Eu sei que todos temos direito a pensar livremente, ou melhor acredito que assim será e continuará a ser.
Ontem foi votada uma lei na Assembleia da Republica que respeita ás condições em que uma pessoa pode pedir e alcançar pôr fim à sua vida. Votação feita numa altura em que todo o país se mobiliza para salvar vidas. Se fosse humorista, estava garantida matéria suficiente para uma série de rábulas. Como não tenho esse mister, para mim a questão põe-se a outro nível e o resultado alcançado enche-me de tristeza. Mas sei, também, que quem tivesse dinheiro acabava com a sua vida ou com a dum filho que trouxesse no ventre, indo ao estrangeiro fazê-lo. São factos. Num caso todos os contribuintes suportam a decisão de um. No outro, é o próprio que decide e suporta a sua decisão. Estamos aqui no plano economicista.
Mas existem outros ângulos pelos quais a questão pode ser vista. Uma é ética e dela depende o juramento de Hipocrates que todos os médicos fazem, de tudo tentarem para salvar a vida que deles depende. Não creio que esses médicos sejam, alguma vez, obrigados a fazer o contrario. É outro facto.
Nova visão possível é a que deriva de uma posição religiosa. Não tenho conhecimentos suficientes para saber se haverá alguma religião que aceite - já não falo em preconize - a livre escolha de morrer. Mas, para países onde uma parte importante da população se diz católica e para a qual o bem supremo é a vida, o dia de hoje é de uma enorme tristeza. Arrisco-me a pensar que essa tristeza é mais funda, por estarmos a viver um período em que os mortos diários não param de crescer, nem a luta titânica para os salvar.
Não quero tomar posições moralistas porque a minha é totalmente ditada pela religião que pratico, a qual não me coloca num plano diferente dos demais. Ninguém pede para morrer, se estiver em situação de normalidade. Pede para morrer, quem já não se encontra psicologicamente em condições de querer viver.
A lei, quando se aplicar, não obriga ninguém a segui-la. Pode apenas não ser praticada por aqueles que sigam critérios éticos semelhantes aos meus. E esses estarão hoje mais tristes. Se um dia eu for colocada perante tal provação, o que peço é que, não havendo nada a fazer, seja esse o critério a seguir. Nada fazer. Ou seja, não quero que me prolonguem desnecessariamente a vida. Desliguem as maquinas e deixem o meu corpo seguir o seu natural caminho para Deus.
HSC
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