domingo, 31 de agosto de 2014

De volta ao real

Para uma grande parte dos portugueses, amanhã será o retorno ao trabalho. Para mim, que ainda não saí dele, será antes o regresso da cidade à quase normalidade. As televisões voltarão a ter as mesmas caras a darem as más notícias, os frente a frente serão retomados, os debates para as primárias no PS terão início sem que se vislumbre grande novidade, para além de uma piadas indirectas de mau gosto, os cinemas estrearão novos filmes e, passado o Natal, iremos ser de novo bombardeados com os esclarecimentos eleitorais para os meses seguintes. Portanto, a leste nada de novo. Apenas lá por Bruxelas e Estrasburgo algumas dificuldades estão a surgir para conseguir apanhar umas mulheres para cumprir o sagrado dever das quotas. É que aquelas estão cada vez mais lúcidas e a prestar-se, cada vez menos, para as "representações" que lhes pedem. Fazem bem, porque esses papéis não nobilitam ninguém e nós não existimos para "fazer número".
E o mundo, assanhado como anda por umas guerrazinhas, é capaz de vir a ser confrontado com uma muito séria, dado que os príncipios básicos que presidiram à constituição da UE, parece que já estão esquecidos. Passámos pelas guerras económicas e financeiras, pelas religiosas e voltamos às militares, que julgámos estarem ultrapassadas. Mas o mundo não aprende. 

HSC

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O retorno

Judite de Sousa voltou ontem ao ecrã da TVI, com uma entrevista a Cristiano Ronaldo. As marcas da dor pela qual passou - e passa - estão bem visíveis. Não no rosto, ou no vestuário, impecáveis. Mas no olhar e na voz porque, esses, não há tecnologia que disfarce. Pelo contrário, intensifica-os.
Nunca escondi a minha admiração por Cristiano Ronaldo. Pelo homem que veio menino sozinho para Lisboa traçar o seu futuro, pelo desportista que fez mais pelo nome de Portugal do que muitos "emproados" que a tal se outorgam e pelo chefe de família em que se transformou. Mas, sobretudo, por esse orgulho de ser quem é, de ser português e de nunca renegar as suas origens. Não é pouco, no mundo actual. O resto são floreados.
A primeira parte da longa entrevista referiu-se, sobretudo, à vida profissional. Não sendo especialista na matéria, julgo que Cristiano respondeu sabiamente às perguntas que lhe foram feitas. Já não é, mais, o jovem que cometeu alguns erros. É um homem que soube tirar deles as devidas lições e que os não nega. 
Tocou, aliás, numa matéria muito importante: a ideia que cada um tem de si próprio. Para dizer que precisa de se considerar o melhor para fazer o que faz, mas que isso não implica que ele seja o melhor. Só esta resposta merecia, por si só, uma entrevista. A ele Cristiano e a muitos de nós.
Judite esteve bem. Triste, mas boa profissional. Hoje veremos, ao que sei, a parte afectiva e familiar do nosso craque. Da qual falarei amanhã, se a matéria o justificar.
Mas dei por bem empregue o tempo que passei junto ao televisor. É que a conversa valeu muito mais do que os medíocres debates televisivos a que, por norma, estamos sujeitos.

HSC

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

"François Hollande ment tout le temps"


Não servirá de consolo a ninguém que o PS francês esteja a atravessar momentos difíceis. Mas é certamente importante ouvir o que o seu ex ministro da economia diz do que foi a sua experiência de governação. E, de caminho, pensar um pouco sobre aquilo que também entre nós se está a passar.
Desde o início que Hollande nunca me convenceu e disso falei aqui, antes mesmo de ele ser eleito. Sempre julguei que o Presidente da França não podia ser um homem normal, como ele próprio se classificou no debate com Sarkozy. 
Esta biografia sobre Montebourg acabada de sair e que, embora não autorizada, mereceu um diálogo entre o biógrafo e o biografado revela bem o estado a que chegou o governo de Valls sob a batuta de François Hollande.

