segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Às vezes damos cartas

Portugal recebeu, entre 1974 e 1975, cerca de 600 mil refugiados, vindos das antigas Colónias e maioritariamente provenientes de Angola.
Durante cem dias, uma ponte aérea havia de fazer sair daquele país meio milhão de pessoas, naquilo que se pode considerar ter sido sido a maior evacuação de civis realizada entre dois continentes. Ao invés e infelizmente, quem saiu de Moçambique não poderá dizer o mesmo, já que o teve  de fazer a expensas próprias.
É claro que foram tomadas medidas de excepção de que Portugal beneficiou. E foram muitas, não se devendo esquecer o papel que nelas teve Mario Soares, então Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Pertenço a uma geração que viu Portugal acolher crianças vítimas da Segunda Guerra e orgulho-me de fazer parte de uma família que as soube generosamente receber.
Assisto com algum respeito, confesso, às declarações da senhora Merkel. Como assisto à mais pungente e hipócrita incapacidade demonstrada por esta Europa (des)unida.
Ora se foi possível, há 40 ou há 60 anos, um país pequeno e pobre acolher tanta gente, como é que a Europa não consegue resolver o problema destes refugiados que a procuram, acreditando que ela ainda saberá o que significa a solidariedade na qual a sua união se baseou?
Às vezes, de facto, os portugueses mostram a raça de que são feitos e dão cartas a muitos outros!


HSC

Play time


Jacques Tati encheu muitos dias de um período especial da minha vida, os trinta anos, quando, finalmente liberta de uma série de modelos, me encontrei a mim própria, como pessoa nada modelar, mas muito mais autêntica.
Ir ver o filme Play Time - entre nós Vida Moderna - o único que, penso, nunca terei visto antes, foi uma experiência curiosa.
O Nimas é apertado, com cadeiras incómodas e não usa ar condicionado, circunstância que num país pobre já se vai tornando habitual, embora o preço dos bilhetes, 6 euros, esteja acima do que os baixos salários podem comportar.
Assim, de leque em riste e pernas quase em asana, dispus-me a um retorno aos tempos em que começara a ser feliz. Ao fim do primeiro quarto de hora, não se ouviu um riso na sala e eu temi que a coisa se prolongasse. Felizmente não. O aparecimento de Hulot, essa personagem mítica, alterou tudo e, pelo menos eu, ri com gosto, nalgumas circunstâncias.
Mas o filme vale por muito mais. Vale por um retrato de futuro, por uma crítica à vida robotizada e aos estereotipos sociais que haviam de marcar os anos que se seguiram. E vale pelo decor de interiores que qualquer arquiteto não enjeitaria.
É, sem dúvida, uma película datada. Mas, para quem conheceu aquele play time, é impressionante ver o que a vida mudou em apenas três décadas. É também por isso que vale a pena o sacrifício corporal a que somos submetidos. Que, aliás, se atenuaria se retirassem meia dúzia de filas de cadeiras e distribuissem melhor as restantes.

HSC

"A eleição que ninguém quer ganhar"


Durante o mês de Agosto o Diário de Notícias, que voltei a ler, publicou uma série de textos de ficção política que me fizeram lembrar muito, outros que sob matérias diversas, o Monde também publicou. Chamava-se "A eleição que ninguem quer ganhar" e, só título, já dizia quase tudo!
Se escrever sobre a realidade já é um exercício de “fino trato”, faze-lo sobre o imaginário, com requintes de autenticidade, é um enorme teste à qualidade jornalística do autor.
Durante todo este tempo em que li aqueles exercícios - e com os quais cheguei a dar boas gargalhadas – admiti várias hipóteses para a sua autoria. Uma delas foi Ferreira Fernandes, nome que acabo de confirmar e que, sem qualquer sombra de dúvida, é um dos grandes da nossa imprensa.
Tão importante é, que nos quadrantes em que movo, nunca ouvi uma opinião negativa a seu respeito. Mas, a meu ver, o que nele é absolutamente excepcional, é a sua capacidade de – exercendo simultaneamente a profissão e a cidadania – criticar sem liquidar e sem ofender.
Ter em Portugal, nos dias de hoje, essa enorme ousadia e vê-la publicamente reconhecida, é algo que merece o maior elogio.
Bem haja, Ferreira Fernandes, pelos deliciosos momentos que, no DN, me fez e faz passar. Volte depressa!


