa eleitoral do PS. Melhor teria sido discutir-se aquilo que serve melhor Portugal, no momento delicado que atravessa. Mas parece que governo e oposição estão cheios de contumélias. O primeiro, porque quer comprometer a segunda nas suas decisões. Esta, porque não quer deitar o governo abaixo e correr o risco de novas eleições. Houve um bom discurso a que me não refiro porque elogio em causa próxima, não é o meu estilo.
O que será mais o meu estilo é o retrato actual da minha terra. Aquela que amo e onde decidi permanecer. São 10 milhões de habitantes e 3 milhões de contribuintes líquidos efectivos para fazerem face a 3,5 milhões de reformados, 800 mil funcionários públicos, 400 mil beneficiários do subsídio de desemprego, 350 mil beneficiários do rendimento social de inserção. Esta não é senão a ponta do iceberg. Se cada um destes itens fosse dissecado, a fotografia era bem pior.
Não é preciso ser economista para se lerem estes números. Eu só pergunto: como vai ser?

H.S.C

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O eterno problema

O estado das finanças públicas foi, desde Salazar, um problema de delicada abordagem. E, claro, o defice, outro tanto. Temas quase tabús.
A Comissão Europeia deu uma forte bolada nas nossas perspectivas, ao revelar, ontém, que havemos de sair da crise. Mas apenas lá para 2011. Todavia, com o endividamento que temos - mais de 90% do PIB -, o desemprego que temos - mais de 9% -, e o défice que tranquilamente temos - próximo dos 9% -, quem é que acredita que sairemos? Donde? Do quê?
Já aqui disse que 2010 vai ser o nosso ano mais duro. Mas é em 2011 que vamos começar a pagar uma factura muito alta.
E ninguém parece verdadeiramente interessado em rever posições. O governo apresenta um programa igual ao que já tinha em maioria absoluta. Perdeu-a. Fez alguma alteração? Não. Espera o quê? Que a oposição apoie o mártir? Porquê? Pelo amor à pátria? Mas acaso governo e oposição têm o mesmo conceito de pátria? É que, o mesmo modelo, não têm com certeza.
Eu, ignara cidadã, estou alarmada. Em muitos anos de economista já me não recordava do que "era crescer com base no endividamento". Lembrei-me agora. Claro, que associado, também me veio à memória, o tempo em que o FMI por aqui andava e mandava...
Porque terá sido?

H.S.C

Levy - Strauss

Morreu no último sábado uma das mais fecundas e importante mentes do sec. XX. Nascido na Bélgica e filho de judeus franceses, o fundador da moderna Antroplogia tinha 100 anos. Estudou na Sorbonne Direito e Filosofia. Em 1943 foi para o Brasil ensinar Sociologia na Universidade de S.Paulo e é aqui que descobre a sua vocação de etnólogo.
Os índios que rodeavam a cidade foram aqueles por quem primeiro se interessou. Depois, partiu para o Mato Grosso e Amazónia e começaria a divulgar as suas teses. Dois do seus livros, "As estruturas Elementares de Parentesco" (1949) e " Tristes Trópicos" (1950) iriam ter particular relevância. Este último chegou, mesmo, a ganhar o Goncourt.
Em 1958 a sua Antropologia Estrutural vem permitir o desenvolvimento do "estruturalismo", corrente de pensamento da qual foi o principal dinamizador e que, dito de um modo grosseiro, tenta aplicar aos acontecimentos humanos de natureza simbólica um método que permite encontrar o que é constante naquilo que tem conteúdos variáveis.
Entraria posterirmente, 1959, para o Collége de France onde titulava a Antropologia Social, e do qual apenas sai quando se reforma, em 1982. De algum modo foi, também um percursor dos movimentos ecologistas.
As Ciências Sociais estão assim de luto pela morte de um Homem a quem as mesmas muito devem!