HSC

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O essencial e o acessório

Se há luta que, ao longo dos anos, tenha travado comigo mesma, é, sem dúvida, a de tentar saber distinguir, sem muitos rodeios, entre o essencial e o acessório. Mas nem sempre é fácil, sobretudo nos dias de hoje, em que este último se traveste, frequentemente, do primeiro.
Com efeito, para fazer esta distinção é necessário possuir robustez moral, força de vontade hercúlea e, sobretudo, o desejo de fazer da nossa vida algo de que possamos orgulhar-nos. Não pelo orgulho em si, mas para podermos chegar ao fim com a sensação de que terá valido a pena viver.
A existência da grande maioria de nós desenrola-se entre dois mundos distintos. O da profissão e o da família ou, se quisermos ser mais precisos, entre o labor e os afectos. No primeiro, nem todos temos o que se apelida de vocação, a qual, só por si, quando levada a bom termo, é redemptora da vida. Grande parte de nós tem uma profissão - que muitas vezes até nem escolheu - da qual vive, de que até gosta, mas que não corresponde a qualquer tipo de chamamento interior. Tem aquela como poderia ter outra, igualmente satisfatória.
No segundo, o que antes valia bastante, vale agora muito pouco. A família é, nos dias que correm, um núcleo alargado de pessoas, onde os laços de sangue são apenas um dos factores que as ligam entre si. Existem outros, não menos importantes.
Ora é no equilíbrio entre estes dois pratos da balança da vida de cada um que é forçoso descobrir o essencial, o que vale de facto a pena, o que justifica que sejamos quem somos. Com a agravante de que a sociedade actual tende a dar prevalência à vida profissional em detrimento da familiar. Erro crasso que, mais tarde ou mais cedo, se irá pagar muito caro. Em particular, quando perante a reforma, somos confrontados com aquilo que fizemos do tempo que já vivemos!

HSC

BACALHAU DOURADO (3)


Ingredientes:
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250g de batatas
350g de bacalhau
3,5 dl de natas 
2 colheres de manteiga
Sal e queijo parmesão
3 dentes de alho
1/4 de noz, de noz moscada
10 grãos de pimenta preta desfeitos no almofariz
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Preparação:
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Coza as batatas e escalde o bacalhau. Passe-as por um passador, tipo passe-vite ou espremedor e reserve.
Retire ao bacalhau escaldado as peles e espinhas e desfaça-o junto com os alhos num almofariz ou, na sua falta, ponha-o dentro de um pano, feche as pontas em trouxa e bata-o energicamente como se estivesse a amassar uma massa tenra. Use o tradicional pano ou o almofariz. Não utilize o triturador porque este corta as fibras do bacalhau.
O objetivo é desfiar o bacalhau até ficar como se fossem fios de cabelo. 
Caso opte pelo pano, esmague à parte os alhos e incorpore-os esmagados no bacalhau em fios.
Leve ao lume o bacalhau esfiado com a batata e a manteiga e ligue bem estes ingredientes.
De seguida vá juntando as natas aos poucos e mexendo sempre com a colher de pau de modo a ficar uma massa bem lisa. Prove, retifique o sal, tempere com pimenta e noz moscada e polvilhe com o queijo parmesão.
Pode servir assim ou levar o prato ao forno a tostar um pouco. Acompanhe com salada.

HSC

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terça-feira, 26 de agosto de 2014