HSC

sábado, 29 de agosto de 2015

Cenas da vida quotidiana (2)

Na maioria dos países, a notícia está no anúncio de que vai ocorrer ou ocorreu alguma coisa. Em Portugal é diferente. Noticia-se algo que não ocorreu.
É assim que Pedro Santana Lopes anunciou hoje que não se candidatava a um lugar para o qual nunca se havia candidatado.
Tinhamos já uma série de candidatos a Presidentes da Republica. Inauguramos, agora, uma lista de não candidatos. Na qual a maioria dos portugueses se pode rever. É isto que eu gosto na política nacional!

HSC

Cenas da vida quotidiana (1)

A blogosfera tem, confesso, aspectos surpreendentes. Nela fiz amigos virtuais e nela encontrei duas amigas que se têm vindo a tornar cada vez mais reais. Tanto que presentemente acabamos por nos encontrar com alguma frequência.
O que fazemos em conjunto? O melhor que os amigos podem fazer: conversar, comer e ir ao cinema. Porém, não somos muito programadas. Ou antes, estabelecemos o programa e, depois, por uma ou outra razão, acabamos por o não cumprir...
Esta noite tinhamos combinado comer qualquer coisa rápida na Versailles e depois ir ver um dos filmes do Tati  que estão a passar numa imperdível programação do Nimas.
Para variar, acabámos sem cinema, a falar de homens e de cães. Como se depreende, o assunto, para fim de semana, nem era muito filosófico. Dos primeiros, creio, ainda terei alguma vaga noção. Agora de cães, pasmem, descobri que não percebia mesmo nada.
Vá lá alguem ter a presunção de que sabe alguma coisa...mesmo quando se trata do melhor amigo do homem!

HSC

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Uma visita feliz




Não sou muito dada a "pedir" coisas à família. E quando, in extremis, o faço, é sempre à minha cunhada Paula, mulher do meu irmão mais novo, para quem sou um misto de amiga, mãe e irmã. Ora acontece que ela está em Moçambique, onde o marido tem uma enorme obra de engenharia e eu andava com imensa vontade de ir a Campo Maior ver as ruas cheias de flores. Porém a vontade de guiar até lá era pouca.
Foi quando decidi que era altura de me fazer valer da condição de mãe e pedir companhia. Confesso que admiti não ser a ocasião muito oportuna, mas que diabo, sendo tão pouco useira, também merecia ser atendida.
Vá lá que a sugestão não caiu em saco roto e eu tive o prazer que qualquer mãe tem - e que infelizmente, agora, tenho pouco - de passear com um filho e de ver respeitada a privacidade desse passeio pela grande maioria dos fotógrafos da comunicação social que por lá andavam e compreenderam o lado exclusivamente familiar da visita. Ainda deve ter havido uma ou duas fotos, mas foi coisa pouca. Julgo eu.
Vim maravilhada. A criatividade, a originalidade, as horas de trabalho voluntário que tudo aquilo representa para dar a conhecer uma das mais belas zonas do meu Alentejo, são impressionantes. E como sou uma beirã alentejana, aquela prova de amor regional tocou-me profundamente. Como me tocou igualmente, devo confessa-lo, a prova de amor filial, numa altura em que o tempo não sobra para os deleites familiares.
A completar a minha satisfação pude, ainda, contar com a companhia de um sobrinho muito querido, que não sendo já da minha família, nunca deixou de o ser no meu coração e que foi um excelente cicerone porque, vivendo em Elvas, já tinha visitado Campo Maior.
Foram muitos quilómetros numa só tarde e, apesar de hoje estar um pouco "partida" - a idade não perdoa e eu andei imenso a pé por todas aquelas ruas enfeitadas - a verdade é que valeu bem a pena a visita, como valeu bem a pena ter abraçado o comendador Rui Nabeiro, pessoa que muito estimo e tem sempre para comigo a maior das atenções.
A festa encerra no próximo Domingo. Se ainda não foi, aproveite e vá. Vale muito a pena!

HSC

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Há dias assim...

