É muito cedo para se fazer uma análise sociológica do que se passou com os portugueses em consequência da pandemia que ainda atravessamos. No meu caso particular, sinto que algumas características minhas se alteraram bastante. Neste momento apenas me dou conta delas, mas o seu grau de profundidade continua desconhecido. Para usar uma linguagem vulgar, talvez a noção de finitude seja a mais marcante de todas elas. Antes eu sabia, agora sinto que o tempo é que irá determinar o que ainda farei e como o farei.
Falo disto porque a despedida do Sousa Tavares do jornalismo - sejam quais forem as verdadeiras razões - despoletou em mim uma sensação de que, a partir de certa altura da vida, há um "tempo certo" para se tomarem determinadas atitudes e decisões.
Ora o confinamento o que é que nos trouxe de verdadeiramente novo? Foi tempo. Tempo para pensar em nós próprios e nos outros. Mas também a inutilidade de discutir aquilo que já não se irá passar na nossa vida. De repente, dei-me conta da facilidade com que os "velhos" - porque, de facto, já não são jovens - que nos governam, tomam medidas cujas consequências, muitos delas, já não terão, sequer, oportunidade de ver realizadas.
Reconhecer este facto, deveria levar-nos a três tipos de decisão. A primeira, começar jovem para haver tempo de aprender. A segunda, aproveitar bem o ensinamento dos mais velhos e aperfeiçoar tudo quanto possa ser melhorado. A terceira, saber "sair" a tempo de não serem os outros a dispensarem-nos.
Parece-me que MST percebeu tudo isto muito bem. Se ele é ou não, capaz de suportar as consequências desta perceção, é outra história. Mas isso é o que acontece, quando começamos a perceber que a finitude, faz parte da nossa vida, não vem de roldão, e portanto, vai passar a ser companheira fiel daqueles que não souberem preparar-se para envelhecer. Dito de outro modo, para o bem e para o mal, nada já mais voltará a ser o que era!
HSC