A banalidade como forma de vida


Estamos a viver um tempo de anestesia colectiva, a que a internet, as redes sociais, os noticiários e a televisão dão ampla cobertura. Já nada nos surpreende ou escandaliza. E, mais chocante ainda, é que em lugar de vivermos a nossa vida, estamos permanentemente a viver a dos outros, que a publicitam sem qualquer pejo ou mesmo enquadramento ético. Hoje tudo é importante e nada é acessório.
Somos uma sociedade narcísica na qual a noção de privacidade ou de intimidade deixou de existir, na medida que tudo se "partilha" seja via revistas cor de rosa, instagram ou facebook.
Até o fenómeno das selfies, o último grito da moda, vem confirmar que a câmara se vira para nós, como se o mundo ou os outros fossem coisa do passado, transformando o próprio fotógrafo no objecto da fotografia.
A palavra “eu” vai-se, assim, sobrepondo à palavra “tu” e à palavra “nós”, fazendo da banalidade o principal motor da sociedade em que vivemos e tornando cada vez mais difícil não só um olhar sobre quem somos individual e colectivamente, mas também sobre o que é verdadeiramente importante na nossa vida.
Confesso que não sei o que terá provocado esta busca incessante da banalidade. Acredito que a globalização lhe não seja alheia, com a importação de modelos que pouco ou nada têm a ver connosco, mas que passaram a fazer parte do que chamamos de modernidade.
Creio, igualmente, que a necessidade de nos tornarmos europeus – perdendo especificidades de que, parece, nos envergonhamos – tenha também a ver com o assunto. 
Mas, na base de tudo isto, o que julgo estar verdadeiramente em causa é um abandono da procura da excelência e a aceitação da mediocridade como uma forma de existir.

HSC

Nota: A inspiração para este post deve-se ao excelente texto que Pedro Correia escreveu no Delito sobre o assunto.

domingo, 24 de agosto de 2014

Quando os pais se tornam filhos


Apesar de todos sabermos que somos mortais, passamos o tempo a comportarmo-nos como se fossemos eternos. A doença inesperada de um familiar próximo e a tomada de consciência de que a vida é o bem mais precário que possuímos, fez com que, em plena lucidez, tomasse as rédeas daquilo que quero que se faça com o que é meu de direito. Com efeito, tudo o que tenho é produto do meu trabalho e não pretendo que a mão da lei decida, contra minha vontade, sobre o que me pertence. Já aqui, aliás, falei deste assunto e neste momento estou relativamente descansada.
Mas, neste deambular entre as disposições legais para quem não tem o cuidado de acautelar desejos próprios, deparei-me com um fenómeno que me impressionou bastante. De facto, fruto de encarar os filhos como um seguro de vida para a velhice, uma parte substancial de pais que conheço, comporta-se como se tivesse um direito adquirido sobre a vida deles, limitando-lhes, por vezes de forma dramática, as suas escolhas pessoais e transmitindo-lhes um sentimento de culpa sempre que elas representam uma redução daquilo a que se julgam no direito de exigir. É assim que criando com eles uma relação de dependência, se transformam em filhos dos próprios filhos.
Não sei se isto é um fenómeno das sociedades latinas, nem sequer vislumbro se a crise o terá acentuado. Julgo que não, dado que também existe a situação inversa, de os pais verem prolongadas as suas responsabilidades para com os filhos que, com a crise, tardam em sair da casa paterna.
Qualquer das soluções está inquinada. Os filhos devem ser educados para voarem pelas suas próprias as asas e os pais devem evitar dependências que cortem as asas dos filhos!

HSC

CATAPLANA DE BACALHAU (2)

Aqui vai, satisfazendo o pedido de uma comentadora a receita de cataplana de bacalhau, que faço com frequência, relembrando que o uso deste equipamento de cozinha requer  experiência e cuidado.



Ingredientes

2 postas grandes de bacalhau
4 tomates pequenos e maduros 
1 pimento verde
2 batatas médias
1 cebola grande
2 dentes de alho
1 folha de louro
piri-piri q.b.
sal e pimenta q.b.
azeite q.b.
coentros frescos q.b.

Preparação:

Lave bem os legumes. Descasque as cebolas e corte-as em rodelas. Faça o mesmo com as batatas que deverá cortar em rodelas grossas. Corte também o pimento e os tomates em pedaços e descasque os dentes de alho. Parta as postas de bacalhau ao meio.
Na cataplana disponha uma camada de cebola seguida por tomate e pimento. Acrescente as batatas e o bacalhau. Tempere com um pouco de sal e pimenta e coloque a restante cebola, pimento e tomate. Tempere com o piri-piri a gosto e junte os dentes de alho fatiado em lâminas, a folha de louro e alguns coentros picados. Regue com um fio de azeite e leve a cozinhar cerca de 40 minutos em lume brando.
De vez em quando,  agite cuidadosamente a cataplana. Sirva polvilhado com o resto dos coentros frescos picados.