H.S.C


Nota em tempo:
Numa entrevista concedida há quatro anos, Levy- Strauss terá, segundo o jornal Público, afirmado: "Dirigimo-nos para uma espécie de civilização à escala mundial(...) Estamos num mundo a que já não pertenço. Aquele que conheci, aquele de que gostei tinha 1500 milhões de habitantes. O mundo actual tem seis mil milhões de humanos. Já não é o meu".
Continuava com extrema lucidez, direi eu!
.













terça-feira, 3 de novembro de 2009

Uma Bolsa especial

A primeira Bolsa de Valores Sociais foi criada em 2003 na cidade de S.Paulo e partiu de uma ideia de Celso Neto. Por ela passaram já 400 milhões de euros que financiaram 100 projectos.
A segunda será em Portugal e foi ontém apresentada ao público, contando com os apoios da Euronext Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação EDP. Através dela podem comprar-se acções de organizações que visam fins sociais, não deixando de acompanhar o investimento feito, numa espécie de plataforma que se estabelece entre quem dá e quem recebe.
A partir das 00h.00 de hoje, quem quizer pode ir ao site http://www.bvs.org.pt/ e aplicar um mínimo de dez euros em quatro instituições na área da luta contra a pobreza e exclusão social.
A bolsa irá procurar organizações e projectos que ataquem as causas dos problemas sociais e não os seus efeitos.
Aqui, como nas outras bolsas, o funcionamento é semelhante. Junta-se uma empresa que quer ter ganhos com um investidor interessado e em relação ao qual é assumido um compromisso. Só que aqui o lucro não é financeiro mas sim social.
Sou uma entusiasta deste tipo de solidariedade. Seja o Banco do Tempo ou a Bolsa Social. Em qualquer deles cada um dá o que pode. E a entrega - tempo ou dinheiro - tem destino certo.
Uma boa ideia que, espero, tenha sucesso. O que também depende de nós!

H.S.C


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Portugal à espera...de si próprio!

Já aqui falei da estima e do respeito que tenho por Ernâni Lopes que, com Jacinto Nunes e Silva Lopes foram, no Banco de Portugal, as pessoas a quem mais devo. E como entre os meus defeitos, que são muitos, me esforço para que não conste a ingratidão, nunca acho demais repeti-lo. O que explica que esteja sempre muito atenta ao que dizem.
"Dez anos de tempo perdido" é o resumo que muitos economistas não políticos - entre os quais se coloca a autora deste post - fazem acerca da última década em Portugal.
Deles destaco dois que este fim de semana são referidos no Confidencial do Semanário O SOL. Trata-se de Ernâni Lopes e de Campos e Cunha. Deste último falarei mais tarde.
Reporto-me agora, apenas, a algumas afirmações do primeiro. Que, para já, tem dúvidas sobre se os sinais positivos de retoma da actividade económica correspondem a uma recuperação sustentada e fica surpreendido quando os responsáveis se animam muito pelo facto de uma quebra passar de 4,5% para 4%. É que a "quebra" continua, infelizmente, a existir...
E alerta para o facto de termos passado de uma crise no sistema financeiro para uma crise na economia, onde os ajustamentos, por se encontrarem longe de estar concluidos, vão arrastar-se por mais tempo na política e na sociedade. Por isso, o país demorará a sair da crise.
Com efeito, o nível de destruição da riqueza e da empregabilidade verificado nos últimos anos atingiu tais níveis que, ao falar-se de emprego e questões sociais, não há recuperação à vista. São suas as palavras que se seguem:
"Esta década revelou-se um registo muito pobre da vida portuguesa. É uma década sem garra, sem ideias, sem verdade, sem força, sem lucidez, sem substância, sem densidade política.
(...)Mostrou uma percepção materialista da sociedade portuguesa, sem rasgo para o futuro e sem verdade, numa atitude vulgar e interesseira, vazia e sem horizontes. (...) Mais do que uma década perdida é uma década historicamente esvaziada".
Podem os governantes clamar que isto é bota baixismo. Podem até encolher os ombros. Mas o que não podem é negar a capacidade profissional de Ernâni Lopes - talvez o nosso melhor Ministro das Finanças -, ou o seu arreigado amor a Portugal. É que a dedicação à pátria não constitui exclusivo dos políticos que nos comandam. Pelo contrário...

H.S.C

Mimos quem os não quer?