Este último Domingo foi um daqueles dias em que se pode dizer que o melhor era não ter saído da cama e ter ficado em casa a "esmoer" o calor que, ao contrário do frio, me deixa num estado de letargia total.
Tudo, mas tudo, correu mal. Comecei por me levantar estupidamente cedo, o que me teria dado oportunidade de aproveitar bem o tempo. Porém, uma ciranda doméstica idiota, fez com que não desse pelas horas e perdesse a missa das 11h. Irritada comigo mesma, decidi que iria à da tarde, que voltei a perder, na sequência do que até lá me iria acontecer.
Havia combinado ir almoçar com amigos num restaurante italiano. Mas, cautelosa, avisei que teria de fazer uma compra num centro comercial, antes de rumarmos ao cinema que se seguiria ao repasto.
O almoço correu bem, a comida estava boa, a conversa idem e o preço foi baixíssimo. O pior estava para vir. Fiz a dita compra e quando disse que queria duas embalagens, uma das amigas resolveu fazer o mesmo. Resultado, fiquei só com uma, porque o stock esgotara. Compro noutro sítio, pensei. Havia de comprar...já que depois de correr cinco estabelecimentos percebi que o produto ia ser descontinuado.
Resolvi desligar, apesar de contrafeita, confesso. Feita a escolha cinematográfica por essa mesma amiga, desembocámos todos numa "coisa" chamada A Família Bélier que, começando por volta das 17h, já não me permitiria cumprir a devoção dominical. Paciência, pensei toda ligeira.
O filme é "um pincel", como dizem os meus netos. Uma estória idiota, melodramática, recheada de canções do Michel Sardou, quase tão velho como eu e com muito menos graça. Ou seja, uma desgraça!
E como esta nunca vem só, à saída, percebi que perdera o saquinho da minha compra. O retorno aos sítios onde estivera foi, claro, inútil. O produto era um bem que qualquer mulher apreciaria...
Depois disto, cheguei a casa bastante irritada e resolvi deitar-me. Nem fome tinha, o que, no meu caso, é uma verdadeira raridade.
Foi nessa altura que me deu um ataque de riso e, em simultãneo, vontade de bater em mim própria por me ter deixado dominar por uma ninharia.
Há, de facto, dias assim, em que devíamos ficar em casa a ler e ouvir música, com o ar condicionado ligado. Porque isso, sim, é que é um luxo!

HSC

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Previsões...


Embora me considere uma criatura moderadamente prevista, não sou dada a previsões, nem jogo no totoloto, no euromilhões, na raspadinha ou na lotaria porque ainda continuo a acreditar que o trabalho é a única via, séria, para se ter dinheiro. Coisas que aprendi com o meu Pai e com a minha Mãe e que sempre, até hoje, constituiram caminhos de que jamais abdiquei.
Vêm estas palavras a propósito do que se está a passar na China. Há cerca de um mês disse aqui que a minha maior preocupação, no momento, era o que poderia vir a desenrolar-se naquele país. Tinha razão. A economia - de que muitos duvidam -, tem destas coisas. Faz previsões. Infelizmente, os políticos só lhes dão importância se elas lhes forem favoráveis.
Neste caso poucos perceberam a minha inquietação. Devem estar, agora, bem mais crédulos. Acontece sempre assim. É o que o povo chama, sabiamente, de "tarde piaste"!

HSC

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Aos amantes de cinema...e de música

O Pedro Correia é um jornalista que comecei a seguir muito antes de pessoalmente o conhecer. Acabariamos por nos encontrar no blog Delito de Opinião, apesar de não ter sido pela sua mão que para lá fui.
Ao contrário do que algumas vezes acontece, o Pedro correspondeu exactamente à ideia que dele tinha. Pessoal e profissionalmente.
Escreve sobre muitas e interessantes matérias, não temendo, nunca, dar a sua opinião, mas acolhendo sempre quem pense de forma diferente. A prova está no Delito, um dos mais antigos blogs colectivos, que se orgulha de ter gente muito diversa no seu cardápio.
São várias as séries com que nos tem brindado, mas a última - As canções no Cinema - é um imenso presente para todos aqueles que, como eu, têm a paixão do grande ecrã e uma boa memória das canções que acompanharam e marcaram certos filmes. Sáo já dezasseis os post's publicados e quando penso que já não é possível encontrar mais nenhum, o Pedro consegue continuar a surpreender-nos.
Se o cinema, de algum modo, marcou a sua vida cultural, não perca esta colectânea de textos e vá ao http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/, porque irá certamente deliciar-se!