HSC

A angústia do desemprego

Há dois temores a que a maioria dos seres humanos está sujeito. Um, a falta de saúde. O outro, a falta de meios. Um terceiro, o desemprego, acabaria por se tornar num medo visceral nestes últimos anos. E quando falo da falta de trabalho, refiro-me também àqueles que tendo deitado corajosamente mão ao que lhe apareceu para sobreviverem, não estão de facto a exercer as funções para as quais foram preparados.
Tem sido um ciclo vicioso que acaba por fazer rupturas entre as gerações, julgando os mais novos que não encontram labor porque os mais velhos não abandonam as suas funções. E as recentes medidas de prolongamento da idade da reforma, deste ponto de vista, estão longe de ajudarem à resolução do problema.
Ora ninguém consegue viver com uma parede de fundo de medos e ansiedades acumuladas. Talvez por isso, os períodos de crise sejam também aqueles onde se revelam melhor as capacidades individuais. Com efeito, passados os primeiros tempos de angústia, é surpreendente ver como certas pessoas são capazes de dar a volta aos problemas e se lançam em projectos nos quais jamais teriam pensado se a crise lhes não batesse à porta.
Claro que ser jovem facilita muito este tipo de atitude, até porque os parcos apoios que existem - financeiros ou não - são, sobretudo, vocacionados para a juventude e não para aqueles que, aos 50 anos, se vêem desempregados. Estes terão, talvez, que passar a olhar para si de outro modo e a não se sentirem menorizados por virem a exercer funções que possam ser hirarquicamente inferiores àquelas que já desempenharam.
Servindo-me de um exemplo "menor", lembro o caso do actual Ministro dos Negócios Estrangeiros francês que já foi Primeiro Ministro. E, apesar disso, não deixou de aceitar o presente cargo que lhe está abaixo. Assim, pode acontecer que um director passe a ser dirigido sem que, por esse facto, tenha de sentir-se humilhado.
Eu sei que, por norma, não é assim que pensamos. Mas face ao momento que atravessamos, julgo que vale a pena meditar um pouco nisto.

HSC

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ARROZ DE PATO À MINHA MODA (1)

A partir de hoje irei iniciar aqui uma série de receitas que faço com frequência em minha casa. Umas são minhas, outras de família, outras de amigos e outras ainda fruto de busca por livros e blogues de cozinha. Todas foram testadas por mim. Começo por um arroz de pato, que é um prato muito ao gosto da família.


Ingredientes

1 pato limpo
6 linguiças de alho
1,5 chávena de arroz
1Limão
3 cenouras
3 dentes de alho
2 cebolas
1 ramo de cheiros
3 colheres de sopa de azeite
Sal e pimenta

Preparação

Coza o pato bem limpo na panela de pressão, com a cenoura, os cheiros, o sal e a pimenta em grão. Quando o bicho estiver cozido retire-lhe os ossos e desfie-o de forma grosseira. Guarde a água de cozer o pato e leve-a por duas horas ao frigorífico para lhe retirar posteriormente toda a gordura que solidificou à superfície.
Num tacho ponha duas cebolas cortadas às rodelas finas, o alho bem picado e o azeite. Quando a cebola ficar transparente junte as cenouras cozidas picadas muito finas (podem ser esmagadas) e três chávenas de chá de água. Quando esta levantar fervura deite a chávena e meia de arroz.
Entretanto unte com margarina uma travessa de ir ao forno e à mesa e quando o arroz estiver pronto divida-o em duas partes. Com uma delas forre a travessa e coloque por cima o pato desfiado. Sobre este distribua a terceira cebola cortada fina e aloirada em azeite. Cubra tudo com o restante arroz.
Corte as linguiças em fatias finas inclinadas e cubra todo o arroz com elas, espetando-as em viés como se fossem penas de ave. Salpique tudo com meia chávena do resto do caldo e leve ao forno a aloirar. Sirva de imediato.