Agora foi a vez da Teresa Santos do blogcronicasdateresa.blogspot.com
me mimar com um selo BLOG INSTIGANTE que pretende distinguir "os blog's que além da assiduidade da postagem e do esmero com que são feitos, nos provocam a necessidade de reflectir, questionar, aprender e - sobretudo - que instigam almas e mentes à procura de conhecimento e sabedoria".
Se eu tiver conseguido uma milionésima parte disto, já me sinto feliz e agradecida!
H.S.C

Amizade

A leitura de uma carta aberta a um amigo, no blog do Dr. Francisco Seixas da Costa, está na base deste post. Nela se fazem uma série de advertências a alguém que vai exercer determinadas funções publico - políticas. Não são, contudo, estas que aqui me interessam. O que me faz pegar no tema é, antes, o espírito ou, se quizermos, a essência do que se considera a amizade.
Amigo não é aquele que diz sempre sim, mas antes aquele que diz não, quando entende que o deve fazer. Amigo não é aquele que elogia o sucesso, mas sim o que adverte para os obstáculos que o mesmo comporta. Amigo não é aquele que espera contrapartidas, mas sim aquele que até sabe que dizendo o que pensa, as pode perder. Amigo não é aquele que elogia o que entende ser medíocre, mas sim aquele que é capaz de chamar a atenção, para essa mediocridade, visando que ela se não repita. Enfim, ser verdadeiramente amigo, é ter sempre a verdade na ponta da língua e, apesar de saber que pode não ser de imediato compreendido, nem por isso deixar de a dizer.
Pensando no assunto descobri que, felizmente, a maioria dos que estimo vem dos bancos da escola. O que diz alguma coisa sobre a sua qualidade...
Percebe-se, por isso, que não seja fácil ter amigos autênticos. E que os que se têm, possam ser de origem bastante diversa... Estranho, seria o contrário!

H.S.C

domingo, 1 de novembro de 2009

Camilo Castelo Branco

Ando cheia de trabalho e, por causa disso, com pouca vontade de "aparecer". Mas tinha assumido dois compromissos para Outubro e Novembro. Eram duas conversas. Uma, decorreu esta semana, em S. Miguel de Seide, a convite da Casa Museu de Camilo, que todas as últimas sextas feiras de cada mês, tem um convidado para falar ou de um livro ou de um filme. A outra, irá decorrer a 24 de Novembro, no Teatro D. Maria, em Lisboa.
Saí, assim, da capital na quinta feira, em direcção ao Norte, depois de ter escolhido o filme Gran Torino. Estreado em Portugal em Março, trata-se da última obra de Clint Eastwood, na qual ele é actor, produtor e realizador. Ainda hesitei entre "A idade da incência" e "Magnólia", ambos excelentes. Mas Gran Torino havia-me tocado muito particularmente quando o vi.
A sessão começou com a explicação das razões que me tinham levado àquela opção e com as minhas pistas para o modo como encarara a mensagem de Clint. Seguiu-se a projecção do filme e, finalmente, o diálogo. Fiquei muito contente com o resultado e espero que quem me ouviu também tenha ficado.
Mas depois, fiquei para me embrenhar em Camilo. Visitei a casa onde viveu e morreu, vi a exposição sobre as mulheres da sua vida. E passeei, até, por alguns dos locais onde decorreu parte da sua infância e que ele tão bem descreve nos seus livros.
Nesta digressão tive a sorte de ser acompanhada pelo Dr. José Manuel Oliveira que foi um guia excelente. De facto, não só fez uma criteriosa selecção de textos do autor, como teve a paciencia de mos ler nos lugares que os mesmos evocavam.
Tive ainda, pela sua mão, a oportunidade de visitar a Fundação Cupertino de Miranda e apreciar uma excelente mostra de pintura surrealista do tempo de Cruzeiro Seixas.
Finalmente, sabendo do meu apreço pela boa comida, o roteiro gastronómico foi de tal qualidade que não consigo eleger nem o melhor restaurante nem o melhor prato. Foi tudo pensado com tanto cuidado que só posso dizer que esta "digressão camiliana" me deixou rigorosamente de água na boca!

H.S.C