Contei-vos aqui em tempos uma série de desgraças informáticas que me aconteceram. Pois bem, agora tive quinze dias que só podem ser castigo de algum pecado maior de que não me lembro. Deixem-me contar-vos. Depois daquela gripe de caixão à cova que tive, os céus brindaram-me com a possibilidade de ficar electrocutada. Forreta com os gastos de cabeleireiro em tempo de chuva, resolvi lavar a cabeça no duche. Limpei-a bem de água mas, de repente, secador começou a deitar faíscas e eu para o conseguir largar, vi-me grega. Num gesto violento para o retirar da ficha soltei-o e ele caiu em cheio no lavatório que se partiu em pedaços. O coração batia-me tanto que desliguei o quadro geral, o que me obrigou a reprogramar tudo o que tenho de electrónico. Fiquei, assim, parada uns minutos. Quando recuperei deu-me um ataque de riso pelo estado miserável em que o meu romântico quarto de banho ficara transformado.
Depois de contactar várias pessoas e apesar da crise, só uma aceitou fazer o trabalho durante o Carnaval. E então foi tudo a eito, uma vez porque as torneiras também tiveram que ser novas e de caminho o duche velho precisou de rejuvenescer.
Pronto. Gastei 500 euritos, fiquei com a casa cheia de um pó branco agarrado a tudo - foi necessário, claro, cortar pedra para colocar o novo lavabo - pó esse que vai levar meses a sair completamente.
Quando tudo parecia serenar - menos o meu bolso que ficou sem Carnaval - eis que um salto de um sapato meu se prendeu na grelha da garagem e eu dei o trambolhão da minha vida. Já dei outros, psicológicos - peanuts ao pé deste -, mas aqui, a única coisa que pretendi salvar foram os meus belos dentinhos, originais, e os olhos. Tudo o que levava na mão ficou em fanicos, em particular o vidro do belo telemóvel, passou a mostrar a cara dos meus amigos numa visão que concorria com os espelhos da Feira Popular. A do meu tempo, entenda-se.
Para me levantar foi o cabo dos trabalhos e a minha hérnia - que há 40 anos esteve para ser operada de urgência - mal me pus de pé deu sinal fortíssimo. Perdi a força no joelho e perna esquerda e não conseguia mexer-me. O filho estava no "tour du monde" e as minhas "anjas" estavam todas fora de Lisboa. Uma no Caribe, a rir-se de mim, e a outra, em Penamacor. Vá lá que me valeu esta última, que depois de um breve inquérito, me pôs a cortisona e Adalgur N.
Já não caio, mas não estou boa. No meio disto tudo, ainda perdi um almoço com um amigo que ia conhecer - pois fiquem sabendo que sou tão boa pequena que continuo a ter destas surpresas - mas esse repasto, seja lá quando for, não deixará de acontecer.
E quem me valeu nestas andanças todas? Os amigos, aqueles que nunca falham e me levam a todo o lado. Bem aventurados sejam!
HSC
Nota Hoje no Estado da Arte fala-se de desejo.