HSC

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Uma certa morbidez

Uma malfadada intoxicação alimentar - gosto de comer e julgo, sempre, que nada me faz mal - atirou-me para chá e torradas em frente a um telejornal que eu já deveria saber, por experiência, que só agrava ou mesmo provoca qualquer mal incipiente que possamos ter. Foi o caso.
Durante dois terços do jornal de um dos canais noticiosos, assisti a todo o tipo de desgraças: um jornalista americano degolado, um homem que queimara com água fervente a filha bébé porque ela não parava de chorar, um incêndio que matara pai e filho, que já se encontravam litigados em tribunal, a guerra na Crimeia e na Síria, os bombardeamentos na faixa de Gaza, a eventualidade do Papa Francisco abdicar, enfim, até a venda do Hospital da Luz a um grupo mexicano. 
Pergunto: teremos todos de saber, ao pormenor - com fotos dramáticas -, estas notícias? Não chegará, já, a carga dos problemas nacionais para acinzentarem a nossa vida? Não haverá um editor que saiba distinguir o trigo do joio, o essencial do acessório?
Todo este apelo à violência não gerará mais violência?! Não haverá estatutos editoriais que ponham um limite a esta exploração do miserabilismo?
Só posso dizer que estamos a caminhar para uma sociedade cada vez mais alucinada e mais mórbida e que uma certa comunicação social tem grande responsabilidade nisso!

HSC

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Contemplação

"A contemplação não é uma sabedoria onde nos instalamos: é antes uma forma de exposição desarmada do olhar, uma colocação sem reservas, uma aprendizagem sempre a ser refeita, um depojamento dos porquês".

Este é o penúltimo parágrafo da crónica desta semana do Padre Tolentino de Mendonça, na revista do Expresso. Curiosamente ela vem ao encontro de um tema sobre o qual me tenho debruçado nos últimos tempos, que é o da necessidade do silêncio dentro de nós. Este pode vir da meditação, da contemplação ou até do desejo pontual de vazio.
Apesar dos dois primeiros estádios serem, muitas vezes, atribuidos a uma busca de espiritualidade, eles são cada vez mais uma necessidade do ser humano para quem o espiritual não está necessariamente ligado a uma prática religiosa.
Se a meditação me tem acompanhado, com mais ou menos intensidade, ao longo da vida, a contemplação foi uma descoberta recente, de há uma meia duzia de anos. Dito de outra forma, ela existia em mim há muito tempo, mas a descoberta da sua real importância só aconteceu muito depois.
Com efeito, anos de casamento com um arquitecto para quem os volumes e as cores eram vitais, haviam-me ensinado a "olhar" para o mundo que me rodeava de forma mais atenta. Mas não me educaram para o mais importante - que vem muito bem sintetizado na frase que transcrevi de Tolentino de Mendonça -, e que é uma outra forma de conhecimento, despojado, de nós próprios e do mundo que nos cerca.
Quanto mais cresço - e todos continuamos a crescer até morrer - mais consciência tenho de que precisamos ter, no caos do dia a dia, como contra ponto dos momentos reflexivos, uns instantes de pura contemplação porque, sem eles, a vida torna-se algo muito pouco suportável.

HSC   

domingo, 17 de agosto de 2014

Três parcas comédias


A vantagem das salas de cinema em tempo de férias, deveria ser a temperatura. Pois bem, isso era antigamente. Fui, nesta ponte de feriados, a três salas e nenhuma tinha o ar condicionado ligado. Logo, um forno com temperatura mais alta do que a que se sentia cá fora. Nem de leque se aguentava...
Vi "Que mal fiz eu a Deus?", "A Viagem dos Cem Passos" e "Nunca digas nunca", uma trilogia que se não é má, anda muito pelo medíocre e que apenas se tolera porque é suposto, em férias, o cérebro trabalhar menos.
Do meu ponto de vista pessoal teria ganho bastante mais se tivesse ficado a ler um livro e a ouvir um bom jazz, no conforto da minha casa. Mas a vida é como é e eu estava a precisar de ver cinema. O preço foi alto e o calor também. É a crise!