HSC

sábado, 22 de agosto de 2015

Novo atentado

Este post foi "roubado" ao blog http://daliteratura.blogspot.pt/. Sendo uma notícia de grande importância, não o descobri na nossa comunicação social que, no presente, apenas se ocupa de festivais e querelas partidárias!

HSC

Imagens de marca


Sigo o programa IMAGENS DE MARCA, concebido e conduzido pela jornalista Cristina Amaro, desde o seu início.
É um dos magazines líderes da SIC Notícias, com emissões que chegam a ultrapassar os 250 mil telespectadores.
Depois de vários anos no jornalismo Cristina Amaro cria, em 2003, a sua empresa de produção de conteúdos, a "Olho azul, conteúdos com visão” onde soma às funções de Direcção Editorial,  as de Direcção de Desenvolvimento de Novos Projectos. E é aqui que nasce o “Imagens de Marca”.
Este foi o seu primeiro projecto enquanto autora, produtora e apresentadora. O formato inovador e pioneiro valeu-lhe o Prémio de Personalidade Marketing Media,  logo no ano de estreia. 
Esta responsável - que se descreve como "optimista" -, tem uma opinião pessimista no que toca ao panorama actual da publicidade em Portugal, quando diz que "a genialidade da publicidade e da criatividade dos anos 90 morreu. Hoje em dia fazem-se menos coisas muito boas. Primeiro, porque há muito menos orçamentos e, por norma, em tempos de crise os resultados da criatividade diminuem porque têm que se fazer coisas menos boas mas também porque há muita desmotivação".
Apesar disso, não tenho qualquer dúvida de que a Cristina Amaro e a sua equipa têm feito pelas marcas nacionais um trabalho notável, digno de registo e de louvor, que merece ser reconhecido!


HSC

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Um retorno às origens?


“…A imprensa internacional está fascinada por Jeremy Corbyn, o “socialista à antiga”. Comentadores e políticos britânicos atacam os seus “anacrónicos valores socialistas”. Promete renacionalizar a grande indústria, os caminhos-de-ferro, o gás e a electricidade, subir os impostos dos ricos, um plano maciço de investimento nas infra-estruturas, a restauração dos direitos perdidos pelos trabalhadores, a gratuidade das universidades e, sobretudo, o aumento da despesa pública e o fim da política de austeridade. Propõe também o cancelamento do nuclear militar britânico e a saída da NATO, tal como a revisão do estatuto britânico na UE. Paul Krugman deu a bêncão ao seu programa económico.
É um anti-americano visceral. Foi admirador de Chávez, apoiou Putin no conflito ucraniano, elogia o Hamas e o Hezbollah. Um dirigente sindical diz que ele é o “melhor antídoto contra o vírus do blairismo.”
… O caso do Labour é uma surpresa mas também o reflexo de uma grande mudança. A crise provocou uma recomposição política, que se traduziu no reforço ideológico dos conservadores, no impasse da social-democracia, no crescimento dos populismos de direita e em fenómenos como o Syriza e o Podemos. Mas também permitiu a ressurreição das “velhas esquerdas” que continuam a pensar o mundo como há 30 ou 40 anos e que, portanto, lhe respondem com velhas receitas que fracassaram. Este é o mundo de Corbyn.”

…Mais do que Corbyn, importam o Labour e os seus jovens. Não têm um novo horizonte político. Recuam da política para o moralismo. Fica uma interrogação inquietante: que se seguirá a uma previsível decepção, ganhe ou perca Corbyn a liderança do partido?    


                    Jorge Almeida Fernandes, no jornal Público

É um "fenómeno" inglês. Mas surge na sequência de outros "fenómenos" a que vimos assistindo noutros países e que, penso, merecem atenção daqueles que se dedicam ao estudo da política. E que interessam, também, àqueles que vivem na sociedade actual e passaram por um doloroso período de austeridade!

HSC