HSC

sábado, 16 de agosto de 2014

Onra para omens onestos


Como era de esperar, os brasileiros não estão satisfeitos com o "acordo" ortográfico. E avançam já com novas sugestões para desfigurar ainda mais a ortografia portuguesa: eliminar a consoante H no início das palavras e substituir CH por X.
Genial. Homens honestos tornam-se omens onestos da noite para o dia e a honra encurta-se para onra. Tudo a golpe de engenharia legislativa liderada por analfabetos funcionais. 
Mais fantástico ainda é o método sugerido para aprovar o novo pacote de alterações ortográficas: organizar uma "videoconferência". E porque não por SMS para encurtar razões?
Ou muito me engano ou não tardarão uns imbecis a defender o mesmo por cá. Há (ou "á"?) gente capaz de apanhar qualquer comboio - ou trem - desde que esteja em andamento.

               (Pedro Correia hoje no blog Delito de Opinião)

A reprodução do texto acima, mostra mais uma nova barbaridade com a língua portuguesa. Por favor, cliquem nas duas palavras a vermelho para verem, com os vossos próprios olhos, até onde os nossos amigos brasileiros pretendem chegar. Eu fiquei incomodada, sobretudo com a proposta de "hoje" se vir a escrever "o je", que só pode vir da cabeça de um senador de "umor" muito atormentado!

HSC

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ele há dias...


Hoje foi um dia fatal para as modernas tecnologias que possuo e nas quais o meu trabalho assenta. Tudo se dessincronizou. Não sei se a palavra existe, mas sei que a situação é real.
Com efeito, aqui em casa toda esta aparelhagem está sincronizada e quando uma falha, o resto vai atrás de roldão. 
A saga começou quando tentei mandar uma fotografia duma parede do meu terraço para uma amiga me dar a sua opinião sobre qual o arbusto que lá deveria ser colocado a fim de evitar que me olhassem de fora e também para que a minha vista ficasse limitada apenas ao Tejo.
Impossível. O mail não saía, por mais ordens que lhe desse. Resolvi recorrer à mensagem mutimédia. Qual quê, a foto não bugia e o correio não se mexia. Numa última tentativa, ensaiei o refresh. Nada de nada. A esferazinha parecia enlouquecida a girar sem parar. 
Entretanto, o arroz de pato ia esturricando porque, na furia tecnológica, pura e simplesmente me esqueci dele no forno. Lá se foi o chouriço ao ar, dado que não aguentou a intensidade bronzeadora e mirrou até à sua expressão mais infima.
E quando, finalmente, esperava o apoio famíliar ao jantar, eis que o Tribunal Constitucional me atrapalhou o resto do dia, sem que eu fizesse parte de qualquer orgão de soberania.
Desisti de me sincronizar, de ter aparelhos bem comportados, de tirar uma foto no telemóvel e ela me aprecer no computador, enfim, de jantar a horas decentes uma refeição medíocre. E, sei lá, até, se hoje este post aparece no Fio de prumo. 
Não há dúvida que houve aqui em casa a rebelião dos equipamentos, que se fartaram da minha ditadura e me mandaram às urtigas.  A 14 de Agosto fizeram, finalmente, o seu 25 de Abril!
E eu, como qualquer ditador que se preza e não tem contas offshore, confesso que não sei para que plataforma me voltar. Ele há dias...

HSC

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Da morte e do tempo

Como se pode deduzir dos post's anteriores, a morte parece ter vindo para acinzentar o período de férias. Com efeito, esta semana já levou dois actores internacionais e um homem dos média nacionais.
Há períodos assim, em que que tudo o que é mau sucede em cascata. Como parece estar a acontecer com o tempo. Quando começa mal, leva tudo atrás. Na Europa há inundações e em Portugal, nomeadamente em Lisboa, o clima está indefinido.
Ontem apercebi-me que a minha preguiça - rara em mim - tinha como causa inesperada, a humidade. Com efeito, sentia o corpo a colar a tudo e uma moleza invulgar.
Fui espreitar o higrómetro. Sabem quanto marcava? Nada mais nada menos que 63%. Ou seja, parecia que estava em África ou nos piores dias dos Açores.
Esperemos que esta onda passe. De mortes e de humidade. Logo agora, que eu andava tão satisfeita com a frescura do Verão. Nunca se está satisfeito...

HSC

Lauren Bacall


Chamaram-lhe The Look, brilhou com uma insolência que nunca se vira antes na Hollywood dos anos 1940 e 50. Era dura, sem paciência para a falta de carácter, e democrata até ao osso. Ensinou Bogart a fumar e a fazer outras coisas. Foi uma working girl até ao fim. 
Morreu ontém, aos 89 anos, na sua casa em Nova Iorque, vítima de um acidente vascular cerebral a que não resistiu. 
Chamaram-lhe The Look, e basta olhar para as suas fotografias para perceber porquê. 
A mulher do realizador Howard Hawks viu-a, um dia, numa capa da Harper's Bazaar e recomendou-a ao marido. 
Betty Joan Perske não tinha ainda 19 anos, estudara dança, faltava às aulas para ver filmes com Bette Davies, era manequim e contava no seu portfolio com dois ou três fracassos na Broadway. Mas perante a foto da Harper's Bazaar,  Hawks soube o que fazer. Contratou-a. 
E assim apareceu uma rapariga de 19 anos que era tão insolente como a mais insolente das estrelas do firmamento de Hollywood daquele tempo: Humphrey Bogart. Casariam e seriam o casal ícone da sua geração. 
Tornou-se célebre uma frase que a define: "Feliz? Essa é uma palavra grande, talvez a maior que vem no dicionário". "Percebi que, se tiver saúde, conseguir pagar a renda e tiver os meus amigos comigo, estou satisfeita. 
"Satisfeita, contente, e não feliz, dizia, considerando que a felicidade que apaga todas as preocupações e se sobrepõe a todas as emoções só é possível quando se tem 20 anos. "Nessa idade não tens experiência suficiente para saberes que tens de ser cautelosa. Esse tipo de felicidade é impossível de duplicar."
HSC

Emídio Rangel


O jornalista Emídio Rangel faleceu hoje, vítima de cancro. Estava há já alguns meses a fazer tratamento e a reincidência da doença foi assumida publicamente pelo próprio em abril deste ano, em declarações à revista "Flash!". "É muito duro lidar com esta situação outra vez. É outra vez um cancro na bexiga", confirmou então o antigo diretor da SIC, numa alusão ao cancro que tinha conseguido ultrapassar há sensivelmente dez anos. 
O combate à doença fez com que Emídio Rangel se tivesse afastado do espaço mediático no último ano, depois de ter deixado de ser comentador político na RTP Informação. Desde aí, as últimas informações profissionais que tornou públicas foram o cargo de consultor do canal Afro Music Network para os países lusófonos, que aceitou no final de 2013. 
A sua carreira profissional foi iniciada em Angola - país onde nasceu -, como jornalista na Rádio Club de Huíla. Haviam de suceder-se cargos vários em que o reconhecimento pelo seu trabalho lhe valeria o convite de Francisco Pinto Balsemão para assumir a direção de informação da SIC, o primeiro canal privado de televisão em Portugal, que a Impresa se preparava para lançar. 
A liderança absoluta de audiências da SIC durante quase uma década foi uma das grandes coroas profissionais de Rangel. Mas o crescimento da TVI no virar do milénio, com o fenómeno Big Brother a potenciar o sucesso da aposta nas telenovelas portuguesas, viria a quebrar esse ciclo. E pouco depois, Rangel acabaria também por deixar a SIC. 
Depois de sair da estação, aceitou em 2001 o convite para o cargo de diretor-geral da RTP. Mas não ficou muito tempo na empresa pública e em 2002, negociou a sua saída da empresa. 
Em 2008 esteve ligado - com um grupo de outros profissionais que incluía Carlos Pinto Coelho - ao projecto de criação de um novo canal de televisão de sinal aberto, a Telecinco, onde estava previsto que assumisse o cargo de diretor. O projecto acabou, no entanto, inviabilizado com o chumbo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social aos dois projetos a concurso. 
A última iniciativa nos media em que esteve publicamente envolvido foi a tentativa de criação de um novo grupo de comunicação com o antigo administrador da PT, Rui Pedro Soares. 

Trabalhei com Emídio Rangel, quando da estreia da SIC, com um programa de entrevistas chamado "Segredos". Guardo dessa época uma grata recordação.
Rangel era um homem polémico mas competente. Encarou a doença com uma enorme dignidade e, confesso, fui apanhada de surpresa com a notícia da sua morte. A televisão nacional perde alguem que sabia do seu ofício.

HSC


O Olhar


Deveria, talvez, ter escrito antes a visão. Mas gosto muito mais da palavra olhar que considero lindíssima. É um dos cinco sentidos e, para a maioria das pessoas, o mais importante. Para mim, já o referi em post anterior, o tato é aquele a que atribuo a primazia. Menos evidente, mas nem por isso mais prescindível, porque constitui uma outra forma de "ver".
E, chegados aqui, tocamos o cerne da questão que é a diferença enorme que existe entre ver e olha, que foi uma das primeiras distinções que terei aprendido, com a minha mãe, a fazer.
Com efeito, e a menos que tenhamos uma qualquer deficiência, todos vemos. O difícil, o que carece de especial aprendizagem, é o olhar, essa visão onde entra o coração, a inteligência e a emoção.
Aprendemos na infãncia a ver com os olhos. Depois, à medida que vamos crescendo, vem a aprendizagem do olhar, que se faz com a nossa família, com os amigos e com aqueles que cruzam a nossa vida. Este olhar formata-se também nas ideologias que professamos - religiosas, sociais ou políticas - e que o irão "condicionar".
Talvez seja esta uma das razões pela qual jamais me veria filiada num partido, já que sendo católica, sei bem o desconforto que me causam algumas divergências que tenho em relação à Igreja dos homens e que nunca escamoteei.
O meu olhar, como o de outros, também se construiu através das artes, dos livros e do silêncio. Não se discute, por norma, a importância dos dois primeiros. Mas da-se menos valor ao silêncio, quando afinal, em muitos casos os ultrapassa. É nesse silêncio que despojamos a vista de tudo o que é secundário e que conseguimos usa-la como se voltassemos a ser crianças. É, sobretudo nela, que tato e olhar se fundem, para perceber quem fomos, somos ou pretendemos ser!

HSC

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Homem mais procurado


Ontem fui ver o filme O Homem Mais Procurado, cujo título original, A Most Wanted Man, por uma vez, não se afasta da tradução. Trata-se de uma adaptação ao cinema do livro de espionagem do escritor John Le Carré, autor que muito aprecio e que tem como protagonistas Philip Seymour Hoffmann e Rachel McAdams. Hoffman, que se suicidou há uns meses tem, como sempre, uma interpretação excelente. Nos secundários Willem Dafoe é dos meus preferidos também.
Assim estava quase tudo reunido para ter um grande filme. É bom, vê-se bem, mas não dá o salto. A meu ver, porque o realizador não soube faze-lo e porque a película tem manifestamente 15 minutos a mais, que “empastelam” o ritmo conseguido até à primeira metade da mesma.
A história baseia-se num caso real, o de Murat Kurnaz, um cidadão turco e residente legal na Alemanha, que foi capturado por autoridades dos EUA, com conhecimento do governo alemão e levado para Guantánamo, onde ficou preso por vários anos. Foi finalmente solto em 2006, sem qualquer acusação.
Para quem esteja em férias e, como eu, tenha grande admiração por Hoffmann, aconselho que veja. Se está em contraciclo com o espírito do país, vá também. Se anda com “azia”, o melhor é ir ver uma comédia romântica...


HSC